Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 21
Capítulo 20 – Âncoras


Notas iniciais do capítulo

Depois de todo o spoiler que eu comecei a dar respondendo reviews, finalmente mais um capítulo o/ ahushaush. E, ah, obrigada pelos reviews que me deram até agora ♥. É a primeira fic que posto aqui então eu estava muito insegura no começo e vocês conseguiram fazer tudo isso parecer bobeira. *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/388153/chapter/21

Acordo num cenário completamente diferente do que eu esperava acordar. Sem amarras em volta dos meus pulsos, nenhum pano amarrado em meu rosto impedindo-me de pronunciar coisas que façam sentido, nenhum porão escuro. Estou no mesmo apartamento pouco espaçoso de NY, do qual eu tinha saído há tão pouco tempo. O arco e a aljava de flechas jogadas sobre a cama desconfortável. Da janela posso ver o clima natalino se espalhando pela cidade. Tudo parece igual, mas só há uma forma de saber se realmente não houveram mudanças. Abro a porta e saio em disparada pelo corredor. A última porta, a única que tem importância. Esmurro-a até minha mão estar dolorida. E então ela se abre.

Eu havia vislumbrado, em minha mente, um confuso ruivo, de cabelos bagunçados, braços tatuados, roupas desleixadas. O que está à minha frente, porém, é bem diferente. Igor. Ele e seus cabelos loiros meio frisados, camisa pólo e suéter verde, jeans impecável. Não penso muito antes de empurrá-lo para o lado e entrar no apartamento. A sala está toda bagunçada, o cheiro é insuportável. Abajur quebrado, estilhaços de vidro refletindo a luz que entra pela janela e iluminando o carpete. Porta-retratos destruídos, derrubados. Atrevo-me a abaixar, pegar uma foto que até então estava virada para baixo. Henry está sorridente e abraça a garota loira de olhos cinza que deve ser Abigail. Surpreende-me, porém, o quanto se parece comigo. O mesmo sorriso acanhado de quem sente que não deveria estar feliz. Mas está. Eu me sentia meio assim perto do ruivo. Ela não parece gostar de fotos. Olha para o lado, mas Henry a está prendendo em seus braços multicoloridos pelas diversas tatuagens.

É doentio, mas dobro a foto e guardo-a no bolso. Forço meu corpo a me obedecer. Sei o que vou encontrar, mas mesmo assim arrasto meu próprio peso até a pequena cozinha. E, por fim, minhas pernas não podem mais sustentar meu tronco e eu desabo. Os azulejos ensanguentados, as correntes onde alguém já esteve amarrado algum dia. A mistura de barro, sangue e, uma novidade, vômito. Uma versão pouco mais mórbida do cenário dos meus pesadelos. Pesadelos sobre Henry. O espaço havia sido desmobiliado, um grande cômodo branco que havia servido de cativeiro.

Sem perceber, estou chorando tanto que cada lágrima carrega um soluço na bagagem. Meus olhos mal abrem, no entanto. Igor senta-se ao meu lado e me envolve num abraço, como fizera na minha última crise. “Ele morava aqui.” Conclui. Não preciso responder. Sinto uma gratidão enorme a ele por não me perguntar nada. Somos amigos, então? Ele presenciou dois dos meus momentos mais vulneráveis. E estou estranhamente afeiçoada pelo seu abraço. Não, isso não me acalma. Abraço nenhum, senão o de Henry, conseguiria manter-me de pé agora. Mas há uma frase não dita que paira no ar quando Igor está por perto: “vai ficar tudo bem.” Fecho os olhos. Não suporto pensar que todo aquele sangue… Ah, céus! Não, ele não pode estar morto, mas é bem provável. Não. Não. Não. Não. Não. Repito em voz alta várias vezes. Encolhida, chorando, sentada no que provavelmente deve ser o sangue do cara que eu amo… Pareço louca.

O loiro passa seus braços por baixo dos meus e reergue meu corpo mole. Estou vagando entre a consciência e a loucura. Quero ficar louca, mas a realidade é uma âncora pesada demais para eu carregar, amarrada aos meus pulsos, dilacerando-os pouco a pouco. Sou carregada com facilidade até o sofá da sala destruída. Continuo repetindo meu mantra, de olhos fechados. Isso dura muito tempo. Não sei exatamente quanto, mas muito. O quarto já está todo escuro quando finalmente posso abrir minhas pálpebras ressecadas e calar minha enjoativa repetição monossilábica. Minha cabeça ainda pende sobre o ombro de Igor. “Eles querem desestabilizar você, Harriet.” Diz. “Não. Não, eu já estava desestabilizada. Antes. Eles me querem focada. Sem Henry. Sem preocupação.” Minha voz está rouca, embargada. “Como se você fosse parar de se preocupar. Se quisessem dar certeza, teriam deixado um corpo para você enterrar.” Ele tem razão. “E o que vão ganhar com uma Harriet desestabilizada?” Suspiro. “Nada, se estiver disposta a não ser você.”

Não ser eu. Eu já havia tentado isso muitas vezes antes. E nunca funcionou. “O que quer dizer com isso?” Levanto minha cabeça. Ah, como ela dói! Apoio-a no tecido macio do sofá. “Quero dizer que eles esperam que procure Henry. Pelo pouco que conheço de você, é uma completa inconsequente.” As palavras duras são suavizadas pelo tom de voz afetuoso do loiro. “Você espera que eu deixe ele de lado? Eu não consigo!” Resmungo, o que me remete á cena aterradora de Henry, preso àquelas correntes como um animal, sangrando, sendo torturado por mim, indiretamente. “Estou apenas dizendo que isso é o que eles não esperam de você.”

Balanço a cabeça negativamente e apenas isso já consegue deixar-me tonta. “Imbecil! Eu irei atrás dele e você não vai impedir.” Respondo, enraivecida. Sei que Igor está tentando ajudar, mas esse foi o conselho mais estúpido que eu já ganhei. “Então eu espero que ninguém mais impeça.” Murmura antes de se levantar. Eu sei que, se isso tudo for uma armadilha, estamos presos. Ele também sabe. Antes de escapar dela, preciso saber com exatidão quem a armou. E se o jogo começou com a morte de Laura, terei sorte em matar dois coelhos com o mesmo tiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TOO LITTLE TOO LATE - JOJO
http://www.youtube.com/watch?v=LlJK45V2as4

(Para ser sincera, apenas algumas partes da música realmente têm a ver com o capítulo. É só que essa música não saía da minha cabeça enquanto eu escrevia. *-*)