Caso Miranda escrita por Caroline Marinho


Capítulo 7
Diabólica


Notas iniciais do capítulo

Se você tinha alguma esperança por Miranda e sua piedade. Perderá nesse exato momento. Se houve bondade em si, já estava bem longe de seu corpo agora. Estava fria, audaciosa e sem remorsos. Diabólica.



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No verão do ano passado uma garotinha me tocou. Eu já tinha ouvido dizer que criança são grandes filósofas só pela arte de questionar. Porém sempre detestei crianças e fui incrédula quanto a afirmativa. Mas aquela me surpreendeu.

Eu ia pagar uma conta para o meu pai, estava com uma boa quantidade de dinheiro nas mãos. Ela veio até mim perguntar meu nome, mas eu não queria papo. Ela admirou a quantidade de notas na minha mão e apenas disse:

- Com todo esse dinheiro, algumas pessoas compram armas e pagam contas. Eu compraria amigos.

Talvez seja isso. Talvez por eu não esbanjar riqueza ninguém quisesse me amar. Não me julgue, até onde eu via a minha vida ali, isso me parecia uma bela justificativa. Perdida como eu estava naqueles dias, qualquer justificativa sobre qualquer assunto me era válida.

Tive pouca dificuldade pra esconder o corpo de Lúcia no dia seguinte, apesar de seu quintal dos fundos ser todo ao piso de concreto.

Até porque, para minha surpresa e sorte a casa que ficava atrás da de Lúcia estava à venda e completamente vazia, e ao que me aparenta a placa escrito "vende-se", na frente da casa, esteve à venda à pouco tempo. Por ser um bairro distante e pouco favorecido aquela casa ficaria à venda tempo suficiente para que eu permanecesse imune à especulações.

Joguei o corpo pelo muro sem dó nem piedade, nem perdi meu tempo limpando-a porque tive repulsa.

Entrei no banheiro e tomei um banho rápido depois fui até o quarto dela e procurei por alguma roupa que servisse em mim. Ela tinha um péssimo gosto, mas consegui uma bata e uma calça legging que dariam pro gasto.

Procurei por dinheiro e, acredite, consegui o suficiente pra 3 aluguéis em qualquer apartamento da cidade... Aposto que ela fazia hora extra com algum superior dentro do escritório...

Tranquei toda a casa e joguei as chaves longe. Saí daquela casa sem rastros. Novamente eu era Miranda Lima de lugar nenhum.

Não me lembrava de sorrir. Pensando nisso forcei, olhando-me num reflexo de carro, uma tentativa falha de me lembrar como era. Acontece que eu nem sabia mais sorrir. Afinal, eu só sorria pra Leo, agora que eu o havia perdido, eu não tinha mais nenhum motivo.

Passei por um telefone público e fiquei tentada. Desde que saí daquela rua fiquei me perguntando se talvez o Leo do meu sonho e Lúcia estivessem certos, se talvez eu devesse por meu pai atrás das grades e me livrar dele de uma vez.

Hoje, me lembrando desse tempo, me toquei de uma coisa que talvez devesse comentar com você, leitor: Durante todo esse tempo não me importei com que rumo tomaria o caminho de meu irmão. E sei que ninguém gosta quando alguém revela pedaços do final de uma história em um momento desses, mas, até hoje, não sei que rumo a vida dele tomou.

Fui até o telefone e disquei a polícia.

- Olá? Quero dar queixa de um homem, ouvi sobre o desaparecimento de uma menina e ele me é muito suspeito. Ouvi uma menina gritar na casa dele e não pode ter sido a filha, já que ela foi expulsa de casa por tê-lo acusado de tê-la estuprado... Oops! Falei demais! O nome dele é...

Comecei a dizer todos os detalhes dele, da casa e "do que ouvi". Disse tudo, tudinho.

- Senhora, pode me dizer seu nome?

Hesitei. Seria a hora de desligar?

Não.

- Lúcia. Meu nome é Lúcia.

Só então desliguei.

Apertei o passo pra sair daquela cidade, tal qual desde a noite passada me cheirava a morte. Saí sem olhar pra trás nem me perguntar por Lúcia.

Mortos bem longe de mim, obrigada.

Parei em um restaurante depois de meia hora. A comida estava deliciosa.

Na TV passava o jornal da manhã. Havia uma família chorando por sua querida filha desaparecida, Jasmin Mendes. Eles torciam pra que sua ilustre estrelinha acadêmica voltasse pra casa em segurança.

Eu, contendo um comentário irônico, somente me atrevi a pensar "que Deus a tenha". Não como uma prece e sim como uma piada.

Ora, pois todos torciam agora pra que ela voltasse pra casa sem um arranhão sequer. E logo após o almoço teriam que se preparar para um funeral. Ver toda aquela esperança e sentimentalismo me divertia.

Paguei a conta e segui meu caminho. Entrei em na biblioteca minutos depois. Havia tido uma ideia muito eficaz e queria confirmar se tinha mesmo o direito de fazer o que pretendia perante a lei.

Imagine, eu me preocupando com a lei... Teria que ser algo importante, certo?

Pois saiba que depois de uma boa leitura descobri que minhas esperanças estavam afogadas nas profundezas do oceano.

Simplesmente porque descobri que para alguém da minha idade se emancipar precisaria do acompanhamento de um responsável. Isso mais o fato de que somente maiores de 16 emancipados podem morar sozinhos caso trabalho seja uma justificativa.

Saí da porcaria da biblioteca batendo os pés. Estava com raiva do mundo e raiva de tudo à minha volta. Agora precisava de um lugar pra dormir e não tinha nenhum responsável.

Para onde diacho eu iria?


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Notas finais do capítulo

Aproveitando a deixa pra recomendar a história de dois amigos muuuito queridos e tão perturbados quanto eu se chama Bloodcity e vai encantar os coraçõezinhos de vocês .. Não, pera! kkkkk acompanhem, amores: http://fanfiction.com.br/historia/387035/Bloodcity/