A Semideusa escrita por Messer


Capítulo 13
O Conto da Mestiça


Notas iniciais do capítulo

Calm down. Profecias são traiçoeiras.



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Jessica tirou os tênis e pulou para cima de uma das camas perto de Mary, ansiosa para ouvir a história.

A garota com cabelos claros deu um suspiro e a olhou, exibindo uma expressão muito abalada.

–Eu nasci no século dezoito, como deve saber. Não era fácil para ninguém que não fosse da nobreza, e, mesmo para eles estava difícil se organizar no caos que foi as Revoluções.

“Minha mãe morava em uma cidade pequena, que já havia adotado o sistema capitalista. Era algo estranho, pois poucas pessoas estavam acostumadas com aquele estilo de vida, apesar de várias terem vindo à nossa cidadela. Não lembro direito quando eu nasci. Eramos pobres, e minha mãe viúva. Ela sempre voltava da loja de doces com uma expressão zangada no rosto. Às vezes, até mesmo cometia atos violentos contra mim. Mas nunca falei nada. Não sei se era medo ou alguma outra coisa.

“Um dia, eu falei para ela sobre algo que eu tinha visto. Eu estava voltando para casa, logo que havia saído para conseguir alguns retalhos de tecido em uma das lojas artesanais da cidade. Na volta, eu havia escolhido um caminho menos utilizado por outras pessoas. Mas então me arrependi.

“No meio da viela, havia um corpo no chão. Ele fora mais um dos supostos ataques de animais que estavam sendo reportados na cidadela, deixando nossos habitantes loucos. Mas eu soube da verdade. Em cima do corpo, havia uma forma branca, com tentáculos enrolados na vítima. A coisa não se mexia, mas estava debruçada sobre o cadáver. Eu gritei e joguei a sacola de tecidos em cima da criatura, que se voltou para mim. Ela tinha três bocas, com dentes afiados como adagas. Eu corri enquanto aquilo rastejava para trás de mim, e... Sumiu quando eu passei por uma rua movimentada.

“Entenda, eu sempre vi coisas estranhas. Fadas, algumas coisas estranhas, mas elas nunca fizeram nada para mim ou qualquer outra pessoa. Lembro-me que, de quando falei para minha mãe, ela gritou e brigou comigo. Então, desde àquele acontecimento, eu nunca mais falei nada para ela. Exceto na vez em que encontrei o corpo. Muito mais tarde, fui saber que se tratava de um demônio. Mas eu contei para minha mãe, pelo fato de saber que a pessoa havia morrido.

“Ela me olhou por um momento, mas depois voltou a ficar irritada e gritou comigo. Me bateu por eu ter perdido os tecidos, mas nada falou sobre o demônio. Mesmo assim, eu via em seus olhos o terror que ela guardava pelo fato de eu ter encontrado um deles. Naquela noite, eu não consegui dormir. Fiquei pensando sobre o que havia acontecido e no que a minha mãe estava escondendo. Lembro-me de ter pego um pedaço de carvão e rabiscado em uma folha suja de jornal a cena. Então queimei. Nunca mais falei com ninguém sobre aquilo. Eu tinha seis anos.

“Um inverno depois, eu acordei com uma caixa de prata colocada sobre a mesa ao lado de minha cama. Não era de minha mãe, ela nunca me daria nenhum presente. Eu estava receosa, coisas estranhas estavam acontecendo comigo. O pior era que não podia falar com ninguém. Para uma criança de sete anos, eu deveria ter ficado louca. Mas somente me isolei, desenhando as cenas que eu via em pedaços de jornais ou papéis que roubava. Depois queimava todos. Naquele dia, eu me vesti, olhando para aquela caixa. Parei e analisei cada detalhe dela, me prendendo àquele fato estranho. Por fim, eu abri. E encontrei esse colar.” Ela tirou a joia do pescoço e estendeu para Jessica, que a pegou. “Nesse momento, um monstro me atacou. Foi o primeiro da minha vida, e eu fiquei apavorada. Corri para a praça principal da cidadela, procurando alguma ajuda. Estava com o colar no pescoço, mas não tinha a menos ideia para o que ele servia. Mas parei de correr no momento em que me chamaram de bruxa.

“Quando olhei para o chão, eu vi mais um de meus poderes se manifestarem. Eu sempre tive todo o controle sobre as sombras, mas me pareceu que, no momento de euforia, outro se manifestou. Uma enorme quantidade de pedras estava em volta de meu corpo. Fui pega pelos braços, amarrada à uma cruz em frente de uma igreja. O que veio depois, nenhuma pessoa deveria passar. Muito menos uma criança. Era inverno, e a neve cobria tudo, dificultando uma fogueira. Então, eles começaram a atirar pedras em mim.

“Um homem apareceu. Ele tinha uma pele pálida, e me olhava com uma profunda tristeza. Não me atirava pedras. Mesmo sem poder falar, eu lhe implorei silenciosamente para que eu fosse livrada daquele sofrimento. Então, em um momento louco, estava em outro lugar completamente diferente, coberto por folhagens fortes, e eu podia escutar e sentir o cheiro do mar. Segurei o meu colar, sabendo que aquele homem conhecia todas as respostas para minhas perguntas, e eu iria procurá-lo. Somente dois anos depois eu fui saber que ele era o meu pai. Mas ele não havia me esclarecido todas as minhas dúvidas.

“Há cerca de um mês, eu descobri algo estranho. Havia me perdido da Caçada, e estava em Nova Iorque quando três pessoas me encontraram e cuidaram de mim quando fui atacada. Eles conseguiram me responder as perguntas que restaram, mas também queriam as respostas que eu tinha. Então descobri que nós não estamos sozinhos, Jessica. Existe um outro povo, com outros costumes e outros monstros. São chamados de Caçadores de Sombras. Meio-anjos e meio-humanos. E eu sou uma parte deles.

"Sempre fomos mantidos separados, com uma razão. Por isso Quíron estava tão receoso. Nós podemos nos matar caso nos encontrarmos. Porém, temos um problema, envolvendo nós dois. Um enorme problema, que arruinaria simplesmente tudo o que conhecemos. Tudo o que adoramos. Aliás, estamos em guerra. Uma guerra quase sem fim, que vai acabar com todas as coisas caso não nos unirmos. E é por isso que vim. É por isso que estou falando com você. Jessica, você é a única semideusa que eu conheço e confio. Peço, eu lhe imploro para que guarde esse segredo por alguns momentos, até que eu possa mostrar a Quíron o perigo que corremos. Não só a raça de semideuses ou de Caçadores de Sombras pode sumir, mas toda a vida no planeta."


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Notas finais do capítulo

Qualquer dúvida, envie-me um review!! :D



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