Talvez eu possa dizer que tenho tudo o que uma garota sonha ter. Um namorado lindo, charmoso e atencioso. Uma carreira sólida de modelo. Uma vida financeira estável com direito a tudo o que eu quiser. Um apartamento em meu nome de dar inveja a qualquer um. Meus 19 aninhos e a liberdade para tomar minhas próprias decisões e definir meu caminho por mim mesma. Enfim...uma vida perfeita. Porém, falta algo.

Todas as noites em que deito a minha cabeça no travesseiro, sinto um vazio em meu coração. Sinto que falta algo, como se apesar de tudo, eu estivesse incompleta. Mas o quê me falta? Afinal, por que esse vácuo dentro de mim?

4:30 da manhã e ainda estou acordada. O mais incrível é que não tenho sono, mesmo após noites e noites sem dormir quase nada. Na sacada do meu apartamento, observo o céu, tão belo e fascinante. Apoiada em uma cadeira de couro, suspiro esperando o passar das horas. Usando um pequeno short branco, um casaco da mesma cor e meu habitual cachecol vermelho, o gélido ar frio que sopra minha pele clara não me incomoda. Ao contrário, me faz sentir viva.

–Yuzu, não vai vir dormir?- pergunta Yato, passando pela grande porta de vidro e recostando a cabeça na parede, a alguns poucos centímetros de mim.

Sem desviar meu olhar da hipnotizante visão das estrelas, respondo friamente:

–Não. Estou sem sono.

Se aproximando mais, Yato inclina seu corpo ao meu lado esquerdo até tocar meu rosto com seus lábios finos e sensuais.

–Já que é assim, vamos voltar juntos para nosso quarto. Podemos tentar uma segunda rodada...- sugere, em um tom erótico que sempre usa pra conseguir o que quer e quando quer.

–Não Yato. Agora eu só quero ficar sozinha.- digo, sem me deixar envolver pelas suas provocantes táticas.

Saindo do meu lado, o insistente se coloca diante de mim. Inclinando-se outra vez, seus lábios tocam os meus enquanto meus olhos, evasivos, tentam desesperadamente negligenciar o seu atraente corpo nu.

–Tem certeza?- ele tenta novamente, ainda mais envolvente.

–É melhor ir vestir alguma coisa ou vai pegar um resfriado.

Ouvindo isso, Yato me beija de maneira indiferente e afasta o seu corpo do meu.

–Certo. Boa noite, minha linda.- se despede, agora com um sorriso quase angelical no rosto, retomando seus passos e saindo da sacada.

–Não consigo entender como ele consegue ser tão atraente sem perder esse ar de ingenuidade.- suspiro profundamente e penso, sozinha mais uma vez.

Ele e eu estamos juntos há pouco mais de seis meses, mas nos conhecemos há dois anos atrás. No grupo de amigos, sendo ao todo, Tenma, Sasha, Alone, Yato e eu, ele sempre foi o mais chamativo e engraçado. Na época, Yato tinha uma quedinha pela Sasha, mas acabou desistindo dela assim que minha querida amiga começou a namorar o Tenma. Desde então, passou a se interessar mais pela minha companhia, pela minha presença. Por outro lado, eu o via como uma criança e não como um homem, não só pela personalidade infantil mas também pelos dois anos de diferença entre nós. Apesar disso, com o tempo, esse garoto acabou me conquistando. Ele foi crescendo e se tornando cada vez mais irresistível. Um típico adolescente que tem todas as garotas que desejar. Em um momento de fragilidade e solidão, fui a presa que deixou-se ser capturada pelo predador. Hoje, ele com 17 anos e eu com 19, vivemos um namoro estável e prazeroso. Yato é um amante feroz na cama e um companheiro leal na vida. Ainda sim, mesmo nossa relação sendo agradável, me sinto incompleta. E esse vazio vem me angustiando nas últimas semanas e uma questão invadiu meus pensamentos: eu o amo?

Uma brisa refrescante assopra meus cabelos. Minhas longas madeixas loiras são lançadas sobre meu rosto e, por instinto, levo minha mão direita até elas. As retiro e encontro, entre os fios longos, algo que o vento trouxe até mim.

–Uma pétala de rosa?- de certa maneira, fico admirada com a pétala vermelha que encontro entre meus cabelos- Como ela chegou até aqui?

Virando meu rosto para meu lado esquerdo, de onde o vento a trouxe, avisto ao longe a sacada de outro apartamento. Do outro lado da avenida, algumas belas rosas vermelhas enfeitam-na.

–Qual o nome dele mesmo?- me pergunto, lembrando de que há alguns dias, Sasha tinha me apresentado o seu colega de faculdade, dono do apartamento.

Quando ela me apresentou, admito que me impressionei com sua beleza e gentileza. Contudo, o que mais me chamou a atenção foi o seu olhar triste. Um olhar como o meu. Me esforço para lembrar-me do seu nome, mas logo perco o interesse em descobrir.

Abro minha mão, permitindo que a pétala siga seu caminho. Rapidamente, o vento a leva e volto a observar o céu. Os minutos vão passando, mas permaneço encostada na minha cadeira giratória de couro. Particularmente, sempre achei que ali não era um bom lugar para ela. Contudo, as insistências da minha amiga inseparável Sasha acabaram me convencendo. Ela é do tipo que "acha" que entende de decoração. No fim, essa cadeira acabou sendo útil. Me aconchega, enquanto meu tão esperado Sol desponta no céu. Uma alvorada bela e encantadora, tão desejada quanto a resposta que procuro. Será mesmo que amo o Yato? Com ele, tudo é tão perfeito. Mas, por outro lado, talvez o verdadeiro amor não seja tecnicamente...perfeito.