A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 7
A chegada da primavera


Notas iniciais do capítulo

" Se não tivéssemos inverno, a primavera não seria tão agradável. Se não experimentássemos, algumas vezes, o sabor da adversidade, a prosperidade não seria tão bem-vinda ". - Anne Bradstreet

Capítulo com cenas fortes, rsrsrs... Preparem-se e boa leitura!!



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Estou eu aqui. Finalmente, cheguei ao meu destino. Agora toco a campainha da casa do Tenma com o dedo indicador direito, aguardando ser recebida. Ofegante, pouco a pouco minha respiração vai se estabilizando. Não faço uma ideia exata de quanto tempo levei para chegar, mas sei que minha corrida foi longa e puxada...

Segundos após o som da campainha ecoar, a porta se abre e um jovem loiro me recebe educadamente.

– Bom dia, Alone. - sorrio ao ser recepcionada pelo irmão de Sasha, que abre a porta da casa para mim.

– Bom dia, Yuzuriha. - ele responde, como sempre, com uma angelical expressão no rosto.

Apesar da atual situação, o garoto não perde a pureza e gentileza de sua personalidade tão doce. Creio eu que seja impossível que Alone, em qual circunstância for, deixe esse jeito sereno e gentil de ser de lado.

– Yu... Yu... Yu... Yu... Yuzu... rihaaaaaaaaaaaaaaaa!!! - ecoa a voz de Sasha, que me chama provavelmente tendo quase certeza de que quem chegara sou eu..

O chamado dela, nesse instante, gela a minha espinha.

– Sasha... - falo, com meus olhos arregalados, visualizando a cena.

Ao fundo da sala, avisto Tenma ajoelhado do lado direito de Sasha. Ele está de mãos unidas as de minha querida amiga, estando ela deitada sobre um grande sofá azul marinho e o corpo quase todo coberto por um manto branco, tendo a cabeça e seus cabelos liláses para cima e os pés alvos para baixo . Uma mulher que não conheço, notavelmente mais velha, curvada em frente ao corpo da irmã de Alone, acolhendo as pernas da mesma.

– Você precisa ser forte... - fala Tenma, em um tom que mal sou capaz de ouvir.

– Estou dando tudo de mim, Tenma!! - exclama ela, aos prantos.

– Só falta mais um pouquinho, minha querida. - diz a senhora, tranquila, apesar de tudo.

Sem pensar duas vezes, entro correndo em uma frenesi desesperada. Alone fecha a porta rapidamente e vem em minha direção.

– Eu já estou aqui, Sasha... - falo de forma suave.

Assim que o digo, me coloco ao lado esquerdo de Tenma. Alone, por sua vez, se posiciona ao lado direito do amado de Sasha. Olho diretamente nos aflitos olhos verdes de minha amiga, na tentativa de reconfortá-la com a minha presença.

– Que bom que você chegou... - sussurra ela , se esforçando para permanecer de olhos abertos - Pensei que não viria mais.

– Claro que não, sua boba. Não te abandonaria em um momento desses depois de todo o apoio que me deu quando eu mais precisava. - falo, sorrindo de modo gentil - Sempre estarei ao seu lado assim como sempre esteve ao meu, independente do que aconteça. - afirmo e, em seguida, foco meu olhar sobre o " sujeito " que recolhe as mãos suadas de Sasha - Está tudo bem com ela, Tenma? - pergunto, fitando-o bem ao meu lado.

Sem desviar seu olhar para mim, mantendo-o impecavelmente sobre a namorada, ele responde sério:

– Espero que sim.

O alto grito de Sasha me faz olhar para ela outra vez. A senhora de idade, também presente no local, ergue o corpo anteriormente curvado. Minha amiga se entrega à fadiga, imersa em um interminável oceano de uma respiração descompassada e arfante. Ela, Tenma, Alone e eu ouvimos então o choro de um anjo que acabara de chegar até nós.

Por instinto, todos olhamos para a senhora, que agora têm algo em seus braços. Ou melhor, alguém.

– O nome dele será Seiya... - fala Sasha, exausta.

– Seiya. Que nome lindo... - opino sorridente, enquanto observo a nova vida agasalhada, em um pequeno manto branco, nos braços da parteira.

A senhora, sem esperar por muito mais, se afasta para limpá-lo. Logo, retorna e o coloca sob o aconchego materno. Para mim, o parto deveria ser feito em um hospital como " manda o figurino ". Mas Sasha é a gestante, ou melhor, a mais recente mãe da cidade. Ela tem o direito e decide, afinal, como quer e onde quer que o filho venha ao mundo.

Radiante e com seu bebê nos braços, ela o fita com um olhar de fraternidade e amor incondicional. Com o rosto banhado por lágrimas, cansada, mas ainda sim cheia de felicidade, ela diz o seguinte a Seiya, como se conversasse com o mesmo:

– Seiya, a minha flecha estelar.

...

/--/--/

As horas passam sem que o trio se dê conta. A bela e agradável manhã, lentamente, é substituída por uma tarde tão aprazível quanto. Albáfica, Shion e Dohko, desde o fim do período matutino , permaneceram na praça principal da cidade. A razão? A conversa entre amigos, tão deleitável que os privaram da noção do tempo.

– Shion, a gente tem que ir! - exclama o libriano, espantado ao olhar para seu relógio no pulso direito e constatar quantas horas são - Já são 5 da tarde.

– Sério que já são 5 horas? - o amigo, surpreso.

– Bem, na verdade, faltam alguns minutinhos... Mas não faz diferença, alguma, faz? - pergunta, lançando um olhar leviano sobre Shion.

O ariano abnega o comentário e se levanta da grama. Dohko faz o mesmo e os dois, amigavelmente, se despedem do companheiro de longos cabelos azuis e lhe dão as costas para irem embora.

– Pobre Albáfica... - lamenta Shion, enquanto anda ao lado esquerdo de Dohko - Desde tão cedo, teve de enfrentar tantos obstáculos. A falta de amigos, a perda dos pais, a futilidade da tia que passou a criá-lo desde então, a aproximação de pessoas com interesses tão banais, a dificuldade para aceitar a própria opção...

– Tá Shion, já chega. - reclama Dohko, isento do desejo de ouví-lo citar os problemas de Albáfica, conhecendo os tais de cor e salteado - Tanto você quanto eu sabemos de tudo o que nosso amigo já passou, passa e ainda terá de passar. Mas... - uma nítida volúpia toma controle da voz do libriano, que continua - ...eu não estou afim de ouvir isso agora.

A dupla caminha para a mesma direção que veio, se afastando cada vez mais de um Albáfica pensativo e reflexivo, que observa com lealdade o céu da tarde.

Incrédulo e surpreso com a ríspida atitude do companheiro, o ariano pergunta para o mesmo, encarando-o enquanto andam:

– Dohko, você não se preocupa com os problemas do Albáfica? Não percebe que...

Dohko leva a mão esquerda até " aquilo que Shion usa para se assentar" e aperta com força, deixando-o atônito.

– E como me preocupo, afinal sou amigo dele. - Diz, sem retirar a mão da bunda do outro e ambos sem cessar a caminhada - Mas agora eu estou a fim de outra coisa...

Shion sorri, em um misto de timidez e empolgação. Em instantes, a dupla chega à casa do ariano, que fica a poucas quadras de distância do apartamento de Albáfica. Dohko toma a frente e abre o portão, e em seguida, a porta. O parceiro do mesmo entra e, assim que o libriano tranca a porta com a chave e a joga em um canto qualquer, pula em cima de Shion como uma fera faminta.

– Calma, Dohko. Vamos para o quarto primeiro... - pede, com dificuldade, tentando se desvincilhar dos beijos esfomeados do outro.

Dohko o ignora, levando seus amassos adiante. Rápido, o empurra contra a parede com força e guia a própria boca para o lado esquerdo do pescoço de Shion, que tem seus lábios, agora vermelhos, abandonados.

– Por quê está com tanto tesão assim? - pergunta Shion, cerrando os olhos no clímax da excitação.

– Eu tô louco pra te jogar naquela cama... - fala, sem deixar o pescoço do ariando de lado - ...pra te ter só pra mim... Quero provar do seu sabor agora, Shion !!

Mesmo que baixinho, o ariano começa a gemer. Seu corpo amolece e é entregue ao amigo...amigo???

Dohko, esquentando o clima cada vez mais, vai junto do outro até o quarto, sem soltá-lo um segundo sequer. Chegando lá, o joga na cama com toda a força.

– Dohko, até parece que não transamos há dias... - comenta Shion rindo, apoiando os cotovelos sobre a cama e olhando para o libriano parado a sua frente.

É nítido o desejo incontrolável do moreno. O brilho em seus olhos é como ao de um leão prestes a devorar a presa, mesmo não sendo este o seu signo. Dohko passa a língua, sensualmente, sobre os lábios, excitando o parceiro ainda mais.

– Vamos nos divertir muito essa noite, Shion...

Com pressa, o " leão feroz " retira a sua camisa e o joga para cima. Avança contra o ariano, empurrando-o e pressionando-o na cama. Os lábios atrozes de Dohko, outra vez, tomam os de Shion bravamente. O moreno usa as mãos para segurar firme os pulsos do parceiro, enquanto se dedica a tarefa de lhe deixar sem ar.

Após mais de um minuto inteiro ou até mais do que isso, o libriano cessa o beijo, libertando os lábios do outro.

– Assim você me mata... - reclama Shion, de fato, sem ar.

Dohko se assenta na barriga do mesmo e dedica ambas as mãos no trabalho de retirar o próprio cinto. Assim que o faz, o abandona em um canto da cama. Seguidamente, retira as calças rápido, enquanto Shion permanece ofegante sobre seu controle.

Encarando-o com uma safada expressão e agora trajando apenas a cueca, o indomável moreno leva as mãos, mais uma vez, a prenderem os pulsos do ariano na cama. Aproximando o rosto, o leva até a orelha esquerda do já dominado parceiro. Depois de uma leve chupada na mesma, murmura para ele:

– Então é melhor se preparar, pois tem muito mais por vir.

...

/--/--/

" Se não tivéssemos inverno, a primavera não seria tão agradável. Se não experimentássemos, algumas vezes, o sabor da adversidade, a prosperidade não seria tão bem-vinda ". - mentalizo observando o céu do anoitecer - Esses versos de Anne Bradstreet encaixam perfeitamente no conflito que vivo atualmente.

Levanto-me da grama. Permaneci tantas horas sentado ali que minha bunda parece ter virado pedra.

– É hora de voltar pro apê. Não é possível que o Mani e a Pan estejam curtindo o aniversário até agora. - minha declaração soa bem mais melancólica do que eu esperava.

Andando, retomo o caminho de volta para meu apartamento. O percurso de retorno leva alguns minutos, considerando que, no fundo, eu temo encontrar os dois se atracando. Seria uma cena que reduziria meu coração a migalhas.

– " Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas " ! ... Machado de Assis. - falo comigo mesmo, no meu trajeto - Realmente, meu lado literário está com a corda toda hoje.

Chegando no meu destino, entro no prédio demonstrando um gentil sorriso para o síndico. Vou até as escadas e inicio o " processo da subida ". Levo certo tempo para percorrê-las e me posicionar diante da porta do meu apê. Afinal, eu escolhi o último andar, é esse o preço que devo pagar por minha decisão. De qualquer forma, a vantagem de apreciar diariamente a brisa matutina e a vista tão bela da cidade compensa esse lado negativo de morar no andar final. Levo minha mão direita até a maçaneta e abro a porta sem dificuldade.

– Como era de se esperar, o senhor caranguejo deixou a porta destrancada... - comento comigo mesmo, entrando e fechando a porta.

Permaneço parado aqui mesmo e meu olhar paira na sala, analisando o local, com pouca iluminação em razão do avançado período das horas. É uma sala sem muitos adereços. Uma estante vermelho-escarlate em frente a um sofá de três lugares da mesma cor. Uma televisão preta sobre tal estante de modelo, tecnicamente, ultrapassado. Uma mesa circular de vidro, ao lado do móvel, com um vaso contendo quatro rosas brancas bem no centro.

– Será que a Pandora ainda está aqui? Está tudo tão quieto... - falo em um tom baixinho, para evitar que ela ou Mani me ouça.

Imediatamente, tomo um tremendo susto ao ver Manigold caido no chão. Sem camisa e com uma calça jeans, que noto até bem apertada... Mas que importância tem isso?! Enfim... Manigold, ao chão, com as costas apoiadas a parede. Com a escuridão ambiente, a primeiro momento, não fui capaz de vê-lo. Assim como também não vi as incontáveis latinhas de cerveja jogadas para todos os lados. Talvez 15, 20 delas... Para meu espanto.

– Mani, o que você está fazendo aí? - com o susto, encosto a porta e a deixo sem trancar mais uma vez, preocupando-me somente em correr, em linha reta, até ele.

A sala tem um tamanho mediano. Portanto, não demoro para alcançá-lo. Me agacho e tento olhar diretamente para seus olhos, colocando minhas mãos sobre seus ombros.

– O que você está fazendo sentado aqui? - não sei por qual razão, mas o tom da minha voz se revela exaltada e extremamente preocupada, bem mais do que deveria... eu acho - Por quê chegou ao ponto de beber tanto? Está querendo se matar?

– Ela foi embora... - diz ele, cabisbaixo e sem olhar para mim, visivelmente bêbado e fora do seu juízo perfeito - Ela foi embora... - repete.

– A Pandora? - de certa forma, ouvir a voz do Mani me alivia, mas não me priva por completo da preocupação - Me conta o que houve...

Mani literalmente dá um salto e se coloca de pé. Caio, para trás, assentado, mas logo me levanto e fito o rosto do meu amigo, que fala:

– Ela foi embora, Alba... Ela foi embora... - desta vez, reclama como se fosse uma criança chorosa que acaba de perder seu doce preferido.

– Calma... - digo, envolvendo-o com meu braço esquerdo e guiando-o até seu quarto.

Percebo que Manigold não tem a mínima condição de falar o que aconteceu. Nunca tinha o visto tão mal dessa forma. Decido levá-lo para o quarto, à serenos passos, para que ele possa dormir na própria cama. Seja o que for que tenha ocorrido, o melhor é perguntá-lo no dia seguinte. Se é que, no dia seguinte, Mani se lembrará de algo. Ele já foi vítima de amnésia alcoólica tantas vezes...

Segundos depois, chegamos no quarto. Vou guiando-o até a cama e o mesmo, se libertando dos meus braços, se joga de bruços para ela. Resmunga algumas coisas, brevemente, com o rosto mergulhado no travesseiro. Entretanto, não consigo ouví-lo.

De certa forma, vê-lo na cama como um anjo descansando em nuvens me faz relaxar por completo. Acabo me esquecendo de todo o resto do mundo, decidido a ajudar o meu... amigo. Recrimino-me mentalmente ao me notar observando o corpo dele.

– Albáfica, pare com isso! - mentalizo, tentando retirar meu olhar de cima do seu corpo – Mani, durma bem. - recomendo, caminhando para o lado direito e me assentando no canto da cama - Relaxa e vê se não apronta mais por hoje, ok? - minha mão esquerda paira sobre o ombro direito de Manigold - Você não está em boas condições...

Olho para as costas torneadas do meu colega de apartamento. Penso em vestí-lo com algo mais, mas colocar uma camisa naquele corpo definido e atraente, naquele corpo por mim tão desejado e cobiçado... seria uma tentação difícil demais... Me coloco de pé e me viro para o guarda-roupas, centímetros consideráveis ao lado da cama. Empurro a porta de correr e pego um grande cobertor azul, a fim de cobrí-lo para que não sinta frio durante a noite.

– Isso deve servir...

Assim que me viro de volta em direção a cama, Manigold está em outra posição. Antes de bruços e agora com o peito para cima. Meu coração acelera, de imediato, ao vê-lo dessa forma. Seus olhos fechados, por resultado, me fazem pensar que ele já caíra em sono profundo.

– Boa noite. - sussurro, jogando o cobertor sobre seu corpo e ajeitando-o.

Cada toque em seu corpo para ajeitar a coberta, arrepia todas as partes do meu. Que provação!!

Finalmente, quando acabo de cobri-lo, decido sair do quarto e permitir que ele tenha uma boa noite de sono. Contudo, sinto a mão forte de Mani segurar meu pulso direito. Olho em direção a ele, que empurra o cobertor para o chão com a outra mão.

– Pensei que já estava dormindo. - comento.

– Fica aqui...- diz ele, com uma voz melosa , mas ao mesmo tempo masculinizada, ignorando o que eu dissera.

Ele está sendo vitimado por um porre histórico, com certeza! Faz um esforço tremendo até para manter os olhos abertos... Nunca o vi dessa forma.

– Fica... - fala ele, mais uma vez.

Em tal situação, não faço a mínima ideia do que dizer. Puxo, com firmeza, o meu pulso e falo, sério:

– Mani, para de delirar e vai dormir. Você bebeu demais e precisa descansar. - permaneço no mesmo ponto, sem sair, por enquanto.

Ele projeta o corpo para a frente, cambaleante, e fecha as pernas, assentando-se.

– Por favor, fica... - finalmente, ele me olha nos olhos.

Os olhos de Manigold parecem exercer uma força hipnótica sobre mim. É como se eu fosse atraído para dentro deles, sendo preso e acorrentado por eles. Perco toda a minha determinação. Mani me puxa pelo pulso com sua mão direita e acabo caindo em seu colo. Com minhas mãos apoiadas no seu peitoral, sinto meu ponto fraco ali em baixo se encontrar com a calça jeans do namorado de Pandora.

Exatamente. O namorado de Pandora. O que ela diria se nos visse nesse instante? Meu Deus, o que estou fazendo???!!! Manigold está bêbado e não consigo ter nenhuma força de vontade para bloquear os devaneios dele? Não posso ser sujo ao ponto de me aproveitar de um momento de fraqueza de alguém que, ainda por cima, é hétero e tem namorada!! Por mais que o ame e o deseje todos os dias da minha vida, seria essa uma atitude totalmente desprezível. Teria vergonha de mim mesmo. Preciso usar minha razão até o fim!

– Não quero ficar sozinho... - fala ele, em um tom bem mais baixo que o anterior.

Trocamos olhares. Quanto mais ele mantem seus olhos sobre os meus, mais a minha força se perde. Mas não posso deixar que isso aconteça. Eu preciso e devo acabar com essa situação.

– Manigol... - não sou capaz de terminar o que iria dizer.

Meus lábios se calam assim que os dele os toca. Um beijo imponente e selvagem. Como eu sonhei... como sonhei em um dia sentir o calor do seu beijo, a umidade de seus lábios, o sabor da sua língua. Mas tenho certeza que esse beijo não é para mim, é para a Pandora. E assim que me lembro dela outra vez, recupero parte da minha força e afasto minha boca da dele.

– O que você está fazendo? - recrimino-o.

– Quero você aqui comigo... fica aqui... - fala ele, com uma doçura infinita preenchendo sua voz.

– Você quer a Pandora, não a mim. - digo, mais para mim mesmo do que para ele, como se quisesse convencer a mim mesmo da verdade.

– Preciso de você... - afirma.

O natural, claro, é que eu espere que essa frase seja completada com o nome da Pandora. Nitidamente, Manigold pensa que está com ela em seus braços nesse instante, quando na realidade está comigo. Como sou ridículo, patético e ardiloso!! Como posso querer, mesmo que lá no fundo, ouvir seus deliciosos lábios pronunciarem o meu nome? Ele dirá Pandora, pois...

– ...Albáfica.

Posso jurar que meu coração está saindo pra fora. Como é que é? O Manigold falou meu nome? Ele tem consciência de que está comigo e não com a própria namorada? Mas... não pode ser... O Mani está totalmente bêbado e fora de si. Em sã consciência, jamais iria me desejar, mas...

– Preciso de você, Alba...

Por mais que minha razão repita insistentemente que aquilo é errado, que não deveria estar acontecendo, que não pode estar acontecendo, que o Manigold deseja a Pandora e não a mim, o novo beijo contraria todas essas minhas céticas ideias.

Um beijo feroz, mas ainda sim suave. Forte, mas ainda sim gentil. Molhado, mas ainda sim quente. Errôneo, mas ainda sim... o certo. Aquilo que é certo para mim, tudo o que eu preciso...

Manigold, lentamente, deita as costas sobre a cama e vai guiando meu corpo, me envolvendo com um inigualável abraço e um maravilhoso beijo que desejei por tantos, mas por tantos anos...

Novos versos invadem minha mente. Da autoria do sábio Adriano Yan, agora, isso é tudo o que meus lábios, trêmulos, conseguem pronunciar no contato com os lábios incessantes do outro:

– Meu sentimento por você é lindo como um belo campo de rosas vermelhas... Manigold.

Dane-se a razão, dane-se a Pandora, dane-se o mundo!! Mesmo que por uma breve noite, por breves momentos, permita-me apreciar a fragrância dessas tão belas rosas...



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Notas finais do capítulo

No início, meu objetivo era narrar a fic somente pelo Albáfica. Mas percebi que se o fizesse, muita coisa interessante envolvendo Yuzuriha e Manigold ficaria de lado. Portanto, não serão raros os momentos narrados por eles. Enfim ... não sei quando postarei o próximo, pois estarei bem atarefado essa semana, mas até lá!!

PS: O nome Seiya significa flecha estelar.