"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada."

William Shakespeare

No pequeno quarto de vestir, antes grande o suficiente para duas pessoas, agora abrigava quatro mulheres em vestidos que se tornavam farfalhantes pela proximidade, discutiam no tom de voz mais alta que podia sobre qual vestido era a melhor opção para o evento da noite, enquanto Clarisse tentava, encolhida no canto, ler algum conto do livro que tinha trazido consigo na viagem. Foi única maneira que encontrara de aliviar tensão que todos infringiram sobre suas costas e talvez também não atrapalharia o excelente trabalho que a criada, e as duas irmãs faziam ao escolher vestidos e jóias. Porém este tempo houve de terminar trazendo com ele um espelho enorme da penteadeira e metros de fitas, cetenas de grampos acompanhados de seis habilidosas mãos.

Clarie não sabia se deveria se importar se o vestido era branco, verde, azul ou laranja, parecia algo inútil quando outros de sua confiança já o faziam, a ela restava somente pensar nas histórias, em casa, na prima... Nele. E se ela estivesse tremendamente enganada e não o amasse? Eles haviam se visto apenas duas vezes e dançando mais duas danças, que direito o sr. Manson poderia ter sobre seu coração? E qual era o direito dela sobre o coração daquele homem? Ela decepcionaria se não fosse nada para ele?E Tânia? Como ela se sentiria se ele escolhesse? Como agiriam se fosse o inverso? Aparentemente o amor so pode trazer mágoa e dor, o mesmo sentimento enunciado pelos poetas a suas musas parecia agir em prol de tudo que lhe fosse o inverso, talvez porque o inverso seja tao parte do amor como as belas palavras que os descrevem os correspondidos compositores das obras primas.

Se a garota não tivesse sido brutalmente retirada de seus devaneios tão quanto pouco amorosos, talvez ela se deitasse em sua cama e chorasse até adormecer profundamente e ser levada para longe desses pensamentos assim como qualquer impotente diante de uma situação o faria. Porém instantaneamente Claire foi retirada daquela sequência para ser transportada por imagens mais agradáveis, palpáveis e fáceis de se dedicar e decidir. Como é próprio da sociedade, Clarisse Hill poderia agora, em seu vestido azul e ornamentos de coral presos em seus cachos, considerada um deleite para os olhos ou uma desaprovação aos de mais, aos primeiros por considerarem necessário para os olhos ver beleza, mesmo sem poder almejar, isso chamamos de desejo. Ao segundo grupo a beleza pode ser ofensiva por desmerecer as próprias e de pessoas queridas, pois também a desejam de uma forma mais egoísta, mas talvez menos fútil que os primeiros, enunciando uma segunda das muitas formas de desejo condenáveis pelos sábios, perfeitamente aceita pelos demais.

Obstante de se ater a todas as injúrias que poderia imaginar, ela simplesmente sorriu para o espelho em um grato ato de felicidade e gratidão as irmãs. Então se e caminhando a sala enquanto a casa parecia imersa nos preparativos, ora para a noite, ora para a festa, o salão principal parecia ter uma movimentação sincronizada. Primeiramente, a garota ficou a observar o retrato de seu tio, o Sir, que agora era exposto ao público que compareceria em apenas alguns dias, e também parecia ser o protetor daquela assustadora ala se nela houvessem algo parecido com a carranca do modelo.

"Ele foi sempre tão... Bravo como me parece a tela?" Perguntou a Anastácia.

"Não, não srta. Hill, Sir Burghersh era muito feliz em seu primeiro casamento segundo minha falecida mãe que foi criada na propriedade." A criada encarou com um ar doce o quadro como e visse outra imagem naquela moldura.

"O que houve?" A urgência na voz de Clarisse denunciava sua curiosidade para aquelas histórias cochichadas.

"A esposa, a antiga Lady Burghersh veio a falecer de um terrível acamamento. "

"Oh! Que terrível é as lembranças de tao homem! "

"Sim a filha e seu falecido amo passaram por momentos horrendos. "

"Não soube que Sir Burghersh teve uma filha, é de seu primeiro casamento entendo." Eram necessárias mais informações, respostas a perguntas indelicadas para serem feitas por uma jovem senhorita.

"Sim teve, é agora sra. Lanford."

Vendo que nada mais poderia ser adquirido daquela conversa, Clarisse voltou ao sofá e em pouco tempo teve a graça de poder estar a caminho do teatro dentro de uma carruagem do grupo que mesmo não acomodando agradavelmente quatro inamistosas pessoas, as levou enquanto a outra carruagem partia para um jantar ao qual Digory e Rose foram convidados com honra de conhecerem um amigo do sr. Richard, intitulado sr. Evans.

Alice já parecia ter desistido das falhas tentativas de considerar Lady Burghersh uma mulher sensata, ou ao menos tolerável, pois era uma consideração impossível e tinha se unido a Clarisse em prol de evitar conversas mais que meramente formais. Somente Tânia não media esforços para aturar a tia, e se não fosse recompensada por essa com influência e tantas outras luxúrias que as primas não pareciam suspeitar, nenhuma acreditaria que ela iria continuar com tamanho empenho na atividade, parecia ter se tornado totalmente uma dama de companhia.

As expectativas da noite eram deveras inatingíveis, as duas moças mais velhas traziam as próprias e as de suas acompanhantes, pouco pareceu além de um leilão, onde procuravam, qual teria maior valor para um comprador muito conceituado. Na entrada os ânimos de ambas foram derrubados ao encontrarem o sr. Manson entretido com outras senhoras e senhoritas, e quando se aproximaram a decepção pareceu aumentar para elas, pois ele deviria olhar primeiramente ou com mais primor para a enamorada e o olhar por ele lançado não traduziu nada, nem qual estava mais bela e elegante ou tocara seu coração de uma forma especial.