A Semideusa escrita por Messer


Capítulo 11
Sr. D


Notas iniciais do capítulo

Demorei, né? Pois bem, parece que existe um bloqueio na minha mente. Complicado escrever esse volume.
Tanto que eu escrevi umas 500 músicas no rascunho. Mas aí está. Boa leitura ;D



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–Você sabe o que ela quer? - Quíron perguntou, enquanto erguia Jessica com facilidade para que ela subisse em seu dorso, facilitando a ida até a Casa Grande.

–Conversar sobre algo bem importante. - A garota respondeu soturna, enquanto sentia o vento frio lhe cortar o rosto e bagunçar alguns fios de cabelos que estavam soltos.

Eles seguiram em silêncio até a Casa Grande, a única coisa que se parecia com uma casa de um acampamento de verão comum. Ela era azul, seu telhado estava coberto de neve e havia algumas pequenas luzes, que poderiam ser pisca-piscas, exceto pelo fato de flutuarem pelo ar. Jessica pulou do dorso de Quíron antes de ele parar completamente, subiu correndo os três degraus que davam a varanda e escancarou a porta, seguindo a conversa tensa que se podia escutar. Mas, quando ia entrar em uma porta, o Sr. D, o diretor do Acampamento, apareceu.

Ele a olhou com os olhos roxos injetados, em uma expressão nada amigável. Estava com suas roupas normais de inverno, um casaco de estampa de leopardo, calças azuis, e tênis roxos de corrida. Em volta de seu cabelo de coloração escura-arroxeada havia uma tiara de vinhas.

Jessica engoliu em seco, com medo de Mary ter se transformado em uma doninha.

–Quíron – disse o Sr D, passando pela garota e indo ao encontro do centauro, no inicio do corredor -, eu vou transformar aquela garota em um esquilo e passar por minha caminhonete por cima até ela virar paçoca.

O tutor olhou para Jessica com uma expressão preocupada.

–A garota está agoniada, senhor Dionísio – ele era o único que o chamava assim. - Dê um tempo para ela se acalmar.

–Ela apareceu aqui do nada!

–Ela é uma semideusa e uma serva de Ártemis. Tenhamos mais paciência, por favor.

–Ela não é mais uma Caçadora – Dionísio disse, parecendo irritado -, nem mesmo tem a benção da deusa. Mesmo sendo uma filha do velho Esqueleto, eu não vou tolerar ela.

Quíron olhou Jessica, que não ficou lá para dar explicações ou escutar o Sr D. Ela entrou na sala, procurando por Mary. Era o escritório pessoal do diretor do acampamento, coberto por vinhas e mascaras de teatro, com uma escrivaninha no centro, duas poltronas, e uma cabeça de leopardo viva em cima da lareira. O leopardo olhava fixamente Mary, com uma aparenta raiva. A garota o encarava com a mesma raiva do outro lado da sala, apoiada em uma janela. Do nada, o leopardo pareceu perder a vida. Alguns segundos depois, ele voltou a se mexer com um engasgo. E encarou Mary novamente com raiva.

–O que você está fazendo com ele? - Jessica perguntou, com os olhos arregalados.

Mary a olhou com descontração, como se não a percebesse lá. Estava com roupas novas e a espada negra continuava em sua cintura.

–Testando um novo truque – ela respondeu, se encaminhando para perto de Jessica. - Onde está Quíron?

–Com o sr. D – respondeu a outra garota. - Aliás, o que você fez pra ele?

Mary a olhou, sem expressão.

–Uma longa história. E ele odeia os campistas, você tem conhecimento disso. Eles vão demorar?

Jessica deu de ombros. Um momento depois, Quíron entrou no escritório, com uma expressão perturbada.

–Ele nunca vai superar aquele episódio com a ninfa – disse, indo para perto da lareira.

Mary balançou a cabeça em concordância e voltou para a janela, se sentando em seu parapeito. Sabendo o tanto aquilo iria demorar, Jessica se acomodou em uma das grandes poltronas. Um silêncio tomou conta do lugar, exceto pelo crepitar da lareira e um ou outro rugido do leopardo. Pelo jeito, Mary havia desistido de fazer seu novo truque.

–Me desculpe pela indelicadeza – Quíron se manifestou -, mas o que você faz aqui, criança?

A filha de Hades o encarou, com os olhos em um tom azul.

–Más novas. Algumas coisas estranhas andam acontecendo, mestre Quíron. Creio que deveríamos preparar-nos para uma batalha contra criaturas um tanto estranhas para vós.

Jessica franziu a testa.

–Nós? Quer dizer que não são estranhas para você?

Mary balançou a cabeça em negativa, olhando para o chão. A filha de Hécate podia quase sentir a tensão da outra.

–Lembrai das criaturas estranhas que falei-lhe, mestre?

Quíron bateu os cascos no chão, fazendo barulho. Ele balançou a cabeça.

–Você teve semanas difíceis. Vá para o chalé e descanse. Não há nenhum filho de Hades aqui. Amanhã nós conversamos.

Mary pareceu indignada. Ela pulou da janela e veio na direção de Quíron, movimentando rapidamente as mãos, com uma expressão de que o assunto era vida ou morte.

–Mas Quíron! Eu não estou brincando!

O tutor delas balançou a cabeça.

–Eu sei. Tanto que largou a Caçada. Mary, você deve por a cabeça no lugar. A Névoa sempre lhe pregou peças, e nós nunca tivemos nenhuma notícia do que você pode ver.

Mary parou e o olhou, como se ele tivesse lhe dado um soco. Ela balançou milimetricamente a cabeça.

–Eu fui expulsa. Ártemis sabia disso. Ela me enviou para lá. - E então saiu, deixando Quíron perplexo.

Ele piscou várias vezes e respirou fundo. Depois olhou para Jessica, como se tivesse acabado de perceber que ela ainda estava lá.

–Que história é essa? - Ela perguntou, bastante curiosa.

–Mary sempre teve um temperamento muito estranho e bastante segredos. A Névoa prega peças na mente dela, fazendo-a ver coisas que não existem. E, quanto a você, volte ao seu treinamento.

–Mas...

–Volte – Quíron disse, olhando para a janela.

Jessica abaixou a cabeça e saiu do escritório, pensando no segredo que Mary guardava. Ela ia, com certeza descobrir. Parecia ser algo sério, questão de vida ou morte. Ela nunca vira a garota tão alterada.

Quando pisou na varanda da Casa Grande, viu o Sr. D jogando cartas com outras pessoas invisíveis.

–Temperamento forte, essa garota – ele disse, sem desgrudar os olhos roxos do jogo. - Ela esconde vários segredos, e é mestiça. Odeio admitir isso, mas nós dependemos das ações dela. Também não existe nenhuma loucura nela.

Jessica o olhou, atordoada.

–Como?

Sr. D a olhou, com a testa franzida.

–Como o quê? Você tem coisas a fazer, senhorita Joicy Storn.

–Jessica Spartaw, senhor.

–Vá, suma daqui. Já!

Jessica suspirou e saiu correndo da Casa Grande, em direção da áreas dos chalés. Era em formato da letra grega Ω (ômega), com uma fogueira mágica no centro e várias esculturas, fontes até mesmo uma quadra de basquete e pelo chalé de Hipnos.. Na ponta do ômega, estavam os chalés de Zeus, habitados por um semideus de período inteiro, Sam, e o de Hera, que era vazio. No lado esquerdo, estavam os deuses e do lado direito as deusas olimpianas, seguidos pelos menores. Jessica correu para o lado esquerdo, chegando no chalé de Hades, que era construído de mármore negro, com duas tochas de fogo grego a entrada. Ela bateu sem parar na porta, mas não obteve resposta, e então abriu a porta.

Um mormaço intenso a atingiu, e ela sentiu a Morte chegando perto. Desesperada, fechou a porta e deu vários passos para trás, querendo somente se afastar do chalé. Era assustador, e Jessica não tinha a menor ideia de como alguém podia morar lá. Mas tinha a certeza que não vira Mary lá dentro.

Dando as costas pro chalé, voltou a correr pelo Acampamento, à procura da garota.


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Notas finais do capítulo

I should've seen they glow
But everybody knows
That a broken heart is blind
That a broken heart is blind...
—The Black Keys.