A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 3
Entre pétalas e espinhos


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, agradecendo os comentários de quem está acompanhando a fic. O carinho de vocês me estimula a prosseguir!! Capítulo narrado por Manigold.



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Acordo sentindo o cheiro do café fresco pelo quarto. Sempre fui o exemplo vivo de um viciado nessa bebida. Aliás, não só em café, mas em qualquer coisa que estiver disponível. E justamente por beber demais que estou nessa situação agora. Uma dor de cabeça daquelas, vontade de dormir o dia inteiro, garganta seca e sem conseguir lembrar absolutamente nada da noite anterior. Simplificando: ressaca.

Obviamente, não é a primeira vez. Afinal, tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim. É como diz o meu amigo Albáfica: uma rosa não é bela só por suas pétalas, mas também por seus espinhos. Se bem que eu nunca entendi direito essa frase , não dou a mínima para rosas e muito menos sei por que isso me veio à cabeça agora.

Muitos falam que sou a irresponsabilidade em pessoa, mas eu não me classifico assim. Quero apenas curtir a vida enquanto ainda a tenho. Eu sei muito bem que tenho deveres a cumprir e é justamente por isso que estou fazendo Administração. Prezo muito o futuro que quero ter, mas também dou valor ao meu presente. Afinal, a vida é uma só e cada segundo é único.

Jogado na cama, continuo sem forças para sair dela. Depois de abrir meus olhos, tenho a sensação de que permaneço por longos minutos estático entre meus lençois tão desarrumados .

– O que foi que eu aprontei ontem?- pergunto para mim mesmo, passando a palma da minha mão esquerda sobre a testa.

Usando no momento só uma simples cueca branca, salto da cama e me espreguiço todo por alguns segundos. É segunda-feira, dia de aula na "facul". Infelizmente, meu desejo avassalador de dormir por várias e várias horas não poderá ser atendido.

– Booooom dia, meu grande amigo Albáfica!!- cumprimento meu companheiro de apê, gritando enquanto saio do meu quarto.

– Bom dia. Pensei que não acordaria mais.- ouço sua voz, vindo da cozinha.

Passo pelo corredor e vou até lá. Ele, ainda de pijama e de costas para mim, pega algumas coisas no armário para o café da manhã. Não consigo me segurar e resolvo aprimorar minha saudação matutina com uma brincadeirinha inocente.

– Que falta de bons modos, hein?- pergunto sarcástico e, em seguida, dou um tapa com força na "parte traseira" do Alba, que estala bem alto- Não é assim que você deve falar com um amigo.

– Manigold, para de graça!- reclama ele, se virando para mim com cara de nervosinho e segurando na mão direita uma faca e na esquerda um pote de mel.

– Alguém já te disse que você fica irresistível de pijama?- uso minha "sensualidade nata" no meu tom de voz - E esse potezinho de mel te deixa ainda mais gostoso...- mordo meu lábio inferior, me insinuando.

Mostrando-me a faca que segura, ele fala irritado:

– Alguém já te disse que iria enfiar uma faca no seu...

Ele para de falar por alguns instantes. Fica mais do que claro que está , desesperadamente, procurando um termo "leve" para substituir o que nós dois sabíamos que ele diria. Albáfica, nem nos momentos em que está mais nervoso e fora de si, fala alguma coisa ...digamos..."imprópria". Eu, por outro lado, falo praticamente sempre que tenho a chance de abrir a boca.

– ...olho?- ele completa, indo até a mesa da sala de jantar e colocando o pote de mel e a faca sobre ela.

E justamente pelo fato dele ser tão certinho que irritá-lo se torna uma tarefa tão divertida.

Rindo, vou caminhando até uma das cadeiras ao redor da mesa na sala de jantar. Sento e me deparo com pães, frutas diversas, um jarro de leite e outro de suco de laranja natural, queijo, biscoitos, um ponte de manteiga, além do mel. Enfim...uma mesa farta!! Albáfica volta para a cozinha, preparando tranquilamente mais alguma coisa para o café-da-manhã já tão gostoso.

– Por quê está caprichando tanto assim, hein?- pergunto, curioso, com meu tom de voz habitual mais uma vez.

– Bem...hoje ela vai vir aqui.- responde ele, normalmente.

– Ela quem?- percebo que a " farra de domingo " trucidou minhas memórias de uma forma ainda pior do que tinha imaginado.

Por fim, ele sai da cozinha de vez e vem para a "área do lanchinho" . Segurando a garrafa de café em uma mão e um copo de vidro na outra, Albáfica os coloca na mesa e se assenta na cadeira a minha frente.

– Vai dizer que esqueceu?- pergunta Alba.

– Hehehe...- rindo, coço minha nuca, sem ter ideia alguma de quem ele fala- Algo me diz que é alguém importante, pelo jeito que preparou tudo...

Colocando os braços sobre a mesa e apoiando o queixo em suas mãos, a seriedade toma controle do rosto do meu amigo , enquanto fala:

– A Pandora é quem virá e não deve demorar muito. Hoje é aniversário de namoro de vocês dois e tinham combinado de passar o dia aqui.

Meu coração quase salta pela boca. Meu Deus!!! Como eu pude esquecer do aniversário do nosso namoro ? Claro que eu nunca dei importância para isso, mas ela dá e muito. Pandora é uma mulher daquelas! Maravilhosa, companheira, divertida, gata, e... o mais importante: um vulcão na cama. Porém, ela tem uma personalidade muito forte. Quando pisam no calo da minha morena, ela passa de uma garota meiga para uma mercenária implacável. Esquecer o aniversário do nosso namoro assim seria uma falta feia.

– Putz, e agora? - nervoso, é somente isso o que consigo falar.

– Ué...não fez uma programação com ela?- comenta, colocando um pouco do café em seu copo.

– Sei lá, eu não to me lembrando.- digo, cada vez mais nervoso com a situação- Você deve saber o que eu tinha combinado com ela...

Tomando um gole do café, ele me diz, com toda a calma e serenidade que possui:

– Tudo o que sei é que você a chamou para passar o dia aqui, aproveitando que hoje não vai ter aula na universidade.

– Não vai ter?- fico ainda mais surpreso.

Um sorriso delicado, mas ainda sim forte. É isso o que vejo na face de meu amigo. Albáfica é capaz de ser gentil e bondoso com as pessoas sem perder seu jeito de homem e sua força de vontade para alcançar o que almeja, a qualidade que mais admiro nele. Não que meu interesse passe dos limites da amizade. Somente tenho um grande carinho por ele, que cresce a cada dia que convivemos um com o outro. Alguns dos mauricinhos de plantão vivem insinuando que somos mais do que bons amigos. Entretanto, eu sou hétero e não me interesso por outros homens. E tenho certeza absoluta que o Alba também não.

A aparência delicada e suave do meu ex-colega de sala contraria totalmente sua personalidade firme e determinada, que só é revelada para poucos. Essa situação acaba aumentando os boatos sobre Albáfica, mas ele sequer se importa com o que pensam ou deixam de pensar. Enquanto viajo nos meus pensamentos, o dono desses longos cabelos azuis claros me responde:

– Não. Pelo visto você esqueceu de tudo mesmo, não é? - olhando diretamente nos meus olhos, Alba demonstra esperar de mim uma resposta, mas permaneço em silêncio para que ele continue- O reitor e dois professores sofreram um acidente grave no trânsito, portanto foram afastados. Por isso, os alunos não terão aulas esses dias. Entretanto, quando tudo estiver sobre controle, os dias letivos perdidos serão recuperados.

Saboreando alguns dos biscoitos, o "senhor tranquilidade" se levanta da cadeira dizendo:

– Bem, já vou indo. A Pan deve estar chegando ai e não quero atrapalhar a diversão de vocês.- fala, enquanto pega mais um biscoito e coloca na boca.

Acenando, Alba caminha até a porta do apê e retira um chaveiro do bolso, abrindo-a. Mesmo usando pijama, ele não se importa em sair só com a roupa do corpo. Definitivamente, ele não dá a mínima para o que falam ou pensam dele.

– Até mais, meu belo amigo de pijama!- falo, mastigando um pedaço de pão que acabo de pegar.

Olhando seriamente para mim, Albáfica termina de comer o biscoito e comenta:

– Depois eu que não tenho bons modos, não é? - e sai, fechando a porta.

Sorrindo, levanto-me e vou em direção a estante próxima a porta por qual ele saiu. Um amontoado de papeis me chama a atenção. Mais precisamente, as anotações do livro que Albáfica começou a escrever nesses últimos dias. Movido pela curiosidade, pego a primeira folha que vejo e noto uma simples frase nela escrita.

"Por mais que possamos desfrutar da fragância das pétalas de uma rosa, nunca estaremos livres de seus espinhos. "

– Reflexões filosóficas sobre rosas, definitivamente, não são para mim.- digo, deixando ali o papel e me afastando da estante, indo de volta para meu quarto.

O café está ótimo, mas não posso acabar com tudo. A Pan merece se matar de tanto comer também. Além disso, não posso receber minha namorada só de cueca. Pelo menos, preciso vestir umas roupas, mesmo que elas não durem tanto tempo no meu corpo...



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Notas finais do capítulo

Aguardando os previews de vocês!! Espero que o cap tenha sido bom.



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