Alvo Potter E O Mensageiro De Boráth escrita por Amanda Rocha


Capítulo 18
Thriller night


Notas iniciais do capítulo

"...Cause this is thrilleeeeeer, thriler night..."
Ok, gente, batam palmas, dancem como um elfo louco, rebolem como um bicho-papão em dor porque esse é O PRIMEIRO CAPÍTULO INSPIRADO NUMA MÚSICA O/
Sim, há tempos queria fazer um capítulo inspirado em uma música e finalmente consegui encaixar um. Acho que agora que o Alvo tá aprendendo a tocar o violão (aprendendo, porque os gêmeos Longbottom ainda humilham ele em Hipogrifos natalinos u,u) vai ter mais. Enfim, guys, obrigada pelos reviews e tudo o mais, estou tentando postar com mais frequência, mas tá difícil porque né, high school sucks ¬¬
Mas ok, aí vai o capítulo...



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Levando em conta o que havia acontecido, Alvo Potter até que estava se saindo muito bem. Depois do que Luna falara, ele se empenhara bastante em fazer algo diferente de chorar. Logo percebeu que era bom em animar as pessoas, e foi o que ficou fazendo o resto das férias.

Tiago não tivera nenhuma tentativa de fuga (pelo menos não uma com sucesso), o que fora um ótimo avanço, porque ele passara a maior parte do tempo enfurnado no quarto estudando para os NOM’s, o que não era nada bom, pois se ele estava estudando em plenas férias com certeza não estava bem, mas Alvo achou que isso já era de se esperar.

Gina ficara particularmente melancólica. Obviamente ela tinha toda a razão, afinal perder um filho não era nada animador, e no momento o marido estava no meio de uma missão, ocupado demais para compartilhar sua dor com a esposa. Sendo assim, tia Hermione (quando não estava no Ministério), Rosa, Hugo e os Longbottom se ofereceram para ficar fazendo companhia. No começo ela até estava se saindo muito bem, até entrar no quarto de Lilí, onde Alvo a encontrou aos prantos. O garoto disse a mãe que ela não poderia estar morta, que ele era tão famoso que Rondres queria ele em vez de Lilí, o que pareceu animar a ruiva um pouco.

Claro que quando estava sozinho em seu quarto, era quase como se uma pedra estivesse esmagando seu coração, mas Alvo decidiu que alguém precisava tomar as rédeas da coisa, então até se arriscou a fazer um jantar especial no domingo, e descobriu que era, na verdade, um ótimo cozinheiro. Ketwch teve de lhe ensinar alguns truques, mas no final ele fez um ótimo macarrão com queijo, que pareceu alegrar um pouco os dois, já que estavam comendo sanduíche de manteiga de amendoim há dias (quando Gina estava triste ela abandonava qualquer tipo de trabalho que pudesse a deixar ainda mais depressiva).

No fim, Tiago até pareceu menos desanimado. Deu um abraço na mãe antes de dormir e pediu para que Alvo mandasse um beijo para Natalie, sua cunhada querida. O garoto até ficou irritado, mas brincadeiras significavam que ele estava tendo uma considerável melhora.

Ruim mesmo foi se despedir da mãe, na manhã de embarque de volta à Hogwarts. Alvo achou que fosse derramar alguma lagrimar ao ver o semblante infeliz de Gina ao acenar para ele no trem, mas prometeu que escreveria diariamente para dar notícia. Ficou mais tranquilo quando Luna disse que continuaria lá fazendo companhia. Alvo se despediu dela também, e agradeceu pela conversa que tiveram, contando como a coisa do “não chorar” estava funcionando.

As viagens de trem eram realmente animadas, cheias de bagunça, risadas altas e brincadeiras do Tiago. Mas desta vez fora diferente. Alvo sentiu isso logo que entrou no trem. Várias pessoas vieram lhe cumprimentar, dando-lhe os pêsames pela irmã e por Carlos. Isto deveria animar, mas por alguma razão, só deixou Alvo ainda mais deprimido.

Depois, sua cabine deveria ser a cabine mais horrivelmente triste que o Expresso de Hogwarts já teve. Rosa continuava tão triste quanto estava na manhã do dia vinte e cinco, e seus cabelos estavam mais bagunçados do que o normal (Alvo, pelo menos, teve o tato de não comentar isso). Hugo, embora alegasse que estava com uma gripe danada, não conseguia convencer a ninguém, e sequer correu quando Alvo lhe apontou uma aranha que vinha se aproximando. Tiago passara uma ou duas vezes por lá, mas também não estava com uma cara nada boa, havia boatos até de que nem tentara dar detenção a nenhum sonserino. Fred ficara brincando com um objeto estranho da Gemialidades Weasley que parecia um abajur a tarde toda. E todas as tentativas que Alvo fizera de puxar assunto, morriam assim que alguém respondia algo como “é, realmente um belo dia”.

– O Scorpius não está realmente idiota gritando com aqueles alunos do primeiro ano? - comentou ele, numa milésima tentativa.

– É, ele sempre é – respondeu Rosa, observando a paisagem pela janela.

E, outra vez, o assunto acabou.

Alvo encarou Hugo, depois Fred, e depois tentou achar algo para não ficarem todos com aquele ar depressivo. Achou um elástico no chão e, tendo uma ideia ridiculamente estúpida, atirou-o na cara de Fred.

– AI! – ele exclamou, massageando o rosto.

– Foi mal, soltei sem querer – respondeu Alvo, encolhendo os ombros.

Esperou que o primo se distraísse novamente e, encaixando o elástico entre os dedos, soltou-o na direção do ruivo outra vez.

Mas o que diabos está acontecendo? – guinchou ele, irritado.

Alvo encolheu os ombros. Fred bufou e se concentrou novamente no seu abajur esquisito. Alvo estava ciente do perigo que estava correndo, mesmo assim se arriscou. Juntou o elástico outra vez e mirou-o em Fred...

– AGORA EU ENFIO ISSO NA TUA FUÇA! – gritou o primo partindo para cima de Alvo.

O garoto, rindo, teve pouquíssimo tempo para proteger a cabeça quando Fred tentava arrancar seus cabelos.

– Solta... minha... cabeça! – pediu Alvo, entre gargalhadas.

– Não antes de arrancar esse seu

cabelo espetado! – respondeu Fred, entre dentes.

Hugo, Alvo viu, parecia estar se divertindo com a briga e Rosa revirou os olhos, embora houvesse vestígios de riso em seu rosto.

– Pede pinico! – mandou Fred.

– Pinico! – disse Alvo.

– Pede mais alto.

Pinico!

– Acho que o trem inteiro ainda não ouviu...

– PINICO!

E, quando Fred soltou, a cabine mergulhou em gargalhadas. Fred, ainda com as mãos preparadas para o ataque, tinha espasmos de tanto que ria. Hugo apontava para o cabelo de Alvo que, o garoto sabia, devia estar mais bagunçado que nunca. Rosa limpava as lágrimas dos olhos.

– Olhe pelo lado bom – disse o garoto, olhando o próprio reflexo na janela – agora não vou precisar dizer que é genética!

Se Alvo já se sentiu mal quando estava no trem, mal sabia ele que ao desembarcar seria pior ainda. Pior: Hagrid. O gigante dava brados para guiar os alunos e havia alguns soluços, misturados na rouquidão de sua voz. Quando avistou os garotos saiu cambaleando atrás deles, deu um abraço apertado em Alvo (Hugo, Fred e Rosa vieram ajudar, com medo de que o guarda-caça pudesse desabar em cima do garoto).

– Tão triste... – balbuciou ele, entre soluços. Lágrimas desciam pela sua barba desgrenhada e molhavam os ombros de Alvo, que dava tapinhas nas costas do gigante. – Sua irmãzinha... Tão pequena... E o C-Carlos...

E desatou a chorar outra vez.

– Tudo bem, Hagrid – tranquilizou Alvo. – Papai e tio Rony estão os procurando. Vai ficar tudo bem...

Foi preciso bem mais que essas palavras para que Hagrid se acalmasse, mas foi visível que o fato de o próprio Alvo estar o tranquilizando ajudou um pouco. Alvo prometeu que no dia seguinte iriam visita-lo, porque não achou que deveria contar o que o pai falara ali, no meio dos alunos.

No castelo, Neville fez um enorme discurso sobre como a vida muitas vezes é injusta, e como ela nos dá rasteiras, mas que devemos sempre levantar. Não mencionou em momento nenhum Lilí, Carlos ou Bob Rondres, mas seu olhar esteve o tempo todo sobre Alvo e Tiago. Os irmãos, no meio do discurso, se entreolharam e, sabendo da dor que o outro compartilhava, deram um longo suspiro ao mesmo tempo.

O jantar, apesar de delicioso, não foi tão bem aproveitado por Alvo e Tiago, muito embora o mais novo estava realmente empenhado na tarefa de fingir que estava tudo bem. O mesmo não podia ser dito sobre Rosa, porque ela comia para aliviar a tensão (muito embora ela usasse esse método para basicamente qualquer coisa).

Subiram para os dormitórios onde os garotos não tardaram muito em ficar conversando. Natalie Dursley veio dizer que sentia muito por Alvo, ao que Tiago, mesmo em sua profunda depressão, conseguiu desenterrar um sorriso malicioso.

Antes de dormir, Alvo ficou encarando a cama de Carlos, vazia e completamente arrumada.

– Papai também está na missão – disse Dennis Finnigan, atrás do garoto. – Sinto muito pela sua irmã, Al.

– Eu também – murmurou o garoto, em resposta.

Dennis provavelmente tinha mais coisa para falar, mas desistiu. Deu tapinhas nas costas de Alvo e foi deitar-se.

Alvo Potter ainda ficou muito tempo com os olhos vasculhando o céu estrelado pela janela antes de realmente adormecer...

Logo no café da manhã, Alvo, Tiago, Matt, Daniella, Hugo, Rosa e Fred receberam um papelzinho da Prof.ª Chollobull com a hora da detenção que pagariam.

– Peraí! – exclamou Fred, puxando o braço da professora. – Por que eu estou no meio disso? Eu não estava brigando!

– Certamente – concordou a professora, sorrindo com desdém. – Porém, recebemos reclamações de que você estava sabotando as bolas de neve. Achei que ficaria feliz em cumprir a detenção com a sua laia.

– Minha laia... – resmungou ele. Depois se voltou para Alvo. – Mamãe vai me matar...

Alvo concordou porque, infelizmente, era verdade.

Outra coisa especial no café da manhã foi que havia, na mesa da Grifinória, dois lugares reservados. Um pano vermelho da Grifinória fora colocado naquela parte da mesa e se estendia até o banco. Um leão enorme rugia no centro do pano, e os nomes Carlos e Lílian estavam escritos em letras garrafais pretas de cada lado. Várias pessoas iam lá e deixavam mensagens no pano como “Continuem lutando” e “Os leões nunca se rendem”.

– Foi você? – perguntou Alvo ao irmão.

– Não – respondeu Tiago, chocado. Depois virou-se para o irmão, sorrindo. – Acho que gostam mais daquela ruivinha chata do que pensávamos...

Alvo concordou, e foi assinar o pano também.

As aulas daquele dia foram realmente insuportáveis para eles. Primeiro porque detenções ainda deixavam Alvo nervoso, então ele não conseguiu se concentrar em particularmente nada. Na aula de Feitiços, o Prof. Denóires veio falar com ele.

– Como você está?

– Um pouco sonolento, mas bem – respondeu Alvo.

– Está lidando muito bem com isso – elogiou o professor.

– É, estou me esforçando – respondeu o garoto.

Denóires tocou o ombro de Alvo.

– Se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo – disse ele, baixinho -, pode contar comigo. Se fizer você se sentir melhor posso dar uma detenção ao Malfoy ou coisa assim.

– Ah – ele riu. – É, talvez ajude.

No fim, Alvo viu que era mesmo melhor que ele não se preocupasse com aquilo.

Após o jantar, quando só havia alguns alunos do quinto ano estudando para os NOM’s em um canto afastado da sala comunal da Grifinória, Alvo, Rosa, Hugo, Fred, Tiago, Daniella e Matt desceram e se sentaram nas poltronas em frente à lareira, esperando Neville vir os chamar.

– Ótimo – disse Tiago, atirando-se no chão (literalmente se atirando) sem rodeios. – Agora eu tenho que pagar pelo que outros me obrigaram a fazer.

Ele lançou um olhar a Matt, e este deu um muxoxo e murmurou algo como “almofadinha”.

– Calma, Ti, já pagamos várias detenções – tranquilizou-o Daniella, que acariciava os cabelos bagunçados do garoto. – E pense só, eu vou estar lá!

– Ah, pelo amor de Deus, eu não aguento isso – resmungou Rosa, ela enfiou uma almofada na cabeça e Daniella olhou para todos, sem entender.

– O que ela tem?

– Não faço ideia – respondeu Matt, com o seu melhor tom irônico.

– Não fala assim com a Daniella – censurou Tiago. – Ela é sensível e delicada. Igual uma flor.

– É, ela não é a única florzinha aqui – retrucou Matt.

Tiago olhou para ele furioso, mas apenas balançou a cabeça e voltou a acomodar-se no tapete.

– Eu tenho um violão – disse Alvo de repente. Todos o olharam com aquela cara “fumando muita mandrágora ultimamente?”, e ele acrescentou, atrasado: - Mudando de assunto...

– Você sabe tocar? – perguntou Matt, interessado.

– É, mas foi humilhado por bebês de um ano de idade tentando tocar Hipogrigos Natalinos – debochou Fred.

– Não sou bom nesse tipo de música – defendeu-se Alvo.

– Ele é bom em música água com açúcar – desdenhou Tiago, ainda deitado. – Pra poder tocar uma pra Natalie Dursley.

Todos fizeram “hmmmmmmm” e Alvo usou todas as suas forças para ficar indiferente.

– Olha quem falando de água com açúcar – disse Alvo.

Matt bateu palmas e fez um High Five com Alvo. Tiago encarou os dois, visivelmente ofendido.

– Vamos deixar umas coisinhas claras por aqui – avisou, se levantando. – Vamos pagar uma detenção, e vocês sabem o que isso significa para nós. Significa a volta dos marotos.

Alvo se virou para comentar o quão engraçado Tiago ficava quando tentava bancar o presidente quando lembrou que Carlos não estava ali.

– Detenções são a nossa marca, não há como negar – prosseguiu Tiago, colocando a mão no peito. – E como agora temos mais dois candidatos a entrar...

Ele parou e imediatamente percebeu o que havia dito. Não havia dois candidatos a entrar. Só havia um: Hugo.

– Bem, hã... Então digamos que essa será sua cerimônia de iniciação, Hugo.

– Minha cerimônia de iniciação? – exclamou ele, animado. – E o que eu vou ter que fazer?

– Pagar a detenção, cabeça de vento – xingou Tiago, fazendo “dã” com a mão na testa. – E precisamos te achar um apelido secreto também. Vamos pensar... Eh... Ok, já sei! Eu, Ponfadinhas, presidente de vosso respeitável clube dos Marotos, lhe nomeio... Cenoura Ambulante.

– Tá de brincadeira, né?! – reclamou o ruivo.

– É, porque isso foi realmente ofensivo – defendeu Rosa.

Tiago deu um suspiro.

– Meus súditos... Sempre insatisfeitos... – disse ele, andando em voltas pela sala. - Ok, ok, vamos partir para o próximo passo. Eu sei que alguns aqui... – ele encarou Alvo, com uma compaixão jamais vista em seus olhos (ele era um ótimo ator). -... Têm medo do que vem pela frente... Mas o que alguns aqui precisam entender...

Ele foi andando novamente e girou a cabeça na direção do irmão, erguendo a mão como que querendo o tocar.

–... É que eu estarei sempre aqui. Para que alguns aqui se sintam bem, ok? E não há porque alguns aqui tenham vergonha de serem tremendos bananas que tem medo de monstros e tudo o mais... Porque o Ponfadinhas está aqui para salvar a todos aqueles que precisarem. Tudo bem, Alguns Aqui?

– Eh, certo... – concordou Alvo, meio sem jeito.

Daniella desatou a bater palmas.

– Ótimo discurso... Realmente, Ti! – elogiou ela, orgulhosa.

Tiago fez uma mesura. Já ia recomeçar outro discurso, mas (ainda bem) Neville abriu a porta, o interrompendo.

– O Guelch está lá embaixo, dizendo que cada minuto que vocês atrasarem vai acrescentar uma hora na detenção – disse ele. Depois voltou-se para Alvo e Tiago: - Como vocês estão?

– Ah, você sabe como é, Neville – respondeu Tiago, num tom muito discreto. Ele foi até Alvo e passou o braço por cima do ombro do irmão. – Eu tento dizer que está tudo bem, que não há nada a temer, mas o pequeno Alvo aqui continua a chorar, você sabe como é, tem bebês em casa, entende o quão difícil é cuidar desses pequeninos...

– Cala a boca, Tiago.

Neville deu uma risada e fez sinal para eles irem. Tiago foi liderando o grupo e, antes de atravessarem o retrato, sussurrou:

– Ok, agora é pra valer. Cenoura Ambulante, faça um bom trabalho. Rabicho, tente não nos atrapalhar. Rosa... Ainda não arranjei um apelido pra você, mas arranje algo pra fazer... E sem pânico, isso foi pra você, Al. Enfim, o que é a vida sem aventuras?

– Sério, seu pai devia ter dado o seu nome de Sirius – resmungou Rosa.

– Mas aí Tiago seria Alvo – contrapôs Alvo. – E aí ficaria recitando o “Palavras são, na minha nada humilde opinião...” vinte e quatro horas por dia. Pelo menos o bordão do Sirius é menor.

– É, temos que ver o lado bom da coisa – concordou Rosa. Ela e o primo se entreolharam e começaram a rir.

Desceram as escadas e se depararam com um Guelch no auge de seu mau humor. Alvo meio que o entendia porque ficar limpando salas não parecia ser o melhor trabalho do mundo.

– Atrasados. Como sempre atrasados! – espraguejou ele.

– É, pode acrescentar no tempo de detenção – tranquilizou-o Neville.

– É, porque não é você que vai ficar zanzando pela Floresta Proibida – resmungou Tiago.

O zelador continuou murmurando coisas para si mesmo e os garotos o seguiram para fora do castelo. Estava bem frio lá fora, não nevava, mas havia um vento terrivelmente gelado que fez eles quererem voltar para dentro.

– Senhor, o que diabos é isso? – exclamou Fred, batendo o queixo.

– Tá... Muito... Frio! – exclamou Rosa, agarrando o braço de Alvo.

– Silêncio! – grunhiu Guelch que, inexplicavelmente, parecia bem tranquilo quanto à baixa temperatura.

Tiago o imitou, mas a boca de Alvo estava tão congelada que ele não pôde nem rir.

O zelador os guiou pela encosta abaixo (uma caminhada muito lenta, pois as pernas dos alunos pareciam estar atrofiando a cada passo), onde puderam ver Hagrid e Canino parados em frente à cabana, iluminados pela luz da clareira que vinha de dentro da casa do guarda-caça.

– Sempre vocês – riu o gigante.

– É, uma falta de consideração – rosnou Guelch, mal-humorado.

– Eu assumo daqui – disse Hagrid.

Ele segurava um lampião e fez sinal para os garotos se aproximarem da floresta.

– Vamos fazer uma busca hoje – disse o guarda-caça. – Há alguns dias tenho encontrado os animais assustados, acanhados. Neville acredita que possa ser um amasso solto, mas eu acho que não, não são perigosos.

– Ah, claro que não – disse Alvo, lembrando-se de seu primeiro ano.

– É, bom, às vezes não são – corrigiu Hagrid. – Enfim, acredito que seja algo maior, um hipogrifo selvagem perdido ou algo assim.

Canino veio cheirar Alvo e depois olhou para os lados, procurando por mais alguém. Hagrid, receoso, olhou piedoso para o cachorro.

– Ele não está aqui – explicou Alvo ao cachorro, que tinha como um de seus hobbies favoritos lamber Carlos. – Ele está bem longe agora.

Canino deu um gemido, como se entendesse, e foi para perto do dono, que, pigarreando, mudou de assunto.

Eles entraram mais para o coração da floresta, onde Hagrid os parou. Era uma espécie de valezinho ali, onde corria um lago não muito longe, e o único barulho era o do vento forte e o farfalhar das árvores.

– Ok, vocês todos procuram pra esse lado – o guarda-caça apontou. – E Canino e eu vamos por aqui. Caso encontrem alguma coisa, labaredas verdes. Caso estejam em perigo labaredas vermelhas.

– Certo – concordaram todos.

Hagrid e o enorme cão saíram pela noite afora, deixando os garotos ali parados.

– Bem... Vamos indo, né? – disse Daniella.

– Vamos, Ella - assentiu Tiago, pegando a mão da garota.

Matt virou para trás e fingiu que ia vomitar. Rosa riu e eles seguiram pelo caminho que Hagrid mostrara. Pelo menos umas cinco vezes Alvo deu dois tropeções em galhos de árvores atirados pelo chão, e em uma delas chegou a beijar a terra.

– Levanta, pateta – disse Tiago, ajudando o irmão a levantar.

Alvo deu um muxoxo e se ergueu, limpando a lama das calças. Eles já estavam bem mais fundo do coração da floresta agora, mas ainda não haviam achado nada: nem animais assustados nem a suposta coisa.

– Sério, gente, vocês tem que parar de se preocupar – tranquilizou-os Tiago, quando Ella pensou ter visto uma esfinge embrenhada em um arbusto. - É a Floresta Proibida, nada de mais, sério.

– É, Bob Rondres deu até um rolé por aqui no ano retrasado, deve ser realmente segura – debochou Alvo.

– Ai, ai, ai, vocês não precisam se preocupar! – gabou-se Tiago. – Estão comigo, qual é, tenho o sangue de Harry Potter correndo nas veias, e meu nome é Tiago Sirius, combinação melhor não há, convenhamos... E também, honrando a frase do meu querido antecessor...

– “O que é a vida sem aventuras?”, já sabemos... – repetiram todos com um ar entediado.

Tiago olhou para eles, espantado.

– Caramba, como vocês aprendem rápido...

Eles caminharam por mais um bom pedaço, mas continuaram sem ver nada. Não que se houvesse algo para ver eles veriam, pois naquela parte da floresta era escuro como breu e a luz das varinhas servia apenas para impedir que eles tropeçassem no emaranhado de galhos pelo chão (ou, no caso de Alvo, nem isso).

Não era a primeira vez que Alvo entrava na Floresta Proibida, para falar a verdade já havia adquirido bastante experiência com aquele lugar. Mesmo assim, não pôde evitar um gemido quando sentiu uma mão gelada tocando o seu ombro.

A primeira reação de uma pessoa normal seria, provavelmente, se virar para verificar quem era o dono da mão. Acontece que Alvo Potter não era uma pessoa normal. Sendo assim, preferindo não saber de quem a mão era, ele simplesmente deu um passo a frente, prendendo a respiração.

– Alvo... – disse uma voz trêmula, num sussurro.

– Ahhh – fez o garoto, saindo correndo.

Ele provavelmente teria corrido até o fim da floresta onde (ele julgava) era seguro. Porém, mal dera dois passos e seus pés se enrolaram em um baita galho jogado ali no chão. Resultado: mais beijos no chão.

– Eu só queria dizer que você estava se afastando demais – explicou Rosa, o ajudando a se levantar.

– É, e eu tinha visto um bicho – mentiu Alvo. – Por isso corri...

Rosa acreditou, ou fingiu que acreditou, o que é mais provável porque Alvo era um péssimo mentiroso.

– Ok, ok, ok – murmurou Tiago. Ele parou para amarrar o cadarço do tênis e ficou para trás. Depois levantou-se e colocou as mãos na cintura e espiou o relógio no pulso. – Já é quase meia-noite. Hagrid estava delirando. Não tem bicho nenhum. Nem assustado nem assustando.

– E o que fazemos agora? Seria legal se tivéssemos que lutar com um animal ou coisa assim, não acha? – Hugo disse.

Tiago de repente ficou sério.

– O que foi? – perguntaram todos.

– Hugo, eh... – ele pigarreou. – O que você diria se eu dissesse que o seu desejo foi concedido?

Todos olharam para trás e só tiveram pouco mais de um segundo para saírem correndo.

Alvo, mais atrapalhado impossível, saiu tropeçando por galhos e troncos de árvores, mas conseguiu, sabe-se lá como, não cair. O grupo saiu desembalando, floresta afora, com a figura de pelo menos quatro metros os seguindo e dando rugidos e ganidos estranhos.

O que diabos é isso? – gritou Matt.

Não faço ideia, mas corram por suas vidas, meu povo! – berrou Tiago em resposta.

Não foi preciso pedir duas vezes.

É bem provável que nenhum outro grupo de estudantes correu tanto na Floresta Proibida (a não ser, talvez, um certo ruivo que, em seu segundo ano, teve uma desesperada fuga de certas aranhas). E, para ser honesta, eles não sabiam para onde estavam correndo, apenas corriam, pois era impossível se orientar na escuridão que era aquele lugar de noite.

Ele continua atrás da gente? – perguntou Rosa, ofegante.

– O quê que você acha?! – bradou Tiago, que lançava labaredas vermelhas em direção ao céu como um louco.

– Olhem lá, é o Ford Anglia! O Ford Anglia do vovô! – exclamou Hugo, apontando para os destroços de um carro velho entre uma árvore e outra.

Cala a boca e corre, moleque! – disse Fred, voltando para puxar o primo.

Alvo já estava mais que ofegante, e certo de que devia ter asma ou coisa assim. Sabendo que ia se arrepender, virou a cabeça – sem deixar de correr -, e tudo o que viu foi a enorme figura que estava em seu encalço, olhos desesperados e terríveis, e encararam Alvo, cuja única reação foi tentar gritar. Para sua surpresa, não saiu som algum de sua boca, talvez pelo frio, ou simplesmente pelo terror. Seus pulmões estavam fazendo um péssimo trabalho e o ar entrava queimando no seu peito. Sentia uma dor no lado do corpo e usou todas as suas forças para forçar suas pernas a continuarem correndo. Rosa não estava muito pior que ele, porém estava usando um casacão e tropeçava nele constantemente.

– CADÊ O HAGRID QUANDO PRECISAMOS DELE?! – gritou Tiago, desesperado. Ele continuava lançando as labaredas.

Alvo deu uma outra rápida olhada para atrás e – se arrependendo profundamente outra vez - viu que o monstro estava há poucos metros deles.

– ELE TÁ VINDO, ELE TÁ VINDO! – berrou, avisando os outros.

Tiago corria à frente, era o mais rápido e Alvo, que até então era o último do grupo, ultrapassou Matt, ficando em segundo lugar. Que ironia, pensou, agora estamos jogando Corrida no Ar. Só que na terra. E com um animal querendo a nossa carne.

Em determinado momento da corrida (eles nunca souberam dizer quando foi, mesmo anos depois), sem saber como ou quando chegaram ali, os garotos se viram cercados por uma centena de árvores estreitas ligadas por arbustos maiores que Alvo. Era impossível passar. Era o fim.

– Vamos dar a volta! – esganiçou-se Daniella.

Não tem volta! – gemeu Hugo, exasperado.

– AH, JESUS PAI DO CÉU! – exclamou Tiago, no ápice do desespero. – SERÁ QUE EU VOU VOLTAR A VER O SOL?

O monstro continuava a correr e, inexplicavelmente, foi aí que tudo começou a desacelerar. E foi aí que Alvo entrou em desespero, porque todos sabem que antes de morrer nossa vida passa como um filme em câmera lenta bem na nossa frente. O garoto vasculhou por entre as árvores, depois fechou os olhos.

– Corre, sua besta! – berrou Rosa, agarrando o seu braço. E ele, sem entender, seguiu os outros que voltaram a correr, mesmo sem direção.

Alvo não soube como, mas depois de correr e correr, eles se viram na orla da floresta. Continuaram correndo, mesmo assim. Hagrid, Guelch e Neville estavam na porta da cabana do guarda-caça, e iam na direção oposta, de encontro ao monstro. Hagrid berrava alguma coisa, mas no auge do pavor, a única coisa que Alvo queria fazer era se refugiar no lugar mais seguro que pôde encontrar. Ele e os outros cambalearam para dentro da casa de Hagrid e trancaram a porta, com Tiago colocando seu peso contra ela (como se seu peso fosse suficiente contra aquele monstro de cinco metros de altura).

– O que... Diabos...? – o garoto conseguiu dizer, arfando.

– Olhem, Neville conhece ele! – exclamou Hugo, apontando pela janela.

Todos se amontoaram para espiar a janela (ainda não era seguro abrir a porta) e, com uma exclamação de perplexidade, viram que o diretor realmente parecia conhecer o monstro. E que, na verdade, o monstro não era bem um monstro.

– O que você estava fazendo na floresta?! – ralhou Neville, bravo. – Sabe que os alunos não podem te ver, Grope.

– Grope?! – exclamaram Alvo e Tiago, que lembravam ligeiramente do pai ter falado qualquer coisa sobre o meio-irmão de Hagrid.

Depois voltaram a espiar pela janela.

– Eu ver criaturas medo – explicou o gigante, apontando para a floresta. – Então achou que podia ajudar. Ajudar ser bom.

– Ajudar é bom – corrigiu Hagrid, concordando com o irmão. Certamente estava bravo, mas era possível ver vestígios de orgulho em seu rosto. – Mas mesmo assim, Grope, foi muita irresponsabilidade ter feito isso. Você pode assustar as crianças, sabe disso.

O gigante baixou a cabeçorra, culpado. Agora que estava parado, não parecia lá essas coisas tão assustadoras. Usava um casacão pesado de couro marrom, completamente surrado e sujo. Tinha sapatos do tamanho e grossura de um tronco de árvore (não um muito grande, mas ainda assim...), e vários machucados nas canelas à mostra e nas mãos.

– Gigante idiota - xingou Guelch, mal-humorado.

– Veja lá como fala – advertiu Hagrid. Depois virou-se para Grope, que olhava magoado para o zelador. – Não ligue para ele, Grope, gosta de chatear os outros.

Hagrid e Guelch ficaram se encarando mortalmente por um bom tempo. Neville voltou-se para os garotos, ainda dentro da cabana, e gritou:

– Tudo bem, podem sair. É só o Grope.

– Ah, ouviram, pessoal? – disse Tiago, abrindo a porta. – É o Grope.

Ainda meio receosos, os alunos saíram da cabana e deram alguns passos hesitantes na direção do gigante.

– Venham, não se acanhem – chamou Hagrid. – Ele é do bem, não faz mal a ninguém, não é Gropinho? Venham, acho que já ouviram falar dele, não Tiago? Alvo?

Os irmãos se olharam, com um sorriso amarelo. Não queriam cortar o barato de Hagrid que parecia achar que Harry contava histórias sobre Grope o tempo todo (afinal, não é todo mundo que tem um meio-irmão gigante) e dizer que, na verdade, tinham uma remota ideia de quem o suposto monstro era.

– É, claro – mentiu Tiago. – O Grope, papai fala dele.

– É, não o reconhecemos na escuridão, sabe como é – prosseguiu Alvo.

– Vem, Grope, esses são alunos – apresentou Hagrid, apontando para os garotos. – Estudam na escola, entende, Grope? São estudantes. E esses aqui são filhos de Harry Potter, lembra dele, Grope?

– Herói! – exclamou Grope, de repente. Associou rapidamente Harry Potter com herói, o que, Alvo percebeu, fez Tiago fazer uma careta de desgosto. – Harry Potter, Harry Potter!

O gigante bateu palmas, animado e o barulho foi parecido com o que duas árvores fariam se se chocassem.

– E esses aqui, Grope – Hagrid continuou, se voltando para Rosa e Hugo (o menor estava um tanto quanto relutante em se aproximar). – São os filhos do Rony e da Hermi, lembra deles, não, Grope?

Não deu pra saber exatamente se Grope lembrava deles, pois após observar os dois e pensar por um tempo tudo o que disse foi:

– Cabelo vermelho. Vermelho como o fogo.

Guelch deu um muxoxo, aparentemente gozando da capacidade do gigante, mas Hagrid, por outro lado, parecia realmente animado com a sábia reflexão de Grope. Ele seguiu apresentando os outros, e no fim todos se convenceram de que o gigante realmente era inofensivo. Somente quando ele estava há uma distância segura, brincando com Fred que se aventurara a ficar sozinho com o gigante, foi que Tiago ousou a disparada de repreensões:

Como diabos vocês deixam um gigante de cinco metros solto pela floresta?! – guinchou ele, revelando o pânico que estava escondendo até então.

– Ele fica em uma caverna – explicou Neville. – Nunca sai de lá.

– Ah, eu vi – disse Tiago.

– Grope é comportado – defendeu Hagrid, um tanto quanto ofendido. – Quis ajudar, só isso. Normalmente nunca sai em noites de detenção. Mas ficou realmente preocupado com o que estava assustando os bichinhos.

– É, acho que sei o que estava assustando os bichinhos – respondeu Alvo. – Era ele!

Hagrid deu um muxoxo de indignação.

– Ele não assustou ninguém! – disse, na defensiva.

– Ninguém?! – exclamou Hugo. – Por que acha que voltamos correndo?!

– Porque não podíamos voar, cabeça de vento – berrou Fred, lá do fundo.

Alvo riu, mas depois ficou sério, porque Hugo olhou para ele, bravo.

– Sério, Hagrid, como monitor – começou Tiago, apontando para o distintivo no peito -, devo dizer que ele põe em risco a dignidade dos alunos.

– A dignidade? – estranhou Neville.

– É – confirmou Tiago -, como acha que a minha reputação fica se souberem que eu saí correndo feito uma gazela louca quando vi o irmãozinho do Hagrid?

– Saberiam da verdade – berrou Fred, ainda do fundo.

Tiago soltou um palavrão, mas Neville o repreendeu.

– Se você parar para olhar – começou Matt, encarando o gigante de longe. – Ele até que é bem jeitosinho.

– É, uma gracinha – concordou Tiago. – Se eu não estivesse com a Ella acho que o Grope teria alguma chance comigo.

Matt, Tiago e Daniella se encararam e depois caíram na gargalhada.

– Veja pelo lado bom – disse Rosa, para Alvo, observando os três rindo. – Acho que o Tiago está se esquecendo que devia estar chamando o Matt de Rabicho.

– É – assentiu Alvo, e depois virou-se para Grope, que brincava animadamente sob a luz da lua-cheia -, coisas assim só acontecem em noites de terror...


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Notas finais do capítulo

#TiagoGazelaLouca #AlvoEChãoEstãoNumRelacionamentoSério

Ok, guys, espero que tenham gostado porque esse é, provavelmente, o último capítulo calminho (tipo, não que possamos dizer que esse foi calminho né), porque no próximo já começa a correria em função do Mensageiro de Boráth. Isso aí, meu povo, danger is back u,u
Mas eeenfim, não esqueça de deixar o review se você leu o capítulo. Ou se não leu, também deixe um review, pra mim já basta u.u



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