Verdade escrita por Juliano Adams


Capítulo 9
Capítulo IX - Encontros


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo pessoal!! agora de capa nova :D :D Mais um capitulo para vocês! Espero que gostem! E por favor não deixem de comentar! Comentários são sempre bem vindos!



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Capítulo IX - Encontros

Já passava do meio dia quando Thomas acordou, a cabeça ainda lhe doía um pouco, e os músculos também. “não me lembro de ter bebido” pensou para si mesmo. Enquanto se vestia e se levantava. Mas foi com um banho de água gelada que o cansaço passou, levando com ele o sono e o desconforto.

Logo após ter terminado de almoçar/tomar café da manhã, o telefone de Regina tocou. A prima estava no banho. Thomas sentiu uma indecisão mortal, mas decidiu deixar o aparelho tocar. Assim aconteceu por duas vezes. Na terceira Regina gritou:

–Tom, atende aí! Quem quer que seja, diz que eu to no banho!

Thomas sentiu um pouco de vergonha, mas obedeceu a prima, e atendeu o aparelho:

–Alô? –Saudou num tom de curiosidade.

–É você Thomas? – Thomas reconheceu imediatamente a voz e por alguns minutos sua mente praticamente parou de funcionar. Sentiu como se estivesse voltado algumas horas no tempo, e viu o rosto de Ivan sorrindo para ele novamente. – Sua prima pediu pra ligar para esse número caso eu quisesse falar com você.

–É... sou eu sim. – Murmurou Thomas com uma voz um tanto hesitante.

–Poisé...Ahn, então. Eu liguei pra combinar da gente sair... Sei lá, você gosta de cinema? Ou prefere um parque, algo assim?

–Sair...Ah, como assim? – Thomas praticamente estava com as pernas bambas.

–Ué...Sair... Passear.... Conhecer a cidade, se conhecer melhor. A gente mal se falou ontem.

–Ahh... Poisé...

–E... Então?

–Então o que? – Perguntou Thomas alarmado.

–Ué... Você topa sair comigo, ou não topa? A Regina pode ir junto, tenho um amigo para acompanhar ela se ela quiser. Eu pensei em ir no cinema, tem um filme ótimo em cartaz. Vocês curtem terror?

–Bem... Eu... Eu vou falar com ela daí. Eu... Eu... quem sabe. – Disse Thomas desligando o aparelho de súbito.

–Quem era? – Perguntou Regina, que saiu do banheiro com os cabelos ruivos pingando água.

–Ai Regi era o Ivan.... Ele falou em me convidar pra sair... No cinema... E agora eu não sei o que fazer. – Queixou se Thomas enquanto falava rapidamente, como se estivesse desesperado por uma resposta.

–Ué... Já pensou em dizer “sim”? - Riu Regina enquanto secava os cabelos.

–Ai...Mas e sair com um cara? Será que eu devo? E... Tem o Pedro... E meus pais... E ai... Eu não sei.

–Ai Tom, é só um encontro, eu vou estar junto aliás, sair com um cara não é nem um bicho de sete cabeças. E vocês só vão sair gente, nada demais. – Exclamou Regina, admirando-se.

Thomas pensou por algum tempo, e hesitante ainda, respondeu:

–É... Eu acho que você tem razão. Eu não tenho nada a perder né? Liga pra ele?

–Ora, liga você... Ele convidou a você, não a mim.

–Ai Regi, por favor, eu te imploro. Eu não sei o que falar! Como que eu vou dizer que topo ir ver o filme com ele? – suplicou Thomas com voz chorosa.

–Que tal “Oi Ivan, eu topo ir ver o filme com você!”? – Riu Regina.

–Não... Não... Por favor, eu vou travar na hora. – Thomas continuava com a mesma voz chorosa.

–Ai tá bom, bobão. – Regina Revirou os olhos e sorrindo deu um tapinha na cabeça do primo. Pegando o celular para falar com o Ivan.

–Tá confirmado. – Afirmou ela alguns minutos depois. A gente se encontra amanhã no shopping. As 15h.

Thomas sentiu-se ansioso. Daria certo? Ele saberia falar na hora? Ivan o acharia um babaca? E quanto a Pedro. Isso era o que mais lhe afligia: a ausência de Pedro lhe causava um buraco no coração, e sabia que esse buraco não poderia ser suprido por Ivan e nem por ninguém. E nem queria, apenas Pedro o completava.

***

Os olhos estavam cansados, os membros dormentes, e alma despedaçada. Pedro não se cansava de olhar as fotos de Thomas que salvara em seu computador, ao ver aqueles olhos, aquela expressão doce, evitar as lágrimas era difícil, principalmente quando pensava que não poderia mais vê-lo. Pedro respondera a carta de Carol, mas não obtivera carta resposta de Thomas, e começava a pensar que Thomas já havia perdido o interesse nele. “naquela capital, existem tantas pessoas legais, tantos caras mais interessantes que eu...” murmurava Pedro para si mesmo. E aquilo que ele dizia para si mesmo começava a parecer verdade. Pedro não queria perder Thomas, ele o completava. Era o único e que chegara a completá-lo. Nunca ninguém havia o amado tanto quanto Thomas.

–Eu te quero de volta. – Murmurou baixinho, tocando os próprios lábios com os dedos e então os de Thomas na foto, enquanto uma lágrima escorria de seu olho esquerdo.

O telefone tocou de repente, Pedro relutou a atender, mas após o estridente toque ter se repetido Poe três longas vezes Pedro acabou por ceder e receber a ligação:

–Alô? Pedro? – Era Carolina. Pedro revirou os olhos por alguns instantes, reprovando a importunação, mas depois prestou atenção no que a amiga tinha a dizer, afinal ela havia sido tão generosa.

–Sim, sou eu, E aí Carol como vai? – Respondeu ele, tentando com esforço esbanjar alguma simpatia em sua voz.

–Vou bem, obrigado. Mas e aí Pedro, o que pretende fazer a noite, tá livre?

–Tô... Eu acho. Mas to a fim de ficar em casa mesmo. – Comentou Pedro, antecipando que a amiga fosse-o convidar para algum programa.

–Ah Pêpo... Por favoor. Eu ia te convidar para ir ao barzinho aqui perto de casa, vai ter uma noite musical, você gosta de música popular? Eu consegui dois ingressos, mas a Juliana tá viajando e não vai poder ir...

–Ai Carol eu não sei... To afim de ficar em casa na minha,

–Pêpo... Por favoor, eu sei que vai fazer bem para você... Sair um pouco, ver gente nova, novos ares... A minha companhia, é claro. – Brincou Carol do outro lado da linha, onde esboçava um curto sorriso de convencimento.

–Tá tá, tá bom. – Consentiu Pedro, pois sabia que se não aceitasse a menina não pararia mais de insistir.

–ÓTIMO! Perfeitooo, Te adoro Pêpo! Então tudo combinado para hoje a noite! Você sabe o endereço né? Roupa Casual, traga apenas seu rosto lindo e seu bom humor de sempre, e deixa que eu faço o resto! – Riu Carol, falando com seu jeito rápido e afobado de sempre. Jogando um tanto de indireta no ar.

Pedro já ia se pronunciar contra o modo dela chamá-lo de “Pêpo”, mas achou irrelevante, afinal, no fundo, era um apelido carinho. E foi tratando de separar a roupa e se arrumar para a ocasião.

***

–Achei que não viria mais! – Exclamou Ivan cumprimentando Thomas após seus vinte minutos de atraso.

–E olha que eu estava pronta faz tempo! - Exclamou Regina – Ele que ficou se enrolando sem saber o que vestir! –Acrescentou Regina, com um riso. Mas calou-se com o olhar censurador de Thomas, que dizia algo como “está me fazendo passar vergonha”

–Queria ficar mais bonito para me ver, é eu entendo... – Riu Ivan com um olhar que imitava os galãs da telecinegrafia, Thomas corou. Regina riu. Ao ver que deixara o garoto encabulado, Ivan logo tratou de mudar de assunto:

–Bem, perdão, esqueci-me de apresentar... Este é meu amigo Lorenzo – Apresentou Ivan, mostrando o acompanhante de Regina para aquela noite. Um rapaz alto, inclusive mais alto que Ivan, porém moreno, ao contrario deste. Olhos negros e brilhantes combinavam com sua pele bronzeada. Regina o cumprimentou e sorriu para Thomas numa rápida troca de olhares, que indicava satisfação.

Pracer em conhece-la.- Falou o rapaz, com um visível sotaque espanhol. – Beijando as mãos de Regina com delicadeza.

–O prazer é meu. –Disse Regina, e desta vez era ela que baixava o olhos e sorria sem jeito.

–O pai dele é espanhol, e a mãe brasileira, mas Lorenzo vive bem no Brasil faz muitos anos.

–Uma nação encantadora. – Murmurou o Rapaz, olhando fixamente para Regina, e após alguns minutos os dois se distanciavam tanto que Ivan e Thomas nem sequer podiam mais ouvir a conversa dos dois. Estavam se dando bem. Já Thomas e Ivan eram uma dupla bem mais soturna.

–mas e então... Passando as férias na capital ou veio para ficar? – Perguntou Ivan tentando puxar algum assunto.

–Espero que sejam apenas férias. – Respondeu Thomas, visivelmente nervoso.

–Por que? Não gosta daqui?

–Bem... Eu gosto da praia e tudo mais, porém não estou aqui por espontânea vontade... – Disse Thomas com uma ligeira oscilação na voz, como se não estivesse disposto a revelar muito mais do que isso.

–Aconteceu algo de ruim... Algo que fez você deixar sua cidade natal?- Perguntou Ivan, com olhar inquisidor.

–Nada que valha a pena comentar... – Disse Thomas, sendo evasivo. – Mas e você, não me falou nada sobre você ainda.

Ivan sorriu, e estalou o pescoço como se parecesse cansado. E então, num suspiro para recuperar o fôlego, Ivan declarou:

–Bem... Eu faço faculdade de direito... Moro aqui desde que nasci, tenho um amigo espanhol, trabalho meio turno no escritório do meu pai. To indo no cinema com um cara muito legal que conheci ontem numa festa.... Acho que isso é tudo o que tem sobre mim. – Riu ele, tentando forçar graça. Thomas continuou curioso. Mas riu para quebrar o gelo.

–Só isso? –

–O resto você descobre. – Respondeu ele, com uma piscada de olho, e uma expressão de mistério esboçada no rosto.

De alguma forma Thomas gostava daquilo. Achava todo aquele mistério interessante, a curiosidade sempre fora uma força muito grande dentro dele, e agora ela se manifestava novamente, como um motor que o puxasse em direção a Ivan e o fizesse querer saber mais sobre ele, justamente por ele revelar tão pouco. Era um sentimento estranho, mas de alguma forma já havia experimentado dele uma vez.

–Gente, o filme já vai começar! Não se atrasem aí hein? – Regina, afobada Interrompeu os pensamentos intensos de Thomas e tratou de guiar o grupo até a sala de cinema, antes que se atrasassem mais.

Thomas não se recordada da última vez que havia entrado em um cinema, não havia um em sua cidade. A sessão estava cheia, mas parecia vazia. Milhares de sombras oscilavam permeando a fraca luz que se projetava na tela. Na direção da escada que levava até as poltronas mais altas a escuridão era densa, e Thomas tropeçou e quase caiu inúmeras vezes, porém Ivan o segurou em todas, puxando-o pela mão e impedindo-o de chocar-se contra o chão envolto em umbra. A partir daquele momento, Ivan passou a oferecer a Thomas uma relativa segurança, apesar de todo seu mistério e obscuridade, Ivan, Thomas sentia, que ele possuía uma segurança a oferecer-lhe. Não era aquela base sólida e firme que permitia a Thomas sentir-se fixo e enraizar-se, crescendo forte como uma flor. Mas um porto seguro, um ancoradouro no porto de um mar tempestuoso e sem luz, Thomas via aquele porto dentro de Ivan cada vez que pegava em sua mão e sentia aquela força segurando-o e impedindo-o de cair nas sombras, justamente naquele momento frágil pelo qual passava.

A noite já estava caindo sobre a cidade quando Pedro saiu de casa, observou a paisagem lúgubre do campo noturno e iniciou sua caminhada, a cidade era pequena, e a noite, praticamente parava. Apenas algumas luzes se acendiam, e de vez em quando um carro passava por entre as estreitas ruas de paralelepípedo provocando um som característico que quebrava o silêncio da noite.

Assim que passou pela rua da casa de Carol tudo mudava: o barzinho estava iluminado e cheio. De lá vinha uma música suave, porém animada, e um cheirinho de comida caseira. Os pais de Carolina eram os donos do estabelecimento, que Pedro conhecia desde muito tempo, mas só agora havia prestado atenção nos detalhes.

–ooooi Pêpo! Achei que não vinha mais! Que susto! – Cumprimentou Carolina, em seu bom humor exagerado de sempre, numa voz que fazia Pedro pensar que ela estava ligeiramente embriagada.

–Eu vim devagar sabe... – Desculpou- se Pedro, tentando prestar atenção no hálito dela para certificar-se de que a garota havia bebido.

–Ai não pode, me assustou hãn! Eu fiquei pensando “ai, será que o Pedro não vem mais?” “será que ele me abandonou?” Fiquei muito tristi bubu. Nãum me deixa tristi mais viu Pepo? (sic) – A garota falava num tom tão infantil e com uma voz tão aguda que deixou Pedro enjoado. Sua insistência para assuntos tão banais era tremenda, Pedro pensou em responder “se eu demorei, é porque não estava certo de que queria realmente vir para este lugar” mas não quis parecer grosso, e terminou por achando engraçado o jeito de Carolina, no fundo, ela só estava querendo diverti-lo e ajudá-lo, aquele só era o jeito dela de fazê-lo feliz.

–Tudo bem, tudo bem Carol, desculpa minha flor. Não vou fazer mais isso. – Brincou ele, segurando nas mãos da garota e falando com um tom de culpa, como se sua falta fosse grave demais.

–hãm... Acho bom hein? – Respondeu ela, com uma postura altiva. E então sorriu numa gargalhada exagerada. – E então, quer dançar um pouco?

–Não... Não... Dançar não é comigo Carol... – Negou ele, de má vontade.

–Por favooor. –Implorava Carolina em sua voz fina e chorosa, Pedro achou melhor aceitar para fazê-la parar de pedir, antes que todos começassem a reparar.

–Tudo bem, só uma dança então. –Concordou Pedro. Carolina deu pulinhos de alegria. E entrelaçou seu corpo ao dele, a música era lenta, mas Carolina dançava com maestria, movia seu corpo como se ela conduzisse a dança, Pedro apenas acompanhava, sentido os seus passos e tentando mover-se igualmente. Por fim os dois dançavam com leveza, seus corpos entrelaçados deslizavam pela pista, como se fossem um só, movendo-se tão leves que pareciam voar. Carolina olhava fixamente nos olhos de Pedro, com um olhar cativante que apenas ela possuía. Pedro encantou-se pela doçura e inocência daqueles olhos, lembravam outros olhos inocentes que outrora conhecera e que igualmente o encantavam.

Não foi apenas uma dança, foram horas dançando, de vez em quanto paravam para beber algo, provar da deliciosa comida servida, e assistir as apresentações que permeavam a noite. Carolina contava piadas e histórias que divertiam Pedro. Ela era uma piadista nata, seu jeito bobo e acriançado atraia risos. Pedro sabia que não havia nada de ingênuo naquele jeito, mas mesmo assim admirava-se de suas maneiras tão cheias de puerilidade. Lembrava-se de alguém que conhecera cada vez que via aqueles olhos e aquele sorriso brincalhão.

Já era tarde quando a noite encerrou. E uma leve chuva começou a cair na cidade. Não se comparava ao torrencial dilúvio que caíra algumas semanas atrás, porém ainda assim era um tanto fria e constante demais.

–Por favor, Pedro... Fica e dorme aqui em casa! – Pediu Carol com delicadeza. – Não quero que você se molhe e pegue um resfriado nessa chuva horrível! Você já tomou chuva semana passada!

–Que isso Carol, obrigado.... É só uma chuvinha.... Eu vou indo rápido e nem me molho tanto. – Recusou Pedro, se preparando para sair.

–Não... Não... Não, Não e Não! Você mora longe, já está muito tarde e é perigoso andar por aí sozinho! Amanhã de manhã você vai! Dorme comigo hoje! Aí depois você me ajuda a arrumar o salão! Que tal? – Insistiu Carol.

Pedro deu de ombros, e acabou aceitando. Carolina arranjou um lugar para ele dormir em seu quarto. Ele adormeceu, e ela ficou em vigília, admirando-o. Carol adorava aquele rosto, aqueles cabelos dourados, aqueles lábios. Tudo em Pedro era perfeito, precisava resistir para não pular na cama dele. Ou talvez em breve a resistência não se torne tão necessária.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado hein? Não deixem de dar sua opinião sobre a história! Até logo! Um abraço!