As Aventuras de Rin Casaco Marrom escrita por Sem Nome


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 15 :D
Primeira aparição da Luka



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Capítulo 15

Aquele com o Maravilhoso Reino das Crianças


Rin sonhou com uma porção de coisas. Nem sabia que era possível sonhar quando se está desmaiado. Mas sonhou com o Vilarejo de Menta, com o orfanato e com as outras crianças.

Reviveu a primeira lembrança de sua vida, de quando ela o outros moleques ralaram os joelhos e cotovelos quando perseguiram uns vira-latas na rua. Lembra-se de ter contado vantagem de que seus cortes saravam mais rápido, e dos outros resmungando, dizendo que era injusto. Por que só ela?

E, realmente, por que só ela?

Reviveu o momento que perdera o primeiro dente-de-leite, comendo amendoíns, e quando abriu a gaiola dos pássaros em uma loja de animais, e quando foi atacada por uma colmeia de abelhas. Ou seriam vespas?

Ainda assim, não entendia porquê estava sonhando com tudo aquilo naquela hora. Seus sonhos sempre foram uma confusão só, poucas vezes faziam algum sentido.

Acordou com o rosto pressionado contra uma tora de madeira, lábios secos e boca com um gosto salgado. A parte de trás do pescoço ardia furiosamente, queimada de sol, o que significava que passara um tempo considerável apagada, boiando sem rumo.

Levantou-se apenas quando uma pequena onda chegou até suas pernas, assustando-a. Estranhou a falta das botas em seus pés, mas lembrou-se de que as havia tirado quando pulou na água.

Passou a mão pelos cabelos agoras endurecidos pela areia e água do mar. Estava cansada, mesmo que tivesse “dormido” bastante. Os cortes em seu corpo haviam sumido, como o esperado, mas a cabeça ainda doía.

O baú se encontrava bem perto dela, meio enterrado na areia. Com o rosto também apoiado no pedaço demadeira, ninguém menos que Len. Ele podia estar sonhando com várias coisas, mas com certeza não eram coisas agradáveis.

- Len, acorde! – ela o chacoalhou, sem resultados – Len, acorde! – pegou um de seus pés na mão esquerda e, com a direita, passou a pontas dos dedos na sola. O rapaz acordou em um pulo, completamente alerta.

Piscou algumas vezes, certificando-se de que não havia perigo, e soltou a respiração. Espriguiçou-se, esticando as cascas de ferida que começaram a rachar em protesto.

- Estão quase boas – disse alegre, examinando as marcas de mordida em seu braço – Deve ter sido a água do mar. Ainda bem que não pegamos nenhuma infecção.

Ela esperou que ele desse uma olhada na paísagem ao seu redor e tentasse juntar as peças do quebra-cabeça para bombardeá-lo com perguntas.

- O que aconteceu com o resto de nós?

- Eu não sei direito... – ele se pôs de pé – Sei que o peixe destruiu boa parte da coisa de madeira – apontou para a tora de madeira onde, certamente, havia usado como boia – eu me preocupei mais em tirá-la de perto da desordem do que em enfrentar aquilo.

- E como chegamos aqui? – ela olhou em volta, para reforçar.

- Eu me agarrei a roda de madeira, e a segurei. Mas o peixe gigante afastou a coisa de madeira para muito longe, e eu não sei nadar direito. Anoiteceu, fiquei cansado e dormi.

Rin mordeu os lábios. Pensando em Meiko, Oliver, Big Al, Sweet Ann, e até mesmo em Kaito e Miku. Aquela tora que usaram como boia certamente era parte do mastro.

- É difícil manter uma roda de madeira, uma caixa e uma pessoa por perto, sem que nenhum deles escape e seja levado embora – Len olhou para os pés enquanto falava, dando uma justificativa (sem saber se para Rin ou para si mesmo) por não ter conseguido mantê-los junto dos outros – Principalmente quando não se nada bem.

- Não fique triste – ela tomou sua mão. Aquilo havia virado um hábito – Vamos encontrá-los. Por hora, temos que procurar um lugar na sombra e descobrir o próximo pedido do não livro.

Se afastaram da beira do mar, Len com o tesouro debaixo do braço. Aparentemente, a ilha era muito pequena, porque não demorou muito para chegarem a uma área onde as árvores se encontravam bem próximas umas as outras. Não eram do tipo tropical, e havia até um pouco de grama aqui e lá.

Rin sentou-se debaixo de uma das árvores (a maior de todas), e esperou que o rapaz estivesse sentado ao seu lado para examinar o baú, pela primeira vez, meticulosamente.

Por sorte, a trava que o fechava não precisava de chave, e Rin só precisou girar a tranca e abrir o tesouro. Como suspeitava, não havia muita coisa dentro dele. Só o anel mais belo que ela já vira na vida.

Ele era preto (Rin imaginava que era do mesmo material que a lança, agora perdida sabe-se lá onde) e grande, indicando que pertencia a um homem, e a pedra que o enfeitava não se parecia com nenhuma gema que a menina já tivesse visto na vida. Mudava de cor dependendo do ângulo que a pessoa olhasse.

- Não é à toa que o capitão tenha se agarrado tanto ao baú – falou mais consigo mesma do que com Len – É um belo anel.

Ela lembrou-se de uma velha história, de um rei que teve seu anel roubado e, enfurecido, mandou todos os guardas a seu dispor procurar e matar os ladrões. Mas o anel nunca foi achado.

- Sim, provavelmente é este o anel perdido – murmurou, não se importando se aquilo deixou o rapaz confuso – É até uma pena ter de entregá-lo ao não livro!

Relutantemente, folheou o mesmo até chegar na página certa, deu uma última olhada na jóia e a aproximou da página.

Rin Casaco Marrom não sabia se ficava triste ou feliz quando a página não engoliu o anel, não enlouqueceu e não fez mais um pedido. Primeiramente, ela imaginou que o não livro estava “quebrado”, mas a dura realidade a atingiu pouco depois.

O anel não era o pedido.

Deixou-se cair de costas na terra, com um suspiro exasperado, mãos tapando o rosto. Passou por tudo aquilo para nada, absolutamente nada! Sentiu vontade de jogar o não livro no mar e esquecer de tudo.

Ficou com as mão no rosto por um tempo considerável, mais por frustração do que por tristesa. Era um tanto cómico, e ao mesmo tempo terrível, que, algumas semanas atrás, se jogasse um anel em um livro e ele não engolisse, acharia a coisa mais natural do mundo.

E lá estava ela agora. Morrendo de decepção porque um livro não fez exatamente isso.

Len a encarava, sem ter muita noção do quão grande era o problema. Talvez um pouco de comida a fizesse sentir melhor. Mas ele não via nenhuma nada comestível por perto. Então decidiu que sua presença deveria ser o suficiente para tornar as coisas melhores.

A presença dela era o suficiente para tornar as coisas melhores para ele. Então imaginou que o contrário também era verdadeiro.

Para passar o tempo, pôs-se a cutucar uma de suas casquinhas, mesmo que Rin o tivesse dito para não fazê-lo. Ela continuava deitada, mas o rapaz desconfiava que, antes de tudo, era porque estava cansada.

- Você está com fome? – Len já estava farto do silêncio de Rin. Ele era o calado, e não ela – Eu posso trazer comida.

Ela olhou para ele como se tivesse acabado de dar-se conta de que estava lá. Suspirou e forçou um sorriso.

- Tem razão. Deveriamos estar procurando um bom café da manhã agora, não é mes... Len?

Ele estava cheirando o ar furiosamente. Sentia o cheiro de pessoas. Humanos. Não só de um, mas dezenas. E em um pulo, se pôs de pé.

Você deve estar pensando que ele não devia ficar tão nervoso só porque sentiu o cheiro de humanos, não? Mas tente ver pelo o lado de Len. Ele sabia que, quando querem, as pessoas podem ser muito cruéis. E sentiu na pele toda essa crueldade.

O som de passos os rodearam, e ele soube que estavam presos. Rin colocou o anel no dedão da mão, ainda que ficasse folgado, e se encolheu no casaco. Sua lança estava perdida em algum lugar do mar, e não podia fazer nada.

Len concentrou-se mais na audição do que no faro e percebeu, pouco tempo depois, que os paços eram muito leves e rápidos para pertencer a um adulto.

E, como previsto por ele, um monte de cabecinhas com cabelos despenteados e mal lavados (alguns com chiclete preso entre os fios) saíram por entre os arbustos, sem mostrar o corpo.

- Mais gigantes! – exclamou um com cabelos tão sujos que não se podia dizer que cor era.

- Eles estão por toda parte agora! – uma menina saiu dos arbustos, com vestidinho rasgado e enlameado – Imagino quantos são!

- Chamem o rei! – pediu outro, com cabelos pretos e enroladinhos.

Um grupinho de quadro crianças se afastou dos outros, enquanto os que ficaram saíram de trás dos arbustos e fecharam ainda mais a roda. As meninas puxavam o casaco de Rin e pulavam para passar os dedinhos em seus cabelos e rosto, enquanto os meninos pulavam nas costas de Len e puxavam seu rabo de cavalo.

- Vejam! Ela, sim, tem cara de princesa! – uma das meninas examinou Rin dos pés a cabeça, com um olho fechado, juntando o polegar e o indicador de cada mão em uma câmera improvisada – A outra parece mais uma... uma rainha! E todo mundo sabe que a princesa é o centro da história!

- E esse aqui é menino! – um dos garotos comemorou, agarrado à perna de Len – Eu achava que só existiam gigantes meninas! Que felicidade! Ele vai participar da guerra de lama com a gente! – ao dizer isso, os rostos dos outros menino se iluminou.

- Nada disso! – retrucou a menina da câmera –, ele vai ser o príncipe da peça, e um príncipe não fica rolando na lama como um porco!

- Mas ele não quer participar dessas historinhas bobas de menina! – outro menino, que usava apenas uns shorts velhos pegou na mão do rapaz com ambas as suas – Arrumem outro gigante para ser o príncipe idiota de vocês!

- Acho que eles têm razão desta vez – uma outra menina, essa um pouco mais baixa e magra cutucou a outra – Um príncipe deveria ser majestoso e montar em um cavalo branco. Ele não tem muito cara de príncipe, não.

- Eu sei – cochichou a outra, mas todos estavam ouvindo de qualquer jeito – Mas quando será que encontraremos um gigante menino de novo?

Rin estava atônica. Nunca esperou que alguém no mundo fosse chamá-la de “gigante”, muito menos de “princesa”. Len estavam mais ocupado tentando tirar os moleques de suas costas do que prestando atenção na conversa. E antes que uma verdadeira guerra se iniciasse entre a menina da câmera e o menino da lama, um garoto de cabelos verdes e enormes dentes da frente, escoltado pelo grupo das quatro crianças, saiu por entre as árvores.

Todos os outros se ajoelharam no chão, perante o moleque com uma coroa de papel e um cabo de vassoura com um ursinho de pelúcia na ponta. Quando perceberam que a dupla não se baixou, as crianças os puxaram pelos braços, até que estivessem de joelhos também.

- Levantem-se, meus súditos – ordenou o rei, com muita dignidade para uma criança de aparentemente sete, oito anos. Todos o obedeceram.

- Vossa majestade Ryuto Caçador de Minhocas – começou o menino – Nós encontramos mais gigantes!

- Eu não sou cego, isso qualquer um pode ver! – o rei aproximou-se dos gigantes – Vocês, assim como a outra gigante, invadiram nossos domínios, e por isso devem ser levados conosco!

Rin olhou ao redor, confusa.

- Vossa magestade – disse, tímidamente, sem saber se ela poderia referir-se à ele assim, mas, a julgar pelo sorriso orgulhoso de Ryuto, aquilo o agradou –, não poderia conceder-me a honra de iluminar minha mente? Não creio que invadimos seus domínios. Não entramos em nenhuma cidade, muito menos em um reino.

O menino fez uma careta de incrédulidade, e abriu bem os curtos bracinhos de criança.

- Parece que todos os gigantes são uns bobos, mesmo! – concluiu – A ilha inteira é nosso reino. Mesmo que ficasse na praia, já o estaria invadindo. Invadindo o Maravilhoso Reino das Crianças! E serão levados como nossos prisioneiros.


. . .


Meiko encarava os curativos em suas mãos. Ela se encontrava do lado de fora da pequena casa de Kaito e Miku, apoiada na parede. Lá em baixo, Big Al discutia com os piratas, que estavam irritados e assustados.

O navio havia sido quase completamente destruído, e por pouco não conseguiram escapar. Foi por muita sorte que chegaram até o porto. E agora os marujos não queriam voltar para o mar de jeito nenhum.

Suspirou. Como iria procurar Rin e Len sem eles, não sabia.

Miku saiu do pequeno apartamento que dividia com o irmão agora descansando em um dos colchões no chão. A garota nervosamente se postou ao lado de Meiko.

- Ele vai ficar bem? – perguntou a morena.

- Como? – Miku não entendeu.

- Seu irmão – esclareceu – Ele vai ficar bem?

- Ah – a esverdeada observava a confusão entre os piratas – Não se preocupe, ele dorme por algum tempo, mas depois acorda.

- Então não foi a primeira vez que ele fez isso?

- Claro que não. Kaito descobriu suas habilidades quando tinha uns sete anos. Mas como ele sempre ficava cansado e desmaiava, decidiu que não era para ficar usando o tempo todo.

- É porque ele não treinou – Meiko murmurou, lembrando-se de todos os seus desmaios no inicio. Todas as vezes que sentiu o chão sumir e o mundo nublar, mas nunca ficou apagada por tanto tempo. Ficaram em silêncio por alguns minutos, mas uma pergunta se formou na mente da morena – E você?

- O que tem eu?

- Tem alguma habilidade?

Miku trocou o peso de um pé para o outro.

- Se tenho, é porque ainda não a descobri – admitiu – Mas acho muito difícil que seja esse o caso. Seria esperta o suficiente para descobri-la, se de fato existisse.

- Como é modesta – ironizou a outra. E naquele exato momento, o azulado reapareceu de dentro do mini apartamento.

Ele estava sonolento e tonto, mas não parecia que tivesse adquirido nenhuma cicatriz devido às atividades anteriores.

- Dia... – comprimentou.

- E então? – Miku lhe sorriu – Como está se sentindo?

- O mesmo lixo de sempre – brincou Kaito. Ele examinou a área ao redor, sentindo falta de uma coisa. De duas coisas, mais precisamente – Onde estão Rin e Len.

- Perdidos sabe-se lá onde – Meiko cruzou os braços.

- Vivos?

Ela encolheu os ombros, e, apesar de tentar esconder, até um cego poderia ver a tristesa em seu rosto.

- Aonde quer que aquela menina vá – murmurou – problemas brotam do chão como mortos-vivos na noite do Deus do Cemitério.

- Ah, não tem problema – Kaito sentou no chão, apoiado na parede – Big Al é um especialista nos mares. Vai achá-los antes de alguém ter a chance de começar a sentir saudades de verdade.

- Eu não acho que os marujos voltarão a obedecer suas ordens – Miku continuou ouvindo a confusão.

- Bem, não importa – Meiko afirmou decidida, jogando sua tristesa fora. Ficar sentado se lamentando nunca ajudou ninguém a fazer nada – Eu vou encontrá-los, com ou sem navio.

Ela foi até a escada, com passos largos.

- E, Kaito – virou-se – Obrigada por salvar minha vida.


. . .


Muito embora estivessem, teoricamente, sendo levados como prisionerios Len e Rin não foram algemados, amarrados ou presos. Pelo contrário, as crianças discutiam entre si para decidir quem andaria ao lado dos gigantes.

- Pouco tempo atrás – Ryuto andava na frente de todos –, encontramos outro gigante, uma menina. Ela cozinha muito bem, e agora temos biscoitos e doces quentes todos os dias.

- Se vossa majestade me permite perguntar – Rin coçou a cabeça, meio que ignorando o que foi dito pelo rei – onde estão seus pais? Os pais de todos vocês?

Todas as crianças engasgaram e olharam feio para Rin.

- Não fale a palavra proíbida! – um garoto deu um tapa no braço da menina, mas logo se afastou dela quando recebeu um olhar nada amigável de Len.

- Fique sabendo que aqui não há pais nem mães! – o rei bateu o cabo de vassoura no chão e virou-se, ofendido – No Maravilhoso Reino das Crianças, nós não tomamos banho, não dormimos cedo, não acordamos cedo, não fazemos contas, não usamos talheres para comer e não comemos vegetais!

Todos os suditos começaram a gritar, com as mãos para cima, em um brado de vitória. Ryuto logo se juntou ao coro.

Rin piscou, impressionada. Sim, ela sabia como era a vida sem pai nem mãe, mas nunca pensou que fosse possível um grupo de crianças fosse capaz de viver sem nenhum adulto por perto.

- Há quanto tempo vocês vivem assim? – quis saber. Uma alimentação tão pobre, a falta de higiene e, claro, a flata de bom senso não eram um trio favorável à sobrevivência.

- Cem, duzentos, talvez trezentos anos... – Ryuto levou a mão até o queixo, tentando lembrar – mas eu não tenho uma noção muito boa de meses e anos...

- Tudo isso!? – dessa vez até Len se espantou.

- Então isso quer dizer que as crianças aqui somos nós! – Rin apontou para si mesma.

- Me diga – o garoto de cabelos verdes recomeçou, sua paciência pequena de criança já nos limites – Vocês tomam banho?

- Sim...

- Dormem e acordam cedo?

- Bem, as vezes...

- Sabem fazer contas?

- Eu sei...

- Usam talheres para comer?

- Sim.

- Comem vegetais?

- Sim, mas...

- Então as crianças aqui somos nós!

Rin desistiu de tentar convecer Ryuto do contrário. O resto da caminhada foi silenciosa, a paísagem não mudando muito no caminho, então a menina passou a observar os próprios pés em vez das árvores repetidas ao seu redor.

Uma das crianças lhe cutucou as costas, fazendo-a levantar a cebeça, para contemplar uma das coisas mais curiosa que já vira na vida.

Um pouco abaixo do monte de terra onde se encontravam, havia um monte de casinhas feitas de blocos de montar, todas coloridas. O chão era feito de uma espécie de cama elástica (mesmo que ainda estivesse longe, alguns moleques pulavam nele, lá embaixo, parecendo formigas). Todos os tipos de brinquedos podiam ser vistos espalhados por aí.

As crianças ao lado de Rin correram em direção à amada cidade, e só Ryuto manteve a compostura e acompanhou o passo dos prisioneiros/convidados.

Ao chegar lá, era praticamente impossível andar normalmente, com todos os habitantes da cidade pulando ao mesmo tempo, principalmente com amaioria deles se aproximando dos mais novos gigantes.

O lugar era uma miniatura de uma cidade normal. Com pequenas casinhas, pequenas lojinhas, pequenas ruas, pequenas janelas, pequenas portas, pequenas tudo.

- Nós temos uma bela fonte de chocolate ao leite – o rei se gabou – Se gostam de chocolate ao leite, vão gostar da fonte.

Mas antes que pudessem dizer se queriam visitar a fonte ou não, várias meninas se aproximaram, trazendo pela mão uma moça de cabelos rosados e olhos azuis claros, vestindo shorts e uma camiseta com mangas até os cotovelos e descalça.

- Ora, vejam só – a moça exclamou – outros “gigantes”!

Os pequenos juntaram os três gigantes, na esperança de que fossem fazer amizade. Rin e Len deram o primeiro passo e apresentaram-se.

- Meu nome é Luka, muito prazer.

- Luka de que?

- Apenas Luka. Meu sobrenome pouco importa – ela deu uma boa olhada nos cortes de Len – O que ele andou fazendo? Nadando em um lago cheio de piranhas?

- Não está muito longe da verdade...

- Se você quiser, posso tratar de seus ferimentos – ofereceu à Len – Mesmo que já estejam quase bons, um remedinho a mais não faz mal.

- Ela trouxe um monte de frascos esquisitos com ela – uma das crianças se apressou em relatar, fazendo Luka dar uma risadinha.

- Eu sou uma quase médica – explicou – conheço um truque ou outro.

- Jura!? Ah, você chegou bem na hora! – Rin comemorou – Por favor, ajude meu amigo.

- Se é assim – Luka pegou na mão dos dois – Me acompanhem até minha casa.

Eles, meio que pulando, meio que andando, atravessaram a cidade inteira. As crianças protestaram, mas Luka lhes explicou que, assim que tratasse dos machucados de Len, poderiam brincar o quanto quisessem com eles.

A casinha onde a moça estava “hospedada” era pequena como tudo mais no reino, e eles não conseguiam ficar de pé sem ter que se abaixar um tantinho.

- Muito bem, Len, isso pode arder. É bem forte, para atravessar a casquinha – Luka misturou três líquidos e despejou um pouco em um algodão. Len fechava os punhos e tentava se afastar toda vez que a rosada tentava aproximar o algodão à sua pele.

Rin lhe disse que podia apertar sua mão, se quisesse, mas quase se arrependeu disso depois. Sua mão foi quase quebrada, mas Len precisava dela.

- Essas crianças não são malvadas quanto dizem ser – a médica jogou o algodão fora e fechou o frasco – Dizem que vão mantê-los prisioneiros para sempre, mas quando perderem o interesse, nem perceberão que foram embora – ela cobriu os cortes com gaze.

- O que está fazendo aqui, Luka? – questionou Rin, tentando achar um padrão na parede de blocos colorida, mas sem encontrar nenhuma sequência lógica.

- Vim aqui em busca de medicamentos – respondeu – Mas acabei encontrando com os pequeninos lá fora. Mas não ficarei por muito mais tempo, tenho que voltar para casa, urgente. E amanhã bem cedo, sairei daqui em meu barco.

- E você sabe onde estamos agora?

Luka arqueou uma sobrancelha.

- Como chegaram aqui? Boiando?

- Você está sempre certa, pelo visto.

- Estamos no Arquipélago dos Oitos Triângulos – ela desenhou oito pequenos triângulos em um papel, de modo que a ponta de cima de cada um quase encontrasse com as dos outros, formando um octógono dividido.

- Aquele que dizem que há um demônio da água no centro? – Rin recordou de algumas história. Len apenas cutucava os milhares de frascos de Luka com a unha.

- Isso mesmo – Luka abriu a porta – Agora vão. Eles devem estar esperando por vocês ansiosamente.


. . .


Meiko observou os marujos abandonarem o barco, para passar a noite em algum hotél qualquer. Kaito e Miku estavam ao seu lado. Concordaram em ajudar apenas porque Meiko disse que os deixaria em paz se fizessem mais uma coisa.

O sol do final da tarde iluminava o mar e o pintava de vermelho, laranja e amarelo.

Andaram pelo porto lentamente, fingindo uma conversa qualquer, como se não tivessem planejado chegar até o porto. Aproximavam e se afastavam do pequeno barco casualmente, para ter certeza de que não havia ninguém dentro dele.

Era uma embarcação moderna, com motor e cabine. Certamente uma de pesca ou de lazer.

Até que finalmente subiram nela em um pulo e, com mãos rápidas os irmãos rapidamente o desamarraram e ligaram o motor, sem precisar de chave.

Alguém não acharia o barco de manhã.


. . .


Aquele foi o dia mais cansativo que Rin havia tido em anos.

O rei Ryuto decidiu que os gigantes, não importavam se eram meninos ou meninas, participariam de todas as atividades.

Então, encurtando a história, Len, Rin e Luka tiveram que participar de uma peça teatral, fazer guerra de lama, apostar corrida com os pé amarrados, tentar acertar uma piñata com os olhos atados, desenterrar insetos e minhocas, brincar de casinha, rolar na grama e muitas, muitas outras coisas. Len ganhou a maioria das competições esportivas.

Agora estavam todos enlameados e sujos, sentados em uma roda no centro da cidade, contando piadas e comendo doces e biscoitos com as mãos sujas (menos os prisioneiros, que tiveram permissão de lavar as mãos em um rio próximo). Os cabelos de Rin estavam cheios de grama, e seus joelhos estavam marrons e verdes.

Sentiu como se tivesse voltado no tempo.

Um dos garotos estava contando uma piada sobre um elefante e um macaco enquanto comia um um puxa-puxa, mas a interrompeu de repente, olhando para o céu.

Os outros acompanharam seu olhar, e gritaram mais alto do que a menina achava que fosse biologicamente possível, mas logo entendeu a razão.

Lá no céu, meio azul, meio verde, mas ainda possíbilitando a visão do sol do final da tarde, estava uma coisa que Rin não sabia dizer se era animal, espírito, humano ou monstro.

Ele não tinha o formato de nada, porque mudava o tempo todo. Parecia feito de névoa e água. O rosto, que era a única coisa que se mantinha igual por mais de alguns minutos, mais verde que o resto do corpo, era arredondado e um tanto fino, como o de um cão com longos bigodes caindo pelos lados de sua boca. Os olhos, estranhamente amarelos.

Apenas parte do corpo poderia ser visto, enquanto o resto parecia estar na ponta da ilha.

- Luka, o que está acontecendo?! – Rin se fez ouvir entre os gritos dos pequenos.

- Eu não sei! – admitiu- Eu não sei!

As crianças gritavam e corriam desorganizadamente, esbarrando uma na outras tentando achar abrigo. Falavam alguma coisa sobre “esfera das almas”.

Len e Rin se esconderam em um beco estreito, e Luka entrou em sua casa.

Até que uma fina névoa viajou rápidamente até os pequenos, que se desesperaram ainda mais. O fio de névoa foi até a menina da câmera, e entrou em seu nariz e boca.

Ela começou a chorar e tremer. Caiu no chão, gritando até que sua garganta não aguentasse mais. Rin quis ir até ela, mas Len a segurou com toda força, chegando até a machucá-la. Ela também chorava, ela também gritava.

As convunções não pareciam ficar melhores. A menina estava ficando cada vez mais magra e pálida. Estava murchando, seus ossos aparecendo. Até que não restou mais nada do que isso.

Ossos.

A névoa se foi, assim como a coisa no céu.

Os soluços de Rin se misturaram com os da outras crianças, de luto pela amiga morta. Len também fungava, olhos e nariz vermelhos.

- Ele voltou mais uma vez – Ryuto lamentou – O demônio da água voltou mais uma vez.



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Notas finais do capítulo

Adivinha com quem a Rin e o Len vão se meter?