– Katniss, hoje vence o prazo das inscrições para o concurso de redação – fala Cinna.

Sei exatamente o que ele quer. Cinna vive insistindo para eu me inscrever neste concurso de redação que irá ocorrer no próximo mês.

– Katniss, eu li seus trabalhos de literatura e ficaram perfeitos! Você não pode deixar esta chance passar, acredite em mim!

– Ah, eu não sei... – digo, rabiscando uma folha do meu caderno.

– Vamos lá, Katniss,... – diz ele, me olhando.

– Ok... – me dou por vencida, não posso negar este pedido a Cinna – Como eu faço para participar?

– É só você assinar aqui – fala, me entregando um formulário todo preenchido, em que só falta minha assinatura para estar completo.

– Você, hein?! – digo, rindo.

– Sempre soube que você não resistiria aos meus apelos! – ri.

Assino o formulário e entrego para Cinna.

– Preciso ir – digo, pegando minhas coisas de cima da mesa da biblioteca – Tenho reunião com o senhor Heavensbee.

O orientador vocacional tem tido bastante trabalho comigo. Acho que ele só não desiste de mim, porque... Sei lá, porquê.

Na porta da biblioteca, aceno para Cinna, que me retribui sorrindo. Temos nos encontrado muito aqui, ultimamente. Nas férias a biblioteca fica aberta. A melhor época do ano em Panem são as férias. Os corredores ficam vazios, o silêncio reina. Por isso, adoro vir para a biblioteca quando Panem está de férias.

Nestas férias descobri que não sou a única a pensar assim. Praticamente, todos os dias, que vinha a biblioteca me encontrava com Cinna, desta maneira começamos a conversar sobre livros, sobre filmes... E agora, com o começo das aulas, ainda nos vemos na biblioteca, uma vez ou outra, já que nosso lugar predileto em Panem é a biblioteca.

Tenho que caminhar rapidamente até a sala do senhor Heavensbee. Caso não queira levar uma bronca por minha falta de pontualidade. A última coisa que quero é ficar levando broncas em meu último semestre em Panem.

Chego ofegante na pequena recepção da sala do orientador vocacional. Alguém está sentando no sofá, reconheço imediatamente Gale.

– Gale! – falo, me dirigindo até ele.

– Oi, Katniss. Estamos aqui, outra vez! Já é a segunda vez, depois que as aulas começaram, que temos reunião com o senhor Heavensbee.

– Nem fale, Gale – sorrio – O senhor Heavensbee já deve estar querendo pedir aposentadoria depois de nós dois.

Gale ri do meu comentário.

– Vocês estão esperando pelo senhor Heavensbee? – pergunta a secretária do colégio, que acaba de entrar na sala.

– Sim – fala Gale.

– Ele pediu para avisar que ocorreu um imprevisto, devido a isso não vai poder vir – avisa a secretária.

– E agora? – diz Gale, após a secretária sair da sala – Quer tomar um sorvete?

– É, quero sim.

Eu e Gale nos aproximamos bastante nestas férias. Minha mãe virou praticamente a melhor amiga da tia de Gale, e agora vive em sua casa. Ela sempre me arrasta junto para estas visitas. Não que eu me importe com isto, já que quase sempre encontro Gale lá, nós sempre ficamos conversando na biblioteca.

– Katniss, você sabe quando Peeta volta? – diz, me entregando um sorvete de casquinha.

Peeta... Este é um assunto que tento evitar falar ou pensar. Há quase dois meses que não vejo Peeta. Ele foi para Paris duas semanas antes das férias do meio do ano. As férias duraram um mês, e já faz quase duas semanas que as aulas voltaram.

– Não, não sei... – digo, tentando não pensar nisto – Gale, como foi a prova de matemática? – mudo rapidamente de assunto.

Nada sei a respeito de Peeta, apenas que ele foi para Paris com Haymitch. Este voltou uma semana depois, mas Peeta... Eu não sei o que está fazendo em Paris até agora. Talvez, ele esteja pensando em se mudar para lá, definitivamente. Isso seria... ótimo. Nunca mais precisaria olhar para a cara dele!

Prim trouxe o vinho que Peeta comprou para substituir o que nos quebramos, duas semanas depois que ele foi para Paris. Ela apenas disse que Peeta havia ligado para ela buscar. Dá para acreditar precisei ficar uma semana inteira, quase morrendo de medo que Haymitch descobrisse tudo? Precisei ficar atenta a cada passo que ele dava. Meu coração disparava só de vê-lo se movendo pela casa. Tudo culpa do idiota do Peeta. Para minha sorte – sorte nada, foi meu grande trabalho em impedir de Haymitch chegar perto da adega – no final ele nem desconfiou de nada.

Chego em casa exausta. No entanto, me detenho perante uma mala. Sinto meu coração disparar. Será que aquele cretino do Peeta voltou? Ele vai me ouvir, sabe o quanto tive que ficar atenta aos passos de Haymitch naqueles dias, evitando ao máximo que ele chegasse perto da adega? Sério, quase morro do coração! E eu tive que fazer tudo isto, sozinha. Entendeu, Peeta, sozinha?

Cadê aquele maldito do Peeta? Ele vai me ouvir! Ah, se vai! Vou correndo até seu quarto. Já preparando todas as palavras que ele vai ouvir! Quem mandou ele me fazer passar por tudo aquilo, quem mandou?

Aqui está a porta do quarto dele. Abro minha boca, com as palavras na ponta da língua. Porém, não chego a pronunciar uma se quer, já que o quarto está vazio.

– Katniss! – diz uma voz atrás de mim.

Me volto e vejo Prim sorridente. Isso significa que a mala era de Prim, no final das contas.

– Katniss, não está feliz em me ver? – diz ela, me olhando com uma expressão interrogativa.

– Estou! – me apresso em dizer.

– Nem parece. Você me olhou com uma cara quando me viu! Até parecia que tinha visto um fantasma.

– Claro que não, Prim! Estou muito feliz em te ver! – sorrio.

– Tá bom, vou acreditar! Mas, o que você está fazendo diante do quarto de Peeta? – só agora percebo, que estou segurando a maçaneta da porta do quarto dele.

– Eu?... Nossa, a onde estou com a cabeça? – falo, fingindo surpresa – Acabei confundindo os quartos – retiro minha mão da maçaneta e me dirijo para meu quarto – Meu último ano no colégio está me deixando maluca – sorrio.

– Eu também já passei por estas maluquices... – fala de uma maneira que deixa a entender que não está se referindo aos estudos – Sei como é isso, Katniss. Me conte, quem é?

– Quem é o quê?

– Não se faça de desentendida, Katniss! Quero saber o nome – sorri, maliciosamente.

– Que é isso, Prim? Não tem garoto nenhum!

– Sei, sei, a negação é o primeiro passo!

– Verdade, Prim, não tem ninguém, juro.

– Ok, Katniss... – continua a sorrir maliciosamente.

– Tenho que estudar! – digo entrando no meu quarto o mais rápido possível, antes que Prim resolva vir fazer um interrogatório. Não sei de onde ela tira estas ideias? Porém, não posso confessar meu amor por... Gale, de maneira nenhuma.