A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 29
Rosa vermelha


Notas iniciais do capítulo

To Feliz! Não demorei para postar e consegui dar destaque para mais um casal da fic nesse cap. Narrado por Sasha, espero que gostem^^



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Ele é brilho, ele é poder.

É jardim perfumado, é templo sagrado.

É tudo que é preciso para viver,

Nem sempre ouvido ou meramente falado.

–--

Ele é luz, ele é verdade.

É dádiva celeste, é energia vital.

É o que ultrapassa estações,

É o que extermina qualquer mal.

–--

E, com asas de um Serafim,

Viajando e curando corações,

Em ascensão eterna, assim.

–--

Ele é apenas uma simples palavra

Que quebranta montanhas de dor

Com a doçura calorosa de uma flor.

Algo que é possível de ser adotado.

Abra seu peito, abra!

Permita que teu coração seja curado

Pelo poder do amor.

££££££££££££ por Albáfica Anágnos

/--/--/

E, nesse instante, acabo de ler essa poesia. Foi o Albáfica quem escreveu e presenteara Yuzuriha com tal obra. Hoje mais cedo, ela fez questão de tirar uma cópia e trazer para mim. A original, é claro, está com ela. Não era de se esperar menos, afinal...

– Tem certeza que está bem, meu amor? – questiona Tenma, assentado em uma cadeira, ao meu lado direito, com suas mãos em formato de concha recolhendo por completo a minha.

Ele me observa como uma sentinela destemida ao proteger seu “tesouro”. Desde que a cirurgia de retirada da bala foi concluída, meu amado se prontificou para comigo ficar. Alone e Yuzuriha, há pouco, foram embora. Ambos entraram com Tenma no quarto, quando as visitas foram liberadas, mas no fundo sabiam que nós dois precisávamos ficar sozinhos. Talvez o medo dele de me perder tenha sido grande demais...

– Esses hospitais, hoje em dia, estão cada vez mais lixosos. O governo não tem mais respeito com os cidadãos. – reclama ele, franzindo a testa, em desaprovação ao tempo de espera que tive que suportar para ser atendida, mesmo em estado mais grave que os demais pacientes. – Você viu o tanto de gente lá fora esperando para ser atendida? Nem parece ter médicos nessa espelunca!!

Sim. Estamos em um hospital, mais precisamente em um quarto no qual permaneço sob observação da equipe médica. A cirurgia de retirada da bala foi um sucesso e já estou fora de qualquer perigo. Graças a Deus...

– Na verdade, não. – respondo, com um meio sorriso e minhas pálpebras seladas. – Era tanta dor que não consegui prestar atenção em mais nada. E, meu bem, pare de reclamar. – peço, entre leves risos.

– Tive medo de te perder. – revela ele, apertando suas mãos um pouco mais, como se ainda existisse resquícios desse medo em seu coração. – Jamais quero ter que sentir isso de novo!

– Você nunca vai me perder. Nem você, nem nosso pequeno Seiya. – afirmo, reabrindo meus olhos.

Apesar de tudo, sei que meu filho está seguro, pois Alone deve estar cuidando dele nesse instante, junto da babá. Durante toda a situação, meu coração ficou do tamanho de um grão de areia, só de imaginar que ele ficaria sem mãe ainda tão jovem. A dor de apenas pensar nisso foi muito maior do que a que senti devido o tiro de revólver.

– A polícia está atrás daquela mulher. – alega ele, ao se permitir ser envolvido por uma sólida seriedade. – Ela vai ter que pagar pelo que fez.

– Asuka?

– Sim. – corresponde, com um evidente rancor em seu olhar. – Ela é a principal suspeita. Aliás, sabemos que foi ela.

– Ninguém viu quem foi, Tenma. Não podemos afirmar que fora Asuka quem atirou em mim. – exponho minha opinião.

– Só pode ter sido ela, oras! Quem mais poderia? – questiona, arqueando a sobrancelha direita. – Apenas Asuka tinha o interesse de fazer uma coisa dessas. Aliás, o provável é que ela queria acertar a Yuzuriha, mas errou na pontaria.

– Você fala com tanta convicção da verdade... – comento, um pouco incerta da veracidade de seus argumentos.

– Minha linda, se não foi ela, foi quem?

Nossos olhos, colados, se analisam por alguns segundos. Tenma espera a minha resposta e eu espero que minha mente formule algo para dizer. Ainda assim, meus lábios não proferem absolutamente nada. Por mais que eu tenha fortes suspeitas de quem tenha sido, seria ousadia demais da minha parte acusar alguém sem provas. Se é trabalho da polícia descobrir quem foi, deixarei essa missão nas mãos dos responsáveis. Caso venham até mim, o que tenho certeza que farão, – e não deve levar muito tempo para isso ocorrer – falarei o que, agora, não tenho coragem de dizer.

– Vamos deixar esse assunto de lado um pouco? – peço, tentando de fato escapar do tema.

– Tudo bem, me desculpe. Você acabou de sofrer tanto e ainda pioro a situação falando essas coisas... – diz, com um tom de arrependimento e um olhar perdido e angustiado. – Que espécie de marido eu sou?

– Pare com isso, está apenas se preocupando comigo e com a justiça, te entendo perfeitamente. – afirmo, certa do que falo. – Não é necessário pedir perdão por isso. Você me ama e eu também amo você.

Um novo sorriso invade a face de Tenma. Logo depois, o mesmo ocorre com a minha. Até mesmo em uma cama de hospital, meu amado consegue me deixar feliz, quase tão radiante quanto o Sol. E seria petulância dizer que mais do que ele?

– Você é um anjo que apareceu na minha vida. Não quero me separar de você nunca, de nenhuma forma.

– Posso falar o mesmo. Ainda me lembro do dia em que nos conhecemos. – revelo, com aquela doce memória ainda fresca entre meus pensamentos.

– Eu também me lembro. Nunca me arrependi de ter ido àquele parque com minha mãe. Pois foi quando encontrei o amor da minha vida.

– Minha sogrinha Partita é um amor de pessoa, afinal de contas. – declaro, entre mais risos. – Sempre apoiou o nosso relacionamento.

– É verdade. Minha mãe é nota 10!! – exclama, alegre.

De imediato, acabo me lembrando também de Pandora. Considerando os últimos acontecimentos, até parece que ela se foi há muito tempo. Apesar de não ter mantido contato com ela, Tenma e eu conhecemos a ex-namorada de Manigold quando ainda éramos todos crianças. Ela era a filha da patroa da Partita e, apesar de demonstrar ser feliz, estava sempre distante de tudo e de todos. Com o tempo, minha sogra deixou de lado a profissão de empregada doméstica e montara seu próprio negócio: um salão de beleza. Logo, não voltamos a ter muitas notícias da Pandora. E hoje, o salão da Partita é um dos mais “badalados” da cidade. Ela fez bem em se arriscar como se arriscou, pois valeu a pena.

– Nota 1000, Tenma! Não seja modesto, pois sua mãe merece um conceito bem melhor! – exclamo, segundos depois do comentário dele.

– É, você deve ter razão.

Partita, uma grande mulher que cuidou do filho, meu Tenma, muito bem. Como o pai do meu querido abandonou os dois logo depois do nascimento dele, ela teve de fazer tudo dobrado, por mãe e por pai. Desde criança, a admirava, querendo um dia ser como ela. Minha sogrinha do coração – sim, sem ironia alguma – lutou muito nessa vida para chegar onde está hoje. Uma guerreira de fibra!

– Devo? Mas é claro que tenho!

– Sasha... – a voz dele soa de uma maneira diferente, de um modo que não sei nem explicar. Ainda assim, o sorriso de Tenma continua o mesmo: apaixonado e travesso.

– O que foi?

– Promete que nunca vai me deixar?

– Seu bobo! Eu já falei que nada nesse mundo vai nos separar!

– Isso não é promessa, é enrolação.

– Tudo bem, se é assim tão importante pra você, reforço: prometo que jamais vou te deixar.

Repentinamente, o sorrir de Tenma ganha ainda mais brilho e vitalidade. Nunca imaginei que o medo de me perder fosse assim tão forte. Será que foi o risco de vida que corri? Ou será que esse temor esconde algo mais?

– Eu te amo tanto... – articula ele, enquanto fito seus olhos com extrema atenção. Algumas lágrimas começam a brotar logo depois deles se umedecerem. – Você é o que tenho de mais importante. Eu não consigo mais viver sem você. É como se, sem sua doçura, sem seu sorriso, viver você uma doença infernal. E o seu amor é a minha única cura.

– Tenma... – não consigo falar muito, emocionada com o “pouco” que ele me diz.

– Sasha, meu sentimento é tão forte que chega a doer. Quando a Yuzuriha me ligou falando do que tinha acontecido, eu perdi o chão. Nunca, nunca, nunca quero te ver sofrendo outra vez!

– Já passou, querido. Estou aqui contigo, agora. E nada, nem ninguém vais nos separar. – afirmo, comovida com cada palavra dele.

Meus olhos também se umedecem. Não era para menos, não é? Já sou uma bobona chorona que cai aos prantos até com aqueles romancezinhos água com açúcar, quem dirá diante de dizeres tão emocionantes da pessoa que conquistou meu coração e deu, para mim, o seu em troca.

– Quero envelhecer ao seu lado, ver nosso filho crescer, entrar na faculdade, se casar e nos dar netos. Quero que nossos netos também cresçam perto de nós, saltitando por nosso lar como pulguinhas nervosas. E também quero outros filhos!

– Depois dos netos? – questiono, boquiaberta.

– Não, na verdade, podemos já ir tentando. O que você acha?

– Tenma, seu bobo... – brinco.

Tanto o rosto dele quanto o meu já se encontram molhados pelas nossas lágrimas. Ele me ama, eu o amo. Tem história de amor mais perfeita do que aquela em que o sentimento é puro, sincero, verdadeiro e maior do que qualquer outra coisa que os dois envolvidos nutrem? Para mim, o melhor romance é todo aquele que atende essas características. Seja o que há entre Tenma e eu ou o que existe entre qualquer outro casal verdadeiramente feliz por aí. Afinal, a vida existe para sermos felizes!

Mas... Meu Deus, eu não mereço tanto amor! Não mereço uma pessoa tão especial, tão cuidadosa, tão afetuosa... Ou mereço? Como pode existir alguém que me complete dessa maneira? Como meu amado Tenma pode me fazer sentir como a mulher mais amada do universo inteiro? E como isso que sinto parece crescer geometricamente a cada dia, sem limites e restrições? No fundo, creio que sei qual é a resposta...

– Querido, para que você trouxe o violão ali sobre aquela cadeira? – indago, indicando o instrumento com meu indicador esquerdo.

Ele olha para onde aponto. Ao virar seu rosto para mim, de volta, ele responde:

– Para te provar o quanto amo você.

De repente, Tenma abandona a minha mão e se levanta. Minha atenção está toda para ele, pois tento entender o que meu marido está planejando. Ele, sem parecer estar incerto do que irá fazer, caminha em direção à porta do quarto. Ao colocar a mão esquerda sobre a maçaneta da porta, cessa. E fala, de costas para mim:

– Se lembra do dia em que fiz uma declaração de amor pra você na nossa escola do Fundamental, durante o recreio, no meio de todo mundo?

– O que tem? – pergunto, me lembrando de fato da ocasião que ele cita, mas sem entender sua intenção.

– Eu não era um bom cantor naquela época, não é mesmo?

– Bem, o importante foi que você se declarou e me deixou sem ação. O que mais vale é a intenção. – conto, feliz. – Nunca imaginei que você faria uma coisa daquelas! Não tive alternativa, senão aceitar o seu pedido de noivado.

– Ainda assim, eu não fiquei satisfeito com o que fiz.

– Por quê?

Ele gira a maçaneta. Sem responder, abre a porta e direciona parte e seu corpo para fora do quarto, chamando:

– Pessoal, já tá na hora!

De repente, várias e várias pessoas entram no quarto. Os primeiros são a Yuzuriha e o Alone, com meu pequeno Seiya nos braços. Logo depois, vários médicos, enfermeiros e alguns pacientes. Ao todo, cerca de 20 a 30 pessoas preenchem o quarto. Não sei explicar o que sinto, mas sei que é algo colossal! Não há palavras para formarem uma descrição, nem tampouco para sair dos meus lábios diante dessa situação.

– Por que a mulher que eu amo merece algo muito melhor. – define Tenma, entre a multidão, tomando o violão para seus braços.

Mais uma vez, lágrimas nascem dos meus olhos. Ele está mesmo querendo fazer uma nova declaração de amor para mim? Será que mereço mesmo tudo isso, Tenma?

– Eu estava preparando essa declaração para o dia do seu aniversário, mas o que aconteceu me fez antecipar o evento. – revela ele, com uma leve risada.

– Você já estava planejando isso? – indago, atônita.

– Sasha, Sasha... – Yuzuriha se manifesta, balançando a cabeça de um lado para o outro, sorridente. – Para que você acha que esse bobão estava frequentando aulas de canto?

– E pra que você acha que ele tirou o violão da casa da Partita e levou para a nossa? – Alone, por sua vez, com meu sonolento filho.

Posicionando corretamente o violão em seus braços, Tenma se prepara. Explodindo de felicidade, analiso cada rosto que aqui se encontra. Não conheço a grande maioria dos presentes, mas posso sentir os bons sentimentos que exalam deles como perfume de flores de jardim. É maravilhoso somente estar vivendo essa experiência, como se fosse eu o centro das atenções. Bem... Não poderia dizer que valeu a pena levar um tiro, mas devo afirmar que está valendo apena aceitar a sinceridade de um gesto tão carinhoso, do meu amado.

– Pena que não consegui falar com o Albáfica, com o Manigold e com os outros. Eles iriam adorar estar aqui. – afirma minha amiga loira, cruzando os braços.

O olhar dela se dirige para um ponto bem ao lado da minha cama, próximo à cadeira em que Tenma estava sentado há pouco. Ao olhar para o mesmo lugar que ela, meus olhos encontram um vaso de vidro, com água até a metade e uma rosa vermelha nele depositado. De imediato, me lembro da poesia do Albáfica. O título dela é justamente esse : rosa vermelha. Mas claro, um nome metafórico, quando na verdade a rosa citada no poema é o majestoso e legítimo amor.

– Sasha. – Tenma me chama, fazendo com que eu vire meu rosto para ele. – Eu amo você.

Ao terminar de falar, seus dedos começam a se movimentar nas cordas do violão, libertando as notas musicais. Sua voz, de fato bem mais afinada do que da última vez em que ele dedicou a mim uma declaração como essa, no Fundamental, me comove apenas com as primeiras palavras. Ele canta a mesma música que compôs para mim naquela ocasião. Chama-se “Minha amada flor”...

Já não consigo olhar para ninguém mais. Os olhos de Tenma são o que me atraem. Aliás, ele é o que me atrai. Não existe nenhum homem que possa me fazer tão feliz!

– Eu também te amo, meu querido. – penso, enquanto a música dele entra por meus ouvidos com todo o carinho. – Mas vou esperar para poder te falar isso, a sós, quando estivermos de volta em nosso lar, onde nada nem ninguém pode nos afetar... Junto do nosso pequeno filho. – dirijo um ligeiro olhar para o nosso bebê.

Libero um suspiro suave. E... Pois é... Para aqueles questionamentos, eu sei sim a resposta: o amor é uma dádiva que é para todos e de direito de todos. Ricos, pobres, mulheres, homens, magros, gordos, sarados, baixos, altos, velhos, jovens... Não importa como uma pessoa é, nem como ela vê esse sentimento. Pois quando o verdadeiro amor chega, não há barreira nesse mundo que pode impedir o inevitável destino: a felicidade. Basta abrir o peito e permitir que essa energia invisível cure as feridas do sofrido coração.

E quando se ama, somos capazes de superar tudo. Podemos enfrentar qualquer coisa e adquirir força para proteger nossos entes queridos. Nos levantamos, mesmo quando o peso sobre nossas costas é muito maior do que conseguimos suportar. Com esse sentimento, não há limites para a capacidade humana. E, como cita claramente a poesia de Albáfica, é esse o poder do amor...


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Notas finais do capítulo

Ficou bom como eu tentei fazer? XD