Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 7
Cap. 6 - "Você está aqui!"


Notas iniciais do capítulo

Ainnn :3
Capítulo enooorme, e emocionalmente super especial. Vocês vão entender logo que lerem...
E um buquê de rosas para a senhorita Nami que corrigiu o título. Obrigada, sério mesmo (: Ainda não acredito que fiz isso...



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Aquele era seu primeiro sábado pós-aula na nova cidade, mas a sensação de liberdade das aulas era a mesma de sempre.

Alice havia acordado mais cedo do que nos dias de aula, ás cinco da manhã, devido a um pesadelo que tirara seu sono, e reservou um pouco do seu tempo para admirar com desdém a paisagem pela janela. Depois de ver a aurora, ela se levantou e desceu as escadas.

Arranjou qualquer coisa para comer na cozinha e se sentou no sofá da sala, já com os controles da televisão na mão, ligando o aparelho.

Seus olhos experientes acharam rápido um dos canais infantis, como fazia todos os sábados de manhã desde que aprendera a mexer naqueles botões – fossem na própria casa, ou nas viagens com a mãe e a tia Emily -, e passou a se divertir com reprises de Tom & Jerry ou Looney Tunes. Na realidade, ela adorava quase todos os desenhos - menos Ben 10 e seu relógio estúpido.

Em um instante, ela ouviu passos lentos descendo as escadas, logo revelando uma criatura com o rosto amassado sem os óculos e os cabelos totalmente bagunçados.

Buenos días – Jonathan a cumprimentou rouco, indo em direção à cozinha.

Buenos días. Dormiu bem? Ou teve pesadelos com a Medusa novamente? - Alice o provocou.

– Para de me zombar, Alice. - Sua voz já vinda do outro cômodo, junto de alguns barulhos de talheres e pratos. - Não é você que está sendo ameaçada de virar estátua.

– Puxa, que mau humor...

Jonathan apareceu, sentando ao lado da garota e colocando uma xícara com café na mesinha de centro, à sua frente. Sem pedir permissão, Alice pegou a xícara e deu alguns goles.

No colo do rapaz, um prato vazio. O sanduíche de presunto já estava em suas mãos, e ele dava mordidas grandes, como se não houvesse comido há dias.

– A nova temporada de Bob Esponja está um estrago – ela lamentou, com o rosto decepcionado mirando a televisão. – Resolução em HD... Quem liga? Parece que os produtores esquecem da qualidade e fazem questão de regredir nas histórias...

– Isso porque você tem dezessete anos, Áli. Você não é mais o público-alvo dos produtores – Jonathan respondeu, terminando o sanduíche e colocando o prato em cima da mesa de centro, à sua frente. – Qualquer desenho feito pra crianças vai parecer ruim.

– Errado. Erradíssimo. Errado duplamente elevado à quinta potência – ela o provocou, divertida. – A questão não é essa, Johnny. Os produtores que passaram da idade de criar qualquer coisa, bem, digna, assim, surge essas besteiras todas...

– Aham, é claro – ironizou. – Que nem Ben 10.

– Não pronuncie o nome desse desenho destruidor de gerações nessa residência – ela o ameaçou. – Ah, por Deus, você é um incômodo. Me desinteressei pelas aventuras do Homem Sereia. Meus parabéns, você alcançou seu objetivo de me irritar. Vou tomar banho agora. Aproveita e começa a fazer o almoço enquanto isso.

– Você fala isso como se eu soubesse mexer nesse fogão – ele zombou, enquanto ela levantava do sofá. – Sabe, irmãzinha, já está na hora de você colocar a mão na massa. Eu nem te cobrar aluguel cobro, se tornando mais do que a sua obrigação preparar as refeições.

– Vai esperando, Johnny Bravo – ela disse, e Jonathan passou a mão pelos cabelos de forma supostamente charmosa, imitando o personagem de desenho Johnny Bravo. – Vai naquele restaurante vegetariano do outro dia - ela continuou -, não me importa. Eu apenas quero comer. E comida saudável com pouca glicose e colesterol por motivos mais do que claros, por favor!

– Ta bom, ta bom, vossa alteza. Como desejar – ele respondeu sorridente, enquanto pegava o controle da televisão e mudava de canal.

Alice subiu as escadas, com um riso preso nos lábios.

“Vossa Alteza”. Era uma nomenclatura incomum; lembrava de “princesa”, como seu pai a chamava.


[..,]






O vestido que Alice usava era um de seus preferidos: azul bebê, de tiras com o comprimento até o joelho.










Ela estava sentada no sofá, com um caderno em folhas brancas no colo, tentando replicar um dos desenhos mais difíceis do irmão. E lembrando-se dele, Alice se perguntou aonde ele deveria estar. Havia saído há mais de uma hora, alegando que compraria o almoço, e, considerando que Jonathan provavelmente tinha ido ao primeiro lugar que vendia comida que achara, ele estava demorando muito.








Levantou-se do sofá, descansando um pouco da arte que ela tinha quase certeza que nunca conseguiria imitar. Foi para a cozinha, bebeu um copo d’água, e ficou encarando a parede.



Estava com uma sensação peculiar. Talvez a demora do irmão fosse causada por um compromisso de última hora, o que seria algo incomum.

Então, Alice ouviu o barulho da trinca e da porta se abrindo. Imediatamente olhou em direção a quem chegara: o rapaz dos óculos redondos com uma sacola retangular de papelão, fechada, exalando o cheiro de legumes grelhados.

– Está tudo bem? – ele perguntou ao se aproximar, colocando a comida em cima do balcão.

– Sim... - Alice respondeu. - Por quê?

– Você está meio branca. Quero dizer... – sorriu – mais do que o normal.

– Não desconversa, Johnny – ela ordenou. - Por que demorou tanto?

Jonathan considerou provocá-la mais um pouco, mas Alice parecia realmente interessada na resposta, então continuou:

– Ah, porcaria! – apalpou os bolsos. – Esqueci meu celular no carro. Toma – jogou-lhe a chave. – Pega lá, eu tenho assuntos pra resolver no banheiro.

– Você está falando sério? – Alice ergueu as sobrancelhas. - Quanta esquisitice, Johnny. Certo, vá se ocupar suas necessidades. Eu não quero limpar acidentes depois – concluiu, e foi em direção à saída.

Alice saiu pela porta de casa para poder contorná-la e chegar a garagem.

Ela caminhou dois passos, enquanto observava o chaveiro para achar o botão que destrancava as portas do carro. Quando levantou os olhos, ela inconscientemente estacou no chão. Seu olhar caiu no cenário: na rua em frente à sua casa, um garoto de camiseta verde, óculos redondos e com os cabelos castanhos num corte desajeitado estava encostado em seu antigo carro azul-marinho. Seus braços estavam cruzados, e ele exibia um sorriso conhecido à garota.

– Eu não acredito... – ela murmurou. - Ken?

Depois de poucos segundos, deixou a chave em mãos cair no chão e correu na direção do rapaz. Ele ficou parado por alguns segundos sem reação, e Alice se jogou contra seu corpo, logo passando seus braços delicados em volta de seu pescoço.

– Ken! – ela exclamou numa a voz frágil, denunciando sua saudade. Não se viam não fazia duas semanas, mas para ela pareceu uma eternidade. – Não acredito que está aqui! Meu Deus! Ken, o que faz em Everett?

Ele corou levemente, e a afastou meio sem jeito para que pudesse encará-la.

– Eu vim ver você, Alice – ele se pronunciou pela primeira vez. A voz nem tão aguda, nem tão grossa, mas inocente como ela era acostumada a ouvir. - Qual o problema? Você achou que eu tinha te esquecido? Eu nunca esqueceria de você! Eu até te liguei esses dias. Umas cinco vezes e você não atendeu nenhuma.

Você quem me ligou? - surpreendeu-se. - Sempre aparecia como “chamada desconhecida”, e eu nunca conseguia atender. Era você? E... Meu Deus, como você veio parar aqui?

– Meu número sempre aparece como “desconhecido”, Alice. Uma das frescuras do meu pai, né... Tudo bem. E como eu cheguei aqui... É, eu consegui pegar o carro da minha mãe e vir pra cá. Não é tão longe assim, tipo... uma hora e pouco? É só saber olhar um mapa e pisar no acelerador. E talvez, como você nunca atendia minhas ligações, eu tenha ligado pra sua casa e seu irmão tenha passado o endereço.

– Você ligou pra cá? E Jonathan...Como você... Eu... Nossa. Você está aqui! - ela comemorou, abraçando-o mais uma vez; e ele, tão desajeitado como antes, correspondeu. - Você está aqui!

– Eu estou e... Você vai chorar? Oh, não. Não, não, não chora, não, sério – disse sobre seu ombro. - Olha, faz assim – ele a afastou novamente para poder vê-la -, eu sei que você tem muita coisa pra falar, então quer sair pra comer alguma coisa? Eu estou com um buraco no estômago de fome.

Alice passou rapidamente as costas da mão em seu rosto, removendo uma lágrima teimosa. Ter aquele garoto ali realmente mexeu com ela. Acenou com cabeça em afirmação.

– Eu adoraria. Porém, o Johnny comprou comida, e eu...

– Vai lá – ela ouviu a voz do irmão dizendo atrás de si. Virou-se e o encontrou na soleira da porta, segurando a chave que ela deixara cair na mão esquerda, e um hambúrguer comido pela metade na direita. – Não esquenta, Áli. Sobra mais pra mim – e deu uma piscadela.

Alice voltou o olhar a Ken, e viu, por meio segundo, um olhar de confidência entre ele e seu irmão. A garota logo suspeitou que a desculpa que Jonathan a dera pra ela sair de casa foi uma inocente armadilha; eles deviam ter se encontrado anteriormente, enquanto o mais velho estava fora, ou qualquer coisa do tipo.

Jonathan deu um último aceno e entrou na casa. Ken deu um sorriso para a amiga e colocou a mão na maçaneta do carro, na intenção de abrir para a garota, mas foi impedido:

– O que está fazendo? – ela perguntou.

– Nós vamos sair para comer... ou eu perdi alguma coisa?

– Ken, você se encontra numa cidade com cem mil habitantes. Tudo aqui por aqui é perto. Você realmente acredita que precisa usar o carro?

– Oh, desculpa, tá? Eu não sabia – ele brincou. – Tudo bem, vamos a pé. Pra onde?

– Pra lá – ela apontou, à sua direita. – Tem uma lanchonete no caminho que eu sempre quis passar quando voltava do colégio. Pode ser?

– Você que manda – Ken respondeu, erguendo seu braço direito para que Alice o segurasse enquanto caminhavam, como tinham o costume há anos.

Eles seguiram pela calçada, comentando sobre os estabelecimentos modestos que apareciam no caminho, a quantidade exuberante de árvores, a calmaria do lugar e, principalmente, o breve tempo que passaram longe; com um tom dramático o suficiente para dar a ideia de que eles haviam ficado meses sem se ver, mas com a afinidade de terem se encontrado diariamente nas últimas semanas - resultado da amizade duradoura dos dois.

Ken e Alice haviam se conhecido há cinco anos na “classe iniciante das amarras”, como todos a chamavam, quando ele ainda usava suéteres felpudos no corpo magricela e ela ia com uma tiara de flor rosa choque na cabeça. Eles não estudaram juntos por muito tempo: logo o garoto conheceu pessoas novas, acabou por encontrar seus próprios ofícios e tomando novos ares, o que também interferiu um pouco na personalidade e na aparência, dando-lhe certa confiança. Mesmo assim se viam antes, entre, e depois das aulas, e apresentavam um ao outro novos amigos que fizeram em suas respectivas turmas – ou fora delas.

Eles sempre se deram muito bem. Quando se conheceram, a garota simpatizou logo no início com a educação e o jeito desastrado do rapaz, e ele se encantou pelo seu carisma. Isso acabou por criar complicações: quando ambos tinham quinze, Ken declarou estar apaixonado por ela.

Alice não soubera como reagir, e quando ele acrescentou achar que não conseguir ficar ao lado dela sem poder agir como um namorado – confissão que até ele achou exagerada, tempos depois -, a situação piorou.

Houve um afastamento entre eles que durara mais de três meses. Sempre que se encontravam nos corredores, ela fingia que não tinha o visto, e ele tentava reprimir a vontade de ir falar com ela. Mas logo em seguida uma ruiva com os olhos cor de chocolate entrou na sala do rapaz, e suas atenções se desviaram para ela. Suas investidas na nova aluna deram certo, e os dois até acabaram por namorar algumas semanas. Assim, com a certeza de que aqueles sentimentos por Alice haviam acabado – ou, talvez, até sidos apenas mal interpretados pelo próprio dono -, Ken foi atrás da amiga e os dois conseguiram reatar a amizade, mais forte até então.

E depois da caminhada de poucos minutos, relembrando essas memórias, eles chegaram ao local.

Era uma lanchonete de porte médio, especializada em sanduíches, com um cardápio bem variado. Era a primeira vez que os dois iam lá, e Alice queria experimentar o sanduíche de atum que tinha a imagem estampada no grande pôster de divulgação na frente da loja.

– Você já escolheu? – ela perguntou, enquanto viam as placas com os preços na parede, acima do caixa.

– Acho que o cheeseburguer com fritas. Não quero ferir meu delicado estômago com esses lanches vegetarianos cheios de alface...

– Sim, sim, tem razão. Porque é a fritura do hambúrguer que te fará mal – ela brincou, olhando para os olhos dele, alguns centímetros mais altos do que os seus.

– Alicinha, Alicinha, eu como o que eu quiser, queridinha.

– O quê?

– Era para ser um trocadilho... Trocadilho, não! Uma piada, ou... O-Ou nada. Esquece. Eu quero pedir.

Os dois se dirigiram ao caixa e fizeram os pedidos, que logo foram entregues e, com as bandejas já em mãos, se encaminharam mais ao fundo do estabelecimento. Sentaram-se um de frente ao outro, e Alice não pode reprimir olhar com censura para as batatas fritas cheias de óleo na bandeja do amigo – em sua opinião, parecia até que ele tinha pedido uma extra camada de gordura no próprio lanche.

Ken percebeu o olhar:

– Você tem comido saudável assim todos os dias? – perguntou, e apontou para o sanduíche e o suco de laranja da garota.

– Tenho tentado – respondeu.

Ele riu.

– Na verdade, eu estou tentando comer bem mesmo – ela continuou. - Tenho certeza de que você é inteligente o bastante para saber o porquê. Apenas... Morar sozinha com o Jonathan dificulta isso, entende? Ele se alimentava praticamente todos os dias de nuggets de microondas e refrigerante. Porém, parece que ele tem melhorado isso, de tanto eu pegar no pé dele, creio...

– Hum... - Ken murmurou, passando mostarda nas batatas fritas. - Eu estava pensando... Acho acho legal você ainda estar lúcida – ele comentou. – Tava com medo de essa cidade alterar seu raciocínio.

– Bela escolha de palavras. Você diz isso como se eu tivesse me mudado para uma cidade lotada de psicopatas...

– Você pode estar! Eu já vi no Discovery, Alice. Essas cidades são sempre as menores e mais pacatas, ou vai falar que é mentira? – ele ergueu a mão, num gesto interrogatório.

– Como você é supersticioso, Ken!

– É só preocupação... - respondeu, dando de ombros.

Alice, embora tentasse se conter, não deixou de sorrir com um amigo. Em sua perspectiva, Ken tinha evoluído muito desde que eles haviam se conhecido – e o senso de humor era uma prova disso; apesar de ás vezes se revelar infantil demais. Ás vezes. Mesmo assim, com toda a mudança de vida e a sensação de que não o via há décadas, ela sentia falta disso no amigo mais do que nunca.

– Então, como vai a escola? – ele perguntou.

– Vai bem, vovó, obrigada – ela respondeu, num erro proposital.

Ken revirou os olhos, mas não pode conter um sorriso de lado discreto surgir em seus lábios.

– Eu estou falando do povo, o ensino, e a possibilidade de potenciais psicopatas. E aí, firme, segura ou lelé-da-cuca?

– Bem... Não há nada de fantástico – Alice respondeu, antes de tomar um gole de seu suco. – O que eu posso dizer? Pessoas normais, comuns. Fofocas ouvidas. Alguns tentando chamar a atenção como se fosse uma necessidade... e outros que se esforçam exatamente para passarem desapercebidos. Os professores são divertidos... Certo, alguns do meu antigo colégio eram mais engraçados, mas isso é relativo à matéria. E a infraestrutura é boa, também. Porém, no geral... Hum, está bom, eu acredito. Ainda não tenho tanta certeza do que eu penso sobre lá.

– Hum... – Ken bebeu o resto do refrigerante, e deu outra mordida no sanduíche. – E as pessoas sabem... da sua mãe?

– Oh, não, não – ela respondeu apressadamente. – Traria muitas complicações, você conhece. Não preciso de um sobrenome famoso me rondando. Johnny deveria ter me matriculado só com o sobrenome do nosso pai, ou pediu para que ninguém fizesse uso do da mamãe... Ao menos, até agora, ninguém me chamou diretamente por Miller.

– Miller é um sobrenome bastante comum – Ken a lembrou num tom de certeza. - Não é alguma coisa doidona que nem... sei lá, Schwarzenegger! E sua mãe não era uma estrela do pop ou uma atriz super, hiperfamosa para você ser reconhecida em cada esquina, Alice. Acho que... não sei; como ela morava em Seattle as pessoas por lá deviam saber mais quem ela era, só isso.

– Espero que esteja certo... - Alice comentou. - De qualquer forma, eu estou usando só o sobrenome do papai.

– Qual deles? Você tem um monte de sobrenomes dele.

– Rodríguez.

– Rodríguez? – ele perguntou. – Alice Rodríguez?

– Sim. - Ela passou o guardanapo nos lábios enquanto mirava a mesa, desanimadamente. - Ken, você se importa se encerrarmos esse assunto? - perguntou.

Ken a encarou, com o cenho franzido e o lanche terminado na mesa. Em seguida, afirmou com a cabeça.

– Pode ser – ele disse.

A garota, então, terminou seu sanduíche em silêncio e tomou mais alguns goles do suco, depois permaneceu mexendo no canudo com um olhar distante na embalagem.

Subitamente, Ken se sentiu desconfortável naquela situação. Cada maldita prova de azar que tinha acontecido, nas últimas semanas, ele esteve a par de tudo. Era o melhor amigo dela – ou um dos dois melhores amigos -, e não recusaria um ombro amigo mesmo que, muitas vezes, ele quem estava desesperado para chorar sua dor.

– Vai dar tudo certo, Alice – ele tentou animá-la. – Por favor, não é o fim. Se foca em outras coisas, não no passado. - Se esforçava para ser o mais convincente possível. Ainda assim, a melhor alternativa fora mudar de assunto: - Ei, qual é o nome daquele filme europeu que você comprou? Que você estava falando quando a gente entrou aqui...

– O “Minha Felicidade”? – ela respondeu, claramente mais animada só de lembrar de algumas cenas da história. – Sim. O que tem ele?

– Vamos pra sua casa assistir. De acordo com você, a gente não tem mais outras opções fazer aqui mesmo...

– Ken! – protestou. – Eu posso falar mal de Everett. Você não tem possui direito, projeto de soldado!

– Alice, você sabe que se sentir ofendida meio que revela que você gostou daqui, né? – ele perguntou, com uma sobrancelha erguida e os olhos divertidos atrás das lentes.

Alice não respondeu. Pensou por alguns segundos sobre o que ele falara – que lhe fazia mais sentido do que deveria fazer. Apesar das reclamações da garota sobre a cidade, Ken parecia estar certo. Parecia.

Por fim, deu um sorriso satisfeito, murmurou algum xingamento inocente, se levantou e foi em direção à porta de saída sendo seguida pelo amigo.

Os dois fizeram o mesmo caminho de retorno, agora apenas trocando ideias bobas e lembranças antigas e gostosas.

Quando chegaram ao quarteirão da casa da garota, Ken parou no meio do caminho, e olhou a amiga de forma cautelosa.

– Ah, Alice – Ken disse. - Eu não trouxe o Dee Dee, tá? Foi mal. Você está brava?

Alice encarou:

– O Dee Dee... sua flauta?

– Existe outro Dee Dee?

– Existe o baixista dos Ramones, meu caro. Foi de lá que saiu o nome.

– Esse cara já morreu, então tecnicamente não existe mais.

– Certo. Um ponto para Ken – Alice afirmou.

Ele estranhou.

– Não está brava, né? - insistiu.

– Por que eu estaria brava? Por que você não vai tocar uma música pra mim?

– É... Por que nós costumavamos-

– Você quer assistir ou não ao filme? - Alice o interrompeu, já voltando a andar e tomando à frente em direção à sua casa.

Ken logo a seguiu.

– Tá bom, apressadinha – ele falou.

Quando entraram, não ouviram a voz de Jonathan nem nada que anunciasse sua presença. Ao invés disso, um bilhete perto no telefone, o qual a garota pode ler “Problemas na galeria de um amigo, volto mais tarde. Tem nuggets no congelador.” respondeu onde ele estava. Alice deu um riso discreto e deixou o papel no lugar.

– Anh... Alice... – Ela ouviu a voz masculina atrás de si. Virou-se. Ken estava com as mãos no bolso, olhando pra os tênis. – Só pra você saber, eu vou aparecer aqui de novo no domingo que vem. Vou ficar, é... a tarde inteira, então já vai procurando alguma coisa divertida pra gente fazer. É... tem algum problema?

Ela sorriu com a cena.

– Bem... - começou. - Há o problema de que seu conceito de diversão é bastante diferente do meu, Ken – disse. - Por exemplo, eu adoro ficar em casa com chocolate quente e um bom filme, mas você não compartilha desse gosto.

– Correto – ele confirmou, mexendo os ombros alternadamente para frente a para trás. - E isso mostra que você me conhece bem o suficiente para procurar um lugar que vamos aproveitar nosso tempo – sorriu.

Alice olhou para o lado, e negou com a cabeça de modo espontâneo.

– Certo – ela afirmou. - Tudo bem, você venceu. Mais um ponto ganho. E eu acho um Pizza Hut pra você ou algo assim, pode ser? Agora... podemos ver o filme? – ela perguntou, com os olhos repentinamente brilhantes.

Ken riu e fez que sim com a cabeça. Ele foi para o sofá e ela no porta-CD ao lado da televisão. Tirou o DVD do encarte, colocou no aparelho e se juntou ao amigo.

As seguintes duas horas se passaram com Ken fazendo comentários aleatórios e divertidíssimos durante o filme inteiro; e Alice – em meio aos xingamentos e censuras ao amigo -, não pode deixar de gargalhar com a grande maioria. Ela o adorava tê-lo ao seu lado, fosse em Seattle, Everett, ou onde quer que eles estivessem. Eram amigos há cinco anos, e para os dois pareciam muito pouco; ambos tinham o inocente desejo mútuo de manterem o contato - pelo menos - até a velhice. E para isso, eles se esforçariam ao máximo.


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Notas finais do capítulo

Mais alguém feliz que ele finalmente apareceu? *-*
Pois é, eu tive que fazer algumas alterações no Ken, pelas circunstâncias e tudo mais, mas tentei deixar claro que aquele Ken nerdzinho do começo do jogo é o Ken que a Alice conheceu quando eles eram mais jovens. E não dava pra eu simplesmente enfiar o moleque na escola dela tipo "oi, fiz minha família mudar de cidade pra estudar na sua escola", tipo... sentido, realidade, alô??
Então, é isso. Hehe, eu adoro esses personagens.



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