A Escolha Do Guerreiro escrita por Yui


Capítulo 10
Eu Te Conheço


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Bem-vindos ao novo capítulo de A Escolha do Guerreiro.
Esse me deu um pouquinho de trabalho, mas está aqui. Logo mais, atualizo as outras.
Sem mais a dizer, fiquem com o capítulo.

Boa leitura.



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– E este é o quarto de Tigresa. Como veem, ficam um ao lado do outro pra que na hora de cumprimentar o mestre estejam todos juntos.

Explicava Víbora com tamanha animação onde elas ficariam alojadas. Entrando no corredor dos quartos, o lado direito era das meninas e lado esquerdo, dos meninos.

O primeiro quarto à direita era o de Víbora. Ela dispôs o quarto ao lado do seu para Seyoung e o outro para Shaohannah. O último naquela linha de dormitórios era da princesa de Guangzhou. Quando as gêmeas entraram nos quartos, viram uma cama tradicional simples em bambu, tecidos e algodão, um baú para os pertences e uma mesa de tamanho regular. Isso não ocupava quase nenhum espaço do quarto.

No de Tigresa não era diferente. Elas foram informadas que se preferissem, poderiam colocar mais mobiliário para comportar suas coisas. Cada qual deixou suas mochilas, as desfariam depois. A serpente as guiou até o Salão dos Heróis onde Oogway e Shifu deveriam estar para mostrar a elas o restante do palácio.

– Depois, quando elas forem, eu terei que mudar de quarto? – Perguntou Tigresa.

– Apenas se quiser.

– Nossa, eu não acredito que tô aqui! – Dizia Shaohannah com aparente felicidade... muito aparente – treinar com os Cinco Furiosos e o Dragão Guerreiro. Ah, ele é demais!

– Hm, grande fã do Po, não é?

– Tá vendo, Shaohannah. Até a Mestre Víbora notou – disse Seyoung.

– Notar o que? – Perguntou a serpente, fingindo não saber.

– Como você não notou que ela é apaix... Hm!! – A boca da felina fora tampada por sua irmã.

Seyoung começou a grunhir e estava por arranhar a irmã para se soltar, mas Tigresa afastou as duas. Deveriam ser guerreiras exemplares. Ela pretendia escalar as duas como suas damas de companhia e em sua guarda pessoal, fosse imperatriz ou apenas a líder de sua terra natal, mas dessa forma, não poderia apresenta-las aos conselheiros. A voz de Víbora as fez parar de brigar.

– Estou brincando, notei sim. Mas ele é comprometido... eu acho... de alguma maneira.

– Como assim?!

– Calma, Shaoh! – Gritaram as outras duas.

– É uma amiga dele de quando ele era filhote. Ele resolveu dar uma chance e estão tentando se acertar. Isso não faz muito tempo.

De repetente, as quatro ouviram vários passos pesados em direção ao corredor dos quartos, onde ainda estavam conversando, apenas para serem descobertas por um macaco com um inseto na cabeça e um urso panda.

– Tá tudo bem aí, gente? – Perguntou Po.

O corpo de Shaohannah enrijeceu. Que vergonha! Gritou e o fez ir correndo até lá. E se ele tivesse ouvido alguma coisa? O que faria?

– Tai Lung disse pra gente não vir, mas ficamos preocupados com os gritos – continuou Macaco.

– Ele disse que devia ser coisa de menina – comentou Louva-a-Deus.

– Coisa de menina é? Deixa ele... – respondeu Víbora com os olhos semicerrados e voltou á sua postura animada – está tudo bem sim, Po. Já vamos pro salão, vocês, vão treinar.

– Até mais – gritaram eles e sumiram.

– Bem, vamos lá.

Retomaram o caminho para fora da ala dos estudantes. Shaohannah pareceu um pouco desiludida, mas o que fazer? Ela estava ali era pra conhecer mais sobre o kung fu e não para ficar atrás do panda.

– Vou deixar vocês aqui e vou treinar. Nos vemos na janta.

– Depois podemos conversar mais pra nos conhecermos melhor.

– Está bem Seyoung. Até mais tarde.

Se despediu e foi rumo ao salão de treinamento.

Tigresa abriu a porta, e caminhou seguida de suas amigas, e Shaohannah as fechou. Lá dentro, em frente à Piscina de Reflexão, estavam os maiores mestres de toda a China aguardando a chegada delas em silêncio que parecia não incomodar nenhum deles.

Para as irmãs, era o local mais lindo já visto por elas. Os olhos de ambas brilhavam com cada detalhe das armas, das paredes, pinturas e ornamentos ali dispostos, todos contando cada momento glorioso da arte marcial que tanto amavam.

Elas pararam no meio do salão aguardando o momento para se aproximar ou um chamado deles.

– Olá novamente. Venham.

À medida que foram chegando mais perto, puderam ver mais detalhes do salão e da piscina. Os degraus e aquela espécie de “caminho” até eles feito com os desenhos do próprio piso.

Pararam em frente aos mestre e permaneceram de pé.

– Espero que a estadia de vocês seja agradável. Eu serei seu mestre – Shifu lhes disse – e, bom, vamos andando.

Tigresa lembrava de cada detalhe e enquanto o panda vermelho falava, olhou para o dragão dourado, desta vez, com a boca vazia. Já o viu quando criança e ainda tinha o pergaminho. Certamente ele está com o panda agora.

Oogway percebeu o olhar da felina. Ela se lembrava sim de algumas coisas, mas a carga colocada sobre seus ombros era tanta que tirava seu foco.

Quando queria lembrar, não conseguia, só sabia o que vivera nos últimos dezessete anos e infelizmente não se recordava de quase ninguém ali. Para ela, sua mente estava bloqueada e preferia que permanecesse assim, para aproveitar cada novo movimento de luta que aprenderia, fora a prática espiritual, que estava certa de que não iria faltar.

A velha tartaruga suspirou e foi caminhando junto ao amigo e aluno e suas novas discípulas. Shifu contou algumas coisas sobre os artefatos dos guerreiros ali dispostos e duas das três felinas pareciam estar segurando um grito.

Mostraram a elas todas as áreas do palácio, embora Tigresa não demonstrasse muito interesse. Já conhecia alguns lugares ali, mas queria ir ao salão de treinamento. Essa seria a próxima parada.

Enquanto isso, no treinamento, Tai Lung observava todos e fazia um ou outro exercício assim que eles permitiam. Quando os meninos ameaçavam se bater, o leopardo pulava entre eles ou grunhia alto para que se contivessem.

Às vezes as pequenas lutas entre os guerreiros gerava confusão, porque, principalmente Macaco e Louva-a-Deus, queriam fazer brincadeiras e acabavam irritando os contra atacantes pela falta de seriedade. Porém, isso só ocorria quando era Tai Lung que liderava o treinamento.

– Gente, para! Daqui a pouco, mestre Shifu estará aqui – avisou Víbora saindo da zona de fogo.

O panda estava debaixo do que parecia ser um montinho, porém Macaco puxava a cauda do leopardo e este tinha o inseto entre as patas, tentando amassá-lo. Garça era puxado por uma das longas pernas por Po e a ave se apoiava na cabeça do primata com a outra pata.

A guerreira admitiria que isso era engraçado se não estivessem por receber visita durante o treino. Se seu mestre entrasse e os encontrassem dessa maneira, certamente todos eles seriam castigados. Eram como seus irmãos, portanto não podia permitir.

Todos se soltaram e voltaram a seus postos.

– É... desculpa aí, pessoal heh – disse Macaco sem graça e o inseto apenas abaixou a cabeça, querendo dizer o mesmo.

– Tá tudo bem, só voltem a treinar – disse Tai Lung – Po?

– Sim?

O urso estava indo para os bonecos de madeira quando se virou para o leopardo parado no meio do salão.

– Capricha na janta hoje, sua namoradinha vai gostar.

– Namoradinha? A Akame nem tá aqui, cara.

– Ai, você não se lembra de Tigresa?

– A princesa? Brrr... por favor... ela? Querer algo comigo?

– Não se lembra mesmo...

– Não, não me lembro.

– Do que? – Perguntou Macaco pendurado em um dos anéis de treinamento pela cauda, ficando de ponta-cabeça próximo ao panda.

– É que quando eram filhotes, esses dois se conheceram, e a princesa foi muito carinhosa com ele – disse o leopardo com um sorriso cínico, envergonhando Po –, mas parece que ela também não lembra de você.

– Hm, tá né?

– Mas, como acham que vai ser com elas aqui? – Perguntu Garça.

– Tenho certeza que a Víbora vai ficar mais calma com outras fêmeas por perto – respondeu Tai Lung.

– É, você não vai ser mais minha cobaia pra maquiagem – acrescentou ela com um sorriso desafiante, arrancando risadas dos amigos.

Nesse momento, os mestres e as convidadas entram surpreendendo-os em meio à brincadeira.

– O que significa isso? – Perguntou aos alunos, e continuou sem esperar resposta – voltem ao treinamento já!

– Sim, mestre! – Responderam todos, voltando e treinando mais forte do que antes.

– Este é o nosso salão de treinamento, foi projetado por um ex-aluno meu – contou Oogway – ele tinha potencial, mas queria desafiar a todos com isso. Não soube ser humilde.

Em Guangzhou, Feng havia saído de uma reunião com o conselho da cidade. Tomando medidas preventivas para certos invasores e ladrões, porém, o mais importante, discutindo a situação dos carnívoros. Quem eram e o que queriam com aquele ato ainda lhes era um mistério.

Saíra de lá mais temeroso do que antes, porque as notícias vindas do extremo sul não eram nada boas. Vidas, tanto de guerreiros como de cidadãos comuns, haviam sido perdidas por estes parasitas. Certamente havia felinos no meio... não é? Mas não se podia saber ao certo, quantos e quais as demais espécies envolvidas.

Andando na rua novamente, encontrou com alguém que menos desejava.

– Olá, Feng – um sorriso cínico apareceu nos lábios do tigre branco.

– Bái.

– Já está escurecendo, não deveria estar trabalhando pela segurança da cidade? Mas espere, suas táticas de defesa são inúteis, porque você deveria ajudar o extremo sul com os carnívoros. Todos estão sabendo e estão preocupados, até mesmo duvidando que sejamos páreo para eles.

– Eu sei o que fazer e já estou tomando as providências necessárias.

– Sei. Quero ver se algum dos nossos filhotes morrerem por sua causa, só sei que será a maior humilhação, tanto para o seu clã, quanto para a nossa raça. Tigres são reis, sábios e corajosos, mas parece que você não tem essas características. Ao menos sua filhinha parece ter.

– Cuide primeiro do seu filho, não cite Tigresa. Ela nem ao menos está aqui pra se defender.

– De certo a mandou pra longe pra protege-la, deixando o resto de nós como iscas pra esses malditos e pra que ela continue seu fracasso. Pobre felina. Ao menos meu filho um dia será companheiro dela e poderá dar proteção de verdade e ensinar tudo o que você nunca ensinou.

– Ela não está com seu filho e nunca vai estar.

Dito isso, passou por Bái Li empurrando-o com o ombro.

Só queria chegar em casa o mais rápido possível para evitar mais estresse.

O tigre branco permaneceu parado onde estava, olhando o líder se afastar. Havia algo que queria esconder e não o faria por muito tempo, ao menos Bái Li jurou a si mesmo que descobriria seu segredo.

Chegando em casa, Feng entrou fechando a porta atrás de si e se lançou em um dos sofás da sala. Fechou os olhos e colocou as patas na face, precisava rapidamente descarregar toda aquela tensão e nada melhor do que um cochilo.

– Pai!

“Mas não é possível”, pensou ele e mesmo com a cabeça estourando de dor, sentou-se para encarar o filho descendo as escadas rapidamente. Parecia animado.

– Oi, Zhuang.

O filho se sentou ao lado do pai.

– Pai, aconteceu uma coisa incrível hoje.

– O quê?

– Mamãe disse que amanhã começo a treinar com Mestre Wu!

– Sério, filho! Meus parabéns! Ele é um ótimo mestre e você será tão bom quanto sua irmã.

– É por isso que eu pedi.

– Você pediu? Achei que ela tinha tomado a decisão.

– Não, eu tive que conversar com ela. Eu jurei pra mim que eu seria o próximo líder pra deixar Tigresa livre pra fazer o que quiser.

“Livre? Não existe essa possibilidade, ela vai se casar”, pensou, porém não disse nada. Não queria estragar a felicidade do filho. Não era o momento para conversar com ele sobre isso, apesar de ele já saber.

Zhuang pensava que talvez pudesse livrar a irmã de todas as coisas atribuídas a ela pelos pais e ancestrais. E conseguiria, custasse o que custasse.

– Vamos pra cozinha, mamãe já deve estar lá e o jantar, servido.

O felino se levantou e foi andando sem dar muita importância ao semblante reflexivo do pai.

Feng olhou pela janela e viu que já escurecera. As horas passaram muito rápido e temia que junto com elas, as chances de mudar o destino de sua filha se esvaíssem com a mesma velocidade.

Esfregou o rosto com as patas. Os carnívoros eram assuntos mais urgentes. Certamente ela estaria bem e voltaria bem. Venceria e ficaria como líder. Quanto ao casamento, depois resolveria com príncipe e o imperador.

E de fato, Tigresa estava bem. Estava, talvez, entre novos amigos e brincadeiras deles.

Antes do jantar, ela estava com suas amigas no quarto de Tigresa. A princesa sentada no chão com as costas apoiadas na cama, Shaohannah de frente para ela com as costas na parede – visto que a cama ficava no meio do aposento – e Seyoung na cama deitada ou jogada... como preferirem.

Ela ficara em frente ao quarto de Po. Shaohannah parecia mais descontrolada por esse fato, era uma fã e tanto. Se dizia a número um.

– Não entendo bem porque você é fã desse cara. Ele não conseguiu se defender dos amigos naquela briguinha! Estava debaixo deles...

– Aqui é brincadeira. Você vai ver que no treino ele leva a sério. Não ficamos tanto pra observar isso, mas vamos ter muito tempo.

– Ainda assim, não entendo como ele ganhou tal título.

– Tigresa, não julgue antes de saber toda história. Até parece que ele teve uma vida fácil, mas não podemos saber... – comentou Seyoung apoiando a irmã e se apoiando no cotovelo esquerdo para poder encarar a amiga.

– Tem razão. Mas ainda quero saber.

– Se não me engano... – começou Shaohannah chamando atenção de ambas e tentando lembrar – ele lutou contra o príncipe deserdado de Gongmen. Foi ele quem tentou acabar com os pandas.

– Ainda existem além do Po?

– Sim, mas moram longe. Ele mantém contato, mas quer ficar aqui.

– Como sabe de tanta coisa? – Perguntou a irmã.

– Os fãs do Dragão Guerreiro se comunicam haha.

De repente, todas pararam de falar ao sentir um cheiro delicioso.

– Meninas, hora do jantar.

Víbora as avisou, sem necessidade e minutos depois, já na cozinha, o panda servira a todos sua sopa do ingrediente secreto, alegando ser segredo de família e com um enorme sorriso no rosto, recebeu os elogios das três visitantes.

– Isso está muito bom – disse Tigresa e Seyoung concordou com um aceno de cabeça.

– Além de bonito, e grande guerreiro, ele também cozinha.

Shaohannah não comentou tão baixo. Todos a ouviram e a cozinha ficou submersa em silêncio. Todos com olhos arregalados para ela e depois olhares maliciosos para o panda, que mais parecia ter sido pintado de vermelho. Seyoung colocou uma pata na testa apertando com os dedos entre as sobrancelhas e fechou os olhos. Como sua irmã era sem noção!

Tigresa fingiu não ouvir e continuou comendo, até que reprimiu um pulo quando os demais explodiram em gargalhadas pela cara, agora quase roxa, de Po. A inocência dele era impossível de acreditar. Deixou escapar uma risadinha, oculta por tantas risadas e sorriu para ele, que não pareceu notar.

Vendo que ele estava desconfortável, Tigresa resolveu mudar o assunto e também tirar uma dúvida.

– Eu tenho uma pergunta...

O mestre Shifu fez com que seus alunos ficassem em silêncio e, com um movimento de cabeça, insinuou que continuasse.

– Gostaria de saber: como Po se tornou o Dragão Guerreiro? Shaohannah havia me contado, mas ninguém sabe todos os detalhes.

– É verdade – concordou Seyoung – sua fama corre por toda China, Po, mas não sabemos tudo. Vocês sabem, quem conta um conto, aumenta um ponto. Não podemos ter certeza.

– Eu contarei, assim, ele não ficará falando das próprias qualidades e cortando o fluxo da história – disse o panda vermelho e vendo que o panda falaria algo – sem interrupções e não, não vai contar. Já disse.

– Ah... tá bem.

Os outros riram novamente, até ele limpar a garganta para continuar.

– Antes de ser proclamado o Dragão Guerreiro, era um garçom no restaurante do pai aqui mesmo no vale. Aquele que eu pensei que seria o guerreiro lendário, era meu filho, Tai Lung, porém o universo não quis assim. Vocês já sabem sua história. Ele quase destruiu o vale porque eu o iludi.

– Mas nós nos acertamos, eu o perdoei e voltamos a ter paz – respondeu Tai Lung passando o braço direito ao redor dos ombros do pai com um sorriso.

– Mestre, o senhor falou que ia contar a história, não ele!

– Po, eu, eh... Ele tem razão. Me desculpe. Continuando... ele chegou a vir ao palácio acompanhado por vocês, Víbora e Tigresa, para brincar e peguei ambas diversas vezes ensinando movimentos a ele.

– Eu me lembro – disse Víbora com um sorriso.

Ninguém notou o semblante confuso da felina. Ele lhe era familiar, mas chegou a brincar com ele? Talvez fosse verdade, mas por que ele não a recebeu como a uma amiga?

O panda recordou de imediato aqueles dias em que tinha visitado o palácio graças a ela, e seu rosto voltou a ter um tom avermelhado, entretanto mais leve dessa vez.

– Anos depois, Mestre Oogway me pediu que o trouxesse. Já amadurecera o suficiente e seu destino o chamava. O treinamos e em questão de pouco mais de um ano de treino, Lord Shen ameaçou a China e matou o Mestre Rino Trovão. Po não se sentia pronto, mas tinha que salvar a todos. Mestre Oogway disse que seria um caminho dele e me segurou aqui até o momento que precisariam de mim e assim foi. Entretanto, antes de ir, lhe dei o pergaminho e pedi que o abrisse no momento que precisasse. Ele ficou para assegurar a segurança nessa região porque quando Shen soube que o Dragão Guerreiro era um panda, mandou um contingente de lobos e gorilas para impedi-lo de chegar à Gongmen City, mas já era tarde.

– Afastei os soldados de Shen e sabia que Shifu estava ajudando o nosso aluno. Afinal, eu o ajudei a buscar a paz interior, sem sucesso porque ele não descobrira de onde viera. Dizia não ter nada de especial para ser um guerreiro tão grande e que todos nós dependêssemos dele – olhou para o panda com um sorriso suave.

– Shen me disse que meus pais me abandonaram – continuou Po, triste ao lembrar de seus pais se arriscando para salvar a vida e a mentira que o pavão tentou lhe contar – e que eu não era especial pra ninguém. Quase morri, mas uma cabra, que parece um senhor, me ajudou e eu lembrei do que o Mestre Shifu me disse. Abri o pergaminho e finalmente entendi. Assim como meu pai, Sr. Ping me disse: eu preciso acreditar que o que eu faço é especial.

Tomou cuidado para não dizer a verdadeira frase de seu pai, ou revelaria o ingrediente secreto de sua sopa e estava certo de que o velho ganso não iria gostar. Certamente o receberia com uma concha sendo sua arma para bater na cabeça do filho.

Durante todo o tempo da história, Shaohannah e Seyoung ficaram sérias e deram toda sua atenção. Já Tigresa começou a prestar atenção ao longo das palavras. Cada uma delas a fez se sentir culpada por julgar o panda de maneira errada.

– Nossa, eu pensei que... que... – balbuciou Tigresa desviando dos olhos verdes do urso.

– Já sei, pensou que tinha sido fácil, ajuda do universo e que sou um panda grande e gordo demais. Não acredita que eu luto – abaixando o olhar.

– Bem... não quis dizer isso.

– Mas é o que todo mundo fala – respondeu ele com um sorriso e tom de voz monótono.

Tigresa ficou desconsertada. Não quisera dizer isso dele, mas também admitia mentalmente que á primeira vista não o achava bom para o kung fu. Pelo jeito ele era nato para a arte marcial.

Terminado o jantar, todos deveriam se recolher, porém houveram reuniões em dois quartos.

No quarto de Garça os guerreiros conversavam e contavam histórias de terror. No de Tigresa, conversavam tranquilamente ela, as outras duas felinas e Víbora quando a serpente falou:

– Eu me lembro de você...

– Quê?

– É, te conheci aqui no palácio, lembra? E você tinha conhecido Po e pediu pro Tai Lung trazer ele pra cá pra gente treinar e brincar juntos. Os três dias que você passou aqui foi assim.

– Ah, eu... não me lembro bem. Então, foi aqui que eu conheci ele, não é? Ele era familiar, mas não sabia de onde ha ha. Conectei as coisas quando me falaram da história dele.

– Pois é, ele é daqui e você conhece o Dragão Guerreiro desde criança.

– Não acredito que nunca me falou, Tigresa – murmurou Shaohannah com a expressão mais surpresa do mundo.

– Eu não lembrava, ainda não lembro de tudo. Depois de ter me acidentado com a Genji!

– Acidente?

– É Víbora, quando brigamos, saímos rolando e batemos em alguns equipamentos. Eu bati a cabeça forte e fiquei uns dias sem treinar e ela também.

– Nossa.

– Mas agora sei de onde conheci vocês.

A noite avançava e aos poucos o sono alcançava os guerreiros do palácio e as guerreiras convidadas. Mestre Víbora explicara a elas as rotinas: ao nascer do sol soava o gongo, cumprimento aos mestres e depois, tomar o café da manhã; logo depois o alongamento e treino da manhã; almoço e depois treino espiritual e prática de ginástica e/ou combates, dependendo da necessidade que o mestre captasse.

Elas ficaram abismadas. Nunca fora assim em Zhuang Wu, mas agora deveriam se adequar. Passariam dias no templo e Tigresa viveria ali por algum tempo.

Cada qual se foi a seus aposentos a passo sonolento.

Já em seu quarto, o panda se deitou cansado. Havia sido um longo dia e haveria mais aventuras na manhã seguinte, tendo que tomar cuidado para não envergonhar ainda mais seus colegas diante da princesa. Pensando nisso, lhe veio uma dúvida:

– Será que ela lembra de mim? E... daquele... beijo no rosto que me deu? – Sussurrou ele para si mesmo enquanto com cada palavra, sentia o rosto queimar, de certo ficando vermelho.

Aquela era uma doce lembrança, só sua. Nem Akame sabia que existira um terno momento que ele tinha como algo mais. Se soubesse, certamente não o deixaria um minuto sozinho com ela.

Nesta manhã tinha dúvidas de que aquela tigresa, a princesa, fosse aquela primeira menina a quem conheceu, a primeira que não o insultou ou zombou dele. A primeira com quem sentira algo diferente, embora sem saber como chamar.

Queria averiguar se ela o reconhecia, mas não era hora. Talvez na manhã seguinte tirasse essa dúvida. Então caiu num sono inquieto sem sua resposta.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Deixem seus comentários com dúvidas ou críticas, já sabem. ^^
Espero que tenham gostado.

Até mais. o/



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