Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 35
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Espero que o capítulo não tenha demorado tanto dessa vez. E, claro, espero que vocês gostem e comentem também. =)
Boa leitura!



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James observou o pomo de ouro sobrevoando seu rosto. A bolinha se movia para os lados às vezes, mas nunca ficava fora de alcance.

– Você não está preocupado? – a voz de Sirius o distraiu.

– Estou, mas não sei como posso ajudar agora – ele respondeu, apanhando o pomo em seguida. Ainda deitado em sua cama no dormitório masculino, James virou o rosto para encarar o amigo. – O Aluado vai aparecer quando se sentir pronto.

– Ele está faltando até as aulas – Sirius insistiu. – Já faz quase uma semana, Pontas. E onde você acha que ele tem dormido?

James deu de ombros e soltou o pomo de novo.

– Ele sempre foi bom em Transfiguração. Deve ter conjurado um colchão em alguma sala vazia.

– Eu tenho procurado por ele – Sirius contou. – Só nos últimos dias, já fui à Casa dos Gritos umas boas cinco vezes. Perguntei ao Hagrid se ele tinha visto alguém perto da floresta. O cara evaporou.

– Bem, nós sabemos que ele ainda está nos terrenos de Hogwarts. Frank viu o banheiro usado e o malão dele revirado ontem, lembra? – Sirius amarrou a cara.

– Como você pode ficar tão calmo? – James suspirou.

– Ninguém está mais chateado com esse sumiço do que eu, Almofadinhas. Era de se esperar que o Aluado já confiasse o bastante na gente para aceitar algum apoio.

– A Lily não tem notícias dele?

– Ela disse que os dois tinham conversado no domingo e que ele parecia perturbado, mas eu desconfio que ela sabe mais do que está contando.

James capturou o pomo pela segunda vez. Sirius apenas apoiou as costas na parede atrás da própria cama. Ele balançou lentamente a cabeça.

– Como a Claire pôde fazer isso? – indagou após um tempo. – Partir sem se despedir... – ele refletiu um pouco. – Você acha mesmo que ela fez isso de propósito? – James suspirou.

– Eu não sei, cara. Mas, bem, eu estive pensando: se ela realmente fez de propósito... será que dá para a gente culpar? – Sirius lhe lançou um olhar de confusão.

– É claro que sim. O Aluado é louco por ela, todo mundo sabe. E eles estavam juntos. Ela devia isso a ele.

– Será mesmo, cara? Será que ela só não fez isso para proteger todo mundo?

– Ela partiu o coração do cara – ele protestou. – Como isso é proteção, Pontas? – James sustentou o olhar do amigo por um instante.

– Não sei, Almofadinhas. Só acho que teria sido mais difícil se eles tivessem se visto. Quero dizer... imagina só a situação: você está prestes a fugir do país, depois de escolher entre a sua família e o cara que você sempre disse amar. Ele tem uma família super complicada, e você sabe o quanto aquilo tudo é importante para ele... Teria arrasado todo mundo. Ela podia mudar de ideia, ou o Aluado podia se acabar de vez ou sei lá...

– Bem, agora ele pode se sentir traído – retrucou Sirius. – Nem tudo que é mais simples é certo – James considerou a hipótese por um segundo.

– Bem, se ele realmente se sentir traído, então a Claire fez um sacrifício. Deixar o Aluado desapontado é a melhor forma de impedir que ele fique idealizando a pessoa que ela é. Quem sabe assim ele não se recupera em menos tempo – Sirius balançou a cabeça, claramente confuso.

– Essa é alguma nova teoria da Lily, por acaso? – James deu de ombros.

– É só algo em que eu pensei. Se eu estivesse no lugar da Claire... Não acho que eu conseguiria me despedir.

Sirius desistiu da conversa. Ele apoiou a cabeça na parede e ficou calado, pensando. James brincou mais um pouco com o pomo. Finalmente, ele falou outra vez com Sirius:

– O ano já está acabando. Será possível que você ainda não decidiu se entender com a Marlene? – houve uma pausa silenciosa. Então, Sirius o olhou de volta.

– Pontas, não fique irritado, mas eu quero lhe contar uma coisa – James franziu o cenho, confuso. – Falei com Marlene na noite em que Claire fugiu, depois de termos procurado pelo Aluado. Eu a encontrei por acaso e nós conversamos... Ela meio que se declarou para mim... – pela primeira vez em muito tempo, Sirius Black estava com o rosto corado e um sorriso bobo dançando nos lábios. – Bem, nós estamos juntos desde então.

James se ergueu de repente, chocado.

– Como assim?! Por que ninguém sabe disso?!

– Bem, nós não achamos que vocês estavam no clima para isso logo depois do que aconteceu com Claire... Não queríamos esconder por muito tempo, mas com o sumiço do Aluado...

– Mas, Almofadinhas, não passou pela cabeça de vocês que todo mundo precisa de uma boa notícia agora?! – ele deu um sorriso sem graça.

– É fácil para você, Pontas. Sua namorada está na biblioteca, enlouquecendo com os NIEM’s. Mas eu não quero que o Aluado volte só para descobrir que todo mundo está ótimo e só ele perdeu a garota que ama.

James foi forçado a concordar com o raciocínio. Assentiu com uma careta, quase conformado.

– Tudo bem, tudo bem, você me convenceu. Não vou comentar com ninguém – garantiu.

– O segredo não deve durar muito mais – Sirius acrescentou. – Nós só não queremos passar a impressão errada.

– Não parece muito legal que vocês fiquem se agarrando loucamente dias depois uma das melhores amigas dela ter fugido do país, né?

– Cala a boca, Pontas – mas James não conseguia parar de sorrir.

– Eu estou tão feliz por vocês, cara – ele ficou de pé e puxou Sirius pelo braço. – Ah, vem cá!

Os dois acabaram abraçados por um instante. Quando se afastaram, Sirius ainda estava sem jeito.

– Você é muito veado mesmo... – resmungou.

– É cervo, seu idiota – James retrucou, implicando. – E vocês deviam começar a espalhar a notícia. As garotas vão entender também – Sirius suspirou.

– Bobagem... – deu um sorrisinho delinquente. – Segredos são bem divertidos, sabe.

James revirou os olhos e se largou na cama outra vez.

– Você acha que eu posso me acostumar? – Sirius indagou após um tempo. – Namorar é diferente. Envolve pressão, jantares em família, encontros formais, presentes e cartões melosos... – James sorriu para ele.

– Eu me perguntava a mesma coisa às vezes, mas olha só no que deu.

Sirius sorriu e desviou o olhar. James tratou de acrescentar:

– Eu sei o que você está pensando, Almofadinhas. E vale muito a pena. Nenhum de nós vai se arrepender.

– Nem o Aluado?

James contemplou o dossel de sua cama.

– Se meu palpite estiver certo, nem ele.

**********************************************************************

– A lua cheia é em duas semanas – James sussurrou, indiferente ao monólogo do professor Binns. – Estou começando a concordar com o Almofadinhas quando ele diz que nós devíamos estar preocupados.

Lily suspirou, tentando manter a paciência.

– James, eu também estou preocupada, mas, se você quer minha opinião sincera, é justamente por isso que o Remo não deu as caras – ele não entendeu.

– Por causa do próximo ciclo?

– Não, James... Por causa dessa cara de pena de vocês. É a última coisa de que ele precisa.

– Eu não estou com pena dele, Lily. Eu estou preocupado – ela lhe lançou um olhar descrente. Finalmente, James respirou fundo e acrescentou: – E você não precisa agir assim. Eu sei que você tem mantido contato com o Aluado de alguma forma – isso a pegou desprevenida.

– Quê?

– Vamos lá, Lily, você é a única pessoa que não surtou ainda e esse não é muito o seu perfil. E suas rondas estão muito mais demoradas ultimamente – ela acabou confirmando com a cabeça, contrariada.

– Você não pode contar a ninguém – disse. – O Remo me mataria.

James desviou o olhar. Não precisava de muito esforço para perceber que ele estava chateado.

– Eu sabia – murmurou. Então encarou Lily outra vez. – Vocês se veem todos os dias?

– Não, mas eu falei com ele ontem, por exemplo.

– Onde ele está? – Lily balançou a cabeça, sem jeito. – Lily, eu não vou contar...

– Mas você pode ir atrás dele – ela olhou ao redor para se certificar de que ninguém estava prestando atenção à conversa dos dois. Nas aulas de História da Magia, era difícil conseguir alguma privacidade, porque quase qualquer coisa era mais interessante que a fala do professor. – Não leve isso para o lado pessoal, James – acrescentou baixinho.

– Como isso não seria pessoal?! – Lily gesticulou para que ele falasse mais baixo.

– Esse não é o lugar certo para essa conversa, mas você não pode apenas deduzir que o Remo perdeu a confiança em vocês.

– Pois é exatamente isso que eu acho – ele retrucou.

– Não seja injusto, James – ele a fuzilou com o olhar. Lily quase se arrependeu do que acabara de dizer.

Como a conversa parou por aí, ela olhou ao redor outra vez. Sirius e Peter estavam sentados do outro lado da sala. E Sirius estava escrevendo alguma coisa, completamente alheio ao resto do mundo.

– Desde quando Sirius parou de gazear as aulas de História da Magia? – ela cochichou para James. Ele apenas deu de ombros. Lily suspirou. – James?

– Agora não, Lily. Não é a hora nem o lugar certo para essa conversa – ela amarrou a cara também.

Cruzou os braços sobre a mesa e se concentrou em olhar para o professor, ainda que não desse a menor atenção para o que ele estava falando. Pelo resto da manhã, os dois agiram como nos velhos tempos, bufando e evitando falar um com o outro, exceto por um detalhe: ninguém tentou sentar em mesas diferentes dessa vez.

**********************************************************************

Quando Marlene chegou ao armário de vassouras mais próximo da Torre de Astronomia, Sirius já estava lá dentro, iluminando o espaço com sua varinha, que ele acomodara numa prateleira mais alta. Ele sorriu logo que ela entrou.

– Isso precisa parar – ela disparou após trancar a porta com um aceno da varinha. – Você não pode simplesmente começar a frequentar todas as aulas da noite para o dia e ficar me mandando bilhetes para a gente se encontrar em armários de vassouras nos períodos livres – isso o confundiu.

– Por que não?

– Porque alguém pode desconfiar, Black. E nós decidimos que ainda é muito cedo para contar a todo mundo, lembra?

– Bem, é por isso que nós estamos trancados num armário num dos trechos menos movimentados do castelo, certo? – ele arriscou com um sorriso. Marlene levantou uma sobrancelha.

– Não, senhor. Nós estamos aqui porque você não consegue passar mais de umas poucas horas sem me agarrar.

– Se sentir sua falta for crime, Lene, eu sou réu confesso – ela riu com gosto enquanto Sirius se aproximava e a abraçava pela cintura.

– Merlin! Suas cantadas ficam piores a cada dia. Deve ser culpa da monogamia... – brincou. Sirius apenas sorriu. Eles se encararam por um instante.

– Você parece preocupada – ele disse enfim. Marlene meneou a cabeça, ponderando.

– Só fico pensando se isso não é errado. Nós não só estamos felizes e risonhos como estamos escondendo o motivo disso dos nossos amigos. E eu entendo o motivo de escondermos, mas, sei lá...

– Só porque você está contente por uma coisa, não significa que não esteja triste pela Claire – ela não pareceu convencida.

– Notícias do Remo?

– Nada. Mas o Pontas está desconfiado de que a Lily fala com ele com mais frequência do que ela conta.

– Isso não me surpreenderia – Sirius estranhou a resposta.

– Não?

– É da Lily que estamos falando. Ela é uma das maiores mestres em inteligência emocional que eu conheço. Só perde para o pacote Alice e Frank.

– Você diz isso depois de tudo o que já aconteceu entre ela e o James? – Sirius questionou.

– Ah, mas ali era diferente. Ninguém é tão esperto nas próprias decisões quanto é para aconselhar as dos outros – ele sorriu.

– Você deve estar certa. O Aluado também é ótimo para aconselhar e olha só o tanto de merda que ele faz na própria vida.

– De onde vocês tiraram esses apelidos? – Marlene fez uma careta. – Nunca entendi direito.

– Ah, é meio que uma mitologia... – por um segundo, Sirius quis contar toda a verdade sobre Remo e sobre as habilidades que ele, James e Peter tinham desenvolvido para ajudar o amigo, mas, depois de tudo o que acontecera com Remo recentemente, não parecia certo. – O Pontas ganhou esse apelido por causa do cabelo dele, que nunca fica menos espetado mesmo. O Rabicho é porque ele é meio nojento, vai... O cara nunca soube comer direito. O meu é Almofadinhas porque dizem que eu sou um cachorro e tal, mas nós precisávamos de um nome mais sutil, então pensamos que cachorros têm patas fofinhas. E o Aluado vive distraído, pensando sabe Merlin em quê, então o Pontas sugeriu que ele vivia no mundo da lua.

Marlene parecia impressionada.

– É bem mais elaborado do que eu pensava – admitiu.

– Lene... – Sirius hesitou por um segundo. – Você não está arrependida por a gente estar junto. Ou está? – ela passou o braço em torno do pescoço dele, para que ficassem mais perto.

– Claro que não. Eu só fico me perguntando se sou uma insensível egoísta.

– Você não é nada disso – Sirius afirmou categoricamente. – Você praticamente me salvou de mim mesmo em vários momentos, Marlene. Não tem como alguém assim ser insensível e muito menos egoísta – ela sorriu, encabulada.

– Vou acreditar em você mais essa vez, então – murmurou.

– Eu não mentiria sobre isso – ele esperou que Marlene o encarasse de novo para dizer. – Você é a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo, Lene. E eu te amo.

Ela não respondeu de imediato. Sirius queria beijá-la, mas, ao mesmo tempo, queria deixar que o silêncio instalasse a importância do que acabara de dizer. Seu coração disparou. Ele nunca tinha dito aquilo a ninguém. Nem aos amigos nem a qualquer parente.

– Eu esperei o ano inteiro por essa frase – Marlene sussurrou enfim. – Porque eu te amo também, Black.

Ele sorriu, aliviado. Marlene sorriu também.

– Merlin! – ela exclamou. – Não acredito que esse dia chegou – olhou ao redor, rindo. – E, ainda por cima, foi num armário de vassouras.

Sirius riu também. Aproximou seu rosto do de Marlene.

– Eu sei que tem cheiro de mofo, de poeira e do Filch, tudo junto, e que não é exatamente a melhor paisagem que alguém pode ter, mas teria lhe dito a mesma coisa em qualquer lugar.

– Não precisa – ela tocou o rosto dele, com um sorriso diferente. – Armários de vassouras e encontros secretos são a nossa cara.

– Nox – Sirius sussurrou.

A luz da varinha sumiu, a boca de Marlene veio parar junto da dele e, subitamente, ninguém mais estava incomodado com o cheiro peculiar do armário de vassouras.

**********************************************************************

Remo estava ajoelhado na orla da Floresta Proibida, remexendo na terra com uma pequena pá. Lily o reconheceu antes mesmo de ver seu rosto. Caminhou até o amigo, determinada a convencê-lo a aparecer. Ela o tinha encontrado mais duas ou três vezes nas estufas, desde quando Claire fora embora, mas, na noite anterior Remo não estava na estufa quando ela chegara. Nas outras ocasiões, os dois apenas ficaram sentados em silêncio, durante maior parte do tempo, um com a cabeça apoiada no outro, até Lily decidir que já estava na hora de voltar antes que James descobrisse que ela estava burlando a ronda. Agora, porém, já estava claro que ele percebera tudo.

– Eu não sabia que você era tão dedicado às plantas – Lily falou quando parou perto de Remo. Ele ergueu a cabeça para olhá-la. Estava empoeirado e sujo de terra, com o rosto suado e as mãos desprotegidas e calejadas. Havia um pequeno monte de mudas ao seu lado.

– Como você me achou aqui?

– Pressionei Hagrid até ele confessar que era você quem estava plantando esses arbustos novos aqui. O que é estranho, porque a professora Sprout pergunta direto por você na aula de Herbologia – ele suspirou, sem olhá-la. – Slughorn também perguntou. McGonagall chamou o James na sala dela anteontem para saber se nós tínhamos alguma ideia...

– Você finalmente decidiu me dar um sermão? – Remo a interrompeu. Lily não se deixou abater.

– Eu vim conversar, Remo. Sumir por dois, três dias, talvez, eu entendo. Mas sumir por quase uma semana? Deixar seu malão bagunçado só para que os garotos soubessem que você ainda está vivo? Meio exagerado, não?

– Eu só não quero ter que olhar para ninguém agora – ele falou rispidamente. – Não suporto a cara de pena.

– Seus amigos não sentem pena de você – Lily disse com firmeza. – É você quem tem pena de si mesmo – Remo arregalou os olhos, indignado.

– Eu?!

– Exatamente – ele se levantou. Lily nunca o vira verdadeiramente irritado antes.

– Você consegue imaginar o que eu passei minha vida toda?! Você não sabe como é, Lily. Nem você nem ninguém sabe. Então não venha querer me dizer o que eu devo sentir ou...

– Eu não disse que você devia simplesmente esquecer a Claire. Francamente, Remo, nós dois sabemos que não funciona assim. Mas seus amigos estão doentes de preocupação. Sirius não para de revirar a Casa dos Gritos à sua procura e agora o James sabe que eu tenho falado com você – Remo revirou os olhos.

– Eu não acredito que...

– Ele deduziu sem que eu dissesse nada. Acho que apenas não fui muito discreta. E isso não teria acontecido se você ao menos falasse com eles, Remo!

– Não é tão simples, ok?! – eles finalmente se encararam.

– Por que não? Só porque você acha que é um coitado condenado a sofrer e a magoar todas as pessoas que ama? – não houve resposta. – Nós todos sentimos muito, Remo, mas você está sendo egoísta. James está evitando falar comigo porque acha que nós traímos a confiança dele. Os Marotos estiveram do seu lado por todos esses anos só para você descartar a ajuda deles agora?!

– Mas não há nada que eles possam fazer! – Remo rebateu. – Ninguém pode fazer nada, Lily. E é isso que vocês todos precisam aceitar. Não há nada que possa ser feito pela Claire e não há nada que possa ser feito por mim. Eu não vou deixar de ser lobisomem só porque vocês todos sentem muito.

Lily se remexeu, quase ofendida.

– Ninguém quer que você deixe de ser lobisomem, Remo. Quando você vai entender que isso não muda nada para a gente?! Quando você vai entender que sua presença não é uma maldição para ninguém?! Não é você quem traz sofrimento para as pessoas. São os malditos Comensais e aquele bruxo desgraçado que eles seguem. Foram essas pessoas que levaram a Claire embora. E você não precisa dela por perto o tempo inteiro para se sentir bem. Se você não quer desabafar com os garotos, tanto faz. Mas não jogue fora o pouco tempo que ainda resta antes dos NIEM’s só porque você está se sentindo um indigno de novo.

Durante um longo momento, houve apenas silêncio. Então, Remo suspirou.

– Daqui a pouco, Hogwarts vai acabar para nós. E o mundo real não é tão bonzinho quanto vocês, Lily. Eu vou me tornar um problema. E, quanto à Claire... eu não sei por que é tão difícil aceitar o apoio das pessoas ou falar sobre isso. Eu só não aguento mais ser a pessoa que deixa todo mundo preocupado, ou que põe todo mundo em risco ou... sei lá. Eu não quero ser o cara que entra na sala e todo mundo para de falar só porque ele está triste.

– Então não seja essa pessoa! – exasperou-se Lily. – Ninguém precisa carregar o mundo nas costas, Remo. E é absurdo como você não se dá o menor valor. Você é o melhor aluno da nossa turma...

Você é a melhor aluna da nossa turma – ele interrompeu prontamente. – Num possível empate técnico com o Frank.

– Isso não importa agora. Nós três somos os melhores da turma e você foi o cara que me ajudou com Transfiguração e me convenceu de que essa podia ser minha matéria favorita. Você foi o cara que me ajudou a aguentar a primeira reunião do Clube do Slugue depois da minha briga com o Snape. Você é o cara que me ajudou a enxergar que James Potter tinha algumas qualidades. Você foi o cara que me abraçou durante horas quando eu tive uma crise de choro por causa da Petúnia no meio da ronda. Você foi a pessoa que me viu caindo de amores pelo James dia após dia, durante todo o ano passado, e nunca usou isso contra mim, nem mesmo para fazer piada. Você foi o primeiro garoto a dizer que eu deveria ter cuidado ao escolher meus namorados porque eu merecia alguém à altura – Lily inspirou demoradamente. Já deu por si com os olhos marejados. – Você é a pessoa mais educada que eu já conheci, Remo. E eu não acho que você percebe o quanto o seu bom senso já impediu todos os seus amigos de fazerem muitas burrices. Você é o irmão mais velho que eu nunca tive e a única coisa pior do que te ver sofrendo é perceber que você sente tanta pena de si mesmo que não está reagindo.

No silêncio que se seguiu, Remo engoliu em seco, ainda encarando a amiga. Ele estava com os olhos brilhando com lágrimas, mas não chegou a chorar.

– Eu li a carta dela – disse enfim. – E a Claire me disse para confiar em você quando as coisas ficassem difíceis – Lily assentiu.

– Eu prometi a ela que cuidaria de você. Mas, mesmo que eu nunca tivesse dito isso, eu ainda cuidaria de você, é claro.

Remo quase sorriu. Abaixou a cabeça, constrangido.

– Eu sei que todos vão se esforçar para que eu não me sufoque em pesar... Só não consigo olhar para eles e aceitar que isso está mesmo acontecendo.

Lily se aproximou mais um pouco.

– Eu sei que é assustador. Mas você precisa encarar o mundo real, Remo. E talvez isso seja menos assustador se você não estiver sozinho. Ninguém vai te tratar como você fosse um caco de vidro trincado.

Ele a olhou outra vez. Sua expressão estava mais suave.

– Obrigado – Lily segurou o ombro dele com carinho.

– Se você ainda não consegue se reerguer por sua causa, tente fazer isso pelos meninos – sugeriu. – Eles sentem muito a sua falta, Remo. E eles são seus melhores amigos.

Remo respirou fundo.

– Eu vou tentar, Lily. Vou tentar.


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