Alvo Potter E O Mensageiro De Boráth escrita por Amanda Rocha


Capítulo 19
Apenas mais uma visita


Notas iniciais do capítulo

Seguinte, guys, tá cada vez mais difícil postar em um prazo, por mais que eu já tenha toda a fanfic pronta (na minha cabeça shaushas), o que não tá cooperando é o tempo, agora é escola em tempo integral e aí mal me sobra tempo pra escrever, mas vou tentar dar uma corrida pra terminar essa antes de completar um ano que postei .-.
Enfim, a próxima pelo menos vou ter ela toda pronta antes de postar, mas sobre isso eu falarei mais adiante. Então, gente, esse capítulo, como prometido, é a volta das correrias de final de temporada!! E olha que nem tá no fim da temporada!! Eu sei, eu sei! Mas podem ter certeza que o enredo dessa vai surpreender e, espero, compensar o atraso das postagens...



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Tiago e Matt até que passaram um bom tempo se tratando bem outra vez, porém a coisa desandou quando Daniella começou a “daniellar” – daniellar: ato de fazer danielisses, chatear os outros, ser Daniella, usar uma voz irritante para se comunicar -, que foi quando Matt lembrou que não eram mais um trio, e sim uma dupla de pombinhos melosos e um garoto revoltado. Acontece que os pombinhos melosos voltaram a fazer coisas de pombinhos melosos. E o menino revoltado, consequentemente, voltou a se revoltar. Os pombinhos melosos se irritaram com o fato de o garoto revoltado estar revoltado, ignorando completamente que esta era a sua função. E o menino revoltado, por sua vez, explodiu uma carta de bomba de bosta na cara de Daniella. Naturalmente, a carta era pra Tiago, mas a garota daniellou e abriu a carta do namorado alegando que “tudo que era dele também era dela”.

Grope, depois de ser tranquilizado sobre os animais, voltou para sua caverna. Hagrid, ainda meio contrariado em aceitar que, talvez, apenas talvez, fosse o próprio Grope quem assustara os bichinhos, voltou para sua cabana e se pôs a pensar em uma maneira gentil de dizer ao meio-irmão que os animais não estavam prontos para ver um gingante de cinco metros de altura perambulando pela Floresta Proibida.

Alvo, Rosa, e mais alguns alunos ficaram conversando na sala comunal da Grifinória por mais um tempo. Alvo pegou seu violão e mostrou-lhes alguns acordes que aprendera.

– Isso foi Hipogrifos natalinos? – perguntou Annie, meio perdida.

– Não, foi Meu Querido Elfinho – corrigiu Clarissa.

– Claro que não – cortou Rosa. - Foi Ouro de Duende, dos Explosivins, não foi, Al?

– Na verdade, eu estava tocando Uma vida de Esfinge – respondeu o garoto, um tanto que aborrecido com o fato de ninguém ter reconhecido.

– Aaah – fizeram todos.

– Faz sentido, não tem nenhuma troca de tom repentina em Ouro de Duende – concordou Dennis Finnigan. Depois sorriu, maldoso (porque, obviamente, já abandonara a compaixão pelo garoto). – Ah é, foi você que desafinou.

Alvo podia ter rebatido, mas isso levaria a uma discussão, que levaria a uma briga. E, definitivamente, sem Carlos ali ele não tinha chances nenhuma – não que com Carlos ele tivesse muitas chances, afinal os dois não eram muito altos e Dennis crescera consideravelmente desde o último verão. Depois deu um suspiro, porque lembrou a razão de Carlos não estar ali. Assim como Lilí.

Rosa provavelmente notou que ele ficou meio aéreo, pois logo mudou de assunto.

No fim, ele até que conseguiu fazer o refrão de Um Grito de Mandrágora (tecnicamente, somente Rosa reconheceu, mas mesmo assim...). Como estavam bem agitados depois do susto que Grope lhes dera, ficaram um bom tempo na sala comunal da Grifinória, contando aos outros alunos como fora a detenção. Claro que tiveram que levaram um bom tempo contando a verdadeira história, porque Hugo insistia em contar a sua versão que, como dissera Annie, era digna de um Oscar ou alguma coisa assim.

–... enorme, realmente enorme! – garantia ele, fazendo um gesto enorme com as mãos para demonstrar de que tamanho era o nariz do gigante. – Aí ele me pegou com aquelas mãos que, eu juro, podiam esmagar Hogwarts inteira, mas eu mostrei pra ele o meu cabelo ruivo e disse: “escuta aqui, seu monstrengo desajeitado! Eu sou ruivo, meu filho, mato gigantes como você antes do café da manhã!”, aí ele se virou e disse...

– Achei que você tinha dito que ele não soubesse falar – interrompeu Clarissa, confusa.

Hugo coçou a cabeça, pensando em uma resposta.

– Bem, ahn... – gaguejou. – Falar, falar, ele não sabia, mas sabe como é... Deu uns grunhidos e eu, como já sou acostumado com esse falatório de gigantes, entendi. De qualquer jeito, ele foi lá e simplesmente saiu correndo e eu gritei pra ele “volte aqui e lute como homem”, mas...

– Ele não é um homem – cortou Rosa, que assistia à interpretação do irmão sentada no sofá, a cabeça apoiada nas mãos, com um ar tedioso.

Hugo deu um muxoxo de indignação.

– Olha, o que vocês precisam saber – tornou ele, voltando-se para os demais alunos, subindo em cima da mesinha, animado e com uma feição muito corajosa -, é que em determinado ponto, ele simplesmente abriu aquela bocarra e eu pude ver restos de outras crianças que não tiveram a mesma sorte que eu, aquele fedor horrível de chulé misturado com o cheiro do cabelo lambido do Malfoy, aí eu meti a mão lá dentro e tirei ela cheia de pus e...

– Sério, Hugo – disse Alvo -, você é realmente nojento.

O ruivo revirou os olhos, indignado por estar sendo interrompido.

– Como eu dizia – retomou ele, voltando a interpretar -, eu estava lá limpando o pus quando ouvi a voz de uma menina chorando, e aí eu sabia que, se ela ainda estava viva eu precisava fazer alguma coisa. Então eu puxei um toco de árvore do chão e o usei para suspender a boca do gigante aberta. Entrei lá dentro e desci garganta abaixo, parando no estôfago do...

– Esôfago – corrigiu Rosa, que assistia a versão da história com um leve tom de interesse.

– É, esôfago – concordou Hugo. – Aí a única coisa que consegui ver foi a cabeleira ruiva. Então eu percebi que, se era ruiva como eu, deve ter entrado lá lutando, mas...

– Esse é o seu estúpido sonho de tentar salvar a filhinha dos Potter – Malfoy cuspiu suas palavras.

Todos olharam para trás. Todos se surpreenderam. E todos encararam o garoto incredulamente, porque até então ninguém havia sequer notado que ele estava ali.

– Que foi que você disse? – perguntou Alvo, calmamente.

Malfoy apertou os olhos e engoliu em seco. Com os olhos fixos em Alvo, simplesmente levantou-se e saiu normalmente, subindo a escada em espiral que dava para os dormitórios.

– Aquele retardado disse o que eu acho que ele disse?! – Hugo quebrou o silêncio, olhando espantado para a escada.

– Eu pego ele – Fred se voluntariou, e foi seguindo em direção a escada.

Alvo já ia se levantado para ir junto quando Rosa o parou.

– Não! – cortou ela, olhando brava como se fossem os dois quem tivesse feito algo errado. – Vocês vão se dar mal!

Você ouviu o que ele falou! – guinchou Alvo, que, de repente, estava realmente irritado.

Rosa suspirou.

– Vocês acabaram de pagar uma detenção – disse ela, preocupada -, pelo menos esperem um pouco.

Alvo a encarou, bravo. Depois virou-se para Fred, e este, meio contrariado, voltou a sentar-se, emburrado.

– É, minha mãe me mataria – resmungou ele.

Alvo também cedeu, porque Scorpius era um pouco maior que ele e, para falar a verdade, ele não conseguia nem ganhar de Lilí em uma luta corpo-a-corpo. Mas, em respeito a sua dignidade (não que ele tivesse muita), sentou-se imitando Fred e deu um muxoxo, lembrando que era o que Tiago fazia quando alguém cortava seu barato.

Natalie olhou para ele, orgulhosa, e Alvo sentiu suas bochechas enrubescerem. Olhou para os lados e agradeceu a Deus por Tiago não estar ali. Infelizmente, quando virou para o lado, viu Rosa rindo com as sobrancelhas arqueadas...

Â

Se pararmos para pensar bem, o humano devia ser julgado como um animal irracional, de acordo com o número muitíssimo elevado de burradas que fazemos em nossa vida. Uma delas é ir dormir tarde.

Não importa o quanto estamos cansados ou com saudades de nossa cama, seu cérebro vai manipular você para que você ache que vai estar tudo bem ir dormir algumas horinhas mais tarde. É muito comum, nesses casos, até aquele pensamento semelhante a “ah, amanhã é amanhã...”, porque a imbecilidade do ser humano associa o fato de ele estar se sentindo bem em uma a hora a estar se sentindo bem eternamente.

E Alvo Potter estava, nesse exato momento, lutando contra as leis da gravidade para ver se ele conseguia ir flutuando até o Salão Principal, de modo que não precisasse se levantar.

A primeira coisa que fez foi abrir os olhos, certificando-se de que havia mesmo amanhecido. Teve sua primeira decepção do dia aí, porque, de fato, havia amanhecido, muito embora ele julgasse ter ido dormir há menos de cinco minutos. Depois fechou os olhos novamente, porque a claridade do sol estava muito forte e seus olhos muito cansados. Então abriu-os novamente, porque viu que estava sucumbindo à tentação de continuar dormindo ali por uns dois o três anos. O que, quando estamos extremamente cansados do jeito que Alvo estava, parece ser uma ótima ideia, principalmente a esta hora da manhã. Ele tentou puxar as cobertas, mas viu que seu corpo não reagiu muito bem a isso, então, rapidamente, se embrenhou nelas novamente. Lutou para manter os olhos abertos, mesmo que estes jogavam sujo e pareciam ser feitos de chumbo toda a vez que o garoto piscava. Aí ficou encarando um ponto fixo no chão por um bom tempo. Quando decidiu que já era tempo suficiente, virou para o lado para ter a segunda decepção do dia: Carlos não estava na cama ao lado. Ela continuava esquisitamente arrumadinha, o que dava uma terrível sensação de realidade.

– Já são dez e meia – foram as palavras de saudação que Rosa disse, quando adentrou calmamente o dormitório, distraindo Alvo de seus pensamentos deprimentes.

Alvo se virou para a prima. Ela estava vestida, mas seu cabelo estava do jeito que sempre ficava logo que ela acorda, mas o garoto evitou ficar olhando diretamente. Ela deu uns passos calmamente e sentou-se na cama à frente de Alvo. O garoto se ajeitou nas cobertas, se apoiou nos cotovelos, e murmurou:

– Olá?

Rosa respirou fundo. Havia um olhar maníaco e frustrado em seus olhos, mas afora isso sua expressão estava bem serena. Ela virou-se para um lado, para outro, observou a paisagem pela janela, depois voltou-se para Alvo.

– Já são dez e meia – repetiu, devagar.

Levou um bom tempo para que as palavras para que as palavras da garota fizessem sentido na sua cabeça. E, mesmo quando fizeram, ainda não estavam bem esclarecidas. Mas, se ele estava certo do que significavam, esta seria a terceira decepção do dia.

– É? – perguntou Alvo, com um leve tom de interesse. Ele apertou os olhos, tentando entender se já não estava dormindo e aquilo era, na verdade, um sonho. – Legal...

Rosa soltou um sorriso. E este sorriso foi a única coisa que ela fez antes de dar uma sequência de muxoxos, se levantar e começar a gritar feito uma louca, o dedo balançando furiosamente na direção de Alvo:

– O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO NESSA CAMA, ALVO?! SÃO DEZ E MEIA, SEU PALERMA, DEZ E MEIA, PERDEMOS OS DOIS PRIMEIROS TEMPOS E VAMOS PERDER O TERCEIRO, SEU IMBECIL!

Após dizer o “imbecil”, a garota arrancou bruscamente as cobertas de Alvo e o garoto, assustado e completamente perplexo, rolou cama abaixo, indo parar no chão. Ele continuou deitado ali, os olhos arregalados, encarando a prima de um jeito tão incrédulo que era difícil dizer se estava espantado por ela começar a gritar daquele jeito ou por ter tirado suas cobertas numa manhã tão fria como essa.

Os dois ficaram se encarando por uns dois minutos, em silêncio. Depois disso Rosa deu um suspiro e seus olhos se encheram de água e, repentinamente, ela desandou a se desculpar:

– Desculpa, desculpa, desculpa! Eu tentei acordar, mas quando acordei já eram nove e quinze, aí me vesti correndo e quase tive um colapso porque não sabia o que faria! Eu podia ficar ali, ou ir pra aula e enfrentar aqueles olhares acusadores me dizendo que eu dormi a manhã inteira e viver para sempre com a lembrança humilhante me lembrando do fracasso de pessoa que eu sou e... Você precisa fazer alguma coisa!

Alvo, ainda meio atônito, coçou a cabeça e, tentando entender se aquilo era um sonho ou não.

– Ok – assentiu. – Eh... Você tem que se acalmar...

Rosa concordou, depois se sentou, respirou fundo, limpou as lágrimas dos olhos, respirou fundo outra vez e depois olhou para Alvo, esperando mais instruções.

– Ahn – prosseguiu o garoto, se levantando. – Hum... Tá. É, ok. Você disse que são dez e meia... Alguma chance de seu relógio estar adiantado?

A ruiva negou com a cabeça, amargurada.

– Tudo bem – tranquilizou o primo, pensativo. - Tudo bem... Eh, não devemos ser os únicos... Todos estavam acordados até tarde ontem. Fred, Hugo?

– Não! – respondeu Rosa, entrando em desespero novamente.

Alvo fez um sinal com a mão pra ela e ela voltou a respirar fundo.

– Ok – ele continuou, andando pelo dormitório. – Certo. Então somos os únicos e... Não é tão mal, Tiago já deve ter feito isso um bilhão de vezes, não estamos totalmente encrencados. Ok, o que temos no próximo tempo?

Rosa fungou e retirou do bolso um papelzinho. Leu-o e soluçou:

– Defesa Contra as Artes das Trevas.

Defesa Contra as Artes das Trevas?! – guinchou Alvo, exaltado. – Estamos mortos!

Eu sei! – gemeu Rosa, voltando a produzir lágrimas.

Alvo provavelmente teria se reunido à prima e choraria junto, mas lembrou do que Luna disse e começou a pensar. E ele pensou... Pensou... E, após pensar mais um pouco, teve a ideia mais brilhantemente idiota que poderia ter à essa hora.

– Me bate – disse ele, enquanto Rosa chorava.

Ela parou os soluços por um tempo e olhou para o garoto, confusa.

– Me bate – repetiu ele, firme.

– O que? – perguntou Rosa, sem entender.

– Me bate – respondeu Alvo, pela terceira vez. – Me dê um soco.

– Por quê?

– Vai, me bate.

– Por que eu te bateria?

– Anda, me acerta logo!

– Não, por que...?

– Me acerta!

– Não!

– Me bate logo!

– Por que diabos eu...

– Vamos, garota, me ace... AI!

Alvo quase caiu no chão quando Rosa lhe deu um baita soco no olho direito. Se ajoelhou e tampou o lado do rosto com firmeza, rezando para seu olho não ter caído.

– Ai meu Deus, Al, você tá bem? – perguntou Rosa, preocupada.

– Melhor impossível – gemeu Alvo.

Rosa tentou tirar a mão do garoto para poder ver o olho, mas o primo afastou o rosto, balançando a cabeça freneticamente. Eles ficaram um bom tempo nesse pega-pega por um bom tempo, até Alvo ter coragem de tirar a mão. O lado bom foi que não estava sangrado. O lado ruim foi que a mão estava suada, e colara em seu rosto, dando uma dor do cão quando ele a tirou. Rosa soltou uma exclamação quando olhou para o olho, e Alvo imaginou que este tivesse afundado. Primeiro tampou o olho esquerdo e tentou enxergar só com o direito, para se certificar de que não estava cego, mas sua visão estava turva. Andou até a cabeceira de Clívon Ridflan, onde havia um espelhinho de mão, e, criando coragem, encarou o próprio reflexo.

– Ai meu Deus... – murmurou, observando o olho que já estava consideravelmente inchado e parecia estar boiando em lágrimas. – Rosa, você é uma lutadora de MMA ou o quê?

– Foi mal – lamentou ela, olhando o espelho também. – Foi você quem pediu!

– Eu pedi um soco, não uma batida de caminhão, quem diabos é você, o Grope?! – exclamou ele, indignado.

Rosa murmurou outro “foi mal” e Alvo piscou algumas vezes, fazendo lágrimas rolarem por seu rosto.

– Ok, agora vamos – disse ele, puxando a prima pelo braço.

– Vamos aonde? – perguntou ela.

– Pra enfermaria – respondeu ele, descendo as escadas. – Vamos dizer que eu bati o olho na quina da cama e que você ficou me ajudando a sobreviver.

– E vai funcionar? – perguntou ela, receosa.

– E você lá tem outro plano? – revidou ele, irritado.

Rosa pensou por um tempo.

– É, vamos para a enfermaria – disse, por fim.

Eles atravessaram a sala comunal correndo e já estavam quase na passagem do quadro quando ouviram as gargalhadas. Alvo e Rosa se olharam e depois olharam para trás. Havia alguns alunos do sexto ano ali, que tinham um tempo livre à manhã.

– Eh, Alvo – começou Rosa, olhando o primo de cima a baixo. – Não quero dizer nada, mas você está... De pijamas.

– É, eu sei – respondeu ele, voltando para o dormitório e evitando olhar para os alunos, cujos risos ainda podiam ser ouvidos.

Em geral, usar pijama na sala comunal era bem normal, o problema era que o pijama de Alvo era de ursinhos (era um pijama velho que Tiago usava quando tinha uns nove anos, mas como crescera rápido demais, ficara para Alvo). Na verdade ele evitava usar aquele pijama, mas em noites frias o colocava por cima do seu verdadeiro pijama (que era de dragões, completamente macho), para se aquecer; colocou o uniforme e voltou para o andar de baixo, onde algum aluno gritou “agora sim, Alvinha”, mas Alvo achou que era maduro demais para voltar lá e dar uma boa resposta a seja lá quem for que lhe disse isso.

– Pô, que mancada hein, Al – riu Rosa, enquanto eles atravessavam o quadro da Mulher Gorda.

Alvo olhou para ela, incrédulo. Pensou seriamente em lhe dizer que talvez, apenas talvez, as risadas pudessem ter alguma associação com o cabelo nada ajeitado da garota, mas depois pensou melhor e ficou quieto.

Desceram os corredores quase desertos (havia alguns alunos do sexto e sétimo ano vagando aqui e ali) e foram para a ala hospitalar. As camas estavam todas desocupadas, e Madame Pomfrey veio lhes atender, não parecendo muito surpresa com as caras de quem acaba de acordar.

– O que foi que você fez aqui? – perguntou ela, examinando o olho de Alvo.

– Ahn, bati na quina – respondeu ele, calmamente.

Alvo não era o melhor mentiroso do mundo, mas Madame Pomfrey não disse mais nada. Nem mesmo quando Rosa começou a ficar nervosa e desembestou a dar desculpas para explicar:

– Eu acordei às sete e vinte e sete, então me vesti e fui ver o Al, e ele estava assim. Então nós pensamos “droga, vamos perder uma aula de DCAT tão instrutiva, isso é um saco!”, mas aí eu tive que pensar no melhor para o meu primo, como meus avós são dentistas, eu tenho um sentido medicinal apurado, aí viemos aqui...

Alvo a encarou, incrédulo e revirou os olhos, mas Madame Pomfey não pareceu ter dado muita atenção à garota, e continuou trabalhando no rosto de Alvo. Ela derramou um tipo de colírio no olho de Alvo, e disse que devia melhorar em algumas horas.

Os dois, muitíssimo aliviados, saíram apressados e rumaram para o terceiro andar com Rosa enchendo os ouvidos de Alvo com explicações que poderia ter usado, enquanto o primo se limitava a dizer que ela usaria todas elas com Draco. Bom, acontece que quando chegaram à sala de aula, a coisa foi meio diferente...

– Olho inchado? – exclamou uma satisfeita Prof.ª Magdoll, ao abrir a porta e se deparar com os dois.

– O que? – perguntou Alvo, checando a porta, para ver se vieram à sala certa. – Cadê o Draco?

Professor Draco – corrigiu Magdoll, apontando um dedo gorducho para Alvo. Ela olhou dele para Rosa e depois para os alunos que pareciam curiosos em saber quem estava ali fora. Por fim deu um sorriso desdenhoso e franziu a testa. – E então, o que vão me dizer agora? Um trasgo montanhês invadiu a escola e você teve que salvar a esfomeada aí? Ah, não, isso foi com o seu pai...

Alvo apertou os olhos, sem entender, depois balançou a cabeça.

– Não era pra ser DCAT agora? Nós... – começou ele, mas a professora logo o interrompeu.

– Fique o senhor sabendo que estou substituindo o professor Draco, garoto. Agora poderia me dizer qual vai ser a desculpa para o atraso?

Antes que Rosa desembestasse a dar suas desculpas nada convincentes, Alvo tomou a dianteira:

– Bati o olho na quina da cama, Rosa me ajudou. Estávamos na enfermaria. Posso entrar?

Ele disse tudo muito rápido, e a professora parecia só ter entendido a primeira parte.

– Oh, você bateu o olho na quina cama?! – exclamou ela, sorrindo. Depois virou-se para os alunos, dentro da sala. – O poderoso Potter sobreviveu ao ataque de Bob Rondres, mas foi parado por uma quina!

Imediatamente os alunos começaram a rir. Alvo, irritado, encarou a professora e repetiu:

– Posso entrar?

Magdoll olhou para ele com os olhos semicerrados e um sorriso bobo no rosto.

– E você acha que eu sou quem? Dumbledore, o piedoso? – riu ela. – Vão para a sala do Neville agora mesmo.

Rosa emitiu uma exclamação de horror e Alvo, sem dar outro olhar para a professora, virou as costas, puxando a prima. Antes de dar dois passos, a professora o chamou.

– Espera, Potter. Mudei de ideia. Neville não lhe daria a lição necessária, é melhor ficar aqui mesmo.

Alvo bufou e entrou na sala, dirigindo à professora um olhar muito cínico de “como queira”.

– Olho maneiro – elogiou Valeria Jofrey, quando ele passou por ela.

Alvo não respondeu, mas mesmo assim ela e o irmão caíram na gargalhada, como se ele tivesse cacarejado ou coisa assim.

Sentaram-se na última classe, como de costume, atrás de Malfoy, que, Alvo estranhou, não fez nenhum comentário sobre o olho, ou sequer virou-se para trás para fazer alguma piadinha. Os dois ficaram em silêncio, apenas observando Magdoll dar a mais monótona aula de DCAT que podiam estar tendo naquele dia. Nem mesmo Rosa parecia estar prestando muita atenção, porque a professora, pelo jeito, não estava muito afim de ficar substituindo outros professores, de modo que ficara sentada em sua mesa, um livrão cobrindo sua cara, e lendo-o em uma voz incrivelmente entediante.

Alvo provavelmente deu uma cochilada, porque não soube dizer exatamente quando, mas em determinado momento, despertou-se com um súbito estrondo vindo do corredor. A professora saiu para conferir o que era.

– Pirraça! – exclamou ela, lá de fora. Ela pôs a cabeça para dentro e murmurou um “já volto”, desaparecendo logo em seguida.

Alvo já ia voltar a se “acomodar” quando, repentinamente, o quadro começou a exibir uma frase. Arregalou os olhos, juntamente com os demais alunos que olhavam assustados para as palavras que começavam a se formar.

– O que? – exclamou Rosa, espantada. – A professora não está ditando, não tem como... Espera, isso não é possível, como...?

Mas suas palavras foram morrendo ao passo em que viu a frase que acabara de se formar: ele os levará.

Alvo sentiu as entranhas darem uma volta completa em seu estômago, de modo que ele mesmo não pôde soltar uma exclamação, por mais surpreso que estivesse.

Sua primeira reação, após controlar a sensação na boca do estômago, foi virar-se para Malfoy, esperando que esse risse satisfeito da suposta peça que estava pregando. Para sua decepção (apenas mais uma em um dia conturbado por montes delas), Scorpius parecia tão espantado quanto ele. Mexeu-se nervoso na cadeira, sem saber exatamente o que fazer. Olhou para os lados, procurando por alguma culpado. Pirraça, só podia ser ele. Mas aí Alvo reprimiu um grande gemido, porque lembrou que Pirraça não sabia sobre os sonhos. Eram poucos os que sabiam, e não podia ser o poltergeist. Encontrou os olhos assustados de Rosa, vendo que a prima estava tão confusa quanto ele. Em seguida tamborilou os dedos na mesa, ansioso.

– Fantasma idiota – xingou Magdoll, abrindo a porta com violência. Ela dirigiu-se até sua cadeira, pisando firme, para depois largar-se nela e continuar sua leitura, ignorando as caras espantadas dos alunos.

Antes que mais alguma coisa pudesse acontecer, vários outros estrondos, iguais ao primeiro, foram ouvidos, vindos do corredor. Quando houve um quinto, a professora simplesmente gritou, sem sequer se levantar:

– DÁ PRA ALGUÉM DAR UM JEITO NESSE POLTERGEIST MALDITO?!

E aí, logo atrás da professora, a frase “ele os levará” apareceu novamente, logo abaixo da primeira, em letras maiores e mais legíveis. Magdoll, irritada como estava, nem deu atenção para as exclamações dos alunos que apontavam frenéticos para o quadro.

Então, como quem sabe que depois de sexta vem o sábado, Alvo teve certeza.

– É ele, Rosa! – cochichou para a prima. – É ele, quer me insultar ou algo assim. Ele está aqui, está me chamando!

– O quê? – a garota sibilou, confusa. – Al, do que você está f...

– Professora – disse Alvo, de súbito. – Meu olho voltou a doer. Preciso ir a enfermaria.

Não esperou uma resposta, e já estava caminhando em direção à porta quando Magdoll murmurou um “não se apresse”.

– Preciso ir também – Rosa disse, lá do fundo.

Tanto Alvo quanto Magdoll olharam para ela, perplexos.

– Pra explicar o tipo de madeira da quina - explicou, levantando-se -, acho que pode ter caído alguma felpa ou algo, é um caso nulpótico, claro, mas li em A Visão Em Mil Maneiras que o mogno prejudica a visão, sabe como é, acho que é culpa da propriedade completamente incerta da seiva in...

– Vai, anda logo! – cortou a professora, mal-humorada.

Rosa sorriu e saiu correndo dali, seguida por Alvo, que seguiu corredor afora, sem saber exatamente que direção tomar.

– Al, onde vamos? – perguntou ela, ofegante para acompanha-lo. – E quem você acha que é ele?

Alvo continuou correndo, sem prestar atenção exatamente. Somente quando Rosa repetiu a pergunta pela sexta vez foi que ele parou de correr e virou-se irritado para a prima.

– Quem você acha?! Brubock, é claro! – exclamou ele, olhando por trás do ombro.

Ele andou mais um pouco e abriu uma porta qualquer, mas a sala estava vazia. Continuou procurando enquanto Rosa continuava a disparada de perguntas.

– Mas como assim?! Você acha que ele está aqui? Al, você acha que foi ele quem fez os barulhos? Mas e o quadro, como pode ter simplesmente aparecido aquelas palavras e...

Mas Alvo a puxou subitamente para dentro de uma sala. Lá estava ele, sentado em uma classe, vestindo o mesmo casacão preto de viagem, segurando uma bolsa enorme feita de couro marrom, com o rosto pálido e olheiras debaixo dos olhos.

– Sabia que viria, Sr. Potter – disse ele, se levantando.

Rosa não podia estar com uma feição mais perplexa, mas tanto Brubock quanto Alvo ignoraram isso. Alvo tratou de fechar a porta. Virou-se para o garoto e apontou um dedo na direção dele, tremendo de fúria:

– Desembucha logo o que você sabe sobre ele! – rosnou Alvo, completamente irritado. – O que ele fez ao Carlos e minha irmã?

Brubock não ficou nem um pouco surpreso com a reação de Alvo, parecia já esperar por isso. Olhou com condescendência e algo que beirava à compaixão para o rosto exaltado de Alvo.

– O senhor precisa se acalmar, Sr. Potter – disse ele, brandamente. – Precisa entender e ficar calmo.

Ficar calmo?! – guinchou Alvo, quase em desespero. – Ficar calmo?! Como diabos quer que eu fique calmo, você fica me mandando essas mensagens pra eu decifrar e quer que eu fique calmo? Minha irmã está com ele, e a culpa é sua!

– Não, Sr. Potter, a culpa não é minha – defendeu-se Brubock, no mesmo tom calmo que sempre usava. – Eu realmente fiz de tudo para ajudar, o senhor tem que acreditar. Mas não vim aqui para isso... Preciso... Preciso lhe dizer uma coisa.

– Ah, mas não vai não! – cortou Alvo. Sem pensar direito no que estava fazendo, agarrou o garoto por trás, como que fazendo-o de refém. Em geral, não era muito bom nesse tipo de coisa, mas o garoto era pequeno, e não tentou resistir. – Não vou deixar você escapar dessa vez! Anda, me diz onde eles estão!

– Senhor, não vai... Não vai adiantar... – Brubock tentava explicar, tranquilamente. Sua calma chegava a ser irritante. – Não tenho permissão... É perigoso... Mas escute, tem que confiar em mim.

– Confiar em você? Tem um esquadrão inteiro de aurores confiando em você! Seguindo sua maldita mensagem! – exclamou Alvo, ainda segurando os braços do garoto com firmeza. – Vai me dizer onde eles estão agora, está ouvindo? Vai me dizer pra onde Rondres os levou!

A raiva do garoto era tanta que ele nem havia percebido que estava bancando o valentão pra cima de um garotinho de uns sete anos. Mas ele precisava de respostas, e estava cansado de ser o injustiçado, estava cansado de ser culpado. Mas Brubock não disse nada por um bom tempo. E Alvo, que continuava tremendo de fúria e de nervosismo, também ficou em silêncio, esperando por uma resposta.

– Você vai pegar carona com embarcadores hoje à noite – disse, finalmente, o garoto. – Eles vão partir exatamente às onze e meia. O barco deles está ancorado no cais que faz divisa com Hogsmeade. Diga a eles quem você é, diga que está à mando de Hector, e diga que precisa ir até o fim da linha. Lá você saberá o que fazer.

– Que? – disse Alvo, sem entender.

– Hector, diga que está à mando de Hector – respondeu Brubock, achando que estava sendo realmente claro e específico.

– Hector? – repetiu Alvo, confuso. - Cadê a minha irmã, perguntei sobre Bob Rondres, me diga onde ele está!

Brubock virou a cabeça para encarar Alvo. Aquele olhar enigmático, aqueles olhos azuis que pareciam saber de tanta coisa... E, de fato, sabiam. Pareciam querer dizer alguma coisa. Mas o garoto não disse o que era. Suspirou e repetiu:

– Você vai pegar carona com embarcadores hoje à noite – disse, lenta e tranquilamente. – Eles vão partir exatamente às onze e meia. O navio deles está ancorado no cais que faz divisa com Hogsmeade. Diga a eles quem você é, diga que está à mando de Hector, e diga que precisa ir até o fim da linha. Lá você saberá o que fazer.

Alvo ergueu a sobrancelha, o coração palpitando, tendo um mal pressentimento sobre aquilo, por mais que não fizesse ideia do que significava.

– Por que eu faria isso? – perguntou, lentamente. – O que você sabe?

– Ele está com sua irmã e com seu amigo – respondeu Brubock. – Mas não pretende usar os dois como isca. Você sabe do que ele é capaz. Apenas os siga e você entenderá. Sr. Potter, confie. Você é quem deve encontra-los. Para evitar o pior... Encontre-o o mais rápido que puder...

– Do que você está falando? – perguntou Alvo, exaltado. – Que pior? Como assim ele não os quer de isca?

Brubock olhou suplicante para Alvo, hesitante, soltou os braços do menino. Brubock levantou as mãos, em rendição, depois, lentamente e sem tirar os olhos de Alvo que apontava a varinha diretamente para seu rosto, enfiou a mão no bolso e puxou de lá o medalhão de bronze com um relógio pendurado que ele guardava. Consultou-o e, antes que o enfiasse no bolso novamente, Alvo viu de reflexo um símbolo que fez seu coração gelar: uma varinha apontada para um relógio de parede.

– Você é um comensal! – exclamou, de sobressalto. – É um comensal da morte!

Neste exato momento, a porta da sala se escancarou e Scorpius Malfoy encarou Alvo, numa mistura de perplexidade e desespero.


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Notas finais do capítulo

*O* BRUBOCK É UM COMENSAL, MAS COMO ASSIM????
Calma, gente, calma, não vou dar spoiler u.u Mas enfim, vocês não precisam se desesperar, mas podem quebrar a cabeça pra descobrir do que diabos o Brubock tá falando, porque o Al também vai se ferrar pensando sobre isso. Como eu disse, a partir de agora, só capítulo pura adrenalina, emoção e Alvo se ferrando porque isso é awesome :3



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