As coisas não estavam do lado de Susana. Ela sabia que ao se entregar no lugar de Edmundo teria que pagar um preço. Ela até tinha pensando que a matariam. Até preferia a morte do que estava prestes a acontecer.

— Está tão linda, minha rainha. — Disse Rabadash entrando em seu quarto.

Susana estava de frente para um espelho, seu vestido branco caia perfeitamente em seu corpo, no comprimento da saia havia pequenas perolas. O cabelo castanho da rainha gentil estava solto enquanto uma delicada tiara descansava no topo de sua cabeça. A maquiagem que as criadas haviam passado era para disfarçar os olhos inchados de tanto chorar.

Iria casar com Rabadash. Seu maior pesadelo.

A cerimônia iria acontecer no pátio do castelo de Miraz e todos os telmarinos estariam presentes e outros amigos do Tirosc. O próprio Miraz iria realizar o casamento. Susana não sabia se sentia honrada ou enojada.

Uma criada viera busca-la no início da cerimônia. Susana não fez cena, sabia do que seria submetida caso não fizesse o que Rabadash mandasse. Seu rosto estava inexpressivo. Não havia mais o que chorar, suas lagrimas haviam secado. Só restara a dor no coração. Uma dor que nunca passaria.

Chegou ao tapete vermelho e sentiu os olhares de todos.

Caminhou, como rainha que sabia que era.

A cada passo que dava era uma chegada cada vez mais próxima do seu próprio inferno. Fechou os olhos por um segundo e visualizou a imagem de Caspian e por um segundo ela sorriu, sorriu ao imaginar como seria perfeito se estivesse caminhando para ser esposa dele.

As lagrimas voltaram!

Ela segurou. Não iria chorar. Não iria mostrar fraqueza.

Menos de 5 passos a frente Rabadash a esperava. Um sorriso enorme decorava seu terrível rosto.

Susana se viu presa em uma jaula. Fechou os olhos tentando se livrar daquela sensação, mas era impossível. Sentiu suas pernas ficarem bambas, apertou os olhos com força e apenas sentiu o corpo indo encontro ao chão.

.....

Caspian queria bater em alguém. Mais precisamente em Rabadash. Sentia náuseas só de imaginar sua adorada Susana casando com aquele porco.

A notícia correu por toda Nárnia.

O soberano da Calormânia havia finalmente encontrando uma dama e casaria com ela naquela manhã.

Seu corpo implorava por ar, por algo que acabasse com aquela dor que crescia cada segundo mais em seu peito. Queria ir até aquele castelo e acabar com o casamento, enfiar uma espada no coração do Tirosc e salvar Susana de todo aquele terror. Porém, não deixaram. Edmundo, que estava terrivelmente abalado com tudo que estava acontecendo, o segurou firme e o prendeu em seu quarto e ali estava Caspian desde então.

Tentava agir racionalmente, devia isso a Susana. Estava até planejando um jeito de salvá-la, ficara quase a noite toda com Edmundo pensando em vários planos, estavam até conseguindo chegar em algo que desse certo.

Enlouqueceu quando viu o soldado narnianos chegando dizendo que tinha péssimas notícias.

A rainha Susana estava casando com Rabadash.

Caspian gritou, gritou com toda a força dos seus pulmões. Questionou Aslan, perguntou o porquê de aquilo tudo estar acontecendo. Sua fé tinha caído por terra. Não acreditava mais em final feliz.

Desde esse momento estava preso no quarto, Edmundo havia colocado um fauno como vigia com ordens precisas de não o deixar sair.

Sem se importar com a dor jogou o corpo em direção ao chão, queria que a dor física fosse maior que a sentimental e isso daria um fim a tudo aquilo.  Queria gritar, queria salvar Susana, queria matar Rabadash, queria matar Tash, queria acabar com aquela bruxa, queria fazer tantas coisas.

.......

— O que vamos fazer? — Perguntou Lucia a Edmundo.

— Não sei. Não podemos chegar lá atacando, seria um massacre e não sabemos o que fariam com a Su.

— Não pode deixa-la lá.

— EU SEI. EU SEI QUE NÃO PODEMOS. — Gritou Edmundo socando a mesa de pedra. — Não tenho ideia do que fazer, Caspian está em seu quarto, Pedro se escondeu na floresta.

— Você ainda está aqui. Eu ainda estou. — Disse Lucia tocando gentilmente o ombro do irmão mais velho o fazendo olhá-la. — Os dois estão sofrendo muito, estão cegos pela dor. Temo que tenham perdido a fé.

— Houve um tempo que o incrédulo era eu. — Disse Edmundo com tristeza. — Não admito que isso possa estar acontecendo. Pedro, ele é o rei, o grande rei e o senhor das estratégias. Caspian não é diferente. E Susana, Susana é a gentileza em pessoa, é o amor, a mãe no meio de toda a tristeza — o jovem Pevensie olhou com os olhos lacrimejados para a imagem de Aslan na parede — eles são a nossa força e quando mais precisamos não temos nenhum deles.

— Esse é o momento em que devemos tomar uma posição como rei e rainha de Nárnia. Não somos como eles, não somos eles, contudo, podemos ser nós mesmo, podemos usar nossas habilidades para ajuda-los.

Lucia tinha um sorriso confiante no rosto, estava sofrendo é claro, como todos os irmãos, mas sua fé em Aslan era maior do que tudo, maior que todas as dores e ela entendia isso, entendia seu papel naquele momento e torcia para que Edmundo entendesse também.

— Vamos ajuda-los, vamos tirar essa tristeza de Caspian e Pedro e se juntos vamos trazer nossa irmã de volta e acabar com Rabadash. — Disse o rei justo com determinação.

A rainha destemida sorriu e abraçou o irmão com força.

Bernard assistiu aquela cena com alegria no coração, seu povo estava em boas mãos.

Edmundo viu o cunhado e sorriu.

— Bernard, reúna o conselho de guerra.

— Sim, meu senhor. — Respondeu o jovem humano.