P.O.V Annabeth

Atena saiu do seu estado de “Mãe arrependida” para “Mãe coruja super mega protetora” ela me ligava todo santo dia, perguntava se eu estava bem, como tinha sido meu dia, como havia sido a aula, se eu queria voltar para casa e etc. Era até legal ver que ela se importava comigo, mas as vezes chegava a ser sufocante.

Na segunda feira, eu e Rachel apresentamos o trabalho e conseguimos a nota máxima (Yeah, somos alunas exemplares.) e até ai estava tudo bem. Mas, então, tudo começou a mudar drasticamente, do mal a pior.

A coisa toda começou na terça feira, quando deu inicio para os convites do baile. Se algum garoto quisesse chamar a garota para o baile, ele deveria ir até o seu dormitório e deixar o seu bilhete, por debaixo da porta. Pode parecer meio clichê, mas Sra. Dodds disse que no seu tempo era assim e então iria continuar do mesmo jeito.

Eu não estava á lá muito preocupada com o baile. Se ninguém me chamasse, eu iria apenas ficar no meu dormitório lendo, simples assim. Quando deu inicio para os convites, houve euforia entre as garotas, pois, as vezes, um só garoto convidava cerca de sete meninas e se todas aceitassem, ele é quem escolheria com quem ele iria.

Thalia havia recebido dois convites. Um do Nico e outro do Leo. Ela decidiu ir com o Nico, já que mesmo que depois de terminarem, continuaram com o melo de sempre. Katie recebeu três, dos Stolls e um do garoto do grupo de matemática dela, ela estava muito indecisa com quem ir. Calipso recebeu três; Leo, Percy e Will, decidiu ir com Leo. Rachel recebeu quatro: Percy, Nico, Connor e Will. E eu... Bem, eu não havia recebido nenhum ainda.

Mas, as coisas mudaram na quinta-feira, um dia antes do baile.

Eu andava distraidamente pelos corredores do internato com uma toalha na mão. Tinha acabado de voltar da natação e estava meio boba, pois Ethan dedicou mais do que boa parte da sua aula comigo. Enquanto todos estavam ocupados com o baile, eu estava apenas observando o internato. Iria sentir saudades dali, das pessoas dali, iria sentir falta de tudo.

Continuei andando e entrei no dormitório, Thalia e Katie estavam aos berros uma com a outra. Katie fuçava na maquiagem e Thalia estava praticamente dentro do guarda roupa.

– Ai meus deuses! Cadê o raio daquele vestido? – Thalia perguntou estressada.

– Ai amiga, calma. – Katie disse com o pó compacto na mão – Sabe, se a Zoë estivesse aqui, nós já teríamos encontrado.

– Mas ela não está! – Thalia disse – E você não tá fazendo nada para me ajudar!

– QUER SABER? – Katie gritou – EU TO CANSADA DISSO TUDO. URGH.

Katie jogou o pó no chão e toda a maleta. Thalia a olhou incrédula.

– VOCÊ QUEBROU MEU PÓ COMPACTO E MEU DELINEADOR SUMIU! SUA VACA.

– VOCÊ SÓ SABE SE IMPORTAR COM SEUS PROBLEMAS. E EU? EU ESTOU INDECISA COM QUEM IR! URGH, EU QUERO MORRER. – Katie se jogou dramática no colchão, me segurei para não rir.

– Miguxa, não fica assim – Thalia sentou ao seu lado e acariciou seu rosto. – Eu te perdoo.

– Perdoar pelo quê? – Katie rosnou afastando sua mão com um tapa.

– Você praticamente destruiu minha maquiagem. – Thalia berrou e Katie a olhou ressentida, então ela suspirou – Desculpa... Ei, cadê a Annie? Ela já não devia ter voltado?

– Estou aqui.

Thalia e Katie me olharam com os olhos arregalados.

– A quanto tempo você está ai? –Thalia perguntou.

– Acabei de chegar, só peguei a parte das desculpas. – Menti.

– Ah sim, ainda bem. – Katie disse. E então olhou-me de cima a baixo. – Ouch, você não vai para o baile?

– Ninguém me convidou. – Respondi, deitando-me em minha cama.

– Annabeth, seus convites chegaram hoje. Acho que você não viu ou sei lá o que. – Thalia disse me estendendo vários convites.

Peguei-os e abri. Cinco convites. Cinco garotos. Will, Travis, Percy, Leo e... Ethan.

Ethan Nakamura? O que?

– Quem chamou você? – Thalia perguntou.

– Travis, Percy, Ethan, Leo e Will.

–Travis também te chamou? – Katie perguntou espantada.

– Sim, mas eu não vou com ele.

–E com quem você vai?

– Travis eu descarto. Leo também, pois Calipso quer ir com ele. Wil... Ah, aquele gostoso... vou descartar, pois ainda to chateada com ele. Estou em duvida entre Percy e Ethan.... Mas vem cá? Por que o Ethan me chamou? Ele não é professor?

– Eu fiquei anos esperando ele me chamar – Katie choramingou – ele pode escolher uma das alunas para ir com ele. Durante todos os anos eu não vi ele com ninguém.

– E com quem o Percy foi?

– Quando a Bianca estudava aqui, ele ia com ala. Ano passado ele foi com a Drew. – Thalia disse.

Nós três fizemos um “eca” que ecoou por todo o quarto.

– Eles já deram uns bons amaços. –Thalia disse sem expressão – Acho que ele perdeu a virgindade dele com ela.

Engoli um bile que estava na minha garganta.

– Hum, legal.

– Então Annabeth, com quem você vai? – Katie perguntou mudando de assunto.

– Tipo, o Ethan é meu professor, mas é lindo e ele é legal, é parceiro, é companheiro, e há o Percy....

– Que é o cara que te deixa louca. – Katie cantarolou.

– Hey! – Joguei uma almofada nela e ela riu, a acompanhei. – Ele não me deixa louca... céus, estou em duvida.

– Vai com o Percy. – Katie e Thalia disseram juntas.

– Vou com o Ethan. – Respondi de imediato.

–Por que? – Thalia perguntou.

– Porque o Percy chamou duas garotas e esse lance da Drew... Enfim, vou com ele, está decidido.... OH MEUS DEUSES, GENTE EU NÃO TENHO UM VESTIDO!

E então começamos a bagunça novamente. Eu tentando ver se algum vestido de Katie servia em mim, Thalia procurando seu vestido perdido e Katie choramingando por estar indecisa.

[.....]

Na sexta-feira, dia do baile, pessoas corriam de lá para cá. As meninas todas animadas, os meninos atrás de uma roupa decente. Foi a maior coisa.

Estava chovendo. Nossa como eu amava a chuva. Enquanto todos estavam ocupados fazendo sei lá o que, eu fui para a biblioteca ler algum livro.

Ao entrar, percebi que somente a bibliotecária estava lá. Melhor assim, pois eu poderia ler em paz. Procurei algum livro especifico pela estante e parei em “O Pequeno Príncipe”. Já fazia muito tempo que eu queria lê-lo, por isso quando chegou na biblioteca, fiquei muito animada.

Folheie o livro várias vezes, sentindo o cheiro que emanava das folhas se chocando uma nas outras. Caminhei até uma mesa do fundo, acompanhada de um com livro e um café expresso que eu havia pegado no refeitório. Comecei a ler e, em poucas horas, eu estava quase na metade. O livro era interessante, e eu estava em uma espécie de transe em “Só mais um capitulo”. A chuva havia aumentado e meu agasalho junto com o café me esquentava, tudo estava bem.

Olhei no relógio, ainda eram cinco horas. O baile seria apenas as sete e eu me arrumo rápido. Voltei a ler, mas fui interrompida com a porta da biblioteca se abrindo e quem eu menos queria ver saiu dela.

Quando ele entrou na biblioteca, o ar ficou mais quente. Parecia ter acabado de tomar um banho, trazendo aquele cheiro de maresia consigo. Percy andou em minha direção, sentou-se na minha frente e eu senti um frio na espinha.

Analisou-me bastante antes de falar com a voz rouca e um olhar não muito convidativo:

– Oi.

– Oi.

– Gostei do agasalho.

– Adorei a jaqueta.

– Você está cheirando a... Limão.

– E você a maresia.

– Esse cheiro é o meu charme.

– Percebi.

– Você sumiu.

– Quando?

– Hum... Desde domingo. Por que está me evitando?

– Não estou te evitando, e eu estava aqui o tempo todo.

– Juro que não te vi.

– Eu sou invisível.

– Como você pode ser invisível?

– Como assim?

— Como alguém com covinhas perfeitas, cheiro adocicado, sorriso encantador, olhos chamativos e uma voz mansa pode ser invisível?

Um silencio se instalou. Ele me encarava e eu olhava tudo ao redor. Ficamos assim até ele falar novamente.

— Por que você tá assim?

— Assim como?

— Estranha.

— E quem se importa?

– Eu.

Outro silencio se instalou. Meu livro não estava mais tão interessante assim. Meu café havia esfriado e a chuva tinha sessado. Alevantei-me e fui em direção a porta, mas ele segurou meu braço.

– Por que você vai com o Ethan?

– Porque sim.

– Ele não conhece você como eu conheço.

– Você nem ao menos me conhece!

– Conheço sim. Você é aquela loirinha nerd que odeia injustiça, que para mim é perfeita, mas não acha isso. Você é aquela que ama ler em dias chuvosos acompanhada de um agasalho e um bom café, em um lugar sossegado para viajar em sua imaginação. Você é aquela que pode até ser sínica as vezes, mas é a melhor pessoa para se conhecer. Eu conheço você, Annabeth. Conheço como ninguém.

Fiquei em silencio.

– Annabeth, o que você tem? Por que está me evitando?

Quem sabe é porque eu estou apaixonada por você e estou com medo disso, por isso vou me afastar. –Pensei.

– Nada de mais... E ah, vai com a Rachel para o baile, ela adoraria a sua companhia.

– Mas Annabeth....

– PORRA PERCY! – Gritei, já perdendo a paciência. – Eu estou sufocada! Tudo que eu faço é com você, que grude! Eu... eu quero ficar longe de você, pois desde que você descobriu sobre os cortes fica tentando me proteger como se eu fosse uma criança, coisa que eu não sou! Eu tenho quase 17 anos Percy! Então, me deixa em paz!

Arrependi-me totalmente depois que disse isso. Era quase tudo mentira. Eu o queria por perto, mas precisava se distanciar.

Percy me olhou ressentido, suspirou e me soltou.

– Tudo bem,. É só que... – Ele parou e mudou seu semblante para um estado de raiva – Quer saber? Foda-se, eu não me importo.

E se foi, fechando a porta com força. A bibliotecária me encarava, mas nada disse. Minhas pernas ficaram bambas, então me recompus. Olhei para todos os livros. Eu queria tanto entrar dentro de cada um deles. Eu queria tanto viajar com Alice no seu país das maravilhas, ir a Nárnia com Lucy, acompanhar a Morte em seu trajeto por Munique na Segunda Guerra Mundial, passear por Hogwarts. Eu queria tanto isso, e eu conseguia, pois tinha uma grande imaginação, mas, nem mesmo os livros poderiam me ajudar, pois Percy era meu inferno particular.

[....]

– Thalia, fecha logo a droga do zíper.

– Tá emperrado! Não quer subir!

– Argh!

Depois que sai da biblioteca, fiquei andando por ai e acabei perdendo a noção do tempo. Quando cheguei no dormitório, Katie e Thalia já estavam arrumadas e então tiveram que me esperar.

– Thalia, estamos atrasadas!

– Affs! O raio do zíper não quer....

– É porque você não tem as manhas. –Katie disse –É assim óh...

Katie puxou o zíper delicadamente e ele finalmente fechou.

– Viu?

Thalia revirou os olhos. Vestia um vestido preto abaixo dos joelhos e Katie vestia um florado acima do joelho. E eu... bem, meu vestido era tão curto que eu estava me sentindo nua. Mas Thalia e Katie me obrigaram a vestir aquilo.

Saímos do dormitório e fomos parra o salão principal, onde estava acontecendo o baile. Tinha muitos jovens, cada um com seu par. Sra. Dodds andava de um lado para o outro, separando os casais que se beijavam. Brigava e dizia para terem mais respeito.

Continuamos em pé no meio do baile, até o pessoal começar a vir até nós. Calipso e Rachel estavam deslumbrantes, já os meninos estavam iguais. Percy olhou-me de cima a baixo e assentiu, como se aprovasse.

Revirei os olhos e avistei Ethan vindo em minha direção. Deuses, aquele garoto era tão lindo.

Coloquei o meu melhor sorriso e passei a mão pelos meus cabelos, tentando arruma-los. Ele sorriu e me abraçou. Seus braços deram a volta por todo o meu corpo. Era bom abraça-lo, eu me sentia nas nuvens. Sei que é errado. Ele era mais velho. Era meu professor. Mas sempre aparentava estar a fim de mim ou algo do gênero, então eu sempre deixei as coisas rolarem.

Ele se separou de mim com um sorriso no rosto. Seus olhos percorreram o meu corpo e seu sorriso se desmanchou.

– O que é isso? – Ele perguntou incrédulo. –Isso é quase que uma blusa! E eu odeio azul.

Olhei para baixo, para a minha roupa. É, estava curto, mas não era para tanto exagero. Estava nas minhas coxas, então não precisava dessa cena toda. E ele odeia azul? Francamente.

Ethan era aquele tipo de cara que ia à sua casa busca-la para o encontro, seria legal com seus pais e trataria bem seus animais de estimação.

Já Percy, por outro lado, iria na sua casa, te queimaria, falaria com sarcasmo com seus pais e nem sequer abriria a porta do carro.

– Para mim está ótimo. – Percy disse, com malicia na voz. – E eu gosto de azul.

– Acontece, Jackson, que a sua opinião não é importante. – Ethan rosnou.

Percy apenas deu de ombros com um sorriso maldoso.

Começou a tocar uma música agitada e Thalia e Nico se animaram.

– Pessoal, vamos dançar! – Nico e Thalia gritaram.

Todos assentiram e eu comecei a andar para a pista, mas Ethan me segurou.

–Annabeth, eu não sei dançar e não estou a fim de ficar aqui em pé.

Assenti.

– Okay, vamos sentar.

Sentamo-nos em uma mesa do fundo e começamos a bater um papo enquanto todos se divertiam. A conversa começou legal, mas ai eu vi que Ethan não era aquele cara que eu imaginava.

Quando você conhece uma pessoa, primeiramente olha sempre para a aparência dela, isso é um grande erro. Ethan sempre aparentou ser um cara legal, bacana, e tal. Mas, durante toda a nossa conversa, ele começava a falar de algo e depois mudava drasticamente de assunto, ficou falando sobre ser legal ter um Hamster e ficou reclamando sobre UMA OUTRA GAROTA que ele estava interessado.

Eu estava enlouquecendo, queria fugir dali. E eu não era a única.

Percy estava jogado em sua cadeira, me encarando e eu o encarando de volta. Rachel deixou ele de lado e estava dançando com Will. Percy me olhava inquietante e eu o olhava desesperada. Sua pose escorada, os cabelos bagunçados, a gravata mal feita só o deixavam ainda mais sexy do que ele é. Ele olhou para mim e alevantou, começou a andar em minha direção e eu fui me preparando para trata-lo mal, pois somente assim eu o manteria afastado.

Mas, quando estava a quase um metro de distancia, desviou e foi para a saída. Parou e olhou para mim com as sobrancelhas arqueadas, entendi o recado de imediato.

Vire-me para Ethan.

–Ethan, vou ali no banheiro.

– Ai o cara do Homem Aranha foi... Ah sim, beleza.

Alevantei-me rapidamente e fui em direção a saída, mas ele não estava lá. Olhei ao redor, nada.

– Percy? – Minha voz ecoou por todos os lados.

–Aqui. – Ouvi sua voz abafada vindo do corredor de armários.

Fui andando lentamente até lá. Ele estava encostado em um dos armários com me olhando profundamente.

– Oi.

– Oi.

Se afastou do armário e olhou para a minha roupa.

– Gostei. Pode ser curto, mas...

– É azul. – Completei,

– É, eu adoro azul.

– Eu sei.

Aproximei-me e nós ficamos a cinco centímetros de distancia.

– O que você quer?

– Te levar a um lugar. – Percy enlaçou sua mão na minha conduziu-me por uma parte desconhecida do internato.

Chegamos a um campo de futebol que eu nem sabia que existia, a grama estava molhada por culpa da chuva e o céu bem estrelado.

– Percy, o céu está tão...

– Lindo. – Ele disse, olhando as constelações.

Ficamos olhando abobados para o céu, então ele deitou-se na grama.

– Venha, é melhor para ver.

– Mas...

– Venha.

Obedeci e deitei ao seu lado. Nossos ombros se tocando, as mãos enlaçadas, coxas grudadas. Estávamos tão próximos que eu sentia suas pequenas vibrações, esperava que ele não sentisse as minhas.

– É, é melhor para ver deitada.

– Eu gosto de vir aqui para pensar. – Percy disse – É relaxante.

– Percebi.

– É... Annabeth, por que não quis vir comigo?

– Nem eu mesma sei. Creio que foi porque você tinha chamado mais garotas e eu fiquei sabendo de umas coisas sobre a Drew...

– Deuses, que coisa infantil!

– Eu sei! Me julguem!

Ele sorriu.

– Vou te julgar para sempre.

– Aff, idiota. –Empurrei seu ombro de leve e ele riu.

Ficamos em silencio. Sentindo o cheiro da grama molhada, o ventinho frio batendo contra nossa pele. Eu havia vestido o agasalho para me sentir menos nua, mas ele serviu para me proteger do frio.

Observei todas as constelações que eu conhecia. Vi a de Hercules e um sorriso brotou em meu rosto, eu amava aquela ali. Havia uma que eu nunca soubera seu nome, parecia uma guerreira com um arco na mão, ela lembrava-me Zoë.

Continuamos em silencio, até eu lembrar-me de algo e ter de quebra-lo.

–Percy, desculpe por mais cedo.

– Tudo bem. Você precisava de um tempo.

– Obrigada. É que eu estou meio... sei lá.

Ele suspirou e virou-se de banda, fiz o mesmo, deixando de apreciar as estrelas para me aprofundar em seus olhos verdes.

– Annabeth, por que você tá assim?

— Assim como?

— Estranha.

— Percy, quem se importa?

– Eu?!

Respirei fundo e dei a resposta que eu deveria ter dado mais cedo, quando estávamos na biblioteca.

— Você não deveria se importar.

— Eu sei, mas acho que é porque gosto de você, só acho.

Senti mil e uma borboletas no estomago. A semanas eu queria ouvir algo assim vindo dele, e quando eu finalmente estou disposta a esquece-lo, ele me traz de volta a ele. Dahora a vida. Respirei fundo e fingi indiferença.

— Hum.. interessante.

— Cadê aquele teu amor todo, Annie?

— Que amor?

— Aquele que ficava ai dentro.

— Aí onde, Percy?

— No seu coração.

— Que coração?

Ficamos em silencio. Vi que ele me analisava. Engoliu em seco e continuo:

— Aquele coração meigo, generoso, que não dá respostas curtas de mais. Aquele coração que também é capaz de dizer um “eu também gosto de você ou algo do gênero”. Aquele coração que eu sei que palpitava ao me ver.

Sabe, esse coração ainda tá aqui. Mas, eu passei mais do que semanas tentando ao menos ficar com você, e eu consegui, mas você não parecia sentir nada em especial. E agora, que eu estou disposta a esquece-lo e seguir a minha vida você vem com uns papos estranhos? Desculpe, mas eu to muito magoada.

Pensei em dizer isso para ele, mas só suspirei e respondi.

— Ele morreu.

Percy riu.

— Como um coração pode morrer?

— Simples: ele foi envenenado com mentiras, magoas, ilusões e com tudo de ruim que você pode imaginar.

— Ele tá morto ou ainda tem cura?

— Acho que ainda dá pra salvar ele.

— E qual seria o remédio?

— Você. — Falei sem pensar.

Percy passou um braço pela minha cintura e puxou-me para perto.

— Então vem, deixa eu cuidar de você.

Lembrei-me de todas as coisas que aconteceram hoje. Eu o tratando mal, tentando evita-lo, se afastando. Tudo por uma grande besteira. Mas eu era orgulhosa de mais, e isso era meu maior defeito.

— Mas Percy... — Comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

— Eu acho que devíamos parar de tanto “Blá, blá, blá” e nos pegarmos logo.

E então, estávamos nos beijando.

Foi como na primeira vez, no seu dormitório. Foi hesitante, mas confiante. E dessa vez, eu estava bem sóbria, por isso aproveitei e me apertei nele o máximo possível.

É, ficar longe dele ou evita-lo seria algo impossível.