Tempo De Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 28
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Katnisschase e a Rafinha Fanfers que me fizeram muito feliz com suas lindas recomendações!!! Muito Obrigada, suas lindas!!! Eu precisava postar este capítulo o mais rápido possível, e aqui esta ele.



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Acordo e me deparo com um belo par de olhos azuis me observando. Olho para ele, ainda sonolenta, me recordando do que fizemos a noite passada. Estou deitada em frente a Peeta, nossos corpos estão a ponto de se tocarem. Estou vestindo apenas a camisa de Peeta. E ele apenas uma cueca.

— Não vai me dizer bom dia? – pergunta divertido.

— Que horas são? – pergunto apavorada.

— São dez horas – responde calmamente.

— Já? Espera, nós estamos atrasados! – lembro que temos gravações às dez e meia! – Ah, meu Deus, Haymitch vai fazer picadinho de nós! – falo nervosa.

— Ei, calma, Katniss!

— Calma? Quero ver você me falar em calma quando tomarmos uma bronca de Haymitch?!

— Katniss – ele continua a falar com a voz calma. Estou a ponto de bater nele se continuar a agir desta maneira. – Haymitch ligou, avisando que ocorreu um pequeno imprevisto, por isso só vamos gravar hoje depois das duas da tarde.

— E por que você não me avisou? – pergunto zangada.

Ele ri.

— Porque você não me deixou falar antes – responde divertido.

Peeta se aproxima de mim e me dá um pequeno beijo em meu pescoço.

Olho para ele. Peeta me encara com uma expressão interrogativa.

— O que foi? – indaga.

— Nada, é que realmente temos uma relação muito estranha...

Ele apenas me olha, não consigo decifrar o que se passa em sua cabeça de maneira alguma. Peeta é um mistério para mim, às vezes é difícil saber quando ele está atuando e quando ele está agindo sem atuar.

— Katniss... Você realmente quer seguir com... isso... de amigos com benefícios? – seu tom é baixo, é até um pouco sério.

Olho no fundo de seus olhos azuis. Eu também estive pensando sobre isso. Sei que não é a coisa mais natural do mundo... Não consegui chegar a nenhuma conclusão. Mas sei também que isso não vai durar muito tempo, talvez até terminamos as gravações do filme, ou antes disso, assim como meu falso namoro com ele...

— Peeta, eu não sei por quanto tempo isso vai durar... – sinto a necessidade de falar sinceramente com ele. – Talvez na semana que vem, ou mesmo hoje isso acabe. Mas... por enquanto podemos... continuar assim...

Os lábios de Peeta saltam sobre os meus. Não é um beijo voraz como os de ontem é um beijo, calmo, doce. Seus lábios se separam dos meus.

— Tenho que ir para a casa! – digo, me sentando na cama. – Já são dez horas, não tenho muito tempo... – começo a me levantar, porém sou retida pelas mãos de Peeta.

— Não se preocupe com o horário, vamos juntos para as gravações.

— Mas...

— Somos namorados, Katniss, seria até estranho senão chegássemos juntos uma vez ou outra...

— É, mas e as minhas roupas? Não posso usar o vestido de ontem!

— Use uma das minhas, essa não é a primeira vez que você usa uma das minhas roupas.

Isso é verdade, com certeza não é a primeira vez que uso uma de suas roupas.

— De qualquer forma preciso tomar um banho – me levanto da cama.

Vou para o enorme banheiro de Peeta. Deixo que água quente escorra pelo meu corpo.

— Vou deixar a roupa aqui! – a voz dele me surpreende.

Ele acabou de entrar no banheiro.

— Ei, você não sabe bater na porta? – falo, tentando me esconder.

— Engraçadinha – fala de maneira divertida. – Como se eu não tivesse visto tudo isto antes, se esqueceu da noite de ontem? Aliás, estou com vontade tomar um banho...

Quando me dou conta, Peeta está no box, do jeito que veio ao mundo.

— O que você está fazendo?

— Tomando um banho, por que não posso? – me encara.

Peeta se aproxima de mim, envolvendo seu corpo nu em meu corpo nu, quando percebo meus lábios estão nos seus.

Depois de nosso “banho”, que durou mais de uma hora, tomamos o café da manhã, que está mais próximo a um almoço, devido ao horário.

— Você me deve uma prova de sua comida – digo ao me lembrar do que ele disse em Londres, que sabia cozinhar.

Peeta sorri.

— Um dia destes...

— Estou achando que aquilo foi uma mentira!

Ele me olha.

— Katniss Everdeen, você está duvidando de minhas habilidades culinárias?

— Eu só acredito com provas! – provoco.

— Então é assim! – Peeta vem a minha direção.

Começo a correr dele, até chegar na sala. Parecemos duas crianças. Rimos alto, ele tenta me pegar, enquanto eu me esquivo.

— Ah, te peguei! – fala, pegando em minha cintura.

Começo a tentar me soltar, o que faz com que caíamos no sofá, comigo por cima de Peeta. Estamos ofegantes depois de nossa corrida.

— Você é realmente difícil de pegar! – diz, me segurando.

— Pensei que você fosse mais veloz! E mais resistente – provoco.

— Ra, ra – fala. – Muito engraçado! Você vai ver quem é o veloz e resistente! – dizendo isso, Peeta começa a me beijar, me tirando o folego completamente. – O que me diz disso?

— Você realmente não gosta de perder?!

— Não – responde, ajeitando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. – Não gosto de perder!

Saio de cima dele e me sento no sofá.

— O que acha que os jornais e revistas estão falando de nós?

— O mesmo de sempre, “Peeta Mellark, o príncipe da nação esteve perfeito ontem” – imita a voz de um repórter.

— Você é mesmo convencido – bato em suas costas.

— Eu só estou dizendo a verdade – diz brincalhão. – E você, quando vai me dizer a verdade sobre o que houve realmente entre você e seu ex-namoradinho? – seu tom não é mais divertido. – Você já me disse que ele te traiu, mas sei que é mais forte que isso...

Olho para Peeta que espera uma explicação.

— Como você sabe meus pais morreram quando eu era uma criança... Eu fui criada pelos meus tios, eles nunca me amaram de verdade só estavam comigo por obrigação. Eu fui uma criança solitária. Não tinha amigos, não tinha uma família que me amava... Até que Finnick surgiu na minha vida. Ele e eu tínhamos muito em comum... Finnick de certa forma também era uma criança solitária, mas ele tinha uma família que o amava. Foi graças a Finnick que minha vida se tornou mais suportável. Ele era uma espécie de luz na minha estranha escuridão. Nós dois éramos inseparáveis. Finnick era meu melhor amigo, minha família, e meu amor.

Peeta me escuta, sem retirar seu olhar sobre mim.

— Finnick era tudo para mim. Eu que não tinha nada. Não sei quando comecei a amar ele, mas eu comecei. No início foi difícil para mim, não queria perder a amizade dele, por isso escondi que estava apaixonada por ele. Você não imagina como me senti, quando ele revelou que me amava! Eu, a garota que não tinha nada, começou a se sentir como se tivesse tudo. Começamos a namorar. Porém, Finnick foi descoberto por Johanna... Nós dois começamos a nos afastar. Finnick começou a ficar cada vez mais distante de mim, os telefonemas, as mensagens que trocávamos foram diminuindo cada dia mais até pararem por completo. Você não faz ideia de como eu me senti solitária na época, como eu tentava me enganar acreditando que logo eu teria o garoto que eu amava de novo no corpo de Finnick... Mas não foi isso que aconteceu... Um dia Finnick fez um show no colégio em que eu estudava...

Faço uma pequena pausa, falar sobre estas coisas é tão difícil para mim. Elas ainda doem no meu coração, como se fossem facadas que furam o meu peito.

— Eu vi... Finnick dando em cima de Johanna e falando que eu era uma idiota, por estar com ele, e depois ele disse para mim que eu era apenas um brinquedo, ainda me lembro de suas palavras, “Você não significa nada para mim, é apenas meu brinquedinho com que eu gosto de jogar nas horas vagas. Mas agora eu já não tenho mais horas vagas para desperdiçar com você!” – repito as palavras de Finnick.

— Eu sabia que aquele cara era um babaca, mas isso supera tudo! – diz Peeta indignado.

— Finnick me magoou muito. Ele me traiu da pior forma possível. Eu acreditava nele. Finnick me tirou a capacidade de amar.

Me levanto e vou até a janela.

— Amar dói tanto. As pessoas que eu amei sempre me deixaram, meus pais, Finnick...

Sou envolvida pelos braços de Peeta. E pela primeira vez em muito tempo lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Sei que jurei que nunca iria chorar novamente, mas estando nos braços de Peeta sinto que posso derramar lágrimas, porque estranhamente me sinto segura, como se seus braços tivessem o poder de me proteger contra tudo e contra todos...

Peeta deposita um beijo em minha cabeça e me conduz até o sofá. Ele se senta perto de mim, ainda estou envolta em seus braços. Peeta leva sua mão até meu rosto e limpa as minhas lágrimas. Ficamos em silêncio por algum tempo, agradeço mentalmente por Peeta me deixar ficar em silêncio em seus braços, isso me acalma.

— Peeta – retiro minha cabeça de seu peito. – Eu te contei sobre Finnick... Tem uma coisa que me intriga... seu relacionamento com a Annie... O que aconteceu entre vocês?

Peeta me olha e suspira.

— Você quer mesmo saber?

— Você ficou muito estranho quando Finnick disse aquilo sobre estar preocupado com sua namorada e que você não era assim antes, sei que ele estava se referindo a Annie...

— Se você quer mesmo saber então vou te contar. Não gosto de falar sobre isso, foi algo horrível que eu fiz...

Olho para Peeta, aguardando a explicação. Ele me solta, e apoia a cabeça nas mãos.

— Foi quando eu tinha dezessete anos. Annie, assim como eu, começou sua carreira muito jovem. Você deve estar cansada de saber de seus escândalos, mas não é bem assim, a verdade é que a grande parte destes escândalos são mentiras. Acontece que Annie não tem um empresário como Gale. Ele é um gênio da publicidade sempre soube o que eu deveria fazer, o que eu deveria falar, o que eu deveria gostar. Eu sempre odiei ser o cachorrinho de Gale, fazer tudo o que ele mandava. Eu não tive uma infância, minha infância passou entre uma foto e outra. Aos dezessete anos minha imagem já estava formada a do bom moço, o garoto sem escândalos, o garoto perfeito. Foi Gale quem decidiu usar esta imagem. Neste meio em que estamos imagem é tudo, eu tenho talento, e vontade de atuar, mas isso não importa, já vi pessoas com o mesmo talento que eu nunca terem uma oportunidade sequer. Naquela época, eu estava cansado de Gale mandar em mim, de fingir perante as câmeras que eu era uma pessoa, sendo que eu era outra. Foi quando conheci Annie, ela era livre, solta, fazia o que queria. Eu me apaixonei por ela completamente. Porém, Gale se opôs ao nosso namoro, disse que se eu namorasse Annie minha carreira estaria arruinada. Eu já não teria mais o título de príncipe da nação, o garoto perfeito. Se eu namorasse Annie minha imagem seria afetada, em consequência minha carreira poderia ser arruinada, já que as pessoas se sentiriam enganadas por acreditarem que eu era o bom moço. Eu sempre amei atuar, apesar de tudo, é a única coisa que sei fazer realmente.

Peeta se levanta e começa a andar em círculos pela sala enquanto continua a falar.

— Mas eu também amava Annie. Nós conseguimos esconder nosso namoro a muito custo. Era difícil, já que as atenções estavam voltadas para nós o tempo todo. Mas nós conseguimos. Enquanto a minha imagem de bom moço estava cada vez mais em alta, os escândalos em que Annie estava envolvida eram cada vez mais frequentes. Começaram a surgir boatos que uma das intrigantes de “As carreiristas” estava namorando um homem casado. De fato Cashmere, a vocalista da banda, andou tendo alguns encontros com um famoso multimilionário, pai de cinco filhos, casado e trinta anos mais velho do que ela. Mas nada tinha acontecido. Os boatos estavam cada vez mais fortes. E Gale estava cada vez mais no meu pé, querendo que eu terminasse o que estava tendo com Annie. Certa vez, eu e Annie fizemos uma viagem juntos. Estávamos hospedados em um hotel, em que também estava um astro de cinema muito conhecido, Pierre Archer, casado com Jane Jhones, que como você sabe é outra estrela do cinema.

É claro que sei quem eles são. Os dois eram uma espécie de casal perfeição, tinham tudo, fama, beleza e dinheiro. Todos conhecem a história de amor deles. Eles se conheceram durante as filmagens de um filme, em que eram os protagonistas. O filme fez tanto sucesso e a química deles era tão grande, que praticamente a nação inteira torcia para eles transformar o casal da ficção em casal da vida real. Por isso, foi com uma grande felicidade que todos receberam a notícia que eles estavam namorando. O país praticamente parou para acompanhar o namoro deles, e tudo era notícia. O casamento deles foi recebido como o casamento do século. Eles haviam nascido um para o outro. No entanto, esta história não teve um final feliz. Eles se divorciaram e o motivo da separação foi... Annie.

— Foi a gota que faltava. Pierre estava saindo com uma modelo, e havia boatos disso na imprensa, todos especulavam que o casamento de Pierre e Jane estava em crise, e eram muitos os rumores sobre o motivo desta crise. Quando descobriram que Annie Cresta estava hospedada em um hotel com um homem muito famoso, e que Pierre Archer também estava neste hotel com uma mulher também famosa, ligaram os pontos, Pierre e Annie estavam saindo. Foi o escândalo do ano. A foto de Annie estava em todos os jornais, como a destruidora de lares. Ninguém aceitava que a culpa fosse de Pierre, todos acreditavam que Annie tinha o seduzido. Pierre e Jane se separaram, ninguém aceitou isto, eles eram o casal perfeito, ninguém queria aceitar que o conto de fadas tinha chegado ao fim.

Peeta faz uma pausa, ele vai até a janela da sala, ficando de costas para mim.

— Eu era o namorado de Annie, se eu tivesse dito que era eu quem estava com ela, e não Pierre, nada disso teria acontecido. Annie fez de tudo para negar que ela estivesse com Pierre, mas era tarde demais, quase ninguém acreditava na inocência dela. Ela precisou ficar um tempo afastada da imprensa... Eu fui egoísta, egocêntrico, só pensei em mim. Gale disse que se eu admitisse que era eu quem estava naquele hotel minha carreira estava acabada. Ele me deu duas opções: eu continuava agindo como o bom moço, e continuava com minha carreira promissora de ator, e realizava meu sonho de atuar; ou assumia meu namoro com Annie e esquecia de vez da minha carreira.

Peeta volta-se para mim.

— Eu fui horrível, escolhi minha carreira em vez de Annie. Não tive coragem o suficiente para ficar do lado dela. Eu sou um grande cretino, Katniss! Um covarde! Um fraco, que deixou a pessoa que amava para sustentar uma falsa reputação. Eu me odeio por isso!

Me levanto e vou em direção a Peeta. Eu não sei o que pensar a respeito disso. Sim, Peeta foi um completo covarde, egoísta... Mas... Olho dentro de seus olhos e vejo toda a tristeza, dor, magoa. Peeta também tem feridas em seu coração igual a mim. Ele também sofre. Sei que deveria sair daqui, afinal Peeta agiu tão mal, ele fez com Annie algo imperdoável. Entretanto, ao ver toda a tristeza em seus olhos, toda a dor, tudo que faço é envolver Peeta em um abraço. Peeta apoia sua cabeça em meu ombro, que fica molhado de lágrimas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E sobre o passado de Peeta?