– Gale! Então, é aqui que você estava e com a senhorita Não-gosto-de-festas!

O quê? A menos de um segundo, estava com meu rosto a centímetros de Gale. E agora Peeta está aqui entre nós dois, com as mãos nos ombros de Gale. Como isso foi acontecer? Havia perdido completamente a noção da realidade. A voz de Peeta me acordou, como se tivesse me despertado de um transe.

Agora percebo o que eu estava preste a fazer... Estava a ponto de... beijar Gale. Mas o quê? Um beijo entre mim e Gale seria possível? Meu rosto imediatamente fica em brasas. Meus pensamentos estão confusos. Não, eu não consigo pensar. Tento me concentrar em uma coisa qualquer, que não seja Gale. Tudo isso me parece tão absurdo, igual aqueles quadros de arte que ninguém compreende do que se trata ao certo.

– Clove está te procurando. E você sabe como ela é. Quase me arrancou dos braços da Johanna. Então, é melhor você ir atrás dela. Eu quero voltar você sabe para onde! – ri.

– Tá legal, Peeta – diz dando umas leves palmadinhas nos ombros de Peeta.

Não vi quando Gale saiu. Minha mente está mais longe que a mente do Cato em dias de prova.

– Resolveu se socializar! – o sarcasmo de Peeta me faz voltar para a realidade.

– Olha, Peeta, não estou a fim de ter você me enchendo o saco. É melhor você voltar para uma daquelas garotas.

– Eu também acho que é melhor. Afinal quem quer ficar aqui... – me lança um olhar sarcástico – Você não é uma pessoa muito divertida.

– Só não sou igual as sem cérebro com quem você sempre anda. – me levanto da cadeira.

– É claro que não, elas não têm o seu charme, Catnip – ri sarcasticamente.

Me volto para Peeta, furiosa. Como ele ousa me chamar desta maneira? Só Gale pode me chamar assim. É uma coisa só nossa. E Peeta falou de uma maneira tão debochada. Como ele pode? Isso feriu meu coração de uma tal maneira, que todas as coisas que ouvi de Peeta antes não são nada.

Peeta me olha rindo, está escrito em seu rosto que... Oh, não, não e não. Não posso acreditar nisso: Peeta, o cara que mais odeio no mundo, sabe do meu amor por Gale. Não há duvidas. Como ele descobriu? E agora ele está rindo dele.

Estou completamente congelada. Incapaz de dar um passo. O que vou fazer? O que eu mais temia aconteceu. Sempre soube que uma das razões para nunca, jamais, revelar que amava Gale, era Peeta. Este usaria meu amor como uma arma contra mim. Peeta nunca amou ninguém, ele nunca irá compreender o que é o amor. Este sentimento para pessoas como Peeta não existe.

Peeta sai me deixando sozinha com meus pensamentos ou com a falta deles. Não sei o que fazer, tudo me parece tão caótico.

Quando dou por mim estou dentro de casa e meus olhos procuram por Peeta. Encontro meu alvo subindo as escadas. Apenas sei que preciso falar com ele. Depois de algum tempo, consigo alcançar finalmente as escadas.

Peeta parece ter ido para seu quarto. Ah, qual é? Se existe um lugar que evito nesta casa, este é o quarto de Peeta. Seu quarto sempre foi uma espécie de território proibido para mim, um limite que nunca quis nem ousei explorar. Nunca cheguei nem perto dele. A casa é dividida em três andares. O quarto dele fica no último andar, o meu no penúltimo. O último andar é praticamente apenas usado por Peeta.

– O que você está procurando?

Nem preciso olhar para saber de quem é a voz. Aqui está ela, com seu vestido que mostra até o umbigo, seus cabelos dourados que parecem ter saído de um comercial de shampoo, suas pernas compridas e tonificadas. A sedução personificada, até sua voz é sexy.

– Glimmer – minha voz demonstra o tamanho de minha animação ao vê-la.

Por que será que não estou surpresa? Seria uma surpresa se eu não encontra-se ninguém aqui. Peeta sozinho em uma festa, e em uma festa dada por ele? Não mesmo. Afinal, segundo o manual de como ser o maior galinha de Peeta, festas servem para um único fim: dormir com o maior número de garotas possíveis.

Ela me olha com um sorriso irônico, enquanto bebe sua coca-cola (diet, claro). Meu humor não está para aturar você hoje, Glimmer. Olho para ela esperando que se canse desse jogo e saia do meu caminho. Porém, ela continua me encarando. Seu olhar diz o quanto me considera insignificante.

– Já pensou em tipo... fazer uma cirurgia plástica?

Essa não é nem a primeira nem a última vez que me ela diz algo do gênero. Eu fui a escolhida pelos amiguinhos de Peeta para passar seu tempo de tédio. Odeio suas palavras, mas não posso demonstrar isso. Não quero que eles vejam meu lado vulnerável. Não quero que eles saibam o quanto suas palavras me ferem. Não, eu não vou dar esse prazer a qualquer um deles. Nenhum um deles vai ver minha fragilidade. Nenhum deles vai me ver sofrendo. Tenho que ser forte.

Se eu pudesse, Glimmer, acabava com seu narizinho perfeito.

– Nos pouparia muito... – apanha uma mecha de meu cabelo – Você não acha, queridinha?

Sinto o frio do líquido que escorre por meus cabelos.

– Ops! – uma estridente gargalhada sai da boca de Glimmer.

A raiva, o ódio, a vontade de gritar, o choque, tudo me consome, me deixando sem ação alguma. Quero sumir, quero acabar com Glimmer e os outros de sua espécie, quero gritar, quero... quero tantas coisas. Mas eu não posso ter nenhuma das coisas que quero. Sinto-me impotente. Sinto-me fraca.

Por que isso está acontecendo comigo? É tudo sua culpa, Peeta! Se você não existisse nada disso estaria acontecendo. Nada disso, entendeu, Peeta? Se eu pudesse faria você desaparecer da face da terra.

Peeta me olha. Fiquei com tanta raiva que não vi Glimmer desaparecer e Peeta aparecer. Sem que me dar tempo para ter alguma reação, Peeta coloca as mãos em meus ombros e me empurra até seu quarto. O que não é muito longe. Não havia percebido que a cena com Glimmer se passou em frente a porta de quarto de Peeta.