A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 9
O sangue que está na rosa


Notas iniciais do capítulo

" O amor tem o poder que afasta a morte, o fascínio que conquista o inimigo " - Gibran Khalil Gibran

Nos vemos nas notas finais^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/351758/chapter/9

Acordo, mais radiante do que nunca. Um sonho que jamais pensei que se realizaria: acordar, assim tão radiante, ao lado de Manigold. Como o amo... Meu amor por ele é gigantesco.

" Para conquistar algo na vida, não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor ". Wolfgang Mozart... Sim, essa é uma verdade incontestável!! Tenho fé de que, agora, eu possuo tudo o que preciso para ser realmente feliz. As dores e o sofrimento passado, nada disso mais importa. Somente almejo viver uma vida completa e feliz.

Enquanto navego no oceano da minha mente e observo a face do meu caranguejo preferido, noto que ele dorme de uma maneira tão tranquila que, inconscientemente, ressalta a própria beleza. Por outro lado, não parece que vai acordar tão cedo...

Levantando-me da cama com um salto e vou em direção ao meu quarto, bem ao lado do de Manigold.

- Já passou da hora de você trocar de roupa! - penso, recriminando a mim mesmo, caminhando até meus " aposentos " - Esse pijama vai ficar encardido.

Eu deveria ter trocado ontem a noite, depois do banho... Foi um banho relaxante, até demais. Mas... como seria de outro jeito logo depois de passar momentos tão prazerosos com Manigold?

A campainha toca. Entrando no meu quarto, me apresso em vestir o primeiro short e a camisa que vejo na primeira gaveta do guarda-roupas branco. Em segundos, já me dirijo à porta e a abro sem nem ter a praticidade de ver quem é pelo olho mágico da mesma.

- Pandora?? - me espanto ao dar de cara com a morena.

- Bom dia, Albáfica. - diz ela, sorrindo.

Tem algo de estranho nela. É a primeira coisa que penso, assim que escuto sua voz. Não por ela estar, agora, sorrindo angelicalmente, afinal esse é sempre o costume dela. Na verdade, é o estranho timbre que soa de seus lábios... isso sim me intriga... Por mais que ela tente disfarçar, a voz de Pandora está tão... vazia.

- Bom dia. - finalmente respondo, após alguns segundos que passei observando-a e viajando em meus pensamentos. Fazê-lo já estava se tornando constrangedor para ambos, mas responder com gentileza ajudou a tranquilizar o clima entre nós - Entre. - convido-a, estendendo a mão direita para o sofá da sala.

Sem esperar mais, Pan entra com calma e se assenta no local por mim indicado. Ela usa no momento um short preto curto e uma regata branca. Seus cabelos negros e longos, como sempre, realçam as curvas de seu corpo.

- Deseja alguma coisa? Um café, um suco...

- Suco, por favor. Natural, se não for muito incômodo...

- Claro que não, longe disso. - respondo mantendo um verdadeiro sorriso - Não é incômodo algum. Eu mesmo iria preparar um suco para tomar... Pode ser de laranja?

- Amo. - diz, simplesmente.

Entendendo seu comentário aprovador, me dirijo até a cozinha, enquanto caminho calmo até lá falando:

- Fique a vontade. Lembre-se: a casa é sua!

Não demoro muito para preparar o suco. Era de fato a minha intenção fazê-lo, mas sequer tinha tido tempo de escovar os dentes. Logo, faço o refresco e guardo o jarro na geladeira branca, após encher dois copos médios de vidro com o mesmo.

Transei com Manigold. Tudo bem que não chegamos aos " finalmente ", mas esse fato me inquieta na presença dela. Essa frase não abandona minha mente.

- Pandora... - falo, voltando para a sala com o copo dela na mão direita, enquanto o meu jaz na pia da cozinha, por minha própria escolha - Aguarde apenas alguns instantes, pois literalmente acabei de acordar e sequer fiz minha higiene bucal.

- Te acordei?

- Se tivesse chegado alguns minutos antes, isso seria um fato! - afirmo sorridente - Mas... deseja falar com o Manigold?

Assentada, seus olhos gentis me observam enquanto a suave mão direita recebe o copo de mim, ao me aproximar.

- Albáfica... Se não se importar, eu gostaria de falar diretamente com você.

- Comigo? - me surpreendo, sentando-me no sofá ao lado direito da morena - É algo importante?

Pandora mantem o copo de vidro no centro de suas palmas. O anel no dedo médio da mão direita, simbolizando uma serpente negra, no contraste de suas unhas da mesma cor me chama a atenção. Contudo, apenas olho disfarçadamente, sem retirar meus olhos da direção dos olhos da ex-namorada de Manigold.

Ex? Apesar de tudo o que ele me disse e de tudo que vivemos na noite anterior, mesmo assim, tudo isso parece ser tão... irreal. Mas, se eu pensar mais a fundo, perceberei que o Mani estará ainda mais sensibilizado e fragilizado do que eu. Ele reagiu bem a tudo, isso é fato. Mas... como estará o coração dele nesse momento? Estaria sangrando? Espero que não. O coração dele é a minha amada rosa. Não posso permitir que sangue seja derramado dela.

- Preciso muito falar com você sim. - afirma, olhando-me diretamente, quebrando outra vez meus rotineiros pensamentos - É um caso de vida ou... morte. - essa última palavra soa com um pesar que jamais imaginei que, um dia, viria de Pandora...

- Estou ficando preocupado... - alerto, enquanto nos encaramos de forma serena e o clima começa, pouco a pouco, a se tornar escuro e sombrio como as trevas... as trevas da morte.

- Bem, serei direta, afinal...

- É sobre o Manigold? - a interrompo e somente segundos depois percebo minha crítica falta de educação. O fato de imaginar que ele possa sofrer já me deixa louco de preocupação, ainda mais depois de tudo o que ele teve de passar no dia anterior. E ela, Pandora, tem absolutamente tudo a ver com a questão...

Ela aponta, com o indicador direito, mas sem retirar a mão do aconchego do copo, para a mesa ao lado da estante da televisão. Meus olhos são guiados até ela e encontram o vaso com quatro rosas brancas, que eu mesmo havia colocado ali dias atrás. Porém... percebo algo de diferente nas pétalas de uma delas... a pétala está vermelha.

- Eu estou morrendo. - declara Pandora, enquanto continuo fitando o quarteto de flores.

- Morrendo??? - extremamente impactado, meus olhos arregalam mais do que nunca na minha vida e tenho a sensação de que eles saltarão das órbitas e vão parar direto nesse vaso de rosas.

Sem ainda conseguir encará-la diretamente, abaixo meus olhos lentamente com o intuito de assim fazer. Entretanto, antes, eles encontram pequenas gotas vermelhas em uma linha reta, no chão. Da mesa até o sofá. Ao total, cinco delas. Gotas vermelhas... Sangue.

- Perdão, mas as vezes não consigo deter a hemorragia. Está cada vez mais difícil detê-la, já que...

- Está mesmo morrendo? - rapidamente, viro meu rosto ao seu encontro. Sinto, assim, que ela se surpreende um pouco com a incredulidade nos meus olhos.

- Sim.- confirma ela, com uma estável segurança - E não levará muito tempo para a " consumação ", pois a frequência dos sangramentos aponta isso.

- O que você tem? Isso... é tão difícil de acreditar. Você...

A campainha toca, antes que eu possa completar a frase.

- Quem será? - me manifesto um pouco irritado, por ter de atender alguém justo agora.

- Pode ir atender. - diz ela, calma - Não há problemas caso deixemos a conversa para uma outra ocasião...

- Tudo bem. - falo, me levantando e colocando de pé diante dela - Mas de forma alguma deixarei essa conversa para depois! - afirmo, com firmeza.
Vou até a porta e, mais uma vez, ignoro o olho mágico. Assim que abro, me surpreendo mais uma vez. Não só ontem, como hoje também está sendo um dia de surpresas. Sendo que sequer se passou meia hora desde que me levantei da cama. Da deliciosa cama do Manigold...

- Yuzuriha?

- Albáfica, bom dia. Como vai? - ela pergunta sorrindo, a minha frente.
Que sensação é essa? Sinto uma paz tão agradável me invadir e me dominar... Mesmo depois de ter ouvido palavras tão diretas e graves de Pandora, o sorriso e a repentina presença da loira agora diante dos meus olhos me devolve a felicidade que, durante todo o meu agradável sono, desfrutei. Aliás, talvez seja uma espécie " diferente " de felicidade... Devo cataloga-la para eventuais estudos.

Felicidade: morrendo novamente. Escuto o som agudo da voz de Pandora. Sem nem ter tempo para convidar Yuzuriha para entrar, viro meu corpo assustado em direção a morena possivelmente doente. Ela, agora curvada e com o rosto apoiado nas próprias pernas, mantem a mão direita tampando a boca e se manifesta fora do próprio controle, em uma compulsiva tosse. Algo que me deixa impressionado.

- Deus... o que está acontecendo com você, Pandora? - pergunta Yuzuriha, tão assustada quanto eu.

Trajando seu cachecol vermelho, um short curto branco e uma camisa vermelha, mais clara, de mangas curtas, a loira vai apressada na direção da morena. Tal fato, por alguns momentos, bloqueia minhas reações. Elas se conhecem? Isso é novidade para mim! Mas seja como for, nada importa mais do que ajudar Pandora nesse momento. Mesmo sem saber praticamente nada do que se passa com ela. Morrendo, Pandora está morrendo? Não! Me recuso a acreditar nisso, não pode ser verdade...

- Tudo na vida tem uma cor. - afirma Pandora, com óbvias dificuldades, em meio a tosse - Seja a alegria de um dia de vida, a conquista alcançada após muita luta, as decepções vividas...

Enquanto Yuzuriha se agacha e se coloca frente a frente com ela, eu vou rápido para o lado esquerdo da morena, assentando-me no sofá. Ela, demonstrando estar decidida a terminar o discurso iniciado, continua:

- Anteriormente, minha vida possuía uma cor sem vida e sem graça alguma. Era acinzentada e neutra... Eu não era feliz.

- Do que está falando?? - pergunta Yuzuriha, tentando buscar os olhos negros da outra, agora ocultos por seus cabelos, enquanto Pandora continua tossindo e se esforçando para falar.

- Da minha vida, Yuzuriha. Eu não era feliz... - tosse, mas continua - Mas Manigold foi capaz de me trazer a cor que eu precisava, mas sequer era ciente de sua existência.

Um forte assopro vem da janela na parede na qual o sofá está recostado. Dela, percebo algo vindo em nossa direção. Algo que vem sendo trazido pelo vento... Uma pétala vermelha de rosa, que parece dançar ao redor de Pandora. Esta, sincronicamente, para de tossir. Ergue parte do rosto, deixando tanto para mim quanto para Yuzuriha a possibilidade de nos fixar em seus olhos úmidos por lágrimas. A pétala, impulsionada por essa brisa refrescante, segue seu rumo até cair no colo ensanguentado da morena. Ela se mistura com o abundante sangue, como se o " líquido " e a pétala combinassem entre si, agora, em um só elemento.

- O vermelho do viver. - afirma, desviando o próprio olhar para baixo, para ver a " fusão vermelha ".

O silêncio entre nós comanda, ditatorialmente. Contudo, Pandora o rompe ao, após quase um minuo inteiro, dizer:

- Não sei dizer se, de fato, o amo. Pode ser que sim, mas também pode ser que não. Sendo a resposta qual for, Manigold foi capaz de fazer por mim algo ainda maior e mais esplendoroso do que o amor. Manigold redespertou em mim o sentido de viver nesse mundo. - os olhos de Pandora se voltam para mim, quando continua - Cuide muito bem dele, Albáfica. Ele merece todo o amor que eu não sou capaz de dar.

- Pandora... - sussurro, sem ser capaz de dizer demais palavras.

- Mesmo que seja, essa vida, bem mais breve do que o normal... - volta a declarar.

Não consigo me manter equilibrado. Suas palavras me tocam profundamente e fazem brotar lágrimas sinceras em meus olhos. Somente me determino a ouvir aquilo que Pandora diz e se esforça para terminar, com tanto afinco. Ela precisa lançar para fora o que sente e libertar-se de sentimentos aprisionados.

Os lábios da morena desenham um belo sorriso. Seus olhos começam a se fechar... lentamente. Ainda sim, esses lábios relutam para proferir as palavras finais dessa manhã. As palavras finais, talvez, de...

- ...penso eu que valeu a pena esperar tanto para apreciar a intensidade desse vermelho.

Você tem razão, Pandora. Tudo na vida possui uma cor. Mas o vermelho não é só a cor da vida, é também a cor do amor. O que, definitivamente, me faz ter ainda mais convicção de que não se pode viver sem amar...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Adotei na fic o ponto de vista reflexivo de Pandora sobre a própria vida: uma vida acinzentada. Creio eu que é um ponto marcante da personagem, que me interessa e, portanto, a explicitei. Mas enfim... espero que tenham gostado, queridos leitores. Nos vemos nos reviews (reviews please, ne??