Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 22
Capítulo 21 – Taylor


Notas iniciais do capítulo

Vocês me desculpam?
O capítulo está num tamanho razoável, é que eu tive que escrever ele várias e várias vezes até chegar no que eu tenho agora. Extremamente importante pra história. q
Espero que gostem. *-*



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Dormi nos destroços da sala de Henry. Igor não está lá quando acordo, então me sinto à vontade para vagar pelo apartamento. Evitando a cozinha, é claro. Minha roupa está suja, impregnada com sangue seco. Imagino que deva haver algo de Abigail que caiba em mim, e há. Troco o sobretudo e o jeans por uma jaqueta de couro e uma calça de moletom. Como se minhas coisas estivessem tão longe, penso.

Eles dormiam juntos, eu acho. A não ser que um dos dois houvesse sido expulso do quarto para se acomodar no sofá. Abro todas as gavetas em busca de qualquer coisa que pertença a Henry. Bem, há uma blusa xadrez, um par de tênis. Nada além disso. Nenhuma blusa de estampa engraçada – sempre o via com uma dessas. Onde estariam? Penso que podem ter levado elas, mas não há uma razão plausível para isso. E se Henry levou? Ele pode estar vivo ainda. Sento-me no pé da cama, abraçada ao tecido xadrez com um sorriso pouco normal. Bem, com pouco normal quero dizer insano.

“Você leva mesmo a sério essa história de luz no fim do túnel.” Apesar da piada, Igor não está bem-humorado. “E você já pareceu mais gentil.” Retruco, lacônica. “Eu não devo ser gentil com alguém à beira dum penhasco.” Seus olhos reviram. Os meus também. “Que penhasco? Até agora estou andando em terra firme.” Afirmo, pisoteando o chão e olhando para ele assim que o barulho dos coturnos contra o carpete começa a percorrer o quarto. “Tem certeza? Não faz nem um dia desde que te vi desabar.” Ouço amargura em sua voz, estou furiosa quase imediatamente. Não é justo que ele me ajude e logo em seguida use isso contra mim. “Você não sabe do que está falando.” Resmungo, suprimindo um grito. “Já vi acontecer antes, Harriet. Esse tipo de cara… Morto ou não, ele vai acabar é matando você.” Aponta o indicador para mim com o objetivo ridículo de enfatizar sua frase.

Mas, não, espera aí… Viu acontecer antes?

“O que você…? Você…? Tá blefando?” É só o que consigo perguntar. “Não, Harriet. Uma ilusão sua pensar que foi a primeira adolescente em crise a se apaixonar por um desses idiotas.” Seu rosto está escondido pela penumbra que minha sombra projeta, mas sei que há uma máscara de sofrimento escondendo-o, anyway. Por isso nem me dou ao luxo de ficar irritada com o ‘adolescente em crise’. “Quem mais?” Minha voz é um barbante fino quase se partindo.

“Ela era loira, exatamente como você, mas tinha olhos azuis e cabelos lisos demais. Adorava bichos de pelúcia e desenhos, era uma fixação. Tinha uns doze anos. Demorou um pouco para que eu percebesse que ela estava apaixonada. Não consegui entender, nem hoje. Eu não havia flechado-a, não mesmo. Foi esquisito.” Então ele interrompe a história e olha para mim, procurando uma resposta para isso. Balanço a cabeça lentamente, em negação. “Não há chances de haver dois cupidos trabalhando no mesmo lugar sem se esbarrarem.” Murmuro, lembrando da coincidência que havia levado-me até ele. “Enfim. Ela me descobriu e concluiu que eu havia feito tudo. Porque de outra forma não faz sentido. E, bem, estava angustiada, o garoto não sentia o mesmo. Pude conhecê-lo, mas não lembro de sua aparência. Só do que sei… Aquela aura negra e pesada… No dia seguinte eu o vi de novo, e dessa vez ele estava ao lado dela, sem a aura.” Sua voz está cada vez mais fraca, embargada, distante, mas a última frase me alerta e meus olhos estão arregalados imediatamente. “Há uma cura?” Indago, talvez esperançosa demais. “A morte.”

Estou prestes a iniciar mais uma sessão de lágrimas e cabeça latejante, mas me contenho. Pelo menos até Igor terminar de falar. “Seus corpos estavam estirados no arenito. Ele de bruços com uma flecha despontando nas costas. Cheguei a tempo de vê-la ainda morrendo. Outra flecha da mesma aljava atravessava seu peito, manchando todo o vestido rosa e a calçada. Ela me sussurrou algumas palavras. Acho que queria se justificar. ‘Eu tentei, mas pelo visto não é de família.’ Foi sua última risada, veio acompanhada de mais sangue e, bem, um último suspiro.” O garoto levanta a cabeça e me encara. “Por favor, Harriet. Ele vai matar você, mesmo depois de morto. Não faça isso. Taylor foi embora, e eu não quero que mais alguém vá.”

Não penso muito e envolvo-o em um abraço molhado. Ambos estamos chorando e eu mal posso responder, mas tento. “Não sou Taylor. Você não precisa ficar preocupado.” “Mas quando eu te olho, só posso enxergar o fantasma dela.”

Seco seu rosto com o polegar e amarro meus braços ao redor de seu pescoço. Ele me vê como sua irmã menor. Morta. Isso deve ser difícil demais. E agora, sendo essa garota, a que morre por amor sem pensar duas vezes sobre as consequências desses atos, sobre quem vai sofrer quando eu for embora e quem vai ficar sem vingança quando eu não estiver mais aqui para fazê-la, eu sou exatamente a dor que Igor havia idealizado.

Um fardo para qualquer um que me conheça.


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Notas finais do capítulo

UNTOUCHABLE - TAYLOR SWIFT
http://www.youtube.com/watch?v=yjetFVpVYYs