Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, eu preciso me desculpar seriamente por ter sumido dos comentários. Talvez esse seja um dos motivos por que alguns leitores sumiram, mas não significa que não me importo com a opinião de vocês. Na verdade, a melhor parte de tudo isso é entrar no site e ver que alguém se manifestou sobre os rumos da história. O problema é que, na correria, eu só me preocupei em atualizar a fic e esqueci de manter meu contato com vocês. Prometo que não chegará a esse ponto de novo (eu nem tinha me dado conta de que não respondia nada há mais de um mês). Enfim, espero que todos continuem acompanhando a história, comentando e, o mais importante, gostando. Ah, e boas vindas aos tímidos que andaram se revelando e aos leitores novos! =)
Agora chega de enrolar e vamos ao capítulo (já que ao menos ele não demorou um mês para sair):



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Levou apenas um segundo desde a saída da sala de McGonagall até o momento em que Lily caiu no choro. Ela se afastou bruscamente de James enquanto ele fechava a porta e se apoiou na parede do corredor. Estava com o rosto escondido nas mãos, as costas se movendo por causa dos soluços. James caminhou até a namorada e pôs as mãos em seus ombros. Ele sentiu os próprios olhos ardendo, o medo constante que todos carregavam de perder seus entes queridos para Voldemort.

– Eu nem me despedi – Lily falou com a voz abafada. James a abraçou e ela finalmente tirou as mãos do rosto para tocar as costas dele.

– Eu tenho certeza que Claire não fez isso de propósito – ele conseguiu formar as palavras com alguma dificuldade. Havia um nó incômodo em sua garganta que atrapalhava a fala. – Ela também ia querer se despedir.

– Coitado do Remo... – foi a menção ao nome do amigo que fez algumas lágrimas escaparem ao controle de James. Ele pensou no que McGonagall dissera minutos antes:

– Remo já sabe? – James perguntara, já que Lily não falara uma só palavra desde que recebera a notícia até o instante em que deixara a sala de McGonagall.

– Eu o encontrei no Saguão de Entrada e o levei para falar com o professor Dumbledore, que dará a notícia.

– E ele ainda está lá? – McGonagall encolhera os ombros.

– Eu não sei, James. O professor Dumbledore me pediu para falar com vocês logo que deixei Remo em seu escritório.

– Então ele também não fazia a menor ideia... – McGonagall balançou a cabeça.

– Quando o encontrei, ele me disse que estava esperando por Claire para irem jantar – o silêncio dos dois alunos deixara McGonagall muito perturbada. – Eu sinto muito mesmo – ela dissera enfim.

Então, como Lily parecia prestes a vomitar, com as mãos trêmulas e o olhar lacrimoso fixo no chão, James pediu permissão para que eles se retirassem.

– Claro – a professora concordara. – Eu só peço que vocês levem a notícia para os demais amigos que ela tem na Grifinória.

– Claro – ele prometera sem pensar. – Nós faremos isso.

Mas agora James sabia que só de estar abraçado com Lily, chorando com ela, a situação já era quase insuportável. Imaginou-se diante dos amigos, trazendo a notícia, e quis sumir do planeta. Um assunto que deixava Lily Evans incapaz de fazer qualquer questionamento ou protesto era claramente devastador.

Como não havia muito o que ser dito, James apenas murmurou que sentia muito e esperou até Lily ficar um pouco mais calma. Ela o soltou após vários minutos e enxugou o rosto no dorso das mãos. Apoiou as costas na parede e respirou fundo. James afastou as mechas ruivas de seu rosto. Lily ainda estava fungando.

– Eu não acredito que isso está mesmo acontecendo – ela disse enfim. James assentiu.

– Eu também não sei se já consigo acreditar – ele suspirou. – Ela estava com a gente, rindo, comemorando, fazendo planos... Faz só algumas horas... – Lily fechou os olhos, angustiada.

– Quem é o próximo?! – ela falou com dificuldade. – Hoje eles nos separaram da Claire. Amanhã, podem ser meus pais, ou os pais de qualquer outro amigo. Quando sairmos de Hogwarts, pode ser um de nós também – ela esfregou o pulso no rosto para limpar novas lágrimas. – Como alguém pode viver assim?!

James apenas acenou em concordância. Não tinha muito o que falar sobre aquilo.

Após um longo momento de silêncio, ele se atreveu a perguntar:

– Lily, como vamos contar aos outros? – ela respirou fundo antes de encará-lo. James percebeu que o rosto dela ainda estava com manchas vermelhas e que os olhos continuavam marejados. Quis pensar em alguma coisa bonita para dizer e acalmá-la, mas nada lhe ocorreu.

– Primeiro nós precisamos tirar todo mundo da festa. Depois... – suspirou. – Bem, depois um de nós vai encontrar a coragem necessária para explicar logo.

– Se nós ao menos pudéssemos esperar até amanhã...

– Não – Lily passou as mãos no rosto, parecendo quase recomposta. – É melhor contarmos logo e irmos atrás do Remo. Eu não gosto nem de pensar no que ele está passando agora.

– É verdade – James se apressou em concordar. Lily esboçou um sorriso para ele.

– Ao menos eu sei que ainda tenho você no meio dessa confusão toda – ele quase sorriu também. Tocou o rosto de Lily com carinho.

– Eu sei que vocês eram bem próximas. E eu realmente sinto muito, Lily – algumas lágrimas escorreram pelo rosto dela de novo. James imediatamente as enxugou com seus polegares. Lily virou o rosto para beijar a palma da mão dele. Então, ela se aproximou e o abraçou demoradamente. James retribuiu o gesto.

– Nós vamos contar aos outros... eu só preciso de mais um tempinho com você antes.

Ele não se atreveu a questionar. Apenas a abraçou em silêncio, afagando os cabelos de Lily. Sentiu a própria desesperança como nunca, mas se obrigou a ser forte. Devia isso a Lily. E precisava se manter controlado se queria ajudar Remo também.

**********************************************************************

Remo estava boquiaberto, tremendo da cabeça aos pés, sob o olhar atento de Dumbledore. Ele queria falar alguma coisa, qualquer frase insolente, mas não conseguia nem mover a língua. O diretor lhe dissera algo sobre Claire ter fugido com a família há pouco tempo e, desde então, o mundo ficara estranhamente fora de foco.

– Remo? Diga alguma coisa, por favor – ele piscou algumas vezes, atordoado.

– Não é verdade – disse enfim. – Eu estava com Claire durante o jogo. Nós combinamos de nos encontrarmos no Saguão de Entrada antes de irmos jantar nas cozinhas. Isso tudo aconteceu hoje! E... – o coração dele se retorceu dolorosamente. – E ele não iria sem se despedir...

– Claire não sabia o que ia acontecer. Foi tudo de última hora, como lhe falei. Ela sequer teve tempo de se despedir de qualquer pessoa – Remo se ergueu de repente.

– Isso é mentira! – em seu poleiro, Fawkes piou, assustada com o grito do garoto. Dumbledore, contudo, não se abateu. Continuou observando Remo por sobre os oclinhos de meia-lua. – Pare de mentir para mim, professor. Ela não pode ter simplesmente... fugido.

– Remo, eu o chamei aqui porque você sabe que nossa relação é mais próxima e direta do que a que eu tenho com os outros alunos. Você tem se provado como um dos melhores estudantes dessa geração e eu me orgulho muito de pensar que, mesmo com todas as dificuldades, você se adequou a escola e fez uma ótima carreira escolar. Eu não tenho qualquer motivo para mentir para você.

– Mas por que ela fez isso?! Sem nenhum aviso, sem...

– Não havia tempo, Remo...

– É claro que havia! – ele gritou outra vez, furioso. – Que fizessem tempo, então! Que me chamassem quando a chamaram também, em vez de leva-la na surdina como se ela fosse uma criminosa! – Dumbledore apoiou as costas no espaldar de sua cadeira de diretor. Remo o odiou por ser tão calmo. Quis quebrar tudo no escritório, insultar os ex-diretores que estavam em seus quadros. Quis rasgar o maldito envelope que Dumbledore pusera sobre a escrivaninha instantes antes, mas a letra de Claire no papel o impediu.

A raiva dele começou a diminuir, sendo lentamente substituída por uma tristeza paralisante. Remo balançou a cabeça, perdido.

– Isso não faz sentido.

– Claire também ficou perturbada – Dumbledore falou calmamente. – Ela não queria deixar os amigos para trás. Mas as pessoas precisam escolher, Remo. Ela tem uma família que precisa dela. Você tem seus amigos – como o garoto se recusava a encará-lo, Dumbledore, abaixou um pouco a cabeça, buscando contato visual. – Você tem a mim. Nenhum de nós vai deixa-lo desamparado.

– Se ela não queria – Remo insistiu – por que foi? – e então, olhou para o diretor, afinal. – Por que você deixou que ela fosse?! Quando eu vim para Hogwarts, você disse que ia me proteger.

– Você sabe que era uma decisão fora do meu alcance – Remo revirou os olhos. – Ninguém aqui está feliz com isso, Remo. Claire teve que fazer uma escolha terrível. Não é justo que você procure culpados entre os que se importam com você.

Remo sentiu os olhos ardendo, a garganta subitamente apertada.

– Parece que tudo é tirado de mim – murmurou. – Não importa o quanto eu evite me apegar a qualquer coisa, sempre me enfraqueço e sempre perco tudo.

Dumbledore se levantou e caminhou para perto dele.

– Amar as pessoas não é uma fraqueza, Remo – ele pôs as mãos nos ombros do garoto. – E embora tudo pareça sem jeito agora, você vai perceber que a alegria existe mesmo nos tempos mais sombrios... se nós apenas nos lembrarmos de acender a luz.

Havia algum tipo de simpatia na expressão de Dumbledore que só fez Remo se sentir pior. Ele desviou seu olhar do diretor e recuou.

– Eu posso ir embora?

Antes de responder, Dumbledore lhe ofereceu o envelope outra vez.

– Ela sabia que a fuga seria às pressas e quis se preparar. Leve. Você não precisa ler agora. Só me prometa que vai deixar seus amigos cuidarem de você, Remo. Aceite o amor das pessoas que podem acender a luz para você agora.

Remo hesitou, mas acabou recebendo o envelope de má vontade. Lançou um breve olhar de mágoa para Dumbledore e saiu do escritório sem olhar para trás.

**********************************************************************

Sirius, Peter, Frank, Alice e Marlene estavam reunidos com Lily e James numa sala de aula vazia. Eles haviam sentado nas primeiras cadeiras e agora James e Lily estavam em pé diante de todos, minutos após terem lhes pedido para deixarem a festa e falarem sobre algo importante. Apesar da incompreensão no rosto de todos os outros, era óbvio que eles estavam com um mau pressentimento sobre aquela convocação de última hora.

– Nós não estamos atrasados para descer e encontrar o Remo? – Marlene começou. James e Lily trocaram um olhar e se deram as mãos.

– Nós temos uma notícia ruim – Lily respondeu. Como ela hesitou, James acrescentou:

– A professora McGonagall nos chamou para conversar sobre Claire – ele fez uma pausa, incapaz de terminar a frase. Então, enquanto os outros arregalavam os olhos, imaginando de tudo, Lily disparou:

– Claire deixou Hogwarts no final da tarde de hoje. A família dela apareceu na maior correria e ela precisou fugir com eles às pressas. Remo foi chamado por Dumbledore para receber a notícia – a voz dela ficou embargada. – Nenhum de nós teve a chance de se despedir.

Marlene escondeu o rosto nas mãos. Alice continuou com o olhar fixo em Lily, lacrimejando, até o momento em que Frank passou um braço por suas costas e ela começou a chorar de verdade. Sirius e Peter estavam completamente chocados. Lily estava chorando outra vez, mas, antes que James fizesse qualquer coisa, ela foi até Marlene e as duas se abraçaram, aos prantos.

Ele imediatamente se virou para os outros marotos na sala, porque ver Lily chorando estava acabando com seu estado emocional. Sirius se ergueu para falar com ele.

– Cara, nós precisamos encontrar o Aluado.

– É verdade – Peter concordou, juntando-se aos dois. – Ele ainda está falando com Dumbledore?

– Eu não sei – James admitiu, triste. – McGonagall não soube responder quando eu perguntei.

– Então vamos atrás dele! – Sirius decidiu. – Antes que aquele maluco faça alguma besteira e...

– Almofadinhas, você não acha que ele vai querer ficar sozinho numa hora dessas? – arriscou-se James. Sirius parecia chocado.

– E você acha mesmo que isso pode fazer algum bem para ele?! O Aluado só vai pensar merda, você sabe, Pontas. Ele vai passar horas e horas se sentindo um monte de bosta de dragão e evitando a companhia de todo mundo, como se fosse culpa dele que a garota precisou ir embora.

James queria pensar numa solução racional para aquela discussão, mas o som dos soluços era muito distrativo. Ele olhou para o lado apenas para ver a expressão arrasada de Frank enquanto Lily, Alice e Marlene choravam juntas num abraço triplo. Mas agora Lily parecia mais controlada. Era Marlene quem estava visivelmente instável, falando alguma coisa que James não conseguia entender.

– Pontas – Sirius o chamou de volta. – Você acha mesmo que se fosse qualquer um de nós nessa mesma situação, o Aluado ia simplesmente deixar que a gente vagasse por aí sem qualquer apoio?

James suspirou. Não custava nada procurar por Remo. Ainda que fosse só para que ele os expulsasse em seguida.

– Tudo bem. Mas vocês voltam para o castelo assim que der a hora do toque de recolher – sentenciou.

– O quê?! – indignou-se Sirius. – Nós nem sabemos se vamos ter encontrado o cara até lá. Nós todos sabemos que ninguém se esconde melhor por aqui do que o Aluado! – James inspirou profundamente.

– Almofadinhas, nossos problemas já estão ruins o bastante sem que eu precise acobertar seus malfeitos. Além do mais, Lily e eu podemos procurar por ele durante a ronda.

Sirius bufou, insatisfeito, mas não retrucou mais. Peter apenas assentiu para James.

– Ok, então – James recomeçou. – Nós começaremos a busca daqui a pouco. Só me dê um minuto.

Ele caminhou para junto das garotas. Alice e Lily estavam sentadas agora, cada uma de um lado de Marlene. Quando James chegou perto o bastante e abriu os braços para ela, Marlene imediatamente ficou de pé para abraça-lo. Ela já estava mais controlada agora, embora ainda estivesse soluçando.

– Eu nem falei com ela depois do jogo – ela falou com uma voz engasgada. – Eu fui tão egoísta que nem me preocupei em falar com ela depois que chegamos ao castelo...

– Você não tinha como saber, Lene – James argumentou. – Não é culpa sua.

Eles se soltaram após um tempo. James arriscou um abraço com Alice também e, então, parou diante de Lily.

– Eu entendo se você quiser passar a noite com as meninas – começou –, mas eu e os outros Marotos vamos procurar pelo Aluado.

Lily assentiu com a cabeça. Ela passou as mãos pelo rosto e respirou fundo para se recompor.

– Eu vou com vocês – informou. James fez uma careta.

– Você não precisa. Sei que está sendo difícil o suficiente.

– Eu quero ir – ela insistiu. – Se meu melhor amigo precisa da minha ajuda, eu vou atrás dele.

James sorriu timidamente para ela.

– Você, Lily Evans, é a pessoa mais devotada que eu já conheci.

– Pontas? – era Sirius. A julgar pelos olhos vermelhos, James deduziu que ele não aguentava mais todo o drama naquela sala.

James segurou a mão de Lily e se virou para os outros.

– Vemos vocês mais tarde.

**********************************************************************

A busca por Remo foi extremamente improdutiva. Os quatro chegaram a se dividir para tentar agilizar as coisas, mas, no fim das contas, faltando poucos minutos até o toque de recolher, Sirius mandara Peter voltar para o dormitório e se rendera à vontade de Remo. Ele claramente não queria ser encontrado naquela noite.

A surpresa de Sirius, porém, foi chegar ao seu novo lugar favorito do castelo, na Torre Norte, apenas para encontrar Marlene sentada nos degraus, com a cabeça apoiada na parede e as mãos juntas em frente aos joelhos dobrados, meio que abraçando as próprias pernas.

Ela não percebeu a chegada dele de imediato, mas, antes que Sirius resolvesse se devia dar meia volta ou tentar um começo de conversa, Marlene o viu.

– Oi – Sirius falou enfim.

– Eu até me perguntei se você viria por aqui – ela respondeu, pensativa. Ainda estava com os olhos rajados de vermelho, mas seu rosto agora estava enxuto. Sirius engoliu em seco.

– Você queria me ver?

– Eu passei quase uma hora procurando por você, na verdade – ela esticou as pernas e respirou fundo. – Mas você deve mesmo conhecer cada buraco dessa escola, porque foi impossível te achar – ele encolheu os ombros.

– Eu conheço muita coisa, mas, dessa vez, quem ganhou foi o Aluado – alguma coisa se revirou desconfortavelmente dentro de Sirius. – Nós não o encontramos em lugar algum. Avisei ao Pontas que eu tinha desistido e ele disse que ia tentar falar com a Lily. O cara apenas não quer ser achado.

– Eu imagino a frustração – Marlene comentou, deprimida. – Dois anos fingindo que não gostava da Claire, complicando as coisas para os dois, por seja lá qual for o motivo. Então, quando ele finalmente teve a coragem de assumir o que sentia e de ficar mesmo com ela... A garota simplesmente precisa fugir do país.

Sirius subiu até a metade da escada e sentou ao lado dela. Tentou não chegar perto demais porque ainda não sabia o que aquilo significava exatamente. Sentia falta de Marlene, mas também estava chateado pelo que ela dissera na última vez em que tinham se falado.

– Estranho você ter procurado por mim – alfinetou. – Considerando o que você acha da minha personalidade e tal.

– Eu nunca devia ter dito aquilo – Marlene parecia verdadeiramente abalada. – Eu me descontrolei quando soube da Claire porque, entre meus dramas em namorar o Michael e minha obsessão pela Taça de Quadribol, eu consegui uma folga do mundo real. Mas a verdade, Black, é que eu estou apavorada com essa história de sair de Hogwarts – eles se encararam. – Eu sempre estive. E era fácil fingir que eu não sabia da loucura que acontece lá fora até algum baque horrível atingir todos nós. A mãe de James, as notícias no Profeta, agora a Claire... – ela fechou os olhos. – E eu fui tão egoísta o ano todo! Eu tive tanto medo de me magoar ou de ser esmagada pelas coisas que eu temia e... bem, você viu o que aconteceu. Não é você quem tem colocado seu orgulho acima de tudo ultimamente – ela olhou para baixo, claramente envergonhada. – Sou eu.

– Ei – Sirius se arriscou a por uma mão nas costas dela. Em geral, eles dois eram muito reservados, então foi impossível ele não ficar um pouco desarmado pelas confissões de Marlene. – Não seja tão dura consigo mesma – ela fez uma careta, como se fosse chorar de novo.

– Eu sinto muito, Sirius – finalmente o olhou de novo. – Eu fugi de você, falei uma estupidez completamente infundada e... – ela deixou escapar uma espécie de risada. – Eu nunca nem disse que você era a pessoa mais próxima de mim.

Sirius mal sorriu de tão surpreso. Mesmo assim, ele se arriscou a chegar mais perto.

– Eu sinto muito pelo que houve com a Claire – Marlene assentiu. Pela primeira vez, ela parecia determinada a algo.

– Eu também. E foi por isso que passei uma hora te procurando – ela inspirou lentamente. – Remo e Claire desperdiçaram tanto tempo. Um dia desses, tudo o que eles vão conseguir pensar é que não aproveitaram ao máximo o tempo que tiveram e, pelo andar das coisas, é impossível dizer quanto tempo exatamente cada um de nós tem. Alice e eu estávamos falando sobre isso e então... eu percebi – ela fez uma pausa, mas não desgrudou os olhos dos de Sirius. – Eu não quero que meu tempo acabe e eu só tenha colecionado um monte de bobagens para me arrepender. Você disse que gostava de mim logo antes de nos beijarmos na enfermaria, Sirius – o coração de Sirius disparou inesperadamente. – E, naquela ocasião, eu não soube responder e até hoje eu não sei direito porque simplesmente achei que toda a sua fase difícil tinha sido por causa da Jenna.

Ele fez menção de interromper, mas Marlene continuou:

– Hoje eu finalmente entendi que isso não importa. Eu sinceramente não ligo. Mesmo que você não sinta mais o mesmo, eu preciso dizer, Sirius. Se algum de nós acabar perseguido, morto ou sei lá o quê, eu quero que você saiba que eu também gosto de você. E é disso que eu pretendo me lembrar quando meu tempo acabar.

Marlene finalmente parou de falar. Ela estava ofegante, ainda encarando Sirius. Ele imaginou que deveria retribuir com um discurso à altura, mas nada lhe ocorreu. Fez a única coisa que tinha certeza de que queria fazer desde sempre: inclinou-se para frente e beijou Marlene na boca.

Dessa vez, ela correspondeu desde o início. Quando Sirius recuou uns milímetros, uma das mãos de Marlene alcançou o queixo dele e o trouxe de volta. Sirius a beijou como se não existisse mais nada e Marlene finalmente estava entregue também. Ela o abraçou e se moveu no degrau para que eles ficassem de frente. Sirius segurou o rosto dela entre as mãos, correu os dedos pelas ondas escuras de seu cabelo. Quando eles pararam, Marlene ainda estava acariciando a nuca dele, a testa encostada na de Sirius.

– Merlin – murmurou. – Eu achei que tinha arruinado tudo – Sirius sorriu.

– Eu também pensei que sim – ele recuou para poder encará-la. – Mas isso foi antes de você me lembrar de que ninguém sabe quanto tempo resta – ele acariciou o rosto dela. – Marlene McKinnon fazendo uma declaração dessas... nenhum homem resistiria – ela riu.

– Você sabe o que isso significa, não é? – ela lhe lançou um olhar penetrante. – Compromisso, monogamia...

– Marlene – ele interrompeu categoricamente –, eu não fico com ninguém desde o Natal e a culpa disso é sua, não da Jenna – Marlene ficou confusa. Sirius encolheu os ombros. – Eu vi você dançando com o McLaggen, depois de toda a humilhação de saber que a Jenna tinha outro. Eu nem sei por que insisti tanto naquela nossa competição boba, mas agora chega, ok? Você já escolheu o McLaggen em vez de mim uma vez e eu não quero lhe dar motivos para fazer isso de novo – ela sorriu.

– Tudo bem, então – os dois se encararam por um tempo. Então, o sorriso de Marlene aumentou. Ela desviou o olhar. – Talvez o mundo real não me assuste tanto se eu souber que você vai estar lá – murmurou timidamente.

Sirius sorriu de volta. Ele tinha a mesmíssima impressão sobre o que seria seu próprio futuro após Hogwarts se ainda estivesse com Marlene. Contudo, antes que pensasse numa maneira de falar isso, ela o beijou e todo o resto pareceu secundário.

**********************************************************************

– Lumus!

Lily murmurou o feitiço logo que saiu do castelo. Caminhou apressada pelos jardins, porque não estava acostumada a quebrar o regulamento e não queria se arriscar a ser flagrada por Filch. Mas o fato era que Remo não estava no castelo e Lily tinha certeza de que ninguém mais sabia onde ele podia ter se escondido.

Ela parou junto à porta das estufas. Como já estava tudo escuro, foi impossível não ficar com medo. Lily acenou a varinha para que a tranca se abrisse e entrou no prédio. Claire lhe dissera certa vez que Remo gostava de se esconder nas estufas, porque era o último lugar onde alguém o procuraria. A primeira opção fora do castelo seria provavelmente a Casa dos Gritos, mas lá os Marotos o encontrariam. Então ele providenciara um esconderijo menos suspeito.

Era algo sobre as pessoas sobrecarregadas, Lily imaginou enquanto caminhava entre as prateleiras. Elas simplesmente precisavam de um lugar para ficarem sozinhas. Era um problema que Lily não costumava ter. Ela apenas se trancava em algum box do banheiro ou pedia às meninas para ter um tempo sozinha no dormitório. Ela preferia divagar quando sentava junto a alguma janela da biblioteca. Mas Remo, não. Remo precisava não só de silêncio, mas de isolamento também. Ele precisava da sensação de que ninguém iria acha-lo, e isso Lily achava perturbador demais.

– Remo?

Ela preferiu chama-lo a correr o risco de assustá-lo e levar uma azaração ou algo assim.

O feixe de luz de sua varinha encontrou uma forma escura sentada num canto de parede. Remo estava na seção das mandrágoras, com a cabeça apoiada na parede, olhando para Lily. Com a pele pálida sob a luz da varinha, ele parecia meio fantasmagórico. Sua expressão permaneceu inalterada apesar da chegada da amiga.

Por um segundo, Lily apenas o observou. Então, decidiu que não ficaria parada ali, sentindo pena de quem quer que fosse. Ela caminhou até Remo e sentou ao lado dele. Pôs a varinha junto do corpo para que a luz não os incomodasse nem chamasse a atenção de ninguém que os visse de fora.

– Como você me achou? – Remo disse enfim. Sua voz estava mais rouca que o normal.

– Claire já tinha me dito que você gostava de vir aqui – ele fez uma careta, confuso.

– Eu nunca falei isso para ela.

– Mas ela observou – Lily falou com simplicidade. Nenhum dos dois precisou dizer que sabia do ocorrido, porque as expressões deles deixavam tudo óbvio.

Na falta de notícias, houve um silêncio esmagador. Lily não quis observar Remo o tempo inteiro, como se esperasse que ele se desmanchasse a qualquer segundo, mas percebeu num relance que ele estava girando um envelope entre as mãos. Após um pequeno debate interno, ela disparou:

– Você quer que eu vá embora? – Remo balançou a cabeça em resposta. Pela primeira vez, a expressão dele demonstrou alguma vulnerabilidade.

– Não – sussurrou. Ele engoliu em seco e finalmente encarou a amiga. – Pontas sabe que você está aqui?

– Não. Ele pensa que estou fazendo minha parte da ronda agora – Remo assentiu.

– Valeu – ela conteve o impulso de tocá-lo. Não queria passar uma mensagem de pena.

– Os outros meninos procuraram por você – informou. – Eles só desistiram porque James pediu que ninguém excedesse o horário de voltar para a torre da Grifinória.

Remo desviou o olhar.

– Acho que nós só queríamos que você não fizesse nenhuma besteira – ela concluiu, com a voz meio embargada.

– “Nós”? – ele repetiu, encarando-a.

– Eu estava procurando também, é claro – a expressão de Remo vacilou.

– Você quebrou o regulamento por mim, então? – ela não saberia dizer se ele realmente queria descontrair um pouco, mas foi impossível não esboçar um sorriso.

– Acho que estou convivendo muito com os seus amigos baderneiros, Remo. Eu estou começando a colocar meus amigos acima de tudo, até mesmo do regulamento – dessa vez, ela não resistiu e segurou a mão dele. – E você, Remo, é meu melhor amigo. E eu sinto muito.

Remo apertou a mão dela de volta. Os olhos de Lily estavam ardendo, mas ela não queria chorar. Não agora.

– Você sabia que ia acontecer? – ele perguntou, falando com dificuldade.

– Não. McGonagall nos chamou logo após te levar para a sala de Dumbledore – Remo lhe mostrou o tal envelope.

– Ele me deu isso. Parece que alguém foi prevenida – ele soltou o envelope de repente, deixando-o cair no chão. – Mas não consigo abrir essa merda.

– Você não precisa ler agora – Lily se apressou em dizer. Ele assentiu, contrariado.

Durante um bom tempo, ninguém falou mais nada. Ninguém nem se moveu direito. Lily tentou respirar da maneira mais discreta possível. Então, lentamente, Remo se inclinou para o lado e apoiou a cabeça na dela. Ele suspirou. Sua respiração estava mais ruidosa, falha. Lily se afastou um pouco só para olhá-lo. Soltou a mão de Remo e passou um braço pelos ombros do amigo. Ele escorregou um pouco no chão, para ficar quase da altura de Lily e chorou como um bebê enquanto ela o abraçava. Murmurou alguma coisa sobre não ter se despedido e sobre se sentir culpado. Alguma coisa sobre tempo perdido.

E Lily chorou com ele sem responder. E Remo a abraçou também. Porque, afinal, ele parecia ter concordado finalmente que os amigos estavam acima de seus constrangimentos.


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