Verdade escrita por Juliano Adams


Capítulo 11
Capítulo XI - Prazeres


Notas iniciais do capítulo

Espero que perdoem a demora, passei uns dias viajando e perdi o rumo da história! Mas estou de volta com um capítulo novo e preparado especialmente! Espero que gostem e comentem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/360692/chapter/11

Estava escuro, Thomas corria de um lado a outro sem saber onde realmente estava, o chão era irregular, cheio de matéria orgânica e raízes nodosas, tropeçou em uma delas e caiu sem ter apoio. O rosto era machucado pelos galhos finos e as pedras que encontrava no caminho, ora rolando por cima delas, ora algumas se desprendiam e se debatiam contra seu corpo enquanto ele sem reação rolava pelo chão barranco a baixo, sentindo os arranhões e os baques. Quando o chão se nivelou, Thomas sentiu umidade em seu rosto. Não tinha certeza se era sangue ou se era água. Devia estar machucado. Tateou ao redor. Sentiu uma superfície lamacenta, o gosto salgado em sua boca, talvez aquilo fosse uma praia, o barulho do mar ruidoso causava dor de cabeça. Fez força para levantar-se, a gravidade parecia mais forte do que nunca, ou seus ossos mais pesados. Talvez fosse porque sentia-se fraco. Estava tonto, a respiração era difícil, o caminhar era errante, como se não soubesse mais usar os pés, não havia luar, a escuridão era quase completa, desorientados os pés afundavam na areia molhada do oceano, quase que sem distinguir terras de águas.

Avistou a luz constante e alaranjada de uma lanterna, e intuiu, pelo formato da sombra que se tratava pequena plataforma de madeira alguns metros a frente, e nela estava um jovem pescador. Reconheceu então Pedro, com o olhar pesaroso e roupas surradas. Pediu a ele que o atravessasse o mar de barco, para que pudesse deixar aquela ilha e voltar para casa. Pedro apenas abriu a boca e pronunciou lentamente:

–Não.

Thomas sentiu-se mal, como-se o próprio corpo não resistisse à força da gravidade e fosse colapsar sobre si mesmo, como se fosse uma pedra que precisasse estar no chão, e não houvesse meios de levantar. Finalmente perguntou por que, numa voz sôfrega.

–Você não pertence a meu barco. Você me deixou. Você pertence ao mar agora. – Respondeu, pesaroso. Enquanto se levantava e se aproximava de Thomas, que recuava cada vez mais. Pedro o atingiu no peito com um remo, um golpe, dois, três. Thomas sentiu que pararia de respirar, sentiu sua pele tornar-se gosmenta, escura e gelada, até que Pedro o atingira pela quarta vez, derrubando-o no mar. Thomas havia transformado-se num animal marinho, que tinha na água sua morada.

–Thomas, acorda... Thomaaas.... Acorda dorminhoco. –Era a voz de Regina, que o cutucava pelos pés, não passara de um sonho, incrivelmente as sensações pareciam tão reais, entretanto não passavam de fantasia.

–Tem uma mensagem do Ivan no meu celular, ele tá perguntando se topa sair com ele “sozinhos, só nós dois” – Regina arremedava a voz grossa de Ivan, o que fez Thomas sorrir.

–Ai... Tá bom, eu topo. Desde que seja em um lugar público.

–Mas e aí... Curtiu o cineminha? Eu vi vocês dois juntinhos de relance... – Sorriu Regina com uma pitada de malícia.

–Foi.... Foi.... Tão.... Diferente. Eu gostei. – Disse Thomas sem mais explicações, nem ele sabia direito como explicar o que ocorria.

–Hmm, eu também gostei do Lorenzo. – Regina forçava o sotaque espanhol para falar num tom sensual. – Vamos sair sexta a noite.... Ai que pegada.... La noche me quede ojerosa a pensar de usted.... ay ay ay. E saiu cantarolando alguma coisa num espanhol que soava mais como se estivesse gripada, e trocava todas as vogais por “ue” com um sotaque animado.

Thomas gargalhou, Regina parecia uma garotinha de tão feliz... Já dele, não podia dizer-se o mesmo: estava dividido, aquele sonho, tinha certeza de que havia algum significado... Pedro parecia tão frio, tão distante. Mas era isso o que sentia dele, frieza e distancia, havia um fogo, uma paixão por Pedro, mas esta queimava quilômetros ao fundo, como se Ivan tivesse o soterrado, e todo aquele amor estivesse tão longe nas profundezas que Thomas nem pudesse ouvir seu chamado.

Tomou uma ducha e desceu pro café da manhã, ouviu o tio contar as mesmas piadas pela milésima vez. Quando Regina saiu para a faculdade, decidiu ir junto, dizendo aos tios que ia passar na biblioteca para fazer uma ficha. Combinou de encontrar Thomas numa praça, perto da faculdade de Regina.

Ivan estava sentado num banco de madeira, a tinta verde descascava e revelava pequenas pichações entalhadas na madeira. Não era uma praça muito bem cuidada, a grama crescia desordenadamente, cobrindo os passeios.

–Olá. – Disse Thomas, timidamente. Não estava acostumado a abordar as pessoas..

–E aí, como vai? – Saudou Ivan, levantando-se e abraçando, Thomas corou, levemente constrangido por aquele abraço em público.

–Bem, e você?

–Bem... E então? Já pensou para onde a gente pode ir? Sabe... Essa praça não é ló lugar que eu pensei para o nosso encontro a dois.... – Riu Ivan, apontando a situação degradante em que o local se encontrava.

–Bem.... Eu não sei, você é quem sabe. – Thomas pensava em dar algumas sugestões, mas temia que Ivan não gostasse, e não queria contrariá-lo.

–Já sei... Que tal se formos a praia?

Os olhos de Thomas brilharam, fazia tanto tempo que não via o mar, só em pensar que estava tão perto já era motivo de alegria.

–Como assim você está na cidade faz quase um mês e não visitou a praia? – Questionava Ivan, como se não acreditasse. – Tudo bem, eu conheço um lugar perfeito para dar um mergulho.

Thomas concordou, apesar de protestar sobre entrar na água, Ivan informou que Tinha roupa de banho no carro e que poderia emprestar. E após alguns minutos dirigindo chegaram ao local desejado: Algumas pedras e árvores forneciam uma sombra muito boa, enquanto o mar azul e calmo refletia a luz do sol dourado que se erguia a pino. Ivan deu a Thomas um pouco de privacidade para colocar a bermuda (que era de Ivan, e ficou ridiculamente grande no garoto, como se parecesse uma calça) e então voltou com duas águas de coco . Thomas nunca havia bebido antes, detestou o gosto, porém mesmo assim bebeu, contente por saber que Ivan queria agradá-lo.

Sentaram-se nas areias abrigados pela sombra de um coqueiro. E passaram a conversar sobre vários assuntos banais: clima, ambiente, algumas pessoas que passavam, acontecimentos do dia a dia, entre outras coisas. Ivan nunca revelava nada de muito intimo sobre si, Thomas igualmente não insistia, e assim ficavam naqueles assuntos aleatórios... Até que Ivan mencionou:

–Aquele outro dia, no cinema... Lembra? Quando você apoiou a cabeça no meu colo.... – Ivan fez uma pequena pausa e olhou direto nos olhos de Thomas, que corou lembrando do momento. – Eu senti uma vontade mortal de te beijar.

Thomas simplesmente não sabia o que responder, o ar não saia, a boca não abria, cada músculo de seu corpo hesitava perante um Ivan que se aproximava cada vez mais, Thomas depois percebeu que foi melhor não ter dito nada, apenas deixado-se levar pelo momento. Quando seus lábios se tocaram foi como uma descarga elétrica, um colapso interno. Thomas nunca provara outros lábios, tão doces, suaves e ao mesmo tempo quentes quanto os de Ivan. O rapaz era tão sedutor em seus movimento que Thomas sai de si entregava seu corpo a mercê de Ivan, que com uma das mãos segurava o corpo de Thomas por trás, e com a outra pegava uma de suas pernas, colocando-se em cima do garoto e o cobrindo de beijos e mordiscas.

Thomas teve que reunir todas as suas forças para poder voltar a sim, sabia que estavam sendo observados e aquilo o constrangia, lembrava-se do que ocorrera da última vez que demonstrara carinho por um homem em público, não queria que aquilo se repetisse. Mas estava pensando em outra coisa, nenhum problema passaria pela cabeça, só queria viver, sentir aquele momento, eternizá-lo. Sentir, todas aquelas sensações maravilhosas. Tudo aquilo queria apenas sentir cada vez mais, sem parar.

Ivan convidou Thomas a mergulhar, e nadaram os dois juntos contra as ondas que arrebentavam na costa. Thomas sentia se livre perto de Ivan, impelido a experimentar coisas novas, a deixar o marasmo e a monotonia e sentir tudo o que tinha direito. Sentia que ali era o seu lugar, ali pertencia. E agarrou Ivan entrelaçando-se em seu corpo, e os dois se beijaram cobertos pelas ondas, com o calor de seus corpos imerso na água. Thomas sentia o corpo de Ivan grudado no seu, e só sentia mais vontade de prová-lo. Para o inferno com o recato, queria sentir tudo o que merecia, não deveria ter vergonha de fazer o que deseja. A tédio é o único pecado para o qual não há perdão.

***

As luzes piscantes e a música alta perturbavam a cabeça de Pedro, Carol dançava freneticamente e o impelia a juntar-se a ela e aos outros naquele turbilhão de corpos que dançavam desordenadamente em meio a uma penumbra de fumaça e luzes coloridas... Pedro realmente não sabia o motivo de estar naquela festa, tampouco tinha contato com os aniversariantes, Rafael e Bianca, gêmeos, eram amigos de infância de Carol, entretanto Pedro mal os conhecia. A não ser por poucas palavras trocadas em ocasiões inevitáveis, metade das pessoas ali eram desconhecidas.

Em verdade Carol o havia praticamente o arrastado para aquele lugar, como forma de desculpar-se pelo ocorrido, dissera-lhe que fora motivada pela carência, pela sensibilidade, e bem dizendo, os dois se encontravam num momento sensível, e tinham um ao outro. Carol tinha um jeito especial de fazer com que os outros pensassem da maneira que ela quisesse, e isso lhe dava um poder de convencimento incrível. Além de tudo isso: Pedro por mais que se revoltasse com tudo aquilo e que não quisesse confessar para si mesmo, havia gostado. Era um fato, havia gostado do beijo. Havia gostado de Carol, havia algo nela que o atraia, que despertava seu coração há muito adormecido. Ora, Thomas havia ficado no passado, um passado venturoso e cheio de cor, quem dera não tivesse acabado, todavia passado. Não havia como voltar, não havia outra saída, nem o mais rico dos homens pode comprar o passado. Thomas quiçá conhecera outro alguém, era bonito e atraente, talvez o que o garoto sentisse por ele não fosse amor, e sim deslumbre pelo mundo que Pedro o apresentara.... Não queria pensar mais nisso, o passado passou, por isso é passado.

Tomou um copo de bebida que estava no balcão. Não há maneira melhor de apagar os tempos idos do que afogando-os em álcool. Tomou um, mais outro, três, quatro, cinco, seis... Até sentir a tontura abordar a sua mente e parar de contar. As luzes e as sombras coloridas tornaram-se uma coisa só, entregou-se ao ritmo frenético da música, e lá estava Carol: seu corpo se movia compassadamente, ordenado em todo aquele frenesi seus movimentos sensuais evidenciavam toda sua beleza, suave e bela ela se agitava e para Pedro era como se houvesse apenas ela em meio aquela multidão dançante, seu jeito se destacava, suas maneiras eram ímpares, e sua beleza excepcional. Pedro, ébrio, impulsionado pelos seus sentimentos e pelo efeito do álcool em seu corpo e mente, abordou-a e sem pensar duas vezes beijou-a. Não foi um beijo qualquer, ele a agarrara pelo braço e a puxara para perto de si, prendeu-a com força como se quisesse grudá-la em seu corpo e demonstrar que o pertencia. O beijo foi longo e quente, mais do que qualquer um que já dera em Thomas, era loucura, nunca faria nada parecido se estivesse sóbrio, mas o álcool tornava as coisas tão mais naturais.

Carol agarrava-se ao rapaz como se o quisesse inteiramente para si, prendia-o com braços e pernas e fazia-o levantá-la no ar. As mãos dela passavam por cada parte de seu corpo, como se quisesse devorá-lo, prová-lo com a ponta dos dedos. Sentia sua nuca, suas costas, os músculos de seus braços, seu peito, seu abdômen, cada milímetro de pele visível o tocava, e então o cobria de pequenos beijos. Carol pressionava o rapaz cada vez mais para perto de si, e de repente sentiu aquilo que esperava. Era tudo o que desejava ter.

Arrastou-o para fora do salão, até que o desvairo de cores e música se tornasse um pequeno ruído e uma luminosidade singular. Conhecia bem a casa, e não foi difícil achar o caminho que desejava.

–P... Para onde estamos indo? – Perguntou Pedro, com a voz rouca e hesitante, palavras enroladas e a sonoridade típica de alguém embriagado.

–Você já vai descobrir, meu Pêpo.

Era o quarto de Bianca, os tons de rosa choque e o tapete felpudo eram reflexos da personalidade tão infantil de uma jovem que acabara de completar dezesseis, mas a decoração, detalhe fútil banal este, era a última coisa do mundo em que os dois reparavam.

Carol sorria maliciosamente, enquanto Pedro se via visivelmente transformado pelo álcool, a roupa formal com que viera via-se enrolada em montes no chão, permanecia apenas com a parte da vestimenta que se usa cintura pra baixo, a exceção dos sapatos, estes já haviam sido retirados. Carol também livrava-se dos dela, bem como de brincos e pulseiras, todos atirados ao chão e misturados a pilha de pano que caia com desespero. Num comportamento instintivo e bruto, ele pulava por cima da garota, jogando a na cama e a beijando nos lábios, suas mãos e sua boca estavam cada vez mais ousadas, Pedro estava fora de si, o álcool tornava sua mente torpe, talvez no fundo soubesse que devia parar, mas tudo que conseguia ouvir era a voz de seu instinto, clamando para ser liberado. Arrastava as mãos até as costas de Carol, abrindo o fecho de seu tomara-que-caia, e deixando a mostra os fartos seios, estes que não tardou a acariciar, despontando pequenos gemidos em Carol, que totalmente entregue a situação, sentia-se percorrida por pequenos espasmos de prazer e satisfação, havia finalmente obtido aquilo que conseguia.

Movida pelo desejo ela deixara a submissão de lado, e tratara de despir a última peça que faltava de Pedro, e forneceu a ele o prazer que fê-lo delirar. Os dois movidos pelo anseio ardente que queimava como uma fornalha em seus âmagos, deixando cada centímetro de sua pele em brasa movimentavam-se pela cama fazendo cair todo o pano que ainda havia. Era como se houvesse um campo magnético entre os dois, uma atração tão forte que era impossível resistir. O impulso fez Pedro transgredir todos os limites, e estava a disposto a levá-lo até a última instancia. Descontrolado e inebriado, sua virilidade percorria o caminho em direção ao íntimo dela, e os dois se uniam em um só corpo, com movimentos sincronizados o deleite inigualável incendiando seus corpos, os gemidos tornavam-se altos e por fim chegavam ao ápice. Suados, arfantes, e satisfeitos. Estava feito. Adormeceram daquele mesmo modo, entrelaçados por aquele campo magnético que agora se desmanchava lentamente. O torpor percorria seus corpos enquanto suas mentes se apagavam inertes.

Acordaram ainda em um estado de leve letargia. Pedro não conseguia distinguir se o que havia passado era sonho ou realidade. Até ouvir a voz doce de Carol dizendo bom dia. Por um momento chocou-se, o que havia acontecido? Totalmente deixou-se levar por seus instintos mais primitivos. Não podia crer, queria que fosse mentira, mas havia ocorrido. Não sabia se devia arrepender-se ou ficar feliz. Mas não queria que ocorresse daquela maneira.

Carol era uma pessoa incrível, sua personalidade o atraia de todas as formas, a atração era física e mental. Havia certos sentimentos que nem com Thomas experimentara, nunca havia chegado a tal ponto com uma mulher, e gostou do que havia sentido. Mas a pergunta era: Pedro amava Carol? Por mais que se esforçasse para definir o que sentia, amor continuava sendo uma hipérbole. Sentia-se culpado, uma garota não iria entregar-se como ela se entregou caso não o amasse. Queria poder corresponder aquele sentimento, mas tudo o que sentia era atração. Não sabia se devia levar aquilo adiante, não queria magoá-la ou iludi-la. Mas não conseguiria distanciar-se dela tão facilmente.

Cumprimentou-a com um beijo nos lábios, a cabeça doía e o corpo estava mole e cansado. Precisou de um grande esforço para levantar-se. Ainda estava nu. Cobriu-se com um dos lençóis enquanto pegava as roupas e rumava para o banho.

Que noite havia sido! As lembranças daquele momento de êxtase ainda ecoavam pela mente de Carol, Bianca havia sido muito útil lhe proporcionando o lugar, mas fora Pedro que lhe proporcionara o momento, ele fez por que quis, e isso era o que mais satisfazia Carol. Havia dado certo, Pedro era dela, o possuía, ele a amava, pensava ela. Tudo estava perfeito, nada podia estragar, havia chegado onde queria. Não precisaria de mais nada nem ninguém contando que Pedro fosse seu, e assim o era, completamente seu. Suspirou, agarrou de soslaio a camisa que Pedro usara aquela noite, amarrotada e espalhada pelo chão, e voltou ao sono, abraçada na peça de roupa, sentindo o cheiro de Pedro que se impregnava no tecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Só uma nota: a frase que Regina fala em seu "maravilhoso" espanhol pode ser traduzida como "esta noite fiquei com olheiras de tanto pensar em você" se eu não me engano é trecho de uma música rs, pelo menos lembro de ter visto em algum lugar. Enfim, espero que tenham gostado desse capítulo cheio de emoções, se tiverem alguma critica, sugestão, pergunta, fofoca, qualquer coisa aheaheau, já sabem: comentem!
beijos e até a próxima >.