A Escolha Do Guerreiro escrita por Yui


Capítulo 11
Treinamento


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, bem-vindos novos leitores!
Me perdoem pela demora, estou trabalhando agora e isso consome mais tempo.
Capítulo longo esse ein haha.

Boa leitura.



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O som do gongo acordou a todos. As convidadas do palácio e a nova moradora mal pregaram os olhos, porém estavam prontas a se apresentar. Mestre Shifu apareceu no início do corredor olhando para todos seus alunos em forma. Sorriu.

– Bom dia guerreiros.

– Bom dia, mestre Shifu! – Disseram cinco vozes em coro. As três felinas não responderam nem o encararam, ainda estavam aprendendo a rotina.

– Princesa, Seyoung e Shaohannah, agora, todos tomam café da manhã para então se dirigirem ao salão de treinamento para se aquecer. Os aquecimentos ocorrem por alguns minutos, o suficiente para que possam fazer exercícios sem afetar o estômago de vocês – as encarou e viu assentirem afirmativamente. – Agora podem ir.

Se dirigiram à cozinha, seguindo o panda que foi o primeiro a engatar a marcha. Enquanto passava por Shifu não notou o olhar dele sobre si. “Acordou cedo hoje, me impressionou... ou será que é pela princesa? Bem, vamos ver quanto tempo vai durar”, pensou.

Todos foram para a cozinha e se sentaram enquanto o panda se preparava para fazer mais uma de suas magias. Tai Lung o estava ajudando, mas a maior parte ficava com Po.

As felinas contavam sobre seu treinamento em Zhuang Wu e tudo o mais e todos perguntavam e ouviam com atenção. A única que estava um pouco aérea era Shaohannah e Tigresa notou de imediato o que prendia a capacidade mental da amiga.

Era o Dragão Guerreiro. Ela ainda estava em choque por tê-lo tão perto de si. Tigresa a encarava dissimuladamente enquanto as outras conversas transcorriam. Cutucou-a com o cotovelo, visto que Shao estava a seu lado, e quando ganhou sua atenção, pediu que enxugasse a baba que começara a escorrer.

Um barulho aguçou as orelhas e os sentidos de todos os felinos, depois do panda e depois dos demais conforme foi ficando mais próximo. Tai Lung nem se moveu, ele já sabia do que se tratava e só fez uma careta para seus amigos, no intento de zombaria. Tigresa, Shao e Seyoung se levantaram da cadeira e no mesmo segundo um vulto passou pela porta em disparada diretamente para cima de Po, agarrando-o.

– Bom dia, Akame – disseram todos, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, e era para eles, enquanto as outras três os olhavam embasbacadas.

– Bom dia, gente – disse ela, virando o pescoço para vê-los, ainda agarrada aos ombros de Po e dirigindo-se a ele – bom dia, Po – lhe beijou o rosto.

– Bom dia... – sorriu de volta – é... Akame, vou derrubar as coisas aqui...

– Ah, desculpe – o soltou.

Alguém limpou a garganta sonoramente e essa foi Tigresa. Todos encararam-na, assim como às duas outras felinas. “Elas não foram devidamente apresentadas”, pensaram.

– Ah... eh, Akame, essas são as convidadas do palácio, Shaohannah e Seyoung e a princesa de Guangzhou, Tigresa – apontou para cada uma delas e sorria – e essa é Akame.

Akame não gostou de ele não ter mencionado nada sobre o fato de eles estarem juntos havia dois meses, na verdade, saindo...

Mesmo assim, respeitosa como era, ela não fez mais que ficar séria e se curvou e assim elas também o fizeram.

– Então é com ela que você sai, Dragão Guerreiro? – Perguntou Tigresa com deboche por ele não ter dito nada.

Em vez de esclarecer, ele ficou vermelho e a fêmea a seu lado fechou a cara. Quando ele ia responder, ela foi mais rápida.

– Somos namorados, algum problema?

– Akame! – Exclamou ele, não apenas pelo repentino desrespeito atípico a ela, mas por não ser totalmente verdadeiro.

– Não, está tudo bem, Po... foi só uma brincadeira, me desculpem.

Sentou-se, e as gêmeas a imitaram.

– Akame, senta aí, já vou servir o café... – respondeu ele despois de alguns segundos de silêncio constrangedor.

Aos poucos, enquanto comiam, o ambiente foi novamente se enchendo de sons provenientes dos guerreiros, mas a princesa notara a expressão de sua amiga, um tanto triste para ela. Mal conversava e dava apenas leves sorrisos; sua voz, que geralmente se fazia notar de tal volume, era mais baixa nesse momento.

Estava decidida a falar com ela e animá-la, embora pensasse também em falar com Akame e perguntar se ela estava com algum problema, não deixava de encarar Tigresa quando podia e toda vez lhe fazia cara de poucos amigos.

Respirou fundo, não iria arrumar confusão, definitivamente era perda de tempo considerando que tinha que treinar e se tornar mestre.

Colocou uma pata no ombro de Shaohannah e sorriu a ela quando esta a olhou.

Naquela manhã, em Guangzhou, Feng já estava de pé, assim como a esposa. Ela já fora para o templo e seu filho já estava estudando e fazendo seus deveres para depois cumprir o treinamento de hoje com Mestre Wu.

Ming já não era a mesma. Disfarçava, mas Feng podia ver a falta que sentia da filha. A última vez que se viram, trocaram farpas em vez de carinho; isso fazem alguns dias, imagine quando se passarem os meses?

Ele foi até o quartel da guarda pedir informações pessoalmente. Queria estar alerta e preferia fazer isso por si só. Não que não confiasse na lealdade de seus servos, mas todo cuidado é pouco agora que se tem um inimigo cujo única coisa que se conhece é o hábito de se alimentar de outros seres, coisa que há anos os tigres não faziam. Então não poderiam ser criminosos felinos rajados, não é?

Os ataques eram em grandes intervalos de tempo, mas deixavam vilarejos afastados arrasados e gente ferida. Como líder, ele acabara de despachar soldados para proteger alguns lugares da cidade e emprestou seus tigres para os líderes das terras mais ao sul e oeste, onde ocorreram os primeiros ataques.

Depois de pegar sua informação, caminhou para casa.

Chegando lá, se trancou no escritório andando de um lado a outro pensando em quem realmente eram esses carnívoros. Não conhecia dentre os seus alguns hábitos, embora outros fossem sumamente parecidos.

“Hm, podem ou não ser gente do meu povo que me ataca? Se sim, já tenho respostas para seus motivos, se não... o que querem? Quem são?”, pensava ele enquanto franzia o cenho e levava a pata direita à boca, cobrindo-a. “Pode sim haver tigres dentre os atacantes e assassinos, mas por que?”

Caminhou até sua poltrona e se jogou nela, se sentiu pesado não apenas pelo corpo, mas pelos pensamentos. Tanta coisa para se preocupar; a segurança dos filhos, do povo, resolver a situação de Tigresa – coisa que tentava há anos pensar no que fazer para conseguir isso –, deter os carnívoros antes que todos os fatos sobre esses ataques chegassem ao imperador; isso era algo que ninguém do conselho de líderes do sul gostaria, fora discutido ontem em reunião.

E além de tudo isso, começava a perder sua esposa para a tristeza. Tudo bem, talvez fossem apenas saudades de Tigresa e era o mais natural, arrependimento pelas coisas que viviam dizendo uma a outra, mas o que adiantaria agora? Ela não voltaria por um bom tempo. Se perguntava se a filha também sentia o mesmo agora. Provavelmente não, deveria estar usando os deveres e os treinamentos como escudo para retirar essas coisas da mente, ocultar suas emoções de si mesma como vinha fazendo pelos últimos dez anos.

Suspirou. Adiantaria pensar agora sem mais pistas? Provavelmente não, mas ao menos uma coisa o relaxava.

– Ao menos o próximo festival só acontecerá no ano que vem. Ela ficará lá por meses e poderei negociar mais tranquilo... – fechou os olhos suspirando pesadamente mais uma vez.

Agora sabia que não era só saudade o que Ming sentia... também era outra coisa que embrulhava seu estômago vazio. Culpa.

– Muito bem, os Cinco Furiosos, Akame e as três convidadas, fiquem aqui no salão de treinamento – dizia Shifu – eu vou me digirir à Gruta do Dragão para o treinamento do pand... eh, eh, digo, do Dragão Guerreiro. Já estão aquecidos, agora meu filho, Mestre Tai Lung, as ensinará a utilizar o equipamento e então farão séries em cada um. Saberei do desempenho quando voltar. A parte da tarde faremos com lutas dois-a-dois no pátio e, dependendo do tempo que durar, terão o resto do dia de folga. Estamos entendidos?

Estavam todos parados no lado de dentro do salão, ainda sem se aproximar de qualquer equipamento. Enfileirados, ouviram as indicações do mestre para hoje.

– Sim, mestre – responderam todos com uma reverência.

– Muito bem. Po, venha comigo.

O panda fez uma reverência e o seguiu.

Passados os segundos necessários para que Shifu não captasse a conversa, Seyoung se manifestou.

– Mestre Tai Lung?

– Sim?

– Que treinamento é esse que Mestre Po deve fazer em separado?

– É o treinamento do Dragão Guerreiro, ele deve alcançar e controlar a paz interior cada vez mais fácil e segundo Shifu, ele está progredindo – sorriu.

O panda era um amigo e praticamente um irmão mais novo, assim como Víbora. Fora ele quem ensinou ao urso seus primeiros golpes, apesar de que a princesa, quando os visitara, também contribuíra.

– Dizem, minha irmã, que o treinamento dele é algo que nem os maiores mestres conhecem, exceto cada Grão-Mestre do Palácio de Jade que seria para sempre o responsável por abrigar o Dragão Guerreiro quando surgisse.

– Como sabe disso, Shao? – Perguntou a irmã.

– Já te disse, Sey, fãs do Dragão Guerreiro se comunicam – sorriu olhando a irmã, mas logo seu olhar foi atraído para a frente novamente.

– Então, gata, você deve ser a fã que enviava cartas toda semana pro meu namorado?

Akame se colocou em frente à Shaohannah, avançando lentamente para ela e a encarava com sorriso desafiador. Tigresa se colocou entre elas, sabia que sua amiga não era de briga e não se daria ao trabalho de discutir, além de ser um pouco sensível à grosserias e logo viu os olhos dela se transformarem com o choque.

– Sai daí, princesinha, eu to falando com a sua amiga.

– Não a chame de gata. Você deveria saber da nobreza dos tigres antes de falar qualquer coisa, afinal de contas, você também é da nossa espécie.

Víbora e Garça, além das gêmeas ajudaram a segurar a princesa, quando viram seu lábio superior se levantar com um grunhido ameaçador e seus olhos semicerrados. Se tinha uma coisa que havia herdado de seus pais e se orgulhava, era o senso de justiça e proteção, essências para a vida inteira, não apenas para se fosse governante ou não.

Ela jamais seria capaz de deixar algum amigo seu sem proteção se pudesse e devesse intervir.

– Meninas, meninas, chega... – disse Tai Lung colocando ambos os braços entre elas, as empurrando.

“No treinamento da tarde você me paga”, foi o pensamento de ambas.

Tai Lung explicou às novatas o circuito enquanto alguns faziam outros exercícios.

Enquanto isso, Po e Shifu estavam em silêncio absoluto meditando juntos. As instruções do mestre foram para que o guerreiro se concentrasse e deixasse fluir a paz em seu corpo enquanto respirava o ar puro. Agora Po não se distraia com os sons dos outros furiosos ou com Akame. Essa rotina era boa, tinha que admitir.

O guerreiro escolhido progredia sempre e bem, estava equilibrado e... “o que é isso?”, pensou Shifu, sentindo a energia deslizar do equilíbrio por um momento. Abriu o olho direito olhando para o panda, desse mesmo lado, que fazia uma careta quase imperceptível, quase...

– O que foi, Po? Algo errado?

O mestre abriu os olhos e virou-se para seu discípulo que fez o mesmo para ele.

– Ah... nada – respondeu.

– Sério? Eu pude sentir sua energia desequilibrada.

– Ah, não é nada, mestre.

– Tudo bem, a hora que quiser me contar...

O panda assentiu com um sorriso, Shifu além de um mestre era mais um de seus valiosos amigos e acabara de demonstrar.

“Ainda bem que ele não pode ler mentes”, pensou. “Estou preocupado com o que Akame possa fazer com as três pelo jeito que ela encarou as convidadas hoje.”

– Bom, agora concentre-se e mantenha. Você pode chegar ao mundo espiritual dessa forma. Já tem a paz interior, mas precisa do controle absoluto dela, coisa que vai demorar a acontecer, mas quando esse dia chegar você viverá na paz.

– Ah, ok. Entendi.

Depois de algumas horas, os dois mestres voltaram ao palácio. O estômago de Po não o deixaria prosseguir e Shifu se irritaria se insistisse, já sabiam que era hora do almoço; além disso, tinha que confessar que estava com fome como seu discípulo.

Nenhum dos dois sabia da pequena discussão, apenas notaram o silêncio na cozinha.

As sopas foram servidas e todos começaram a almoçar. Shifu olhava para todos tentando descobrir o que aconteceu e Po fazia o mesmo, então ambos perceberam que Akame fuzilava Tigresa com o olhar, atitude que não fazia parte de seu jeito de ser.

– Então gente, como foi o treinamento? Aposto que as novatas tem um bom kung fu.

Po tentou quebrar o silêncio e ficou sem graça com a demora para receber sua resposta; sua tentativa obteve sucesso quando várias opiniões e a conversa foi enchendo o cômodo.

– Elas tem um ótimo nível de kung fu - disse Tai Lung - não era de se esperar menos das alunas da Academia Zhuang Wu, só que a princesa me surpreendeu...

Quando Tigresa ouviu esse comentário, se segurou para não engasgar com a sopa e também para não protestar contra o leopardo. O que ele estava tentando fazer? Acabar com o treinamento dela ali? O encarou com surpresa e todos pararam a conversa para ouvir o que ele tinha a dizer.

Por sua parte, Tai Lung percebeu a surpresa dela e dos demais, e mantinha um sorriso brincalhão enquanto Akame parecia sair vencedora de alguma situação. Todos ali sabiam das punições de Shifu e não queriam ser alvo delas; Akame poderia ser punida, mas não iria sozinha.

– Ela te surpreendeu? Como? - Perguntou Po, bem interessado.

– Ela é ágil, equilibrada, sabe fazer os movimentos certos na hora certa ou aguardar para se movimentar... além disso, tem um ótimo senso de justiça e proteção.

– Por que diz isso, filho?

– Por nada não, pai. Vamos, melhor terminar logo de comer pra fazer a segunda parte, não é?

Foi sua vez de ser fuzilado por Akame.

Passada a tensão, Tigresa, Seyoung e Shaohannah relaxaram em seus lugares e a princesa encarou o mestre, o velho amigo de sua fase de filhote. Lhe dedicou um sorriso e sussurrou um "obrigada" que só ele pudesse ouvir, visto que estavam lado a lado à mesa.

"Eu vou descobrir o que está acontecendo", pensou Shifu, enquanto o panda gigante tinha o pensamento parecido, com relação às felinas.

A hora passou e chegou o momento do treinamento de luta.

O mestre ordenou que se dirigissem ao pátio de treinamento e lá ele explicou que se trataria de uma luta amigável e ele escolheria os oponentes de acordo com o que ele acreditasse que seriam seus níveis ou para que lutassem contra estilos diferentes. Os primeiros foram Macaco e Víbora, com habilidades diferentes, podem aprender mais; houve empate.

A segunda luta foi Akame e Garça, com o mesmo propósito da luta anterior; a ave ganhou por um detalhe que a felina não conseguiu perceber a tempo. Shifu a corrigiu na postura e pediu que prestasse mais atenção na próxima, sem gritar, apenas conversando. Depois foi a vez de Tai Lung e Louva-a-Deus que lutaram muito bem, mas Louva-a-Deus perdeu por tentar tocar nos pontos de pressão e paralisar o leopardo, foi pego de surpresa e levou um golpe que o derrubou.

Seyoung e Shaohannah eram ótimas lutando juntas, tinham sincronia perfeita, mas e uma contra a outra? Ambas sabiam suas fraquezas e qualidades, então a luta foi demorada e houve empate.

– Vocês duas ainda devem aprender a tirar suas falhas dos olhos do oponente se ele já as conhece. Assim, poderão lutar cada qual por si mesma se um dia foi preciso - disse Shifu, sereno.

– Sim, mestre - responderam em uníssono.

– Não fiquem envergonhadas meninas, afinal, estão aqui para aprender. Os próximos serão Po e Tigresa. Quero que fiquem em suas marcas e assim que eu fizer soar o pequeno gongo, começam, como nas lutas anteriores.

Sem responder, o urso e a felina se posicionaram; ele em seu estilo próprio desenvolvido por ele mesmo com influencia dos demais e de seu próprio equilíbrio, fazia movimentos que ninguém conhecia. Tigresa estava em sua posição inicial, inclinada em direção ao panda.

Po observava a postura dela, os olhos de lava atentos a ele; sentiu então seu coração se acelerar como quando ela chegou, como em sua primeira luta com ela e naqueles momentos em que teve que salvar a China ou descobrir um grande segredo.

Não queria machucá-la, não sabia sobre seu nível de luta, embora se lembrasse que ela era melhor do que ele.

O que mais lembrava era a primeira lição de Tigresa sobre postura...

Estavam dentro do salão de treinamento, sozinhos. Tai Lung levara Víbora para a enfermaria porque cometeu um erro nos anéis de fogo e temia que tivesse se machucado. O pequeno panda a olhava atentamente com os olhos verdes brilhantes, como quando se vemos a coisa mais maravilhosa para nós. O kung fu era sua paixão de nascido e ela o executava de maneira linda, à opinião dele, mesmo quando errava; ainda mais quando se esforçava para se corrigir.

Ela colocou com o pé direito na frente, flexionando ambos joelhos, e pediu que ele a imitasse; depois o braço esquerdo flexionado com o punho fechado próximo à face e o direito na frente um pouco abaixo da linha dos olhos. Explicou que ambos estavam protegendo os pontos críticos como costelas, os ossos da face e os olhos.

– Consegue fazer isso? - Perguntou ela, com sua doce voz de menina.

Girou o tronco com ajuda do quadril, sem tirar os pés do lugar, usando-os para impulsionar e como apoio; lançou o punho esquerdo fechado para a frente, trazendo o direito para a posição idêntica a que o outro braço estava.

Depois voltou à posição inicial e observou se ele conseguiria. Ele a imitou, com o movimento um tanto pouco torpe, mas conseguiu.

– Isso, muito bem - disse ela e sorriu.

O pouco tempo que ela esteve com ele, plantou e fez nascer uma semente de vontade, a vontade de aprender e levar ao máximo, corrigir seus próprios erros. E com o tempo ele foi aprimorando esse pensamento numa busca por seu próprio talento, por si mesmo e pelos próprios sonhos.

O gongo soou o tirando dessa lembrança e, então, Po arremeteu contra Tigresa. Ela esquivou-se e ele passou por seu lado esquerdo; a princesa preparou um chute nas costas do panda, mas ele se virou e segurou seu tornozelo. Aproveitando o impulso que ele lhe dera, Tigresa levantou a perna esquerda, até então seu apoio no chão, para chutar o estômago dele; com isso, ela foi solta e Po cambaleou dois metros para trás.

Akame, vendo isso, fervia de raiva. Quem pensava que era essa gata para agredi-lo assim?

Po arfou, encarando-a um pouco atordoado e com a guarda baixa. Shifu e Tai Lung foram os primeiros a perceber, mas seu pai, o mestre, não diria nada; queria analisar a situação.

Tigresa correu agilmente para Po e quando este tentou investir um soco direto com a pata direita, ela saltou. O panda olhou para cima e a viu descendo com velocidade com uma perna esticada para acertá-lo.

Quando ela estava a milímetros de seu focinho, ele rolou rapidamente, deixando que ela acertasse o chão; ambos acabaram se levantando logo em seguida e se colocando em posição novamente.

"Po está deixando que ela vença? Não, não... ele não fica tão aturdido assim", pensava Shifu e levou uma pata o queixo, acariciando inconscientemente a barba fina.

– Po! Deixa de brincadeira - ordenou Tai Lung.

– É, cara, você nunca leva golpe de ninguém quando luta sério, por que tá assim com ela?

As vozes de Tai Lung e Macaco o fizeram acordar do pequeno transe em que se encontrava. Quando olhou para Tigresa novamente, ela falou:

– É só isso que você tem pra dar, Dragão Guerreiro?

A felina não tinha a intenção de desdenhar de sua posição, mas sim a de desafiá-lo para ter uma verdadeira luta; ele entendeu sua intenção.

Piscou várias vezes e franziu as sobrancelhas entrecerrando os olhos e deixando surgir um sorriso brincalhão quando firmou a guarda.

– Prepare-se para sentir o trovão - murmurou.

Lançou-se novamente contra Tigresa, que agachou e girou para passar a rasteira nele. Po pulou a uma altura mediana e quando voltou a plantar os pés no solo, se defendeu de um soco direto da felina. Esquivou-se várias vezes desse golpe até que ela girou e estendeu os braços com as palmas abertas, na intenção de afastá-lo, mas ele segurou suas patas e a derrubou de bruços; antes que ele pudesse colocar o pé em suas costas, ela inverteu a posição num piscar de olhos, sentando-se nas costas do panda.

Quando Tigresa fez menção de puxar seu braço para mantê-lo imóvel, ele puxou sua pata e ela caiu a seu lado direito. Ela franziu o cenho e ele riu.

Ambos ficaram tentando imobilizar um ao outro e a princesa estava ficando irritada, até se podia ouvir seus grunhidos junto às risadas de Po.

Os furiosos seguravam o riso, o panda fazia graça e Shifu suspirou da atitude infantil do aluno, mas pelo menos ele não havia perdido. O mestre tinha que admitir que se não fizesse algo assim, esse não seria o Dragão Guerreiro.

"O Dragão Guerreiro será adulto feito, mas sem deixar de atender sua pura criança interior. Os maiores guerreiros serão todos assim". A voz de Oogway ressoou na mente de Shifu, que sorriu com a lembrança. A sábia tartaruga estava meditando a essa hora e mais tarde gostaria de falar com ele, mas voltando ao treinamento, resolveu acabar com a brincadeira, percebendo que nem mesmo a princesa estava levando a sério. Aquilo se transformara numa competição, pareciam dois filhotes lutando para ver quem mantinha o outro no chão de vez.

– Eu ganhei! - Gritava Po rindo.

– Não, não! - Respondia Tigresa virando-o de novo - eu ganhei!

– Nenhum dos dois ganhou - interrompeu Shifu - acho que por hoje já chega. Podem ter o restante do dia de folga.

Os dois se levantaram e junto aos demais, cumprimentaram o mestre.

– Estão dispensados. Exceto você, Tai Lung. Venha comigo.

– Sim, pai.

O leopardo acompanhou o pai até o Salão dos Heróis e Shifu pediu à Zeng que lhes preparasse um chá e encontrasse Oogway, que aparentemente não estava meditando por ali. O ganso saiu correndo à sua maneira, às vezes espalhafatosa, a atender o pedido.

Ambos se sentaram em meio ao salão cada qual de um lado da mesa posta por Zeng antes de sair, ficando um de frente para o outro. O panda vermelho ficou pensativo e sua expressão demonstrava claramente.

– Algum problema?

A voz de Tai Lung o fez despertar.

– Não sei se é um problema, deve ser... Po estava muito distraído hoje, não?

– Sim, é verdade. Acha que tem algo a ver com a princesa?

– Pode ser. Ah, diga-me, filho, o que houve hoje no salão de treinamento? Diga-me a verdade.

Enquanto isso os demais guerreiros dirigiam-se à ala dos estudantes enquanto conversavam. Po e Tigresa se entreolhavam risonhos, a luta deles ainda não acabara, haveria um vencedor.

– Po - Akame chamou ao perceber - me leva pra casa?

– Preciso comer alguma coisa antes.

– Está bem.

– Mas por que isso agora?

– Ah, quero aproveitar um pouco mais sua companhia - respondeu ela abraçando-o.

Shaohannah e Seyoung reviraram os olhos enquanto os demais faziam brincadeiras à respeito dos dois. Tigresa os encarava sem expressão. "Ela quer me provocar? O que acha que eu estou querendo?", revirou os olhos e foi para o quarto apressadamente.

– Princesa - chamou Po, soltando-se de Akame - o que ela tem?

– Vamos lá ver - disse Shao.

– Depois diremos o que ela tem e se está bem - falou Sey antes de virar para o corredor, sendo praticamente arrastada pela irmã.

– Akame...

– O que foi, Po? Apenas te abracei...

– Iiiih, vão brigar - dizia Macaco.

– Aposto que ele apanha dela - disse o inseto no ombro do primata.

– Gente!

– Calma, Po.

– Acho melhor deixarmos eles sozinhos - concluiu Garça empurrando os demais com as asas e com a ajuda de Víbora.

– Vamos lá, vou te levar pra casa.

O tom com que Po falou delataram à Akame que teriam uma conversa séria.

Saíram e desceram a escadaria em silêncio. Akame segurava firmemente a pata direita de Po que não fazia menção de olhar para ela, então seguia cabisbaixa.

Ao chegarem na entrada da casa da felina, ela parou à frente de Po. O sol estava baixando, em pelo menos uma hora ele iria se pôr. Ambos o observaram e então olharam um para o outro.

– Akame, me diga o que aconteceu. É sério - pediu ele gentilmente.

– Eu... e-eu fiquei com ciúme da... acho que o nome dela é Shaohan... aquela que fica que te mandando cartas - sua voz era apenas um fio. Se sentia envergonhada que o panda soubesse dessa atitude.

– E o que Tigresa tem a ver com isso?

Ele estava tão ou mais confuso do que antes.

– Eu briguei com a amiga dela e ela veio defender, discutimos...

Tigresa estava sentada na cama tentando explicar que estava bem, que saiu andando rápido porque Akame era intragável e fazia o esforço de se convencer disso quando nem ela mesma tinha certeza.

– Ai ai, amiga. Ela ainda vai causar muito problema por aqui.

– Acho que não, Shao, quando a gente for embora, ela vai se acalmar - disse Seyoung.

É verdade, logo as irmãs iriam embora e deixariam Tigresa ali por meses a fio, até quando tivesse que voltar e enfrentar o campeão do clã branco no festival. Ficaria sozinha... sozinha não, agora estava conquistando novos amigos, mas mesmo assim, lembrar-lhe do real motivo que a levara ao Palácio de Jade a fazia sentir-se inerte ante seu próprio fardo.

Abaixou a cabeça suspirando.

– Ela não causará problemas, eu sei. Não estou aqui pra arranjar briga.

O quarto ficou em silêncio enquanto elas estavam deitadas próximas como costumavam fazer quando passavam as noites juntas. Nada separaria aquela amizade de uma vida e Tigresa tinha certeza que o que quer que fosse feito de si, teria Shaohannah e Seyoung com ela.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado.
E agora, o que Shifu fará com as três envolvidas na discussão? O que Po dirá à Akame? Tigresa ficará triste de novo? Logo saberemos. Deixem seus reviews com palpites, dúvidas e/ou críticas, isso me anima a escrever. :D

Até mais. o/