A Semideusa escrita por Messer


Capítulo 15
Avisos


Notas iniciais do capítulo

Sabe, eu acho muito dez você pegar um detalhe geralmente esquecido e ressalta-lo. Assim, só pra dizer mesmo. Desculpe a demora, eu estou pensando em outra fic.



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A pele dela gelou, e Jessica sabia que alguma coisa muito ruim iria acontecer. Seus irmãos a olhavam sérios, com os olhos faiscando. Porém, algo no fundo de sua mente dizia que aquilo seria somente o início.

-Jessica, Jessica – Kaio disse, dando alguns passos para frente, para perto dela. Marcus continuou onde estava, mas ele parecia bem atento. - Nós queremos saber o que está acontecendo. E não adianta dar uma de desentendida, nós sabemos que ela é diferente.

Jessica engoliu em seco, com medo do tom de Kaio. Seus irmãos nem sempre eram muito simpáticos.

-Você sabe que ela é do século XVIII, e não mais Caçadora. Isso tem consequências – ela retrucou, com a voz firme, apesar de as mãos estarem nos bolsos para não tremerem tanto.

Kaio a analisou por um tempo. Os olhos bicolores dele davam medo, e Jessica podia sentir a aura mágica que saía dele. Mas não ia de jeito nenhum se deixar parecer fraca. Ela levantou o queixo e o encarou, com o coração acelerado.

-Acho que não é só isso – ele sussurrou.

A garota deu um passo para trás, para poder se afastar, com o súbito medo que teve. Mas Marcus a agarrou pelos ombros, não a deixando sair pela porta.

-Nem pense, maninha – ele murmurou, a levando para um dos pufes, onde ela sentou, extremamente desconfortável. - Nós queremos saber. O que ela é?

Jessica mordeu o lábio inferior e cruzou os braços, em uma posição de teimosia. Não ia dedurar a amiga, não depois do que ela havia falado. Afinal, seus irmãos não podiam fazer nada de tão sério, diferentemente dos filhos de Ares.

Ou talvez não?, pensou ela, vendo o olhar dos irmãos.

Mas mesmo assim, com todo seu medo, ela estava dura como aço. Mary havia lhe confiado esse segredo e não iria traí-la. A garota já devia ter passado por poucas e boas para ser enganada mais uma vez.

-Você vai falar ou não? - Disse Kaio com impaciência.

Jessica não respondeu. Ela virou a cabeça para o lado e ficou encarando as camas.

Até que uma sensação horrível a invadiu.

A garota saiu porta à fora correndo, com seus irmãos resmungando atrás. Quando chegou no pé da Colina, após ter passado a área de chalés e o lago, parou, com os pés deslizando na neve e a fazendo cair sentada. Mas não desgrudou um minuto os olhos do topo da Colina.

-Cara, você é insuportável! Louca! - Ela escutou Marcus dizer, irritado, e sentiu uma mão segurar seu ombro no momento em que um garoto atravessou a barreira, correndo e fazendo movimentos bruscos com o braço, onde um clarão surgia, espantando a negritude da noite.

Atrás dele, havia algumas coisas que ela não soube identificar. Tanto pelo fato de ele tê-las matado tanto pelo fato de Jessica não conseguir distinguir algo sólido. Elas pareciam com os livros que sua escola lhe obrigava a ler.

A garota se levantou rápido, livrando-se da mão e correu em direção do garoto. Ele estava parado, respirando ruidosamente. Quando ela chegou perto, pôde definir suas feições com o brilho da Lua.

Tinha cabelos escuros, com uma pele clara, mas bronzeada. O rosto dele exigia liderança, além de provocar um instinto de liberdade, de luta. Com certeza, era um guerreiro. E seus olhos... Eram da cor do Sol poente. Estava com roupas escuras, mas, apesar da neve, elas não eram pesadas como de inverno geralmente costumam ser. Na mão, pelo o que pôde ver, carregava um chicote, além de outras armas penduradas nas cinturas. Entre elas, havia uma idêntica à estela que Mary tinha.

-Você... - Jessica balbuciou. - Quem é você?

O garoto a olhou de cima, logo que era mais alto. Suas feições não mudaram, até que ele deu um passo à frente.

-Viu Mary? - Sua expressão era aberta, machucada.

A garota o encarou, meio confusa. Depois de um milissegundo, percebeu que era ele o garoto por quem Mary havia se apaixonado.

Bem, ela pensou secretamente, seria difícil não se apaixonar.

-Sim – respondeu, e fez um sinal com a mão. - Siga-me.

***

Ambos estavam na frente do chalé de Hades. Os irmãos de Jessica estavam atrás e resmungando por não saberem de nada. A garota se controlava para não mandá-los calarem a boca.

Ao seu lado, o garoto com olhos dourados parecia tenso. Ficava olhando de um lado a outro e não havia dito nada, mesmo que Jessica lhe perguntasse. Ela bateu três vezes na porta e deu um passo para trás, empurrando o garoto junto. A primeira impressão era sempre a pior.

Alguns segundos depois, a porta se escancarou, deixando todos calados. A aura de Hades avançou sobre eles, deixando Jessica sem ar por um momento. Mas ela logo se recuperou. Mas podia sentir que os garotos não.

Mary estava na porta, com os cabelos mais bagunçados que antes e um cobertor jogado nos ombros. Seus olhos estavam muito cerrados, mesmo não havendo luz para onde olhava. Parecia que do jeito que saíra da fogueira, havia dormido. Somente seus pés estavam descalços.

-Quem fora o... - ela começou.

Mas então parou e escancarou os olhos. Quando Jessica percebeu, estava nos braços do garoto desconhecido.

Ele a envolvia em um abraço firme, com os olhos fechados. Parecia que não se viam à meses, ou até mesmo anos. Aquilo fez a garota de cabelos escuros sentir uma pontada de inveja, mas tentou censurar o sentimento. Mesmo tendo uma inclinação natural para a sociopatia, Mary mais do que merecia ser recompensada por tudo o que passou.

Um de seus irmãos limpou a garganta, cortando o silêncio. Ela olhou para trás e viu que era Marcus. Ele e o garoto ao seu lado pareciam que queriam vomitar.

-Desculpe atrapalhar o clima romântico – seu tom era uma mistura de desdém e sarcasticidade – mas nós temos algumas perguntas.

Mary se afastou do garoto que Jessica ainda não conhecia e andou em direção de seus irmãos. Ela era mais baixa, e, com o cabelo bagunçado a última coisa que traria consigo era o espírito de liderança. E isso era verdade. Ela trouxe o medo e o pavor consigo.

Marcus e Kaio deram um passo para trás.

-Vocês iriam conseguir essa informação à força de Jessica. Não digam o contrário pois eu sei. – Ela deu uma pausa e Jessica quase podia ver vultos com formas humanas em volta dela. Um calafrio lhe percorreu a espinha. - Eu sei de tudo. Agora, acho bom vocês tomarem jeito por si mesmo antes que eu faça isso. John, venha. Você também, Jessica.

O garoto não mais desconhecido a seguiu. Jessica foi atrás dos dois, sem conseguir olhar para seus meio irmãos, mas podia sentir seus olhos queimando-lhe a nuca. Ela apertou o passo.

-Então... - Disse, meio sem graça. Os dois a olharam. Ela iria falar com John somente, mas o fato de Mary estar por perto a fez mudar de ideia. - Onde estamos indo?

-Vou falar com Quíron – a garota respondeu, olhando para frente. - Agora sim eu tenho uma prova concreta.

-Tem? - John falou.

-Você vai acordar ele? - Jessica disse, e olhou para o garoto. Ele sorriu, mas estava tenso.

Mary lutava contra a neve que atrapalhava seu caminho. Ela não parecia muito confortável, com sapatos leves e o cobertor apertado contra o seu corpo. A filha de Hécate podia ver uma leve ruborização em seu rosto geralmente pálido.

-Sim, eu tenho. E vou. É vida ou morte, como lhe falei.

-Você fala mais coisas pra uma garota que só vê as vezes do que pra mim. Cara, eu tô com você há mais de duas semanas – John resmungou.

As duas o olharam. Para o susto de Jessica, a outra garota deu uma gargalhada.

-Depois você diz que não é ciumento.

Ele deu de ombros, ainda olhando para o chão. Jessica pode ver a silhueta da Casa Grande ao fundo.

-Você disse que estava junto com ele há apenas uns dois dias – ela disse, franzindo as sobrancelhas.

-E estou. - Mary respondeu.

-Você estava falando de mim para ela? - John perguntou, com um tom humorado.

-O quê? Ela descobriu que não sou mais uma Caçadora! Eu tive que dizer a ela!

Os três continuaram caminhando em silêncio. Jessica podia ver melhor a Casa Grande, mas não podia diferenciar nenhum detalhe, exceto as janelas do segundo andar e o sótão. Olhando para Mary, ela parecia mais tensa que o comum. A garota gostaria de saber o por quê, mas nada perguntou. Quando chegou mais perto, já conseguindo diferenciar melhor as sombras, percebeu.

Quíron esperava por eles.


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