Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 23
Capítulo 22 – Laura... De novo


Notas iniciais do capítulo

Hoje vou dar presentinhos pra vocês -q.
Primeiro, sintam-se nomeados lovehunters. Esse é o nome que dei pros leitores. Cute, isn't it? *O*
Segundo, o capítulo tá grandinho. E revelador. Bastante. Muito mesmo.
Espero que gostem. ~o~
(https://lh6.google.com/-W9bjY4un-mM/Ufwkwe2Kf8I/AAAAAAAAFMk/Vj8kaNuI5gs/w728-h330-no/lovehunters2.gif)



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Igor já havia dirigido-se para meu apartamento. Pedi a ele que procurasse pelo nome Caroline Matters na internet. Eu preciso de seu endereço. Preciso saber se Henry conseguiu fugir. E, de quebra, tentar descobrir alguma coisa sobre Abigail. Depois de vasculhar alguns documentos, sei que ela estudava (ou ainda estuda) num centro de dança contemporânea importante de NY e carregava (ou ainda carrega) o sobrenome Humphry. Eu, no entanto, não suportaria carregar a morte da moça em minhas costas.

Enquanto isso, estou começando a lavar a cozinha. O cheiro é horrível, ainda pior que no dia anterior. Não precisamos chamar atenção dos vizinhos e, em seguida, da polícia, para o cenário de um possível crime, então alguém precisa limpar. Igor se ofereceu para isso e até mesmo insistiu, mas eu tenho que me conformar. Não que eu tenha certeza da morte de Henry, bem longe disso. Mas todo aquele sangue é um fantasma que eu mesma preciso enterrar. Encontro alguns produtos de limpeza no banheiro e encho um balde d’água. Derramo tudo encima das poças vermelhas e secas, que começam a se desgrudar dos azulejos como geléia. Reprimo a vontade de vomitar e me abaixo para esfregar com esponja e desinfetante manchas insistentes que não se conformavam em sair. Há também, em alguns pontos, uma mistura pastosa de barro.

Mas como há barro na cozinha e em nenhum outro lugar do apartamento? Alguém aqui pode se teletransportar, afinal.

Quando acabo de limpar já estou chorando de novo. Há um desequilíbrio emocional muito ridículo em mim. Torço o pano umas quatro vezes na pia para secar toda a água que joguei no chão. Ao terminar, o tecido já tem cheiro e cor duvidosos, obrigando-me a jogá-lo no lixo. Preciso ainda usar vários detergentes fortes para dissipar o horroroso odor de fluídos corporais se decompondo. Argh.

Tranco a porta do apartamento e vou para o meu. Surpreende-me que Gaia ainda não tenha aparecido. Talvez a estejam impedindo. Talvez estejamos presos sem saber.

“Você não tem ideia de como Caroline Matters é um nome comum.” Igor diz quando entro no cômodo. Como desconfiei, Gaia havia deixado para mim um notebook. “Dê um jeito, eu visitarei todas as Carolines até encontrar a que procuro.” Murmuro, jogando-me na cama ao lado do garoto para olhar a tela. “Não tem a mínima ideia do que ela faz?” Pergunta. “O escritório dela tinha o mesmo nome.” Respondo, forçando a memória, tentando ter uma lembrança mais nítida daquele cartão vermelho. Por que diabos eu não pensei em decorar aquela coisa?

“Hm, parece que há um escritório de psicologia Caroline Matters nos limites da cidade e, bem, é o único com esse nome no estado.” Ele diz enquanto anota o endereço na mão. “E sobre Abigail?” “Os pais dela moram em Indiana, são aposentados. Ela veio para estudar dança. Acha que devemos procurá-la? Sim, devemos, mas antes preciso saber se Abigail realmente precisa ser procurada. “No caminho para o escritório passamos no centro de dança. Talvez ela ainda esteja o frequentando.”

Tranco-me para tomar um banho, esperando que tenha as mesmas propriedades relaxantes que alguns dias atrás. Engano. Estou tão tensa que nem afogar-me em lava ajudaria a desatar os nós em meus músculos. Jeans, blusa de botões, suéter e coturnos, limito-me a pegar qualquer coisa sem nem ao menos olhar a cor. Meu reflexo no espelho é uma criatura de olhos inchados e feridos, bochechas vermelhas demais, contrastando com todo o resto da pele pálida. Recorro à maquiagem, outro presentinho de Gaia, para esconder algumas evidências do meu estado de espírito.

Pegamos um táxi no ponto mais próximo. O taxista é um cara de olhos puxados, cabelos ralos e grisalhos assim como o longo bigode, no qual eu juro poder fazer uma trança. “Centro de Dança Contemporânea Martha Graham.” Igor diz para o homem, que hesita um pouco antes de dar partida. Não demora muito até que, entre todos os enfeites natalinos e edifícios de tijolos laranja, um se destaque pela quantidade de portões vermelhos que possui. “Pode esperar aqui? Não demoro.” Pergunto ao taxista, ele assente. Saio do carro, apressada, e o loiro anda atrás de mim como uma sombra. Além da sombra bem-vestida e sexy, admito, me escoltando, sinto-me vigiada. Ignoro a sensação e continuo andando em direção ao interfone, o retângulo com um só botão prata e uma caixinha de som no meio. Ao pressioná-lo, posso ouvir a voz desagradável da secretária. “Quem gostaria?” Não penso muito para responder. “Taylor e Louis Humphrey, irmãos de Abigail Humphrey.”

O nome Taylor sai de minha boca simplesmente por ter sido o primeiro no qual pensei. Balbucio desculpas para Igor imediatamente, ele parece não ligar. Em questão de segundos o portão vermelho se abre e revela um vasto pátio. Algumas garotas esguias e de cabelos presos em coques vagam pelo lugar com mochilas nas mãos. A alguns metros, um único portão de vidro que leva-nos até a secretaria. Antes dele, uma escada de mármore cercada por um pequeno jardim, cheio de pequenas esculturas de pedra que retratam arranjos do balé. A sala é toda branca, destoam-se quadros coloridos em tons vibrantes com retratos da mesma mulher. Provavelmente Martha Graham. Cada cenário mais abstrato que o outro. Duas cadeiras almofadadas, uma estante cheia de livros grossos sobre arte contemporânea, algumas revistas encima do balcão de madeira. “Taylor e Louis Humphrey?” A mulher atrás do balcão pergunta, deve ser a secretária que abriu o portão para nós. “Sim.” Respondo, sorridente.

“Se não tivesse dito antes, eu pensaria estar na frente de Abigail. São gêmeas?” Ela tem longos cabelos cabelos ruivos, uma franja que cobriria seus olhos se não fosse pela grande armação preta dos óculos. Aparenta uns vinte anos, com a pele clara, bochechas coradas e olhos castanhos. Traja uma blusa de lã preta com gola alta, onde está preso um crachá dourado de metal. Isabel. “Não, não somos, mas poderíamos ser.” Brinco, ela sorri para mim. Não tem a voz tão desagradável quanto me pareceu pelo interfone, é até simpática. “E você, Louis? Vejo que é a ovelha negra, não se parece nem um pouco com as duas.” Isabel ri, Igor também entra na brincadeira. “Bem, sem querer ser esnobe, mas acho que puxei o melhor lado da família.” O loiro apoia seus cotovelos no balcão. Ok, ele é charmoso. Mas, peraí, ele está tentando seduzir a moça? Anyway, ela revira os olhos e volta a falar comigo. “Vieram pegar as coisas de Abigail? Quando ela trancou a matrícula saiu daqui tão desnorteada, tadinha. Mal tive tempo de entregar para ela o que deixou no armário.” Desfaz seu sorriso, olhando para mim como quem busca uma resposta para o acontecido. “Sim. Ela está meio abalada, a vida social não está indo bem e… Tá precisando dar um tempo, sabe? Longe de tudo.”

Sinto-me digna de um Oscar.

“Sem querer ser indiscreta, mas são mais problemas com Henry?” O nome acaba com minhas promessas de futura atriz e meu estômago começa a revirar, assim como o coração, que ameaça vir parar na boca. Igor assume meu lugar, vendo que não há mais condições de eu continuar falando. “Henry é sempre um problema.” Isabel assente com a resposta e se abaixa detrás do balcão de madeira, voltando com uma caixa de papelão nas mãos. “Normalmente pediria uma papelada para que retirassem as coisas dela, mas vocês se parecem tanto… Não vou complicar as coisas.” Entrega a caixa e acena para nós, que já estamos nos dirigindo de volta para a saída. O loiro carrega com facilidade as coisas de Abigail. Devo dizer que me incomoda muito que ela se pareça tanto comigo. Não é normal. Mas ignoro até onde for possível, tentando não cavar um outro problema quando já tenho tantos.

O mal-estar que vem com o nome do ruivo já passou quando chegamos no táxi, que nos espera firmemente quase encostado no meio-fio. Igor, dessa vez, assume um banco na frente enquanto eu fico com todo o espaço atrás, e me entrega a caixa. Talvez pense que eu deva olhar aquilo tudo sozinha, e concordo. Deve haver coisas sobre Henry ali.

Há um par de sapatilhas, um porta-retratos vazio, um CD onde se lê “Abbie Stuff”, um bloco de anotações vazio e, finalmente, um desenho. Amassado, surrado, feito em giz-de-cera, borrado com manchas de café. Perco a respiração, sinto-me numa crise de asma. Quero gritar, mas não encontro voz para isso. Pela terceira vez no dia, me perco numa enxurrada de lágrimas, estou acostumando-me ao gosto que têm.

Lápis-de-cor ou giz-de-cera? Decide no uni-duni-tê, sua mão pousa sobre o estojo de gizes coloridos. Harriet está debruçada numa folha em branco. De todas as formas de pedir desculpas para a irmã por ter furtado alguns de seus bombons, essa foi a que mais pareceu ter chances de funcionar. Rabisca ela e Laura, com vestidos vermelho e rosa, respectivamente. No peito da irmã desenha um coração flechado. É a marca registrada da garota que, secretamente, sempre sonhou em ser cupido. Acima das cabeças das bonecas, nuvens azuis, pássaros pretos. Harriet faz questão de desenhar estrelas com o giz branco. Mesmo que não apareçam, elas estão lá. Usa um giz de cada cor para escrever “Desculpa.” Sente-se satisfeita com o resultado e tropeça pelas escadas, ansiosa pela reação do destinatário.


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Notas finais do capítulo

BLEEDING OUT - IMAGINE DRAGONS
http://www.youtube.com/watch?v=gJEoxeW7JvQ