A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 22
Uma orquídea no jardim de rosas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo chegou antes do esperado (ando com inspiração demais, então tenho que aproveitar rsrs). Espero que gostem!! Narrado por Yuzuriha.



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Hoje acordei disposta. Mais disposta e alegre do que jamais estive. E com um indomável sorriso em meu rosto. Posso, depois de tanto tempo, apreciar o calor do Sol sem sentir-me presa ou acorrentada. Há pouco mais de uma semana atrás, meu namoro com o Yato finalmente chegou ao fim. Ele reagiu bem melhor do que eu esperava, admito. Veio até o apartamento no dia seguinte ao nosso término e, com gentileza, pegou todas as suas coisas e foi embora. Não houve briga, discussão, nem problema algum. Tudo fora resolvido com civilidade. Pretendo continuar sendo amiga dele.

- E então, Yuzu... - inicia Albáfica, apoiando seus cotovelos sobre a nossa mesa, enquanto me olha sorridente - ... Como vão as coisas?

A amizade nasce como uma flor estranha em um jardim maravilhoso. No início, não é reconhecida e, as vezes, ignorada. Há ocasiões em que sequer é notada. Contudo, com o passar do tempo, essa mesma flor cresce. Ao crescer, demonstra sua graça e verdadeira beleza. É nesse momento que a anteriormente rejeitada demonstra ser tão especial quanto as demais...

Estamos, Albáfica e eu, em uma lanchonete. Aquela mesma lanchonete em que o Minos trabalha, também sendo a mesma na qual nós dois tivemos nossa primeira e prazerosa conversa. E por falar no Minos, o " admirador apaixonado " do Alba não está aqui hoje. Talvez seja o dia de folga dele, quem sabe... Só sei que, há pouco mais de 15 minutos, estamos aqui conversando sobre assuntos diversos. É sempre agradável conversar com meu mais recente amigo. Contudo, não nos encontramos por acaso. Na verdade, combinamos ontem a noite de vir até aqui. Ele, por telefone, me convidou...

Fico muito feliz por poder apreciar essa amizade que nasceu entre nós. Estamos muito ligados, de verdade. Nosso laço ganhou proporções inimagináveis. Não esperava ter um grande amigo além da Sasha. Porém, o mundo dá voltas e a vida sempre se transforma. Nunca é a mesma...

- Bem... - respondo, ao escapar de meus pensamentos e olhá-lo diretamente - ... Me sinto muito mais completa depois de romper com o Yato. Posso respirar sem sentir-me sufocada como antes. - afirmo, com minhas costas coladas à cadeira - Pode até parecer meio estranho, mas passar esse tempo sozinha está me fazendo muito bem.

Estamos frente a frente. É manhã, por volta das nove horas. Até mesmo a brisa que assopra nossos rostos é gratificante...

- Não é estranho coisa nenhuma. - nega ele, com seu ar gentil e tranquilo de sempre - É perfeitamente compreensível. Você precisava desse momento para refletir e procurar dentro de si mesma o que é ou será melhor para sua felicidade.

Sorrindo, passo alguns segundos repetindo essas palavras por ele ditas, em minha mente. Em seguida, falo:

- Tem razão. - concordo - Eu precisava mesmo disso para me encontrar... Todo mundo, cedo ou tarde, precisa ter a chance de encontrar a si mesmo.

De fato, meu amigo está correto em sua colocação. O que seria de mim caso continuasse a levar aquele namoro adiante? Um namoro infeliz e mantido por razões frívolas? O único resultado de tudo seria angústia e infelicidade. Eu nunca amei o Yato. Ele também nunca me amou. A única coisa que nos unia era a atração física e a falta de pulso para encerrar um relacionamento vazio, de ambas as partes. Me pergunto: como seria ter uma vida de mentira e enganação? Seria eu, e por mim mesma, a maior enganada de toda essa história.

- E você? - pergunto, instantes depois do meu último dizer.

- Como vou? - indaga ele, arqueando a sobrancelha esquerda.

- Sim... - confirmo, risonha.

- Ando meio confuso... - a expressão em sua face, de uma hora para a outra, se torna perdida. Seus olhos, mesmo que bem lá no fundo, demonstram a profundidade de suas palavras - ... Não sei explicar ao certo, mas é como se as feridas do passado ainda não tivessem cicatrizado por completo, entende?

- Creio que sim. - afirmo - Quem sabe você precise se encontrar também, assim como eu consegui me achar entre tanta confusão?

- Sugere que eu termine meu relacionamento com o Manigold?

- Nãaooo!! - nego, erguendo ambas as minhas palmas, como se estivesse a me desculpar - Você não precisa terminar com o Manigold para se encontrar... Cada caso é um caso. O meu foi necessário pelo falto de não existir amor entre Yato e eu. Porém, com vocês amor é o que não falta!!

Abaixo minhas mãos. Ele sorri outra vez. Eu também.

- Começamos a namorar esses dias... - comenta ele, com a alegria brilhando em seu olhar novamente.

- Isso é ótimo!! - exclamo, cerrando meus olhos e demonstrando felicidade pelos dois - Está feliz?

- Sim, e muito. - confirma.

- Era esperado - falo, rindo - Mas então... - reabro meus olhos, agora mais séria - ... Com o seu livro indo às mil maravilhas, com o Manigold do seu lado no papel de namorado e grande amor, com tantos amigos sinceros e verdadeiros te apoiando... O que poderia estar faltando?

- Não sei... - diz, mantendo o sorriso - ... As vezes acho que sou um idiota.

- Que absurdo! - exclamo, mostrando em meu rosto uma expressão de reprovação - Você não é idiota, é apenas um humano como qualquer outro, que ora acerta, ora erra. É natural ser assim.

- Sim, mas... Me sinto como aquelas pessoas que, por mais que tudo esteja correndo bem, sempre desejam e anseiam por mais. Nunca é suficiente e passam a vida reclamando...

- Você não é como essas pessoas. - defendo a minha certeza, olhando profundamente nos gêmeos azuis do Albáfica - Definitivamente, você não é como elas.

- Será que não? Talvez eu...

- Obviamente que não. -o interrompo - É só olhar para dentro de você mesmo. - argumento, firme - Veja o quão gentil, dedicado aos amigos e disposto a sempre ajudar as pessoas você é. Veja o quanto todas essas pessoas ao seu redor lhe admiram pela beleza interior que possui.

Albáfica, tornando-se mais sério, permanece a me ouvir atentamente. Prossigo:

- Alguém como você, que consegue encontrar o mais profundo dos sentimentos das pessoas jamais seria descrito pelas palavras que você citou.

- Você fala como se eu fosse especial...

- Uma coisa que aprendi com a sua amizade é que todas as pessoas são especiais da sua própria maneira. - falo - Elas apenas devem descobrir o brilho que existe dentro de si.

- Aprendeu isso com a minha amizade? - indaga ele, sorridente de novo.

- Mas é claro! A sua amizade é valiosíssima para mim, Albáfica. Não somente eu penso assim, tenho certeza de que todos os seus amigos também. E principalmente o Manigold, que lhe ama tanto... Se, um dia, você foi alvo de olhares presunçosos e sem intenções profundas, hoje você tem olhares que te apreciam pelo que é interiormente.

Mais uma vez, o Alba se mantem em silêncio, dedicando-se à tarefa de me ouvir com lealdade. Continuo:

- Você tem que entender o quanto seu coração é grande e o quanto as pessoas o admiram por isso. É inacreditável como alguém é capaz de se colocar no lugar do outro com tamanha sinceridade e afinco. Como alguém não mede esforços pelo bem daqueles ao seu redor... Por mais bondosas que as pessoas venham a ser, é raro elas serem capazes de tanto. Ainda mais raro é vê-las sofrer tanto pelos outros. Você mais parece um anjo de tão incrível que é...

- Assim fico até sem jeito... - diz ele, com o rosto levemente corado, ao desviar seu olhar, mas em seguida levá-lo ao meu encontro mais uma vez.

- É a verdade, Albáfica. - reforço - Olhe para si mesmo e entenderá tudo o que falo. Reconheça quem você é. Porém, por mais que se dedique aos outros, você também sofre e possui as suas necessidades. E a maior delas é amar e ser feliz, como todos nesse mundo...

Respiro fundo, levando minhas palmas abertas, para cima, à mesa. Fitando-as, dou continuidade aos meus dizeres:

- O amor é a melhor coisa que pode acontecer na vida de alguém: essa foi a maior lição que aprendi com você. Contudo, é provável que durante todo o percurso que fez até aqui, sempre colocando as pessoas em primeiro lugar, você tenha perdido algo importante. E, quem sabe, ainda não tenha se dado conta desse fato.

- Ouvindo você agora... - ele se manifesta - ... Pode ser mesmo que esteja certa.

Volto a olhar para seus olhos, erguendo meu rosto.

- Procure dentro de você mesmo, Alba, meu amigo. Você também merece ser feliz. Chega de tanto se sacrificar pelos outros... Desfrute com tudo do amor que o cerca agora e aproveite essa felicidade!!

- Devo concordar que sempre vivi negando a minha felicidade... Fui forçado pela própria vida a ser e me comportar dessa forma - o sorriso sincero toma posse de sua face - ... Mas deixar de me sacrificar pelos outros, acho até meio difícil. Eu não seria eu mesmo ignorando esse meu lado que pensa em todos sem censura nenhuma. Faz parte de mim, sabe?

- Sei sim... É o que lhe torna tão especial... - afirmo.

Silêncio. Nossos olhares se prendem, como se uma forte atração os ligasse, um ao outro. Sinto algo aflorar do meu interior. Algo incontrolável, indomável. O que está acontecendo comigo???

- Me perdoe... - peço, fechando meus olhos - Mas eu... eu...

Um beijo. Um beijo!!!??? Sim, um beijo. Nos aproximamos cada vez mais e, quando nos damos conta, já estamos agora de olhos cerrados e lábios colados. Mas... por quê, Yuzuriha? O que está acontecendo aqui? Por qual razão beija seu grande amigo?

Muitas coisas aconteceram entre nós dois. Entretanto, nada que ultrapassasse as leis da amizade. O Albáfica mostrou se importar comigo, saber compreender os meus sentimentos interiores. Já cheguei a pensar que ele pudesse ler o meu coração e ver através da minha alma. E, para o meu engano, descobri que não. Ele apenas possui a capacidade de decifrar os segredos daquilo que sentimos. O que de pouco ou simples nada tem. Talvez essa seja a razão por ter descoberto a sua capacidade como escritor: a habilidade magnífica de compreender os nossos sentimentos.

Cheguei a comentar com ele sobre aquele sonho que me assombrava. Fui capaz de ser tranquilizada por sua voz ao ouvi-lo dizer que era o meu eu interior clamando por liberdade. Estava mesmo certo. Assim que rompi com Yato, meus sonhos desde então foram de campos floridos e sorrisos contentes. Mas então??? Se somos tão amigos, tão unidos... como unha e carne, como irmãos... qual a razão de nos beijarmos agora? E de permanecermos, por esses longos segundos, desfrutando desse mesmo beijo??? Existe resposta?

- Algumas perguntas não possuem resposta, não é mesmo? - penso, em meio a esse encontro calmo e sereno de nossas bocas - Ou talvez a minha própria mente se recusa a respondê-las...

/--/--/

Ao longe, uma mulher ruiva sorri, como se seus olhos encontrassem no presente momento o mais valioso dos tesouros. Na verdade, eles não encontraram tesouro algum. Porém, encontraram uma cena um tanto quanto peculiar...

- Que interessante, Manigold... - diz a ruiva, ao levar sua mão direita para dentro de sua bolsa no respectivo ombro - Parece que o seu amorzinho resolveu ter novas experiências...

Rápida, ela retira da bolsa o seu celular. Bem moderno, para maiores detalhes. Colocando-o em direção aos dois conhecidos, a alguns metros de si, ela eleva ainda mais o seu sorriso.

- Mas o que será que você vai achar disso, hein? - pergunta para si mesma, assim que aciona a câmera de seu aparelho e eterniza aquela situação na foto de seu pertence - Ver a sua cara de espanto seria um tanto quanto gratificante...

Satisfeita, ela cruzando seus braços, tomando então extremo cuidado para não ser vista, enquanto finaliza a sua conversa solitária:

- Foi mesmo produtivo seguir os passos desse gatinho...

Descruzando, segundos depois, seus membros, a ruiva usa seu celular ainda em mãos para digitar um número. Colocando o aparelho ao ouvido direito, aguarda que a pessoa para qual procede a ligação atenda.

- Alô? - pergunta a voz do outro lado da linha, instantes depois.

- Oi pivetinho. - diz ela, com alguns passos para trás, para que não venha a ser descoberta antes do momento certo - Tenho uma surpresa para você: parece que vamos conseguir o que queríamos bem mais cedo do que pensamos...


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim rsrs, ate mais!!