Tempo De Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 3
Um picolé, um soco e paparazzi


Notas iniciais do capítulo

Confusão e confusão, é isso que se tem com Katniss e Peeta juntos...



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Ah, o primeiro dia de gravação! Até sinto borboletas no estômago. Nem mesmo a viagem de duas horas de ônibus até aqui, me deixa para baixo. E olha que são nove horas da noite. Além de estar fazendo um frio terrível. Mas isso não importa. Se nem mesmo, o fato de gravar uma cena com o senhor maturidade me deixa desanimada, que dirá o frio. O importante é que vou gravar minha primeira cena!

Estamos em uma pequena fazenda, e não é cinematográfica. Aqui mora Lory, o personagem de Peeta. Nesta cena, Nick conta a Lory e a Mary que Peter está regressando. Posso sentir, as emoções de Nick, em saber que seu amado está voltando depois de tanto tempo e ela finalmente irá poder vê-lo.

Já estou toda caracterizada como Nick. Nesta cena, ela veste um vestido verde simples. As roupas de Nick são na maioria vestidos e todos simples. O vestido é de alcinhas, mas sem decote, e fica um pouco acima dos meus joelhos. Só tem um porém, o tecido do vestido é muito leve. Desse jeito vou congelar! Enquanto, não gravamos a cena estou embrulhada em um casaco bem quentinho.

Peeta e Clove ainda estão no camarim se caracterizando como seus personagens.

— Katniss, venha até aqui – pede Haymitch.

— Sim – falo, indo até onde ele está.

Haymitch é um diretor à moda antiga, ele tem até uma daquelas cadeiras de diretores que os filmes sempre mostram.

— Nesta cena, quero que você demonstre todo o desespero de Nick, que está contido por não poder ver seu primo, se liberando finalmente. E também quero que Nick transmita, ao mesmo tempo, toda a sua alegria. Entendido?

— Sim.

— Está é uma cena muito dramática. Eu quero ver drama! – avisa.

Balanço a cabeça afirmativamente.

— Haymitch estive lendo o roteiro e tive uma ideia – interrompe Peeta.

Este cara sempre vai surgir do nada?

— Pensei que uma chuva traria mais emoção à cena.

— Peeta, você é um gênio! – exclama Haymitch, saindo da cadeira. – Como eu pude não pensar nisto isto? É claro, chuva... Isso seria perfeito. Até estou vendo, a chuva caindo, as lágrimas rolando de Mary, Nick completamente molhada, representando toda a sua tristeza...

Parei de escutar quando Haymitch disse que Nick estaria molhada. Olho para Peeta, que sorri vitorioso. Jura que ele deu esta ideia só para me fazer ficar molhada neste frio?! É esta a vingança, que a mente maligna do senhor maturidade pensou?

Minha única resposta é lançar um olhar mortífero para Peeta. Não vou negar que estou querendo bater nele. No entanto, eu sou uma atriz e estou preparada para tudo até mesmo gravar com frio e toda molhada. Se ele acredita que isso me fará ter um ataque de nervos, está muito enganado. Ao contrário do senhor maturidade, tenho muito profissionalismo. Além disso, bem lá fundo (no fundo mesmo), sei que a chuva trará a dramaticidade que a cena pede. Ainda que eu me recuse a acreditar que foi ideia do cérebro de vento.

— Venia, Octavia e Flavius, quero que vocês deixem a Katniss toda molhada – ordena Haymitch aos figurinistas do filme.

— É para já! – diz Flavius.

— Katniss, vamos deixar você como se acabasse de ter passado por uma tormenta! – fala Octavia, toda animada.

É claro, que ela está animada. Afinal, não é ela que irá ficar toda encharcada!

Venia aparece com uma mangueira.

— Não se preocupe, Katniss, a água está quente.

Sinto a água cair por todo o meu corpo, em pouco tempo estou completamente molhada. Tão molhada que acabo criando uma poça de água, onde estou.

— A Katniss está pronta? – grita Haymitch.

— Está, sim – responde Octavia.

— Agora vai lá e arrasa – fala Flavius, me empurrando.

— Katniss, você está perfeita! – diz Haymitch ao me ver – Você fica do lado de fora da casa. Peeta irá abrir a porta – olha para Peeta, que se aproxima. – Quero que você segure a porta como combinamos, certo?

Peeta faz sinal afirmativo com a cabeça. Clove se senta em uma velha poltrona. E eu vou para o lado de fora da casa.

É apenas eu sair para sentir um vento gelado em minha pele. Faço bastante esforço para não tremer e me concentrar na cena.

— Ação! – grita Haymitch.

Peeta abre a porta e me olha. É difícil admitir, porém, Peeta até parece outra pessoa, ele realmente incorporou Lory, sua postura, sua maneira de olhar tudo parece diferente. Vejo que o senhor maturidade tem talento no final das contas.

— Lory... eu recebi uma carta... Peter está voltando – digo.

— Nick, você pode me dar a... – ele para de falar. – O que é que eu tenho que dizer mesmo? – diz olhando para Haymitch.

— Nick, você pode me dar esta carta, preciso vê-la, não posso acreditar no que estou escutando – diz Haymitch, lendo o roteiro – Vamos refazer a cena. Todos voltem a seus lugares anteriores.

E lá vou eu novamente, tomar aquele vento gelado.

Peeta abre a porta.

— Lory... eu recebi uma carta... Peter está voltando – repito.

— Nick, você pode me dar esta carta... Preciso vê-la! Não posso acreditar... no que estou escutando! – repentinamente Peeta volta-se para Haymitch. – Podemos fazer esta cena de novo? Minha voz não ficou legal...

Repetimos a cena. E Peeta interrompe novamente a cena dizendo que a luz não estava o favorecendo.

Na quinta vez que ele interrompe a cena, alegando que não segurou na porta direito, me lança um sorriso vitorioso. Jura, que Peeta está fazendo tudo isto só para me importunar?

Repetimos a cena tantas vezes, mas tantas vezes, que praticamente sou um picolé. Precisei ser molhada um monte de vezes, quase morro de frio. E Peeta sempre dizia que a cena estava errada em alguma parte, ou era a luz, ou era ele que esquecia o texto... É quase meia-noite, quando finalmente Peeta resolve que já se vingou o suficiente de mim, e faz a cena corretamente. Tudo isso devido a um chute na canela!

Vou correndo para o camarim improvisado, me trocar. Os figuristas me dão até um cobertor para me enrolar, pois estou gelada demais, igual a um picolé. Se eu ver Peeta em minha frente neste instante...eu acho que alguém terá que me segurar, caso o contrário, as manchetes do jornal de amanhã serão: “O príncipe da nação é assassinado no set de gravações do filme, que estava estrelando, por sua colega de elenco com toques cruéis de tortura”.

Depois de algum tempo, consigo me aquecer e até acabo dormindo, já que estou exausta. Sou acordada por passos no corredor que se aproximam do camarim improvisado. E a onde está todo mundo? Por que não vejo ninguém no camarim? Nem mesmo os figurinistas estão aqui!

— Você ainda está aí? – fala Peeta, abrindo a porta do camarim.

— O quê? – pergunto, ainda sonolenta.

— As gravações já acabaram faz tempo.

— O quê?! – grito.

— Ei, garota, quer deixar alguém surdo?

— Como assim, as gravações acabaram?

— Acabaram – responde simplesmente, pegando seu casaco que está em cima do balcão que antes estava cheio de maquiagem e adereços e agora se encontra vazio.

— Não acredito nisto!

Peeta começa a sair do camarim. Me lembro de tudo o que ele me fez passar mais cedo, ainda não esqueci de quase ter me transformado em um picolé por culpa da vingança do senhor maturidade.

— É tudo sua culpa! – grito.

— Minha culpa? – diz ele, voltando-se para mim.

— Foi você que fez com que eu ficasse, horas e horas, molhada – falo furiosa, me segurando para não deixar uma nação sem seu príncipe. – Vai negar, agora?

— Não, não vou! – sorri. – Só estava cobrando aquele chute na canela!

— Você é inacreditável!

— Mas, você não queria que eu dissesse que fui eu o responsável por te deixar, todas aquelas horas, molhada? – fala sarcasticamente.

Já não me seguro mais, e quando dou por mim, vejo que acabei de dar um soco no nariz de Peeta Mellark. Por um momento fico paralisada não acreditando no que fiz. Peeta segura o nariz e grita de dor.

— Você ficou louca, garota? – diz raivoso.

— Achei bem feito! – falo, recuperada de meu choque inicial.

— Eu estou sangrando! – reclama, retirando a mão do nariz. – E se você tiver quebrado meu nariz? Vou precisar fazer uma cirurgia plástica!

— Não se preocupe, você deve estar acostumado!

— Saiba que meu corpo é cem por cento natural!

— Sei... – falo, saindo do camarim.

Não sei o motivo de tanto escândalo, é só um nariz. Mas, é claro, que o príncipe da nação não pode ter seu lindo narizinho quebrado... Espera, e se aquelas fãs malucas, que ele tem, descobrirem? Katniss Everdeen terá a carreira mais curta que alguém já viu! Por que eu fiz isso? Não, que ele não tenha merecido, porém, precisava ser em um lugar tão visível? Logo no nariz! Começo a temer por minha vida. Quer saber? Se eu morrer pelo menos foi por uma boa causa.

Começo a andar pela casa que está servindo de set de filmagem. Começo a ficar desesperada ao não encontrar ninguém aonde vou. Estou completamente sozinha, e são duas horas da manhã. E amanhã, as gravações não serão aqui! Preciso chamar um táxi. Olho desolada para meu celular ao descobrir que estou sem bateria e não tenho um carregador por perto. Também não avisto, nenhum telefone. O que eu faço?

Não acredito que terei que pedir ajuda para aquele... ser! Porém, não me resta alternativa, ou é isto, ou fico presa aqui, já que vim em um ônibus que trouxe a equipe de produção. A fazenda fica a duas horas da cidade! Não há nenhuma casa por perto. Às nove horas da manhã tenho que estar no outro sete! E eu não quero levar uma bronca de Haymitch, não mesmo! Se até o senhor maturidade não ousa desafiar Haymitch, imagina eu!

Volto quase correndo para o camarim. Peeta está em frente do espelho, limpando o sangue que escorre de seu nariz.

— Peeta...

— O quê? – fala me olhando, com cara de poucos amigos. É, será mais difícil do que pensei.

— Peeta... Será que você poderia me emprestar seu celular... – minha voz é quase um sopro.

— O quê?

— Seu celular, você pode me emprestar seu celular? A bateria do meu acabou e... eu preciso chamar um táxi... – nem ouso olhar para ele.

— Você ficou louca, praticamente quebrou meu nariz e agora quer meu celular?

— Ah! Mas você mereceu – não resisto em dizer.

— Agora que eu não empresto mesmo! – levanta-se da cadeira e sai do camarim.

Estou definitivamente perdida. Será que alguém ainda se comunica por sinais de fumaça?

— Peeta...

Ele nem olha para trás. Ele realmente vai me deixar sozinha neste lugar. Ele não sabe que o pode acontecer comigo aqui, sozinha, neste lugar isolado do mundo?

— Peeta, é só seu celular, prometo que só vou chamar rapidinho o táxi... – falo indo atrás dele.

Eu realmente não posso ficar aqui. Amanhã tenho gravação e se eu não aparecer... posso ser até demitida! Acredite, já ouvi histórias sobre Haymitch demitir atores por eles terem chegado um minuto atrasado! Não quero ser demitida!

— Peeta! – e ele nada de se virar. Se eu não precisasse tanto deste celular, eu juro que teria assassinado Peeta!

Sigo Peeta até onde está seu carro. Não acredito que ele tem um porsche panamera plata! Espera, por que eu estou espantada. Peeta é um dos atores mais ricos do país. Eu deveria estar espantada se ele tivesse outro carro. E no que eu estou pensando? Preciso sair daqui.

Peeta entra no carro. Ele vai mesmo embora? Não sabia que o senhor maturidade, teria uma mente tão cruel e um coração tão de pedra, que foi feito de concreto, e depois revestido com ferro e outra vez jogado no concreto.

Ele dá a partida no carro, começo a preparar todos os xingamentos que conheço e invento outros, quando o carro de Peeta dá a ré e para onde estou.

— Não vai subir, não? – diz Peeta abrindo a janela do motorista. – Vamos logo, que tenho pressa!

Sem pensar duas vezes, dou a volta no carro, abro a porta de carona do motorista e entro. Sei lá, vai que ele muda de ideia.

— Eu só não te deixo aqui, porque não quero que você espalhe para todo mundo que eu deixei uma garota sozinha no meio do nada a altas horas da noite. Só por isso! Mas, eu deveria ter deixado, depois do que você fez com meu nariz!

Peeta começa a dirigir o carro. Ele liga o som do carro, que toca uma música suave, não sei quem canta. Pelo menos o gosto musical dele não é ruim. Viu, eu sei reconhecer quando alguém tem qualidades!

Ficamos em silêncio durante o trajeto. Na verdade, eu caí no sono.

— Ei, onde você mora? – sou acordada por uma cutucada de Peeta. 

Percebo que estamos diante do prédio em que fica a sede do estúdio que está produzindo o filme.

— Não precisa me levar – digo, me livrando do cinto de segurança. – Já são quatro e pouco da manhã, logo um ônibus vai passar... – levo a mão até a porta.

— Não faça isto! – a voz de Peeta não tem o mesmo tom que tanto conheço. Ela me soa diferente do habitual.

Me viro para ele.

— Está vendo aquele carro? – aponta para um carro que está atrás.

Começo a me virar.

— Não faça isso! Eles podem notar!

— Mas, o que tem aquele carro?

— São paparazzi... bem que eu desconfiei que estamos sendo seguido há meia hora atrás.

— O quê?

Como não sou uma atriz famosa, nunca fui perseguida por um paparazzo...

— E agora?

— O jeito é despistar... Temos que sair daqui.

Peeta acelera o carro e o que estava atrás de nós também acelera. Me sinto até em um filme de ação, pois quanto mais Peeta acelera, mais o carro dos paparazzi aceleram.

— Essa, não! – diz Peeta furioso.

— O que foi?

— Chamaram reforços – fala, olhando pelo retrovisor.

Acompanho o olhar dele e vejo mais três carros. Agora, são quatro carros que perseguem o carro de Peeta. Um deles passa do nosso lado e tira uma foto.

Peeta, depois de algum tempo, consegue despistar os carros. Saio do carro de Peeta, assim que vejo um ponto de ônibus. Vai que aqueles malucos resolvem aparecer novamente...

Chego em casa exausta... Tudo que quero é dormir!


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capitulo? E do que o Peeta aprontou com a Katniss? Ele realmente mereceu aquele soco, não? Já vou adiantado que a perseguição dos paparazzi trará certas consequências...