Alvo Potter E O Mensageiro De Boráth escrita por Amanda Rocha


Capítulo 17
O Sr. e a Sra. Cattér


Notas iniciais do capítulo

Hey, guys, aqui estou eu com mais um capítulo. Esse capítulo foi mais pra mostrar a frustração que todos ficaram com o que aconteceu, eu pensei muito se colocaria ou não porque é só o imaginado, mas no fim achei que seria justo colocar, até porque, acredito, vocês irão se surpreender com a reação do Alvo.
Mas enfim, sem mais delongas, go ahead u.u



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Se você já viu como fica Godric’s Hollow na manhã de Natal, vai concordar comigo quando digo que é um dos lugares mais aconchegantes para se estar na manhã do dia vinte e cinco de dezembro. Pessoas se cumprimentando, crianças passando pelas casas e desejando feliz Natal de porta em porta. Os biscoitos que os vizinhos trocavam. As guerras de bola de neve e, talvez, o principal: a hospitalidade. Não havia uma única pessoa que pudesse reclamar da hospitalidade que havia no ar naquele dia. Claro que o vilarejo já era conhecido por ser um lugar calmo, tranquilo e de paz, porque as pessoas eram tão gentis quando podiam ser, deixando tudo com aquele jeito de que não existem problemas no mundo. Mas, na manhã de Natal, a pequena população conseguia se superar. Tudo era feliz. Tudo estava bem.

Porém, naquela específica manhã de Natal, era impossível dizer que aquele melancólico e desanimado vilarejo era mesmo o tão feliz Godric’s Hollow. Não havia crianças desejando feliz Natal pelas casas. Eram poucas as cozinhas com biscoitos nas mesas. E o único olhar que os aldeões dali trocavam ao se ver na rua era de pesar. E ninguém podia culpa-los, claro.

Assim que Alvo contara à seus pais que estava tendo sonhos seguidamente sobre um garoto lhe dizendo que “ele os levará”, Harry não duvidou um momento sequer do filho. Não achou que esse estivesse ficando louco ou que fora só um sonho. Talvez porque não havia outra explicação. O fato é que tanto a policia local trouxa quanto um esquadrão completo de Aurores foram acionados para a busca de Carlos e Lilí. Tio Rony foi com eles, mas Harry disse que ficaria para falar com os pais de Carlos, já que este desaparecera quando estava sob sua supervisão, em sua casa. O problema é que naquela hora da madrugada o Sr. e a Sra. Cattér já haviam partido para Liverpool. Foi um momento realmente desesperador até que Neville disse que, como era bem conhecido no St. Mungus, podia perguntar se sabiam em que hospital os dois estavam trabalhando.

A notícia do desaparecimento de duas crianças na casa dos Potter espalhou-se rapidamente pelos aldeões, e todos eles lamentavam muito.

Havia um ar realmente tenso na sala, enquanto os quatro Potter, os dois Weasley, os Longbottom e Daniella esperavam por Neville, sentados à mesa num silêncio sepulcral. Gina, que não era de chorar, estava com os olhos inchados, as mãos trêmulas, uma segurando uma xícara de chá e a outra agarrada à mão do marido como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Harry, que tinha enormes olheiras nos olhos, estava pálido, descansava o rosto na mão apoiada na mesa. Ao lado do pai, Tiago que ficara rouco depois de gritar por cerca de uma hora até o pai chegar, encarava sua xícara de chá como se quisesse explodi-la com os olhos. Daniella e Hugo pareciam ainda perplexos, como se ainda não tivessem absorvido o que havia acontecido. Rosa chorava em silêncio, os cabelos ruivos bagunçados cobrindo a maior parte do rosto. Alice encarava a parede oposta com seu olhar vago e triste. Já Luna olhava distraidamente para cada um, quase curiosamente, como se não soubesse por que todos estavam daquele jeito.

– Você está com fome? – perguntou ela à Alvo, calmamente.

Alvo ergueu os olhos para ela, para ver se não estava tirando sarro ou coisa assim. Mas ela estava séria, o que era estranho porque no meio daquela crise toda, “você está com fome?” não parecia ser a frase certa para quebrar o silêncio.

– Ãh... Não – respondeu ele, baixinho.

– Você devia estar – tornou ela, com um leve tom de interesse. – Não está com uma aparência nada boa.

Alvo a encarou novamente. Será que ela não entendia o que estava acontecendo? E se entendia, como conseguia ficar tão calma?

– Eu tenho biscoitos – continuou ela, observando Alvo com mais atenção.

De repente Alvo percebeu que realmente estava com fome. Não dormira nem comera nada desde que acordara de madrugada. Sua cabeça estava uma confusão, queria gritar, queria chorar, queria sair correndo e ao mesmo tempo somente ficar ali. Sentia raiva, sentia algo estranho pressionando seu coração. Era uma dor diferente, mas ainda assim forte. Talvez ele estivesse só imaginando, mas achou que talvez estivesse enfartando.

– É, acho que eu quero – respondeu ele.

Luna tirou da bolsa um biscoito e entregou para ele. Rosa ergueu ligeiramente a cabeça e encarou o biscoito. Luna deu um para ela também. Ficou tudo silencioso novamente, a não ser pelo barulho que Alvo e Rosa faziam ao mastigar.

– Sabe – Luna recomeçou, ignorando o fato de que ninguém ali parecia querer conversar -, acho que é realmente bom que esteja nevando lá fora. Assim fica mais difícil para os narguilés. Nessa época eles ficam insuportáveis...

Alvo, mais uma vez, ergueu os olhos para ela, irritado. Por que ela estava falando sobre isso?

Ele agradeceu que a porta se abriu, porque estava à ponto de começar a gritar com Luna.

Neville entrou apressado para a cozinha e estendeu um papelzinho para Harry.

– É aqui, O Plancho – disse ele. – Disseram que você pode usar a lareira.

Harry pegou o papelzinho e fez um aceno com a cabeça.

– Eu volto assim que puder falar com eles – anunciou ele, para ninguém em especial.

– Vou com você – disseram Alvo e Tiago ao mesmo tempo. Os dois se encararam, surpresos, e depois olharam para o pai, em expectativa.

– Não, os dois ficam – cortou o pai, virando de costas. – Vou falar com os pais de Carlos e depois vou direto para o Ministério.

– Carlos era... É meu amigo! – protestou Alvo, se corrigindo. Ele olhou suplicante para o pai. – Por favor.

Harry virou-se para ele e encarou-o nos olhos.

– Tudo bem – disse, lentamente. - Mas Tiago fica.

– O que?! – exclamou Tiago, rouco. – Não, vou com vocês! Que discriminação é essa?

– Tiago, não complique as coisas – respondeu o pai, fazendo um rápido aceno com a cabeça em direção à Gina, que agora segurava a xícara de chá com tanta firmeza que poderia quebra-la.

– Ah – compreendeu Tiago. Ele deu um muxoxo de impaciência e se contentou em voltar para a mesa e sentar-se ao seu lado, passando um braço pelos seus ombros.

Harry beijou a testa de Gina e sussurrou:

– Eu volto já.

Depois fez sinal para Alvo e este se dirigiu a lareira. Pegou um punhado de Pó de Flú e, após ler o papelzinho que o pai lhe estendera, entrou na lareira, jogou o pó no chão e disse, com a maior clareza que a sua ansiedade permitiu:

– O Placho.

A última coisa que viu foi o olhar um tanto que cobiçoso de Tiago por cima do ombro. Logo depois foi engolido pelas chamas verde esmeralda que o envolveram em um redemoinho de labaredas. Fechou os olhos, como sempre fazia, e se afogou com algo que entrou em sua boca. Um instante depois, parou de rodopiar e se viu no átrio de um enorme hospital.

Piso, teto e as paredes, tudo branco, assim como todas as lareiras que faziam a volta em todo um paredão, onde pessoas não paravam de chegar, trazendo pacientes nos mais horríveis estados possíveis: pessoas com um sangramento nasal tão grande que até o lenço enorme que estava tentando estancar o sangue do nariz estava encharcado, e era preciso um balde porque o lenço estava pingando; pessoas tendo o que Alvo imaginou ser uma convulsão, mas ao mesmo tempo cuspindo bolas de pelo; uma menina que parecia ter quebrado as duas pernas era carregada pelo pai, enquanto dava terríveis gritos de agonia;

Alvo, meio desgovernado, teve o bom censo de sair de sua lareira antes que outra pessoa o fizesse. As pessoas que saíam do paredão de lareiras deviam ser as que precisavam de atendimento urgente, e iam direto para um corredor mais no canto do lado de atendimento, onde um rapaz vestido de branco consultava sua prancheta e lhes dizia em qual porta entrarem.

Havia, ainda, algumas poucas pessoas que estavam esperando atendimento, sentadas em cadeiras pretas, lendo jornais ou fazendo qualquer coisa para se distraírem enquanto não eram atendidos. Tentando achar o pai no meio daquelas pessoas que saíam às pressas do paredão de lareiras, Alvo quase caiu quando alguém esbarrou nele. Era um casal jovem que estava praticamente correndo com uma criança no colo. O garotinho devia ser um pouco mais novo que Lilí, e – Alvo sentiu as entranhas revirarem quando viu – tinha uma varinha enfiada na goela. Os pais saíram correndo pelo corredor adentro.

– Aqui – chamou Harry, batendo no ombro do filho.

Alvo e ele seguiram calmamente até o balcão de atendimento, onde várias moças davam informações para as pessoas.

– Com licença – disse Harry, para a mais próxima. A moça imediatamente notou quem a chamara e soltara um gritinho animado.

Harry Potter!

– Olá – cumprimentou Harry, não dando muita atenção para a animação da moça. – Procuro pelo Sr. e a Sra. Cattér, são do St. Mungus, estão fazendo um serviço especial aqui.

– Ah, sim, sim – disse ela, fixando os olhos na cicatriz de Harry. Ela deu um suspiro. – Eles são realmente... Queridos.

– É, são mesmo – concordou Harry, com um tom de urgência na voz.

– Como você, Harry – prosseguiu a moça, como se fosse realmente próxima a ele. – Um poço de carisma...

– Ah, obrigado – agradeceu Harry. – Mas realmente preciso ver eles, pode me dizer onde eles estão? Não quero atrapalhar o expediente deles, mas acontece que é mesmo urgente. O filho deles...

– Ah, imagina, Harry – cortou a moça, fazendo um gesto com a mão. Depois ela pousou sua mão na de Harry e disse, num tom de voz muito gentil: - Você jamais atrapalharia...

– Hum... – fez Harry, tirando a mão, lentamente. – Então... Onde eles estão?

A atendente deu um longo suspiro e, após checar alguns papéis, apontou para o elevador, ali do lado.

– No andar de cima, sala oito – informou ela.

Harry agradeceu e guiou Alvo direto para o elevador. Quando os dois entraram, a porta se fechou. Harry procurou pelos botões, mas não os achou.

– Acho que tem que falar – disse Alvo, observando um quadradinho na parede. – Primeiro andar.

Uma luzinha vermelha se acendeu no topo do quadradinho.

Como quiser – respondeu uma voz feminina extremamente gentil.

Com um leve solavanco quase imperceptível, o elevador subiu para o andar de cima e, no instante seguinte, as portas se abriram. Se encontravam em um corredor vazio que, diferente do andar de baixo, não era completamente branco, as paredes tinham um papel de parede bege listrado de um leve tom de vermelho. Ao que Alvo agradeceu, porque não gostava nem um pouco de hospitais. Talvez fosse um pequeno trauma, pois quando tinha mais ou menos cinco ou seis anos ele tinha alguns problemas de má alimentação, e tinha que fazer consultas frequentemente. Desde então lugares brancos não eram os seus favoritos e, é claro, ele adquirira um ligeiro medo de tomar injeção.

Pai e filho andaram pelo corredor o mais silenciosamente que puderam (como o lugar era quieto, acharam que era a coisa certa a se fazer) e pararam em frente à uma porta com o número oito dourado. Harry deu três batidas e, quando já ia dar outras três, a porta se abriu.

– O que v... Harry Potter? – disse o Sr. Cattér, surpreso. Alvo só o vira uma vez, de relance, na estação de King’s Cross. Ele vestia um jaleco branco por cima de um suéter cinza e calças jeans. Aparentava ter lá seus quarenta anos, e tinha os cabelos castanhos assim como os de Carlos, porém bem mais alinhados que os do filho. Também não era muito alto (assim como Carlos também). – Digo... Sr. Potter... O que faz aqui?

– Harry, por favor. Será que podemos conversar? – pediu ele.

O Sr. Cattér pareceu não entender, mas concordou.

– Estamos com um paciente – disse o Sr Cattér, fazendo um sinal para a Sra. Cattér, uma mulher com um ar muito simpático de cabelos escuros e curtos, de óculos quadrados e um jaleco branco igual ao do marido. Ela deu um rápido aceno. Alvo correu os olhos para a cama (a sala era, na verdade, um quarto de hospital) e viu uma menininha de uns sete anos dormindo serenamente, assistida pela Sra. Cattér. – Mas entre, Harry, pode entrar e... Alvo! Como vai?

Alvo o cumprimentou, mas quando o Sr. Cattér olhou para os lados à procura de mais alguém (provavelmente Carlos), Alvo teve certeza de que ele soube já naquele instante que havia algo muito ruim acontecendo. A Sra. Cattér abriu a porta e os dois entraram, meio sem jeito. Alvo só imaginava o quão ruim deveria ser para o pai ter que dar uma notícia dessas. O Sr. Cattér apontou para uns banquinhos, e Harry e o filho sentaram.

– Ela é uma paciente especial – explicou a Sra. Cattér, apontando para a garotinha na cama. – É órfã... E tem um caso sério de câncer de esfinge.

– Câncer de esfinge? – Alvo deixou escapar.

– É – confirmou a Sra. Cattér, séria. – É raríssimo, e há tabus que dizem ser contagiosa. Uma bobagem, é claro. Mas achamos que é por isso que a família a abandonou. Infelizmente, ainda não existe a cura definitiva, mas há vários tratamentos que podem ajudar a prolongar o período de estabilidade.

Alvo assentiu, entendendo.

– Bom, é realmente uma pena temos que ficar sem o Carlos em pleno Natal – prosseguiu ela, com um leve suspiro. Depois virou-se para a menina dormindo e abriu um pequeno sorriso. – Mas achamos que vale a pena largarmos Carlos por apenas uma noite para passar um dia tão especial com alguém que nunca tem companhia... Mas e onde está o Carlos? – perguntou ela, com um sorriso amigável.

– Sobre isso... – começou Harry, a voz falhando. Ele pigarreou e continuou: - É sobre isso que queremos falar. Ahn, eu nem sei por onde começar... É melhor... É melhor sentarem.

O Sr. e a Sra. Cattér se entreolharam, depois se acomodaram na outra cama que havia na parede oposta. Seguraram um a mão do outro e olharam para Harry, receosos.

– Ontem... Ontem à noite... – prosseguiu Harry que, Alvo notou, estava tendo dificuldades em olhar os pais nos olhos. – Depois que todos fomos dormir... Me acordei com o barulho de Alvo. Ele estava procurando por Carlos e a minha filha, Lílian. Mas eles não estavam em lugar nenhum...

A voz de Harry vacilou e Alvo achou que ele fosse chorar. Num súbito impulso, tomou a dianteira:

– Procuramos por todos os lugares – seguiu o garoto, tirando coragem sabe-se lá de onde para encarar o Sr. e a Sra. Cattér. – Na casa e em toda Godric’s Hollow. Chamamos a polícia e os Aurores, mas... Ninguém os achou. Então eu lembrei que tive um...

Mas ele também parou. Como diabos ia dizer que um exército inteiro de aurores estava se baseando no sonho de um garoto? Seu pai acreditou, mas isso é diferente, o Sr. e a Sra. Cattér não pareciam ser do tipo que acreditavam muito nessas coisas que os bruxos geralmente levavam em conta.

– Meu filho teve um sonho – continuou Harry, com a voz mais firme. – Um sonho que já estava tendo há um tempo. E nesse sonho um garoto vinha lhe dizer a frase “ele os levará”, e nós acreditamos que ele estava falando de Bob Rondres...

Antes que Harry pudesse terminar, a Sra. Cattér caiu no choro. Um choro desesperado e angustiado. O Sr. Cattér, completamente perplexo, a abraçou e olhou para Harry, sem saber o que fazer.

– Eu sei que pode não parecer – Alvo começou, achando que devia dar uma explicação, porque soou muito idiota dizer sobre o sonho daquele jeito -, mas esse sonho realmente mexeu comigo. Não consigo explicar, mas senti que era verdade. Já tive sonhos assim e... Não precisam acreditar, só...

– Para – cortou o Sr. Cattér, quase num sussurro. Alvo imediatamente se calou, esperando que o pai de Carlos começasse uma torrente de xingamentos contra ele. Mas isso não aconteceu. Ele piscou os olhos e continuou, baixinho: - Acreditamos... Acreditamos no que diz...

Alvo, meio aturdido, balançou a cabeça, agradecendo. Ninguém falou nada por um tempo e o único barulho ali foram os soluços abafados da Sra. Cattér. Alvo achou que o Sr. Cattér devia ser um homem muito forte, que não gostava de chorar, exatamente como Carlos. Porque o seu pai havia chorado por um bom tempo assim que voltou do Ministério, de madrugada.

– Eu sei que é difícil – Harry quebrou o silêncio, lentamente. – Estou passando pelo mesmo... Eu sei que pedir desculpas não bastará, porque o sofrimento por um filho não pode ser suprido com palavras. Ou melhor... Com basicamente nada. Mas quero que saibam o quanto eu sinto pelo que aconteceu. A barreira de proteção é ativada vinte e quatro horas... Mas eu desativei por algumas horas, porque chegariam muitos parentes... Esqueci de ativar novamente quando eles foram embora. Nunca imaginaria que Bob Rondres ousaria chegar sequer perto da nossa casa... Mas eu o subestimei... Imagino que ele estava à espreita, esperando eu me descuidar... E foi o que fiz.

– Não há por que se desculpar, Harry – tranquilizou o Sr. Cattér, que, Alvo não sabia como, parecia ser o mais calmo naquele quarto. Claro, estava completamente perplexo, mas mantinha a calma. – Não foi sua culpa.

A Sra. Cattér soltou um gemido na direção de Harry, ao que todos consideraram como alguma palavra de concordância com o marido.

– Confiamos em você, Harry – prosseguiu o Sr. Cattér, com a voz um tanto que embargada. Ele mirou Alvo. – Nos dois.

– Obrigado – agradeceu Alvo.

– Eu juro, Sr. Cattér – começou Harry, mas o homem o interrompeu.

– Paul – corrigiu ele. – Me chame de Paul.

– Paul – prosseguiu Harry, se levantando. – Eu juro que vou dar o meu melhor para trazer nossos filhos de volta.

– Eu agradeço, Harry, sei que vai – respondeu o Sr. Cattér, um tanto que triste.

– Não precisam se preocupar antecipadamente – tentou acalmar Harry, mas ele não era o melhor nisso. – Quer dizer, não vão ter... Ãh... Bem, o fato é que acreditamos que Rondres os quer de isca. Para ter o Alvo.

O “acreditamos” certamente não se referia a ele e Alvo, pois o garoto sequer havia pensado nisso. Agora que o pai falara fazia todo o sentido. Rondres tinha experiência o bastante para saber que um dos pontos fracos de Alvo era a lealdade. O bruxo viu isso dois anos atrás, quando ele se jogou na frente do irmão para protegê-lo.

– Já temos uma boa ideia de onde ele esteja – continuou Harry, se dirigindo mais para a Sra. Cattér, que foi se acalmando aos poucos. Alvo prestou bem atenção porque o pai não falara nada disso a ele. – É provável que esteja no exterior, mas acreditamos que ele vá deixar pistas, porque quer o Alvo, entende?

Os dois assentiram e olharam para Alvo com tanta compaixão que o garoto não compreendeu. O filho deles acabara de desaparecer e eles estavam... Com pena dele?

– Eu sinto muito – murmurou ele.

– Está tudo bem – disse a Sra. Cattér, limpando as lágrimas. – Acontece que ele é o nosso único filho, entendem? É difícil...

– É, graças a Deus eu tenho Alvo e Tiago – concordou Harry, dando um tapinha no ombro do filho. – Bem... Temos que ir agora, mas... Sério, se quiserem qualquer coisa... Sabem onde fica a minha casa...

O Sr. Cattér os levou até a porta e eles se despediram. Alvo se sentia péssimo. As palavras do pai martelavam em sua cabeça “... Rondres os quer como isca. Para ter o Alvo.”. Mais uma vez era por sua culpa. Claro, Rondres não poderia ter pego Alvo, seria difícil demais, e a notícia se espalharia muito rápido, seria perigoso para ele próprio. O que não explica o fato de ter pego Lilí, pois todos adoravam a filhinha dos Potter.

Harry devia estar realmente nervoso após essa conversa, pois voltou com Alvo até a lareira em silêncio. Alvo pegou um punhado de Pó de Flú que se encontrava em um pote em um suporte logo acima da lareira.

– A casa dos Potter! – disse, jogando o pó no chão.

Fechou os olhos assim que sentiu as labaredas verde esmeralda dando lambidas de fogo. Girou no meio daquela confusão de chamas e poeira e, ao abrir os olhos, se deparou com Gina Potter gritando com o filho à altos brados.

– VOCÊ NÃO VAI, ENTENDEU?! NÃO VAI!

– NÃO PODE ME IMPEDIR! – retrucou Tiago, no mesmo tom. – NÃO SOU MAIS CRIANÇA!

– AINDA É MEU FILHO! E MORA SOB ESTE TETO! EU MANDO EM VOCÊ!

– ENTÃO EU FUJO DE CASA!

– SE ATREVA!

Alvo mal teve tempo para entender o que estava acontecendo, pois seu pai se materializou na lareira o empurrando para fora. Os dois cambalearam e quase caíram.

– O que está acontecendo? – perguntou Harry, sem entender.

Seu filho está me desrespeitando, como sempre! – guinchou Gina, desatando a chorar.

Harry a abraçou e olhou para Tiago, em indagação. O filho passou a mão no rosto, cruzou os braços e disse, calmamente:

– Vou com você.

– Aonde? – Harry estranhou.

– Para a missão – explicou Tiago. – Vou ajudar achar Lilí e Carlos.

– O quê?! – exclamou o pai, tentando adivinhar se aquilo era uma brincadeira ou não. – De onde diabos você tirou isso?

– Se o Tiago vai eu também vou! – garantiu Alvo. – Lilí também é minha irmã, e o Carlos é meu amigo!

– Parem com isso, ninguém vai! – cortou Harry.

Tiago soltou uma exclamação desesperada.

– Tenho quinze anos! – esganiçou-se ele. – Nessa idade você fundou a Armada de Dumbledore! Tenho o direito de...

– Não – interrompeu Harry, calmamente. – Já disse que ninguém vai, não me importa a idade. É perigoso p...

– Que hipócrita! – explodiu Tiago, colocando as mãos na cabeça. – Você vem nos falar sobre perigo quando você é Harry Potter!

– Exatamente – prosseguiu Harry que, Alvo não entendia como, continuava mantendo a calma diante do filho espraguejando daquele jeito. – Não quero que vocês passem pelo que eu passei.

– É, acho que é um pouco tarde para isso – disse Alvo, sarcástico. – Devia ter dito isso para Sibila Trelawney no dia em que ela fez a minha Profecia.

Harry levantou o dedo para os filhos, mas não disse nada. Tiago e Alvo agora o encaravam tão bravos que era difícil explicar a magnitude do que estava se passando.

– Escutem – ele começou, fechando os olhos. Reabriu-os e se voltou para Alvo: - Sei que não posso evitar que você passe por... Certas coisas. Muito menos você, Tiago. Mas quero que entendam que para mim... Olha, não quero ver mais um filho meu em perigo. O fato de a Lilí ter sumido já é... Terrível... Não suportaria se algo acontecesse à vocês também.

Alvo entendia o que o pai falara, mas isso não fazia com que se sentisse melhor. Se Rondres pegara Lilí e Carlos como isca... Então era culpa dele.

– Ótimo, nos tranque em um quarto enquanto você vai salvar o dia – resmungou Tiago, e saiu pisando forte escada acima.

Daniella foi atrás dele, e só então Alvo notou as pessoas ali no canto. Neville, Luna, Alice, Rosa e Hugo estavam espremidos em um sofá ali, aparentemente apenas observando a briga (ninguém seria louco de se meter).

Alvo dirigiu um olhar de pena à mãe e se virou para o pai, não sabia dizer se estava bravo com ele ou simplesmente decepcionado. Se virou e seguiu para fora da casa. Um gnomo atravessou seu caminho, xingando, mas Alvo sequer o chutou. Continuou andando e escorou-se no muro, o lugar pra onde ele ia sempre que queria pensar. Era, também, o lugar onde encontrou Brubock. Olhou para a rua. Quase não havia ninguém passando por ali. Ele encarou, irritado, o exato ponto em que o garotinho sumira quando se viram pela primeira vez. De repente percebeu que também estava bravo com Brubock. Se não fosse ele e seus avisos Alvo não ficaria tão paranoico. E nem saberia onde Carlos e Lilí provavelmente estariam. Com tantas pessoas no mundo, fora logo Rondres quem os sequestrara. Que maravilha, pensou, acho que não estou destinado a ter uma vida comum.

– Eles estão voando sobre a sua cabeça, você sabia?

Alvo se virou e se deparou com Luna usando espec... Espectri... Bem, aqueles óculos que Alice usava frequentemente, cujo nome Alvo tinha uma certa dificuldade para lembrar.

– Hã? – perguntou.

– Os zonzóbulos – prosseguiu ela, calmamente. – Tem um monte na sua cabeça.

– Ah – fez Alvo, e virou-se para o muro. Depois, achando que seria muita falta de educação, acrescentou: - Deve ser por isso que estou tão confuso.

– É, é o que eles fazem – concordou Luna. Ela se aproximou e se escorou no muro junto com o garoto. – Eu percebi que você não chorou.

Alvo a olhou, não entendendo se aquilo fora uma gozação ou não. Mas Luna não era desse tipo.

– É, eu segurei as lágrimas – respondeu ele.

– Não devia fazer isso – disse Luna, o encarando, séria. – Não é legal esconder os sentimentos.

– Seria mais fácil se eu soubesse o que estou sentindo – explicou Alvo, desviando o olhar.

Luna o fitou por um tempo.

– Não acho que este seja o caso, Al – prosseguiu ela, lenta e gentilmente. – Acho que você só não quer encarar o que está sentindo. Porque está cansado de sentir medo.

Vindo de outra pessoa, a parte do medo teria irritado Alvo de um jeito extremamente chato, mas, por alguma razão, Luna conseguia falar sobre coisas assim e ainda fazer parecer natural.

– Está tão óbvio assim? – perguntou ele, encarando uma pedra particularmente interessante.

– Não – negou Luna, olhando para um ponto qualquer no chão. – Mas eu conheço você. Não gosta do que você é. E não gosta do que sente. Porque isso faz de você o mesmo garotinho chorão de sempre.

– Poxa, você realmente me conhece – riu ele. E não sabia por que estava rindo, porque aquilo não fora engraçado. Mas percebeu que rir era melhor do que ficar de cara fechada encarando uma pedra (por mais interessante que esta fosse).

– Não há nada de errado em ser você – continuou Luna, colocando uma mão no ombro do menino. – Assim como não há nada de errado em ser eu. Todos somos diferentes, Alvo...

– É, acho que o meu diferente não é assim tão bom – interrompeu ele, com um nó na garganta.

– Não existe diferente melhor que outro – retorquiu a loira, calmamente.

– E Bob Rondres?

– Também é diferente – confirmou ela. Alvo a encarou, perplexo. – Só é possível distinguir a bondade por causa da maldade. Assim como a luz, só sabemos dela quando há trevas. Nada é por acaso, e acredito que haja um motivo para tudo. Até mesmo para a maldade no coração de Rondres. O problema é que as pessoas insistem em rotular tudo o que veem, sem saber o mal que isso faz. No final é só a diferença. Nem boa, nem ruim, apenas diferente.

– Minha diferença faz um péssimo trabalho como diferença neutra – retucou Alvo.

– Não existe diferente melhor que outro – repetiu Luna, sorrindo calmamente. – Seu irmão é melhor que você?

– Isso foi uma afirmação?

Luna o encarou, séria.

– Talvez... Não. – Disse ele, rapidamente, vendo o olhar dela. – Somos iguais.

– São diferentes – corrigiu Luna. – Ninguém é igual a ninguém. Como o mundo seria se todos fossem iguais?

– Um lugar melhor? – sugeriu ele.

– Claro que não! – Retrucou a loira, visivelmente irritada. – V0cê não gosta de você, não gostaria do mundo se fosse feito só de Alvos!

– É, esse lugar estaria perdido – disse ele.

Ele tentou olhar para Luna sério, mas acabou rindo, acompanhado por ela. Os dois voltaram a encarar a pedra.

– Só gostaria de poder fazer alguma coisa – disse ele, depois de um tempo. – Além de assistir meu pai ser o herói no Ministério.

– Você não precisa fazer nada, Alvo – interrompeu Luna. – A não ser que queira. Mas não porque está cansado de ficar em segundo plano. Já fez isso uma vez, lembra?

Alvo sabia exatamente do que ela estava falando. Certamente ficara sabendo do tempo em que ele bancara o maior idiota do mundo tentando dar uma de bambambã.

– É, não sirvo muito pra esse tipo de coisa – concordou.

– Eu não acho que alguém sirva – objetou ela. Pôs a mão no ombro do garoto e olhou diretamente em seus olhos. – Eu sei do que você é capaz, Al. Sei o que está escondido bem aqui.

Luna tocou o lado esquerdo do seu peito. Alvo concordou, mas depois notou que não havia entendido.

– Espera, o que é?

A loira deu uma risada um tanto que exagerada, como se Alvo tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo – o que fez o garoto rir também, pois não tinha futuro algum como humorista –, depois se recompôs e respondeu:

– Quando descobrir vai entender.

– Mas entender o que? – insistiu ele, confuso.

– Com o tempo...

Alvo ia tornar a perguntar, mas lembrou que não conseguia argumentar contra Luna. Simplesmente concordou e fingiu não estar se mordendo de curiosidade. Voltou a observar aquela pedra.

– Eu entendo o que você está sentindo – a bruxa quebrou o silêncio.

– Então me diga porque no momento é a maior questão da minha vida.

– Ela é minha afilhada – Luna o encarou. – E gosto do Carlos tanto quanto você, embora não o conheça muito bem.

– O mais engraçado... – começou Alvo, quase sussurrando – é que eu sequer consigo chorar agora. Quer dizer, era o mínimo que eu deveria fazer, mas não. Sou a pessoa mais insensível do mundo. Sou um sem coração e um grande idiota. Sou um...

– Já entendi – riu Luna. Depois colocou as duas mãos no rosto de Alvo, delicadamente. – Você é o menino mais querido que conheço. E... Em vez de seguir o padrão e chorar como os outros... Devia fazer algo diferente, que fizesse você se sentir bem.

– Como... Caçar zonzóbulos? – arriscou ele.

– É – concordou ela. – Ou evitar que o seu irmão fuja de casa.

Alvo deu uma risada e concordou. Luna lhe deu um abraço e voltou para dentro. O garoto decidiu ficar por ali mais um pouco e se pôs a encarar a pedrinha no chão outra vez. Depois suspirou, olhou para a janela do quarto de Tiago, pensando nas possibilidades que o irmão teria de pular dali e rumar para o Ministério da Magia escondido, e deu uma risada.

Antes de voltar para dentro da casa, Alvo deu um último olhar para a pedra que ficara encarando e, com um sorriso leve no rosto, achou que estava começando a entender o que Luna havia falado...


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Notas finais do capítulo

Então é isso, agora é só esperar o Harry bancar o salvador do dia e achar uma solução para essa coisa toda. Isso, é claro, se não bater uma loucura no Tiago e o boy fugir de casa e levar o Alvo na mochila, porque né... Mas enfim, o próximo capítulo é "Thriller Night" que vai ter a aparição de um personagem que eu realmente amo.
Ok, obrigada pelos reviews e, é claro, não esqueçam de tomar vacina contra câncer de esfinge.
See you soon, guys :3



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