Percorro meus olhos pelo quarto de Peeta. E o cenário que vejo nunca teria imaginado. O quarto de Peeta é mais organizado do que eu pensava. Aliás, é mais organizado do que meu quarto! É um quarto elegante (cadê os pôsteres nada inocentes e as revistas muito suspeitas?). Uma das paredes é coberta por uma estante cheia de livros – Peeta lendo? Impossível para meu cérebro processar esta informação. Aposto que esses livros nunca foram abertos, só servem para impressionar alguma garota com um QI, um pouco mais elevado do que as garotas com quem ele costuma passar seu tempo. O cheiro é o único indicio que este quarto pertence a Peeta, o aroma de sua colônia envolve todo o quarto.

Assim que a surpresa passa, vejo Peeta se aproximando com uma toalha. Ele começa a limpar meus cabelos sujos de coca. Mas o quê? Esse gesto de Peeta me faz voltar a realidade, e me lembrar o quanto estou furiosa com ele. Imediatamente me afasto.

– Só estou tentando te ajudar! – diz Peeta aproximando-se de mim novamente com a toalha.

– E quem disse que eu preciso de sua ajuda? – minha voz soa mais furiosa do que nunca. E realmente estou cheia de raiva. Estou explodindo de raiva.

– Então, se vire sozinha! – joga a toalha para mim.

– Escuta, Peeta, por que você sempre aparece no pior momento possível?

– Se você não percebeu, eu estava tentando te ajudar! Quantas vezes tenho que repetir isso? – fala me olhando, como se eu tivesse falado um grande absurdo.

– Sabe, Peeta, cansei de você! De você e de seus amiguinhos. Chega! – minha fúria está cada vez pior. Sinto minha garganta doendo. Quero gritar, quero chorar.

Por um instante percebo que Peeta também está bravo. No entanto, logo ele me lança um sorriso. Conheço esta expressão, é a que mais detesto. Seu rosto fica calmo, sua voz fica suave, como se falasse com uma criança que não conhece nada do mundo. Quando ele faz esta expressão sei que perdi. Enquanto, eu fico ainda mais nervosa e as palavras não saem. Odeio. Odeio. Odeio. Queria poder ser forte para acabar com Peeta, para o responder a altura e não fugir como uma garotinha assustada.

– Catnip – quero fazer picadinho de Peeta – Você não está pensando que... – faz uma pausa e me olha sarcasticamente – Você e Gale? – ri – Acho que você está sonhando demais! – fala de um modo calmo, porém cheio de deboche.

Não estou mais suportando isso. Odeio tudo isso, esta casa, estas pessoas e principalmente Peeta!

– Sabe que você não foi feita para ele, de maneira nenhuma – aproxima-se mais de mim, tanto que tenho que esticar meu pescoço para poder ver seu rosto. Por que ele tem que ser tão alto?

– Para, Peeta, não quero ouvir mais você! – não suporto mais nada, estou cansada, estou furiosa – Odeio você! – grito com todo ar dos meus pulmões – Se eu nunca tivesse te conhecido, eu nunca teria sido tão infeliz! Se eu pudesse voltar no tempo faria com que minha mãe nunca tivesse vindo parar nesta casa! Eu te odeio! Você me dá nojo! Preferia saltar de uma ponte ao ter que conviver com você! Se eu pudesse... Eu te odeio! Te odeio! Queria que você morresse! Eu te odeio!

Estou tão furiosa, que não sei mais o que estou falando. Também não vejo mais Peeta em minha frente, não vejo nada. Minha fúria me deixa cega e surda. As palavras saem da minha boca, sem eu ter controle sobre elas.

– Eu te...

Não consigo terminar a frase, sou interrompida pelos lábios de Peeta, que estão sobre os meus. E os seus braços me apertam contra seu peito. Depois de algum tempo, finalmente consigo voltar ao meu juízo. Os lábios de Peeta estão sobre os meus?... Nem nos meus piores pesadelos eu vi isso! Preciso me livrar dos lábios de Peeta, tento de todas as maneiras me livrar de seus braços. Com algum esforço consigo me soltar de seus braços e de seus lábios.

Olho para Peeta, estou paralisada. Como ele pode fazer isso comigo? A única coisa que faço é saltar minha mão em sua face, com todas as forças que consigo.

Saio do quarto. Não consigo pensar em nada, minha mente está vazia. Não vejo o garoto que passa por mim. Gale, talvez.

– Katniss? – sim, é Gale.

Porém, eu não o escuto. Não quero falar com ele. Não agora.

Me sinto suja, asquerosa. Ainda sinto os lábios de Peeta sobre os meus. Os locais que Peeta me tocou estão formigando. Entro com minha roupa e meu tênis no chuveiro e deixo a água fria cair sobre mim. Como Peeta pode roubar meu primeiro beijo?