Inglaterra - Liverpool; Cemitério Free Souls; 6 a.m.

Segurou um buquê de rosas, algumas já murchas, outras em perfeito estado. Os olhos já estavam ardendo, enquanto ele apertava a mão nas flores mais forte do que o necessário. Passou uma das mãos no rosto, tentando expulsar as lágrimas traiçoeiras que tentavam escapar. Deixou o buque cair, e se sentou ali mesmo, sentindo o coração apertar.

- Oi, Kath. - Falou, com dificuldade. Já imaginava que seria difícil, mas não tanto igual estava sendo. Suspirou. - Hoje vai fazer exatamente 12 meses que... Que a gente não se vê. Que eu não te toco. E, nossa, você não sabe o quanto é difícil. - Começou a trovejar, mas ele não se importava. Poderia cair o mundo, ele não iria sair dali. - Você não saiu da minha cabeça nem por um dia. Nem por um segundo. Isso foi meio que uma vingança sua né? Mas eu não me importo, pode me atormentar pro resto de minha vida. Essa é uma prova que eu tenho de que foi real. - Abraçou os joelhos, tentando espantar um pouco o frio. - Não sei se você sabe, mas eu ainda tenho os mesmo problemas com a família. Só que eles não são o bastante, eles não ocupam espaço na minha vida. Nenhum problema no mundo vai ser capaz de preencher o buraco que você deixou aqui dentro. Eu comprei um apartamento pra mim, e agora moro sozinho. Infelizmente. - Deixou uma lágrima escapulir. - Eu queria muito que você estivesse aqui, morando nele comigo. Você não imagina o quanto. - Nesse momento, não conseguia mais segurar as lágrimas. Estava chorando tanto quanto à 12 meses atrás.

A chuva já estava começando a cair, mas ele ainda estava ali, sentado no chão em meio ao cemitério, sem ligar para o tempo, sem ligar para nada. Para ele, tudo estava tão vazio quanto seu coração.

Aeroporto de Liverpool; 7 a.m.

Estava inquieta na cadeira, esperando que John, seu pai, chegasse logo. Elena estava ansiosa para a nova vida que levaria, ansiosa para ver seu pai. Não o via desde os oito anos de idade, por causa de seus problemas de saúde. Sabia que tinha um irmão, e que seu irmão já morava com o pai por algum tempo, então, por que ela não? Já tinha passado pela fase de negação, e agora só queria recomeçar. Afinal, o passado fica no pasado. Temos que viver o presente. 

Sua mãe havia tomado a difícil decisão de deixá-la mudar de país, depois de muito esforço. Elena queria conhecer o pai, e conseguiu uma bolsa de estudos em uma das escolas mais respeitadas de Liverpool, na Inglaterra. Além do mais, seria só por um ano, como experiência. Se ela gostasse poderia ficar até se formar, mas no fim do ano havia prometido para sua mãe que voltaria. Aquilo seria apenas uma experiência. 

- Elena? - Um homem parcialmente careca e com um sorriso largo no rosto a chamou. Seu pai. 

Sua primeira reação foi abraça-lo e dizer o quanto sentia sua falta. E ele fez o mesmo. 

John estava acompanhado de um garoto alto, de cabelos castanhos e um olhar estranho. Aquele deveria ser seu irmão. Ele a encarava paralisado e com os olhos um pouco arregalados. Talvez até assustados. Elena não havia entendido aquela reação vinda dele, mas lhe passou a sensação de que alguma coisa inesperada iria acontecer. E não necessariamente seria uma coisa boa.