Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 10
Cap. 9 - "O sonho não era impossível"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/349814/chapter/10

– Então... Química...

– Hum. Aonde está com mais dúvidas? - Alice perguntou.

Íris abriu seu livro, e pulou algumas páginas.

– Acho que podemos falar sobre geometria da molécula – disse.

– Certo, vamos lá. Começamos pelo básico, tudo bem? - Íris afirmou com a cabeça. - Hum... São apenas cinco formas, se não me engano. Temos a linear, a angular, a trigonal, a piramidal e a tetraédrica.

– Tetraédrica é a que o átomo principal tá ligado com mais três – arriscou.

– Não, essa é a piramidal. Ou a trigonal. Depende se há pares de elétrons sobrando.

– Pares de elétrons sobrando onde?

– No átomo principal. Lembra, Íris? Quando o átomo é da família cinco, seis ou sete A...?

– A gente aprendeu isso?

– É claro que aprendeu! - Alice exclamou, e pegou o livro de Íris. Voltou alguns capítulos e apontou algo na folha. - Ligações covalentes, lembra? Das ligações na molécula...

– A gente não viu isso, Alice!

– Como não? Eu vi isso no meu primeiro dia de aula!

– Mas não tivemos aula no primeiro dia juntas! Vai saber o que você andou aprendendo que eu não peguei.

– Não coloque a culpa no sistema educacional, Íris.

– Meninas, está tudo bem? - outra pessoa interrompeu. Alice, sentado em frente a uma das mesas da biblioteca, levantou o olhar e encontrou Melody ao seu lado, com o cabelo preso numa trança nas costas e usando a saia branca que sempre estava mais curta do que deveria.

– Tudo ótimo, Melody – Íris quem respondeu. - A não ser pelo fato de que eu acabei de descobrir que Alice não tem confiança na minha pessoa.

– O quê? - Alice se exaltou. - É claro que eu confio em você, mas se a senhorita parasse de batucar os lápis na mesa durante a aula, e olhasse para a matéria escrita na lousa, eu teria uma ajuda e tanto aqui.

– Por acaso você está tentando difamar a minha imagem?

– V-Vocês querem discutir isso sozinhas? - Melody perguntou, envergonhada.

Alice olhou para Melody, depois voltou a olhar para Íris. Dois segundos depois delas se encarando, não conseguiram mais manter a expressão séria e começaram a rir, deixando Melody confusa sobre o que estava acontecendo.

– “Difamar a minha imagem”? - Alice perguntou.

– Admita, você adorou – respondeu Íris, e depois voltou para Melody: - Relaxa, a gente estava só se azucrinando. Você tá muito ocupada? Senta com a gente. Estamos revisando química.

– Hum... Eu...

– Senta – Alice também pediu. - Vamos precisar de duas boas e persistentes alunas para colocar o conteúdo na cabeça da Íris.

Íris abriu um sorriso culpado, e depois riu.

Melody tentou sorrir também, apesar de Alice considerar seu sorriso falso demais, e se sentou ao lado da garota loira.

– O que vocês estão revisando? - ela perguntou.

– Geometria molecular – respondeu Íris. - Então, vamos lá. A tetraédrica é a que tem três átomos ligados ao átomo principal.

Quatro átomos – Alice a corrigiu. - Quatro!

– Tá bom, tá bom. A que tem três átomos ligando são a piramidal e a angular.

– Piramidal e trigonal. Está dentro da palavra! Trigonal, tri!

– Viu do que eu estava falando? - Íris perguntou para Melody. - Eu faço o sacrifício de ficar na escola depois da aula e recebo esse tipo de tratamento!

– E eu recebo esse tipo de aluna para ensinar – retrucou Alice.

– T-Talvez... - Melody interveio, hesitante em continuar. - Talvez só precisemos de uma abordagem diferente...

Alice a encarou.

– Vá em frente – disse. - Antes que Íris decida aprender sobre a área de radiação em química para tentar me fazer engolir algo tóxico.

– Agradeço pela ideia – Íris disse. As duas garotas então sorriram.

Depois de outros instantes, olhando para as duas outras, Melody continuou:

– É, hum... Geometria de qualquer coisa é mais fácil aprender pelos desenhos. Como... aqui, veja – e apontou para um ponta na página do livro. - Essa é a linear porque é uma linha. Algo reto, mas está vendo esse traço – apontou para outro desenho – em cima do átomo de oxigênio que a outra molécula não tem? É porque essa é a angular e a outra é linear. Esse traço indica elétrons do átomo sobrando, e é o que diferencia elas.

Assim eu entendo! - Íris afirmou, olhando para o livro. - Se alguém tivesse me explicado desse jeito...

– Não ouse começar, Íris – Alice retrucou.

Íris sorriu para o livro, e pegou um lápis ao lado.

– Tudo bem. Ah! – Íris apontou para outro lugar da página. - Essa que é a piramidal. E essa é a tetraédrica! Ah, eu consigo entender agora. O primeiro exercício é sobre isso mesmo, né? Legal, vou fazer – e como uma criança que acabara de aprender alguma coisa, ela começou a rabiscar nas figuras do livro, respondendo ao enunciado.

Alice sorriu ao ver o progresso da amiga, e se sentou de forma mais casual na cadeira – mas não tão casual; afinal, ela ainda se encontrava em espaço público e devia se sentar de maneira educada. De uma maneira que... que Melody estava sentada: com as pernas cruzadas e as mãos descansando na perna; delicada como um cisne.

E, para ser educada, ela também sorriu para Melody, e puxou assunto:

– Hum... O Nathaniel comentou que você havia ido embora mais cedo...

– Ah! Sim, sim, eu saí – ela respondeu. - Tinham me chamado na minha academia, era um assunto importante, mas eu voltei no sexto período. Odeio perder aula.

– Na sua academia...?

– Uma academia de dança – Melody esclareceu, e Alice jurava que os olhos dela se tornaram mais brilhantes, como se estivesse falando de alguma paixonite. - É... eu... eu danço ballet.

– Você dança ballet? - surpreendeu-se. - Jura?

– Juro. - Melody olhou para as próprias mãos, e sua expressão se tornou mais sonhadora. - Minha mãe me colocou nas aulas quando eu tinha seis anos, e eu danço desde então. Eu... gosto bastante.

– Puxa, que interessante... - Alice sorriu, e percebeu que pela primeira vez, viu uma total sinceridade na fala de Melody. - Porém... Ballet é uma dança muito exigente, não? Você dança desde os seis? É bastante tempo... Nunca pensou em desisitir?

– Hum... já pensei, sim, na verdade – e olhou para Alice. - Os estudos estavam começando a ficarem puxados, e eu já estava com pouco tempo livro. Mas foi logo aí que essa grande academia de dança me chamou para ter aulas. É a melhor aqui em Everett. E eu não pude dizer “não”; eu sempre admirei essa academia.

– Eu errei! - Íris exclamou, ainda olhando o livro.

– Qual você errou-

– Shiu! - ela cortou Alice. - Estou estudando.

Alice soltou um pequeno riso e voltou a falar com Melody:

– E você está gostando de lá?

– Adorando! - respondeu. - Ás vezes até tenho vontade de me mudar para lá.

– E... você pretende dançar até que idade?

– Hum... É, eu pretendo... - e suspirou, deixando os ombros caírem, e desviou o olhar. - É um pouquinho vergonhoso.

– O quê? - Alice insistiu.

Melody deu de ombros, e voltou a olhar a garota loira.

– Promete não rir?

– Hum. Prometo, é claro – Alice respondeu. - O que foi?

– É que... Eu anseio muito por entrar na Paris Ópera¹.

– É uma das...

– Uma das maiores academias de dança no mundo, e extremamente concorrida – disse. - Além de ser em outro país. Sim. É ela.

– Puxa... - Alice murmurou. - Você não sonha pequeno... E por que eu riria disso?

– Porque... é um sonho impossível. Eu... uma garota de cidade pequena que dança só as tardes entrar na escola de dança mais tradicional em Paris? Existem garotas bem melhores do que eu que nem conseguiram uma segunda audição.

Alice a olhou atentamente, e negou com a cabeça.

– Melody... Eu... - olhou para cima, antes de prosseguir: - Eu não... Eu não tenho as melhores habilidades de motivação que você conhecerá, porém... Não. Não diga que seu sonho é impossível, porque ele não é. Eles nunca são. “Se você pode sonhar, você pode fazer”. Walt Disney.

Melody deu um sorrisinho franco.

– Eu agradeço, Alice, só que...

– Droga, era ligação apolar! - Íris novamente lamentou.

Alice não falou uma palavra.

– Ah, entendi onde errei – a garota ruiva disse, pegou a borracha para apagar qualquer coisa e continuou a escrever.

– Continue – Alice pediu a Melody.

A outra afirmou com a cabeça, e respirou fundo antes de dizer:

– É só que, todos dizem isso. Sobre não desistir... Ah, não, eu não acho que eles mintam só pra me deixar feliz. E sei que é verdade. Sei que estão certos e querem meu bem, mas...

– Mas você não sente essa confiança...?

– É – Melody afirmou. - Mais ou menos isso...

Alice olhou para os lados, onde só havia a bibliotecária além do trio que ainda estava na no lugar – o que era compreensível; quem mais iria querer ficar estudando depois da aula? -, depois massageou os pulsos por um minuto, ponderando algo em sua cabeça. Instantes depois, se rendeu:

– Melody...

Ela a olhou.

– Eu... Eu entendi. Você se sente insegura... - Alice continuou. - E isso é algo bom. É bom que você não pense que conseguirá o que quiser por mera sorte; você está sendo realista. Porém... não sinta que é impossível, porque, novamente, não é. Quando meus pais se conheceram... - Alice sentiu uma pequena alegria somente de lembrar deles, e continuou a falar com mais fé: - meu pai acreditou que eles nunca poderiam ficar juntos, pois eles eram de países diferentes. Porém, ele foi atrás. Meu pai era apaixonado pela minha mãe... ele é apaixonado pela minha mãe, uma paixão recíproca, e eles lutaram por esse amor. E depois de alguns anos, meu irmão nasceu. E então, eu. Meu pai construiu uma vida, uma família com a minha mãe, mostrando a si mesmo que o sonho que tinha havia sido alcançado. O sonho não era impossível. Eu sei que são duas coisas diferentes, mas tem o mesmo grau de dificuldade, de loucura, por assim dizer...

Melody assentiu com a cabeça. Olhou novamente para as mãos e pareceu se perder por alguns segundos.

Depois, falou:

– Você tem razão. É só que...

– Não. Não precisa – Alice interrompeu. - Não precisa me dizer nada, Mel. Eu sei. Leve seu tempo, faça o que tem que fazer. Não se preocupe em me dar nenhuma satisfação.

– “Mel”! - Íris exclamou, e olhou para Melody. - Por que nunca te chamamos assim?

Alice olhou para a amiga, se perguntando até onde ela estava ciente da conversa.

– Você já fez todos os exercícios, Íris?

– Como você é estraga prazer, Alice – e ela continuou a rabiscar o livro.

Mais uma vez, Alice virou-se para Melody e foi educada o suficiente para sorrir. E o sorriso que teve em resposta, naquela garota que sempre havia desconfiado e sentido desconfortável por perto, fora um dos mais agradecidos que já havia recebido.


[…]





Depois que os estudos acabaram, Íris despediu-se rapidamente, alegando que encontraria um dos garotos do clube de basquete.







Melody e Alice chegaram a conversar mais um pouco sobre ballet, antes da representante olhar o relógio na parede da biblioteca e dizer que também tinha que ir. As garotas trocaram um último “Até amanhã”, e Melody saiu em passos curtos pela porta.





Alice ainda revisou alguns exercícios. Depois, fechou o livro, encostou-se mais na carteira e respirando fundo.


Tinha sido um dia bastante cansativo. Era melhor já ir para casa.

Ela se levantou da cadeira e colocou seu material no braço, andando em direção ao corredor. Caminhou até o armário, abriu para colocar os livros dentro e retirou a bolsa, e fechou, indo para a saída.

Seu coração pareceu dar um salto quando viu Nathaniel, que estava saindo da sala dos representantes naquele mesmo minuto, com uma mochila marrom nas costas e a testa suada.

– Você passa todas as suas tardes cuidado de papeladas? - Alice perguntou ao se aproximar.

Nathaniel levou um leve susto, mas logo abriu um educado sorriso.

– Não todas – ele disse. - Normalmente de segunda e sexta, que são os dias com maior trabalho acumulado.

– Você vai enlouquecer qualquer dia...

Ela percebeu que Nathaniel paralisou por um brevíssimo segundo, mas antes que ela pudesse perguntar ou pensar em algo, ele retomou, mais agitado do que antes:

– Não tema isso. Eu sei o que estou fazendo – e piscou.

Alice tinha quase certeza de que estava com as bochechas rosadas por conta do último gesto do rapaz.

– E o que você faz aqui? - ele indagou. - Não deve ser a primeira vez que te vejo vagar pela escola depois que todos já foram embora.

– Eu estava estudando química com a Íris e a Melody. A Íris necessitava urgente de algum reforço, então me disponibilizei.

– Quanta gentileza de sua parte...

Alice deu de ombros, e sorriu.

– Estou apenas tentando ser uma boa amiga – disse.

E Nathaniel também sorriu.

Em seguida, ele olhou ao redor, mirou o relógio no pulso e voltou-se a garota:

– Hum, Alice... Eu estava pensando, você...

– Sim? - ela perguntou, piscando os olhos várias vezes em expectativa.

Ele passou a mão pelo cabelo, depois percebeu sua testa suada. Encarou por alguns segundos a mão úmida, mas pareceu não se importar.

– É... você gosta de gatos? - ele fez a pergunta; a qual não era do tipo que Alice esperava.

– De gatos? Bem, sim... Sim, eu gosto. Muito. Eles são adoráveis, não são?

– Com toda a certeza – Nathaniel respondeu. - Eu gostaria de saber se você está muito ocupada agora. Há um lugar de adoção para gatos aqui na região, e como eles estão com escassez de voluntários eu passo lá alguns dias no mês. Eu alimento e escovo os gatinhos. É bastante divertido. Você quer de ir comigo para lá hoje? Acho que você gostaria...

Meu Deus, ele está me chamando pra sair.

Alice, não faça besteira.

– Hum... Seria... - e então, ela parou.

Lembrou-se da conversa anterior com Melody; mais especificamente a parte que contou para ela sobre seus pais. E um juízo repentino veio á sua cabeça.

Alice abaixou a cabeça.

A verdade era que... era melhor não aceitar. Ela conhecia Nathaniel há... uma semana? E iria já sair com ele? Não. Não valeria á pena. Valeria se ele fosse o garoto certo, mas, se ele fosse, Alice talvez tivesse certeza disso.

Ou acreditava que teria certeza disso. De qualquer forma, deveria ser melhor recusar.

– Você não precisa ir se não preferir... - Nathaniel avisou, cuidoso, depois de Alice permanecer muito tempo em silêncio.

Ela logo ergueu o queixo, e abriu um sorrisinho para ele.

– Eu... Eu tenho algumas coisas para resolver em casa hoje – ela mentiu, e depois assumiu um tom mais brincalhão: - Eu também tenho assuntos a resolver, não é só você aqui que tem responsabilidades, Nathaniel...

Nathaniel emitiu um pequeno sorriso.

– Talvez... outra hora...

– Tudo bem – ele disse. - Não se preocupe. Você está ocupada, eu entendo.

– Tudo bem... - ela repetiu.

– Então... tenha uma boa tarde, Alice.

– Uhum. E você também, Nathaniel. Mande um “olá” para os gatinhos por mim.

– Claro. Eu mando – e com um último sorriso, ele se virou, e andou calmamente até a porta de vidro para ir embora.

Alice encostou-se em algum armário, e abraçou o próprio corpo.

Ela não queria ter recusado o pedido, mas... Era o que deveria fazer, se o garoto não era o garoto especial, não é? Não valeria a pena perder tempo com os sapos, apenas com um príncipe que ela saberia que era o príncipe apenas em olhá-lo.

Mesmo que o rapaz que havia lhe feito o pedido recusado fosse mais nobre que já conhecera na vida...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ Paris Opera Ballet = Uma das escolas de ballet mais prestigiadas , antigas e tradicionais da Europa e todo o mundo. Foi fundada em 1669.
Link na Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Paris_Opera_Ballet
E um vídeo legal e curtinho que mostra alguns dançarinos "amadores" (está em francês, mas a dança é uma linguagem universal): http://www.youtube.com/watch?v=QZ4LnfKpO1M

É isso. Digam-me o que vocês acharam da reação da Alice no final (:
Beijos gente, e um bom feriado regado a chocolate quente pra vocês *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quédate con el Cambio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.