Verdade escrita por Juliano Adams


Capítulo 10
Capítulo X - Indecisões


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco devido ao capitulo ter uma cena meio complexa... Bem, sem spoilers, rs. Capítulo postado! divirtam-se.



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O filme era eletrizante em cada momento, mas isso não parecia importar para Ivan, que não parecia tão interessado assim naquele filme, ao contrário de Thomas, que se emocionava com cada único momento. Havia tempos em que ele simplesmente pulava na poltrona e se apoiava em seus braços como se temesse que o que aparecia na tela saísse de lá para assustá-lo. Era tão real, as sensações tão verdadeiras que Thomas se sentia no filme. Por vezes, tinha que segurar-se para não gritar, por três vezes não conseguiu, e foi repreendido por chiados do público que estava na sala. Sentiu-se mal.

–Primeira vez no cinema? – Sussurou Ivan baixinho em seu ouvido, enquanto o envolvia com um de seus braços e fazia Thomas apoiar a cabeça em seu peito. Thomas se sentiu confortável, e passou o restante do filme naquela posição, sentia o coração de Ivan batendo forte, e seu perfume doce envolvia sua mente, fazendo-o sentir prazer em meio aquele cheiro.

Quando a película acabou, o grupo encontrou-se na praça de alimentação. Regina e Lorenzo haviam se dado bem, os dois reagiam de forma semelhante a filmes de terror: riam e debochavam incansavelmente das figuras criadas para serem assustadoras. Regina não se assustava com facilidade, Lorenzo tampouco. Os dois perceberam que tinham muitos interesses em comum, após minutos de conversa que a Thomas e Ivan pareceram desinteressantes.

–Eu e su prima vamos cenar juntos, coneço um restaurante muy bom aquí em este shopping. Vocês vêm conosco?

Thomas e Ivan se entreolharam, e com um sorriso de cumplicidade perceberam que seria melhor deixar aqueles dois à sós... Aqueles sotaques diferentes ainda tinham muito que conversar.

–Não... Não... Eu já vou indo pra casa, seu tio não quer que eu fique fora até muito tarde, principalmente porque meu pai pode ficar bravo. – Negou Thomas se dirigindo a Regina.

–Ai Tom, tá tarde, eu não quero que você volte sozinho. – Culpou-se Regina, oferecendo-se para deixar Thomas em casa.

–Não... Eu me viro bem, sei o caminho, aproveite o jantar.

–Eu te levo até em casa. Eu to de carro. – Ofereceu Ivan, sorridente.·.

Thomas gelou, não sabia se devia aceitar, não sabia se realmente queria ficar sozinho com Ivan. Mas no fundo não tinha outra opção, acabou admitindo, afinal não queria estragar o encontro de Regina, que parecia estar se dando tão bem com Lorenzo.

O carro de Ivan era confortável, e o rapaz dirigia bem, Thomas se sentia seguro, apesar de ainda ter um pouco de receio de sua presença.

–Então... Algum problema com os pais? – Disse Ivan de súbito, Thomas notou seu olhar inquisidor refletido no parabrisa.

–ah? - Thomas não fazia ideia do que Ivan falava.

–Eu vi você reclamando sobre seu pai ficar bravo, algo assim. – Citou Ivan com desinteresse.

Thomas deu de ombros, Ivan era curioso demais, não sabia se devia contar tudo o que acontecera a ele. Não, definitivamente não. Ivan ainda era um estranho, e não o revelaria nada íntimo.

–Bem.... Meu pai é bem rígido sabe... Ele me mandou para a capital para passar as férias, e não gosta muito que eu fique saindo. - Respondeu Thomas fazendo pausas entre as palavras, como se quisesse pensar um pouco.

–Hmm, é interessante, a maioria dos pais leva os filhos da capital para o interior, e não o contrário. – Comentou Ivan, com sua voz desinteressada. – Aconteceu algo de especial? Andou aprontando?

Ivan era muito curioso, em excesso. Nunca revelava nada sobre si mesmo, mas estava fazendo perguntas demais sobre a vida de Thomas, ao mesmo tempo em que todo aquele mistério o encantava e admirava, aquela curiosidade o causava desconforto.

–Não.... Nada que valha a pena se comentar. – Encerrou Thomas, reunindo a coragem para usar uma voz mais grossa, que acabou soando artificial demais. Ivan soltou um risinho. Thomas se constrangeu.

–Hmm entendo. – Afirmou Ivan, dando de ombros. – Mas está gostando daqui?

–Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas sinto saudades de lá. – Respondeu Thomas, lembrando-se de tudo que fora importante para si, havia deixado naquela pequena cidade no interior.

–Deixou algo importante lá? – Perguntou Ivan, como sempre questionador.

Thomas sentiu que precisava mentir para mudar de assunto.

–Não, é só a saudade mesmo, nunca saí de lá por tanto tempo, não tinha percebido como é diferente.

–Sei... – Respondeu Ivan com desinteresse aparente, como se quisesse que Thomas tivesse respondido mais.

–Mas.... Aqui até que é legal sabe... Eu gosto do mar, e do movimento, de onde eu venho não tem tanto isso.

Ivan sorriu.

–Talvez eu possa te mostrar a praia um dia. Vai ser divertido mergulhar com você. – Sugeriu o rapaz com um risinho.

–Chegamos. – Anunciou ele. Thomas sentiu-se feliz por não ter que responder a última afirmação.

–Até a próxima então. – Despediu-se Thomas enquanto Ivan abria a porta e o segurava pela mão, um gesto de cavalheirismo.

Thomas subiu até o apartamento, os tios haviam adormecido enquanto assistiam televisão, nem perceberam sua chegada. Tomou banho, comeu alguma coisa e foi se deitar.

Dormir não conseguia, um furor novo surgia em suas entranhas cada vez que cheirava a camiseta que usara ao sair. Aquele perfume doce estava impregnado em seu tecido. A sensação de sua cabeça contra o peito de Ivan também não o abandonava, como se ainda estivesse ali naquele momento, quando sentia medo ele o abraçava, quando ia cair no escuro e ele o segurava. Sentiu-se feliz, depois de semanas de tristeza, como se finalmente tivesse aportado naquele porto seguro em meio ao mar tempestuoso e de escuridão. Mas ai pensou em Pedro, uma luz que estava no passado, não queria que Pedro estivesse no passado, não queria que Pedro estivesse tão distante naquela visão. Mas em sua visão era como se Pedro o ignorasse, como se ele não respondesse, apenas Ivan o respondia. Mas é Pedro que eu amo

Thomas chorou.

***

Ele abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi a face sorridente de Carolina bem perto de seu rosto, tão perto que podia sentir a respiração da garota.

–Bom dia! Bom dia! Bom dia! - Cumprimentou ela, com seu sorriso infantil e sua alegria rotineira. Pedro ainda estava zonzo de sono, e tropeçou em alguns móveis da casa. Foi aí que se tocou que devia responder:

–Bom dia... – Falou, com a voz sonolenta.

–Eu preparei o café da manhã: está na mesa, espero que goste.

O cheiro de canela era contagiante, Pedro se dirigiu a cozinha e viu de onde o aroma emanava: um prato cheio de panquecas ainda quentes, cobertas com uma geleia de morango. Carolina podia ter seus defeitos, porém cozinhava muito bem. Pedro fez diversos elogios, que fizeram a garota corar e sorrir.

Quando chegou a hora de ir, Carolina se ofereceu para acompanhá-lo até em casa, Pedro a principio negou, Carolina insistiu, e ele concordou que ela o acompanhasse durante parte do caminho.

Ela andava em passos rápidos, eufórica, ora falando das coisas ao redor, ora contando histórias sobre sua vida e as coisas que aconteciam com amigos e pessoas conhecidas, de um assunto pulava para o outro, quase que imprevisivelmente, Pedro não sabia como alguém podia falar tanto e tão pormenorizadamente de assuntos tão distintos. Quase não prestava atenção no que ela falava, devido a tanta informação. No final, apenas lembrou-se de que Carol contava de um episódio que ocorrera em sua infância, de um antigo namorado de Juliana e da beleza dos campos da zona rural da cidade, tudo ao mesmo tempo, interligando os assuntos de uma forma que embaralharia a mente de qualquer um. Thomas apenas assentia ou negava, com “sins” e “nãos” cada vez que Carol dava uma pausa em sua fala. Quando deu por si, estavam indo a um lugar totalmente estranho a Pedro, que conhecia tão bem aqueles arredores.

–Ei, espera, minha casa fica para o outro lado! – Exclamou ele, fazendo menção de virar-se e continuar o caminho desta vez na direção certa.

–Ué, eu te falei que ia te mostrar o laguinho das cerejeiras, que fica num campo aqui perto, é um lugar lindo lá na zona rural, mas pouca gente conhece, eu te contei que foi onde quase me afoguei quando tinha seis anos? E também foi o mesmo lugar que o Renato, sabe aquele alto? Ele pediu a Juliana em namoro lá ano passado.... Pedro você tá prestando atenção no que eu to falando?

–Sim, sim, desculpa, eu acabei me distraindo... – Desculpou-se Pedro tentando se lembrar do que a garota dissera.

–hmm, sei. Mas, então, estamos chegando, é por aqui. – Informou ela seguindo ainda mais rápido, Thomas teve que dar uma corrida leve para alcançá-la.

A trilha que seguiram terminava num pequeno bosque: uma área erma, distante de qualquer ponto habitado. Um lago de plácidas águas cerúleas repleto de arvores floridas ao seu redor. Pássaros cantavam num ritmo bucólico enquanto aqui ou ali algumas ovelhas pastavam no horizonte.

–Que lugar lindo! Estranho é eu não ter vindo aqui nunca! Eu sempre explorei os campos daqui! – Exclamou Pedro fascinado pela beleza do ambiente intato.

–Assim é a vida, por mais que pensemos que já sabemos tudo, sempre há algo novo a descobrir. – Refletiu Carolina, observando o lago.

–Que frase bonita. – Comentou Pedro sorridente, e de repente percebeu que Carolina podia ser uma pessoa bem mais interessante do que a garota tola que ele tinha imagem. Carol era sensível, reflexiva. A maneira com a qual ela contemplava a simplicidade da natureza, e via beleza naquelas pequenas coisas, como as pequenas flores silvestres e as pedrinhas da beira do lago. Pedro via tanto de si em Carolina. Identificava-se com todo esse amor às coisas simples. Por outro lado, ao mesmo tempo sua puerilidade, seu aspecto risonho evocavam a personalidade de alguém que Pedro guardava em parte de seu coração. Aquela maneira boba de se expressar, o jeito alegre e simplório de falar... Pedro via todas aquelas qualidades como necessárias para completá-lo.

–Sabe, eu costumo vir aqui desde criança... Brincar com as flores, com as borboletas... Relaxar, resplandecer... Você e o Thomas, vocês tem sorte de serem filhos únicos.... Crescer com quatro irmãos é difícil... Eu era como se fosse apenas mais uma, como se fosse apenas uma cópia e houvesse outros iguais a mim... Eu mal sabia quem eu era, eu não tinha uma identidade de mim mesma. Por isso gostava de vir aqui, ficar sozinha, pensar por mim, apenas com a natureza me acompanhando, eu podia ser mais eu... Sabe? – Carol revelava seus sentimentos a Pedro, que se encontrava fascinado pela sensibilidade da garota. Pedro a compreendia. A sensibilidade era seu ponto forte, Pedro gostava de pessoas sensíveis, seu desejo de ajudá-las, de fazê-las se sentirem completas, melhores e protegidas, era um sentimento gritante em seu peito. Sentou - se ao lado de Carol, e a envolveu com um dos braços.

–É lindo aqui... Não é a toa que vinha aqui para pensar... É quase um pequeno pedaço do paraíso... – Admirou-se Pedro, pensativo, contemplando a paisagem. –Eu também amo a natureza... Sabe, acho que temos muito em comum.

Os dois se olharam por longos segundos, cada célula do corpo de Carol tremia, o sangue corria acelerado por suas veias, era iminente que o havia conseguido. Pedro se aproximou, fora de si praticamente, se levava pelos pensamentos, pela imagem que tinha dela... Tão doce tão sensível... Os lábios dos dois se encontraram, e se deixaram levar pelo que sentiam, O beijo durou apenas alguns segundos, porém foi intenso em sua duração.

–Eu não, desculpe... Eu... – Pedro parecia confuso, achou que Carolina ficaria brava, não queria ter feito aquilo, só queria voltar alguns segundos no tempo e ter agido diferente. Mas agora era tarde.

–Shhh, Tudo bem. – Assentiu Carol, que parecia tranquila, ao contrario de Pedro que lutava com todos aqueles sentimentos antagônicos confrontando em seu âmago, Carol apenas queria deixas os acontecimentos fluir, pois finalmente estava perto de seu objetivo. Seus lábios chiaram como se pedisse silencio ao rapaz confuso, e então passou a beijá-lo e o envolvê-lo com os braços, Pedro, sem reação, assentiu, deixando-se levar pela sensação de prazer que a situação proporcionava, permitiu que Carol passasse por cima de seu corpo e acariciasse seu peitoral com as mãos, enquanto trocavam beijos cheios de deleite.

–Não... Eu... Eu tenho que ir. – Exclamou Pedro com respiração arfante e voz nervosa, levantando-se e despedindo-se de Carol, que sorridente e ofegante deitou-se a beira do lago, num sentimento de missão cumprida.

A mente de Pedro estava mais confusa do que nunca. Chutou a porta ao chegar em casa, deitou-se na cama, derrubando tudo o que havia em cima dela, não sem antes esmurrar com toda sua força um dos travesseiros, e então urrar de raiva. O que estava sentindo? Por que estava sentindo isso? Era certo? Errado? Não sabia nem o que estava acontecendo consigo. Aquela voz doce, aquele jeito suave haviam lhe arrebatado de tal forma que saia de si, aquele momento em que seus lábios se tocavam, parte de si queria voltar e reviver tudo, com mais intensidade ainda se possível fosse. Mas parte de si dizia que ele estava errado, não deveria entregar-se aquela tentação, era tão bom e tão errado assim, como é possível? Tanto prazer e tanta culpa... Dois sentimentos lutando entre si dentro de seu imo. Queria entregar-se a Carol, deixar-se levar por aquele fogo que se acendeu no momento que se beijaram, mas algo o prendia, alguma coisa não queria deixá-lo ir, um sentimento do passado ainda o impedia de entregar-se àquela garota. Mas será que o lugar do passado, não é justamente o passado?


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Notas finais do capítulo

E ai, curtiram? Não deixem de comentar e dar sua opinião, sugestões também são bem vindas!