– Vai, outra foto enquanto eles estão hipnotizados e Merida ainda não o matou! – Jack disse para Astrid, que apenas concordou e tirou mais fotos. Acho que depois do flash do celular, acabei despertando e percebendo de quem eu estava em cima. – Bem, acho que agora você já pode correr para as montanhas, viu Soluço?

Digamos que aproveitaria meus últimos momentos de vida para notar o quanto minha assassina era bonita; olhos claros, rosto delicado e várias sardas se espalhando pelo nariz, com os cabelos vermelhos espalhados em volta. A respiração batendo levemente contra meu rosto e as bochechas vermelhas mostravam o quanto ela estava envergonhada.

Merida me mataria, mas era realmente muito bonita. E era primeira garota em toda minha vida que ficou tão próxima de mim.

– Sem querer interromper, mas vocês estão me esmagando! – Ouvi a voz abafada de Punzie vindo de baixo de Merida. – Sério, eu gostaria muito de respirar.

– Ah! Sim, claro! – Me mexi, pronto para sair correndo no momento em que me colocasse de pé, mas duas mãos seguraram meu rosto no mesmo lugar. – Hã? – Perguntei, olhando para Merida. Ela tinha uma expressão totalmente desconhecida no rosto. – Merida? – Senti meu rosto ardendo quando ela se aproximou.

Calma! Segundos meus cálculos, uma garota só se aproxima assim de um garoto quando... Quando vai... Sabe? Santo Thor, ela está se aproximando! É isso mesmo? Merida está se aproximando pra...

É isso mesmo?!

– Filma isso! Filma isso, pelo amor de Thor! – Ouvi Jack falando para Astrid, mas não pude olhar para os dois. Merida segurava meu rosto, olhando para mim profundamente e se aproximando cada vez mais. – Youtube, me aguarde! - Senti meu estomago revirando, igual toda vez que ficava nervoso.

Meu coração batia cada vez mais rápido e não conseguia desviar os olhos dos de Merida, apesar de saber que a garota que eu gosto poderia estar nos filmando naquele exato momento. Na verdade, não conseguia me mexer enquanto a ruiva ainda me olhasse.

Era hipnotizante.

– Soluço? – A ruiva me chamou, parando a centímetros de mim e fazendo meu coração bater ainda mais rápido do que antes. Meu rosto ardeu loucamente quando a respiração de Merida soprou contra minhas bochechas. – Se liga! - Então, ela deu o famoso sinal de que faria alguma coisa ruim; ela sorriu. Na mesma hora em que jogou a cabeça pra trás e bateu a testa com tudo na minha, me deixando tonto e com uma dor enorme percorrendo toda minha cabeça. – Sai de cima de mim! – Merida reclamou, me chutando pra frente para se levantar, puxando Rapunzel pelas mãos.

Fiquei jogado no chão com a cabeça latejando, enquanto ouvia o tombo de Jack que havia caído do sofá, de tanto rir. Rolei de lado, sentindo o piso frio contra a bochecha e fechei os olhos. Os passos pesados de Merida e Rapunzel foram em direção da cozinha, mesmo a loira querendo verificar se eu ainda continuava vivo.

Para felicidade geral da nação, Soluço Spantosicus Strondus III continua vivo. O golpe não foi grave, apenas inesperado e doloroso. Nenhuma região de risco fora atingida; ele ainda poderá ter filhos no futuro, não se preocupem.

– Regra numero um sobre essa casa... – Uma voz conhecida disse se aproximando de onde eu estava deitado. – Nunca ultrapasse a linha de segurança de Merida. – Abri os olhos e encontrei a mão de Astrid estendida para mim. Aceitei a ajuda e fui puxado para cima, me colocando de pé automaticamente. – É uma boa dica se quiser continuar vivo.

– Obrigada pela dica. – Coloquei a mão na testa, me sentindo um pouco tonto. – Infelizmente é um pouco tarde para avisar. – Andei até o meio da sala, sendo acompanhado por Astrid.

Espera! Eu estava sendo acompanhado por Astrid? A Astrid? A Astrid que eu gosto?

– Foi o troco por estragar minha blusa mais cedo. – Ela riu, me empurrando no sofá e correndo para as escadas. – Boa noite. - Acho que sou muito tapado ou a cabeçada que Merida deu deixou meu cérebro um pouco devagar, porque não consegui responder nada enquanto a via subir para o segundo andar.

Fechei os olhos e apoiei minha cabeça dolorida no sofá, tentando fazer a dor ir embora pelo menos por alguns segundos. Só que esqueci de Jack jogado no tapete.

– Como é aquela música mesmo? Aquela do cara que canta em espanhol, sabe? – Ele me perguntou, ainda jogado no tapete.

– Espanhol? – Perguntei confuso. Ele me olhou, se sentando no tapete parecendo pensativo.

– É, aquela lá que o cara espanhol canta em espanhol. – Sério isso? Sério mesmo? Mas porque diabos ele queria saber de uma música em espanhol agora?

– Ah sim! Igual àquela outra que o cara italiano canta em italiano? – Comentei irônico, mas acho que ele não percebeu isso já que concordou com a cabeça, ainda pensativo. Passamos um tempo em silêncio, enquanto Jack ainda pensava e as garotas não voltavam da cozinha, até ele se levantar animado. – Lembrou qual música é? – Vi Jack começar a cantar em com um sotaque espanhol horrível, fingindo segurar um microfone. Até que entendi onde ele queria chegar. – Não acredito nisso! – Joguei uma almofada nele, que apenas desviou e continuar a cantar. - Cala boca Jack! – Era a maldita música romântica que meu pai ouvia quando se lembrava de minha mãe.

A maldita música em romântica espanhol que fui obrigado a ouvir desde pequeno nos ataques de solidão de Stoick!

– Vamos lá Soluço, você sabe a letra inteira! – Jack disse, estendendo o microfone invisível para mim. Joguei outra almofada nele, mas minha pontaria é péssima.

A porta da cozinha se abriu e as meninas saíram de lá vendo Jack continuar cantando.

– O que está acontecendo aqui? – Rapunzel e Merida voltavam da cozinha com duas bacias de pipoca com queijo. A ruiva parecia um pouco aborrecida ainda, mas quando Punzie ouviu a música que Jack cantava, abriu um sorriso enorme. – Credo. – Acho que Merida não gostava daquela música também.

– Eu amo essa música! – A loira disse, me entregando a bacia de pipoca no mesmo momento que Jack começou a cantar o refrão. Porque isso não me deixou surpreso? - Vou fazer a segunda voz, ok? – Ótimo, os dois começaram a cantar juntos.

O pior de tudo era que realmente eu sabia a letra inteira da música, o que fez a música começar a tocar em meu cérebro enquanto Jack e Punzie cantavam e dançavam alguma coisa parecida com salsa, só que muito mais ridículo.

“¿quién me va a entregar sus emociones?
¿quién me va a pedir que nunca le abandone?
¿quién me tapará esta noche si hace frío?
¿quién me va a curar el corazón partío?
¿quién llenará de primaveras este enero,
Y bajará la luna para que juguemos?
Dime, si tú te vas, dime cariño mío,
¿quién me va a curar el corazón partío?”

– Quando foi que comprei um ingresso para o show do Alejando Sanz? – Merida perguntou, se sentando no chão com a bacia de pipoca e vendo os dois cantando a maldita música.

– Eu vou ir dormir! – Falei, me levantando e indo para as escadas. Fui seguido pela dupla dinâmica que continuavam a cantar a maldita música. – Vão cantar pra Merida, ela amou vocês! – A ruiva me mostrou a língua enquanto os dois me deixaram subir as escadas para irem cantar para ela.

Cheguei ao corredor e caminhei desanimado em rumo ao meu quarto, afinal, minha cabeça latejava e a garota que gosto parece não gostar muito de mim. Além da música maldita estar tocando na minha cabeça e quando percebi estava cantarolando ela, no mesmo momento em que Astrid saiu do banheiro usando um pijama meio curto.

– Ah! – Disse quando nos encaramos. – Eu vou me deitar, sabe? Minha cabeça dói. – Ela concordou com a cabeça, cruzando os braços. Abaixei a cabeça, envergonhado; ela não se importava se eu perdesse a cabeça, afinal, nem nos conhecíamos direito! Que bobagem.

– Acho que tenho algum remédio para dor de cabeça no meu quarto, espere aqui. – O que? Remédio? – Espere aqui, ouviu? – Concordei com a cabeça, vendo Astrid ir até seu quarto. Alguns minutos depois a vi voltando com uma cartela de comprimidos, entregando para mim e voltando para o quarto. – Não precisa devolver. Boa noite!

– B-boa noite. – Falei para a porta fechada, segurando a cartela de compridos com cuidado. Provavelmente estava com a expressão mais idiota do mundo no rosto, mas decidi descer até a cozinha e pegar um copo de água.

3:12 da manhã, Jack estava sozinho na sala vendo o filme de zumbis, quando me viu disse que Merida foi ao banheiro e Rapunzel estava na cozinha pegando algo na geladeira.

Cheguei na cozinha com os comprimidos na mão, fui até o armário e encontrei copos, me virei para a geladeira e vi Rapunzel segurando a porta aberta enquanto escolhia um salgado de micro-ondas para comer.

Ela me viu e estendeu uma jarra de água na mesma hora que olhou os comprimidos em minha mão, encheu meu copo e me observando engolir os remédios.

– E como está a cabeça? – Dei de ombros, tentando não ligar pra dor na testa. – Merida tem uma cabeça extremamente dura, então não recomendo levar outra cabeçada dela.

– Concordo, mas não acho que vou passar por isso de novo. Regra número um da casa; nunca ultrapassar a linha de segurança. – Punzie sorriu enquanto concordava com a cabeça, pegando apenas o refrigerante e indo para a sala.

A segui e me despedi de Jack e Punzie, caminhando até a escada e ouvindo a porta do banheiro do primeiro andar se abrindo. Merida saiu de lá totalmente irritada, olhando para Rapunzel e acenando com a cabeça. A loira cobriu a boca com as mãos e foi até ela, cochichando algo para a ruiva e puxando-a para a escada logo em seguida.

– Com licença Soluço. – Rapunzel pediu e eu abri passagem para as duas passarem. Comecei a subir logo atrás e me deparei com algo no short bege de Merida; uma pequena mancha na parte de trás.

– Merida seu short está man- - A ruiva me olhou como se estivesse prestes a me chutar só pra assistir eu rolando escada a baixo. Então raciocinei o melhor que pude e reparei na cor da mancha. – Nada! Seu short é lindo, adorei! Parabéns, você tem muito bom gosto! – Tentei disfarçar e acho que deu certo. Vi as duas continuando a subir.

A pequena mancha na parte de trás do short de Merida era vermelha.

Arregalei os olhos quando notei o que aquilo significava e desci a escada depressa, com o rosto ardendo. Me joguei no sofá, cobrindo o rosto com uma almofada e tentando me concentrar no barulho dos zumbis que vinha da televisão.

– O que foi Soluço? – Jack perguntou, olhando para a televisão e comendo pipoca.

– Jack, ainda dá tempo de fugirmos, você sabe não é? – Ele me olhou confuso, então pensei se deveria ou não alerta-lo. Resolvi que sim, já que corríamos risco de vida, então disse apenas três letras. – TPM. - Ele cuspiu a pipoca que tinha na boca e me olhou apavorado.

– Qual das duas?

– Merida. – Jack me olhou novamente, dessa vez com o rosto contorcido em medo.

– Vamos embora daqui ainda hoje, prepare suas malas. – Concordei imediatamente, sabíamos o que estava por vir. Já sofríamos de mais quando frequentávamos a escola e todas as meninas da sala resolviam ficar de TPM na mesma semana; uma das épocas mais difíceis que tivemos que enfrentar, principalmente quando todas resolviam chorar no meio da aula. – A filha de um lutador de luta livre de TPM não deve ser legal.

– Não é nada legal. – Acho que Jack havia lembrado as mesmas coisas que eu.

Ouvimos passos na escada e alguns minutos depois Punzie apareceu, parecendo cansada.

– Meninos, acho que Merida vai deitar, tudo bem? – Ela nos perguntou, então acenamos com a cabeça enquanto. – Vou deixa-la na cama e já volto! – Punzie subiu novamente, deixando Jack e eu pensativos.

– Eu poderia ter comprado aquele Kit que vi na televisão, sabe? Seria muito útil agora. – Comentei para Jack que deu de ombros vendo os zumbis na televisão, mas pensando em como fugir no meio da madrugada . - “Kit de sobrevivência na selva”

– E porque não comprou? Por quê?

– Não achei que fosse precisar dele tanto quanto preciso agora.

– Maldito!