Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 9
Cap. 8 - "Tenho companhia?"


Notas iniciais do capítulo

Olááá!

Então, sobre esse capítulo... É, não sei se fui ousada demais em um ponto. Eu quis mudar uma coisinha. Vocês vão ver. Divirtam-se ♥



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Se havia algo que Kim gostava, era de fazer exatamente o contrário que o professor pedia.

– Kimantha, desligue o celular – Faraize disse pela terceira vez na mesma aula.

Ela assentiu com a cabeça e colocou o aparelho no bolso. E bastou Faraize virar de costas para Kim lhe fazer uma careta e voltar a mexer no celular.

Alice a olhou de forma crítica, e Íris, ao seu lado, percebeu:

– Deixa ela – aconselhou. - A Kim está esperando uma ligação importante.

– Eu não disse nada... - contestou Alice.

– Seu olhar diz tudo. Sério, relaxa. Esquece ela e me ajuda a resolver esse exercício de química, pode ser? Vamos lá, quando que a molécula é polar mesmo?

Alice deixou-lhe escapar um sorriso, e se fez prestativa:

– Geralmente, quando a molécula tem forma linear.

– Tá. E o que é forma linear?

– A forma linear... é a geometria da molécula. Quando ela se parece com uma linha...

– Tá... E o que é a geometria de uma molécula?

Alice ergueu as sobrancelhas.

– Você sabe o quanto de química? - ela perguntou.

– Mais ou menos a mesma coisa que eu sei de desenho geométrico.

– Então, mais ou menos...

– Mais ou menos nada – Íris confirmou. - É. Tudo bem, eu sei, preciso estudar.

– Certo... Podemos estudar depois da aula, hoje. O que você acha?

– Ah, legal! - Íris fechou seu caderno e o livro, enquanto o professor, lá na frente, apagava a lousa, e Kim continuava a apertar as teclas minúsculas de seu celular. - Acho que foi uma benção você ter entrado na escola. Sabe, né, pra me salvar dessas matérias abomináveis...

– “Abomináveis”? - Alice repetiu. - Seu desafeto com química é bem grande.

– Você não tem ideia. Ah, Graças a Deus! - Íris celebrou logo que ouviu o sinal tocar. - Almoço! Estou com tanta fome. Vamos?

– Claro... - afirmou, levantando-se como os demais alunos e pegando seus livros. Ela foi caminhando até a porta, mas logo virou para trás, mirando Kim ainda hipnotizada pelo aparelho nas mãos.

Íris se aproximou de Alice, também pronta para sair.

– Não deveríamos chamá-la? - Alice perguntou.

– Hum... Não. Não precisa. Qualquer coisa ela liga pra gente – Íris respondeu com um meio sorriso, e as garotas continuaram a caminhada até o outro lado na sala.

No corredor, a mesma quantidade de sempre de alunos: conversando, namorando, discutindo e até três dançando ao lado dos armários.

E um dos dançarinos, de pele negra e dreads enfeitando o cabelo, interrompeu a conversa com os amigos e foi cumprimentar Íris.

– E aí, chegou salva em casa ontem, depois de assistir o jogo? - ele a perguntou dando um beijo na bochecha.

– Eu sempre chego – ela respondeu. - Ah, Dajan, essa é a Alice. Eu comentei sobre ela, sabe? De Seattle...?

– Ah, sei, sei. E aí, beleza? - ele se referiu a Alice, dando-lhe também um beijo na bochecha.

Ela sorriu com a simpatia do rapaz.

– Tudo bem – respondeu.

– Dajan é um dos prodígios do clube de basquete – Íris comentou.

– E um ótimo dançarino – ele complementou.

– E um ótimo dançarino – confirmou Íris. Em seguida, ela voltou-se para ele: - Então, vai ter o primeiro jogo do campeonato daqui a um mês, ou por aí, não é?

– Três semanas – Dajan respondeu. - É, tá todo mundo meio nervoso. Não é pra menos. Reitores de faculdade sempre aparecem nesses jogos. E uma bolsa de estudos cairia bem pra gente. Mas ninguém sai distribuindo bolsa por aí.

– Ah, mas pra que nervosismo? - Íris continuou. - Vocês são ótimos. No campeonato passado foram catorze vitórias em dezesseis jogos, não é?

– Foi. Só que a gente deu sorte. Lembra do Eric? Ninguém como ele conseguiu correr daquele jeito nos primeiros jogos. Foi quase insano...

E os dois continuaram uma conversa tão agitada que Alice quase se sentira mal por não conseguir acompanhar. Apenas continuou ao lado da amiga, com o material nos braços, o estômago levemente roncando e o corredor se esvaziando, um tanto indecisa sobre o que fazer.

– Bom dia, Alice - uma outra voz, uma conhecida, a chamou.

Ela virou-se e se deparou Nathaniel, com uma usual pasta na mão e o cabelo e um semblante calmo.

Se esforçou para não abrir um escandaloso sorriso.

– Olá, Nathaniel – ela o comprimentou.

– Como está? Teve um bom fim de semana?

– Sim, eu tive. Foi ótimo, puxa. Até reencontrei um velho amigo. E aprendi a fazer maquetes com meu irmão.

– Hum, seu irmão... Jonathan, correto? - quis saber. - Ora, ele te ensinou a fazer maquetes? Ele trabalha com arquitetura?

– Ah, não, não. Na verdade não... - Talvez... talvez não ainda. Talvez.– Ele só sabe fazer muita coisa, desde desenhos a castelos enormes de cartas, e achamos que seria divertido eu aprender a fazer maquetes. Mas, não. Em fato, ele é escultor.

– Escultor? Que curioso...

– Pois é. Ele adora. É uma sorte que ele tenha uma política de só fazer as esculturas no porão ou na garagem lá em casa, senão a sala e os quartos estariam inteiramente sujos de pó e lotados de réplica de Davi¹.

Nathaniel começou a rir, e Alice acompanhou, sendo acariciada pele sinceridade da risada do rapaz.

– Jonathan parece ser alguém realmente excêntrico – ele comentou.

– Ele é. Bastante. Talvez um dia surja a oportunidade de vocês se conhecerem. Se você aparecer lá em casa alguma hora, quem sabe...

Um minuto..., Alice mentalmente se interrompeu. Eu acabei de me oferecer para um garoto?

– Se meus estudos permitirem, eu posso um dia chegar a conhecê-lo – Nathaniel respondeu. - Seria um prazer.

Alice assentiu, constrangida por sua compostura vulgar, mas aliviada por Nathaniel ter reagido bem à situação.

Ela então olhou a sua volta. Íris e o outro rapaz, Dajan, haviam sumido. Na realidade, todos os alunos – com exceção de dois garotos num canto lendo uma revista com os olhos tão arregalados que deveria ser uma edição da Playboy – pareciam ter saído do corredor também.

A garota voltou a falar com Nathaniel:

– Bem... Você vai almoçar? - perguntou.

– Não, não – ele disse. - Vou apenas comer alguma coisa rápida e reservar esse intervalo para terminar alguns formulários.

– Hum... Certo. - Alice olhou para os próprios livros, e olhou novamente nos olhos cor de ambrósia do rapaz. - Dessa forma, acredito que é melhor eu ir indo para o refeitório.

– Oh, claro. Mas... Alice, seria muito rude de minha parte lhe pedir um favor?

Os olhos dela subitamente brilharam.

– Não, não. Pode falar – ela disse.

– Hum, é o seguinte: é uma das normas do colégio os alunos que faltaram um determinado número de aulas assinarem uma folha de ausência. Normalmente a Melody se encarrega disso, mas ela teve de ir embora mais cedo hoje. Estou realmente atarefado, então você se importaria de levar essa folha para um aluno? Você pode me devolver no final do almoço...

– Tudo bem. Eu levo – Alice confirmou, feliz em ajudar o rapaz.

Nathaniel abriu um breve sorriso. Tirou uma folha da pasta que tinha em mãos e entregou para ela.

– Ele deve estar no teatro, já que faz parte do clube de drama. É em um dos últimos corredores, próximo às salas do segundo ano.

– Ah, não se preocupe, eu sei onde é. Melody me mostrou noutro dia...

– Ótimo! Ele deve estar por lá. Você ainda terá tempo de comer depois, eu acredito.

– Tudo bem... E o nome dele...?

– Lysandre – Nathaniel respondeu. - Obrigado novamente, Alice. Você é de grande ajuda.

– Que isso, Nathaniel. É um prazer ajudá-lo.

O rapaz deu um último sorriso agradecido antes de lhe virar as costas e caminhar pelo corredor. E então, Alice permitiu um sorriso bobo de pré-adolescente vir aos seus lábios.

O começo esquisito da manhã, a personalidade incômoda de Kim ou o sumiço de Íris. Como ela poderia se importar com qualquer outra coisa quando falava com ele?

E eu ainda fiz papel de oferecida. Eu falei quase como “Ei, Nathaniel, por que não vem para minha casa na desculpa idiota de conhecer meu irmão? Não seria tudo de incrível você me fazer assinar uma folha de presença?”.

Ela balançou a cabeça em negativa. Pare de ser tão vulgar.

Alice colocou a folha sobre os livros, e caminhou para o local indicado. Entre uma passada e outra, ficou feliz em saber que se recordava dos corredores e das salas. Se perder naquela escola não parecia mais uma opção.

E graças ao tour da Melody...

A lembrança da garota morena logo veio em sua mente.

Me pergunto qual a relação dela com Nathaniel...

Depois de algumas salas, ela desceu um par de escadarias e chegou num corredor com uma única porta. “Bastidores do Teatro”, era o que dizia a placa.

Abriu a porta e deu na coxia de um palco. Estaria tudo silencioso, senão fosse por um diálogo de um casal:

– Peço desculpas – uma voz masculina se pronunciou. - Ofender-te nunca fora minha intenção.

– Lysandre, podemos estar num palco, mas não estamos interpretando – veio outra voz, mais aguda e aparentemente se controlado para não se exaltar -, então você pode guardar seu drama para os roteiros. Eu só acho que deveríamos terminar o que temos aqui. Não faz sentido levar nada disso a diante, e nos limitar um ao outro quando o que temos não é tão grandioso como você costuma dizer.

O silêncio tomou o lugar. Alice continuava na porta, o mais muda possível, em dúvida sobre o que deveria fazer. Não poderia interrompê-los... Então, talvez, poderia voltar outra hora?

– Não contestarei em relação às suas vontades – a voz masculina retomou.

Depois, um som de estralo, parecido com o de um beijo.

– Se liberte, Lysandre – a voz feminina despediu-se, depois foi substituída pelo toc-toc de saltos altos andando entre a plateia. A porta principal do teatro fez um barulho ao abrir, depois ao fechar, e o silêncio voltou.

Alice se arriscou a dar dois passos para adentrar ainda mais na coxia do lugar, e pôde observar o palco. Uma figura estava de pé ao centro. Depois, caminhou alguns passos até uma cadeira, e se sentou. Cabelos quase brancos e roupas que pareciam ter saído de um filme, como Orgulho e Preconceito, ela concluiu. Se perguntou como nunca tinha visto pelos corredores um aluno vestido tais modelos de época.

De repente, o rapaz levantou a cabeça e olhou em direção a coxia; em direção a ela. Dois surpreendentes olhos desiguais a fitaram, e Alice levou um choque. Ela nunca tinha visto alguém com olhos de cores diferentes.

Bem, com exceção a um gato. Mas gatos não contavam.

– Tenho companhia? - ele perguntou; sua voz tinha até algo de britânico.

Alice limpou a garganta e deu alguns passos, entrando no palco do teatro, para que ele pudesse vê-la.

– Hum... Você seria o Lysandre? - ela perguntou.

O rapaz pareceu assumir uma postura mais serena.

– Sim, é meu nome – respondeu ele, olhando com curiosidade seu rosto. - Procura-me?

– Anh... sim. É em relação ao Nathaniel, em fato... Eu tenho, hum, uma folha de ausência que você deve assinar. - Ela levou o papel na direção dele.

– Que eu “devo assinar”? - ele questionou, pegando papel e uma caneta de seu bolso.

– Não! Eu não quis dizer que você é obrigado. Era mais como um pedido.

– Desse modo, os alunos que faltam às aulas não tem a obrigação de assinar tal folha? - Ele apoiou a folha no joelho e riscou seu nome.

– Eu não diria que é obrigatório, é... aconselhável. Isso, certo, aconselhável.

O rapaz sorriu ao devolver-lhe a folha:

– “Aconselhável”... Encontrou uma palavra apropriada.

Ela fez um esforço para devolver o sorriso.

– Pois bem, era isso apenas. Eu não queria tomar todo o seu tempo – ela confessou, já se virando em direção à porta. - Com licença.

– Seu nome...?

Alice parou no lugar, e deu meia-volta para olhá-lo.

– Perdão?

– Eu nunca a vi antes. Qual é o seu nome, minha cara? - ele perguntou, com os olhos a mirando firmemente.

– Oh... Alice.

– As descrições foram verdadeiramente bem feitas. - Lysandre levantou-se da cadeira e caminhou até uma bolsa larga de couro encostada na parede do palco. Abriu-a e, de dentro, pegou um papel dobrado. Andou em direção à ela.

– Perdão, mas... já me conhecia? - ela perguntou.

– Somente agora que se apresentou – respondeu ele. - Contudo, alguns membros do clube de drama já se apressarem em fazer comentário sobre a sua chegada. Devo dizer, os comentários bondosos fazem jus, e seus olhos me foram reconhecíveis. Profundos como o oceano, eu humildemente admito.

Isso é... um digno cavalheiro, ela pensou.

– Perdoe-me, Lysandre, - ela se arriscou - mas se há alguém com olhos incomuns aqui, acredito que seja você.

– Bem... Não posso te contradizer e afirmar que já vi muitos com a mesma distinção que os meus – disse ele, numa voz mais divertida. - Apesar disso, os seus continuam me sendo belíssimos. E não sou o único que compartilha dessa opinião. Um dos nossos membros estava até lhe escrevendo um bilhete, acredita? Se não fosse pela falta de sorte dele de esquecê-lo, da sorte de eu acabar por encontrá-lo, ou até da ventura de nos conhecermos seria uma certeza de que nunca chegaria às suas mãos. Leia quando lhe for agradável. - Lysandre abriu a capa do primeiro livro preso nos braços de Alice, depositou o papel dobrado e fechou a capa. - O nome do apaixonado é Thomas, caso pense procurá-lo.

Alice sorriu:

– Me disseram que alguns dos garotos do grupo de teatro estavam comentando sobre mim, porém não acreditei que acabaria por receber um bilhete. Definitivamente... inesperado.

– O inesperado é a única coisa que deve ser esperada.

Alice ergueu uma sobrancelha.

– Oh, perdoe-me – Lysandre disse. - Estou com um vocabulário excessivamente metafórico hoje.

– Não, não. Isso é... Isso é bem diferente. Num bom sentido – acrescentou. - Homens com seu vocabulário e sensibilidade parecem estar se escondendo dentro de filmes antigos, já que nunca os encontro em meu cotidiano...

– Ao meu ver, Alice, esses homens apenas se adequaram á nossa época. Sou eu quem está fora de seu tempo. Agora, com as suas licenças, eu irei almoçar. Não a chamo para me acompanhar apenas porque já estou de encontrar um amigo. Entretanto, nos encontramos no corredor em outra hora.

– Ah, tudo bem! - ela sorriu. - Não se preocupe, pode ir, eu estou de encontrar algumas amigas também. Nos vemos depois, é claro.

– É claro... - Lysandre despediu-se, pegando a bolsa de couro e descendo o palco, andando até a porta principal no caminho que a outra garota dos saltos toc-toc havia andado

Alice ainda ficou mais alguns instantes, observando a ida do rapaz que acabara de conhecer.

Ele era obviamente muito charmoso, gentil e educado. Puxa, ele era realmente educado. E Alice não mentiria para si mesma ao pensar que era um cara que teria interesse; senão fosse pelo fato dele fazer parte do clube de teatro, e isso devia dizer algo sobre sua personalidade.

– Atores são tão excessivamente dramáticos – ela comentou para ninguém.

Sem definir exatamente se ficaria feliz ou não em reencontrá-lo, decidiu ir embora, saindo do palco pela coxia para chegar até o refeitório.


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Notas finais do capítulo

¹ Davi: Na realidade, exite várias estátuas retratando a figura do personagem biblíco Davi (http://pt.wikipedia.org/wiki/David), porém, a mais famosa é a de Michelangelo (http://4.bp.blogspot.com/-b-_k0X9Idj0/TtP5u1EacbI/AAAAAAAAAAQ/bnfykXoE1xU/s1600/david.jpg) que é a qual a Alice se refere.

Entãão... Que tal a troca da "vítima" da folha de ausência? Não, espera, que tal o diálogo com o Lysandre? Vocês tem noção do quanto é difícil eu interpretar esse maldito? Aaah, ele é uma pétala no vento, indo para uma direção sempre desconhecida. Enigmático, com um vocabulário específico... Eu não estava preparada.
Não, mas de verdade, ficou bom? Ainda acho que posso ter exagerado um pouco na linguagem...
Ok, ok. Beijos, gente.



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