Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 6
Cap. 5 - "Eles eram um casal quase perfeito"


Notas iniciais do capítulo

Castiestes vão se identificar. :)



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Eu só vou devolver a palheta. Só isso e nada mais.

Alice caminhava pelos corredores durante o fim do almoço, nas linhas retas e curvas que ela já conhecida daquela escola. Era o quinto dia de aula ainda, e bastante coisa já tinha acontecido, como um breve tour na tarde anterior entre as salas e os outros ambientes – enfermaria, achados e perdidos, sala dos professores – que Alice ainda não conhecia. Seu guia não pôde ser Nathaniel, como ela mentalmente clamara. Ele estava ocupado – como sempre – preenchendo e organizando alguns arquivos e pastas, então Melody assumiu o cargo e a conduziu.

De princípio, a ideia fora desanimadora. Ter a garota de voz fina e presilhas no cabelo falando sobre onde virar e não correr na escola a desagradava; mas no final das contas, Melody conseguira se soltar um pouco e comentar sobre coisas mais aleatórias e divertidas: meninos – sempre algo sobre meninos -, histórias constrangedores de outros alunos e eventos memoráveis nos anos anteriores. Alice quase gostou dela por aqueles minutos.

E no final do percurso, as duas chegaram no corredor que Alice tinha se perdido no primeiro dia. Ela e Melody ultrapassaram a porta de vidro que tinha ali e saíram no pátio da escola.

O pátio lembrava o jardim que ficava antes das escadarias na entrada do colégio. Era todo gramado, com algumas árvores que proporcionava sombras aos jovens sentados no chão, e alguns bancos onde outros adolescentes ocupavam. Melody comentara que, se havia um lugar onde os alunos costumavam matar aula, era ali; e que já tinha perdido a conta de quantas vezes tivera que ir até lá fazê-los assinar folhas de ausência, e coisas do tipo.

Alice observou atentamente o pátio enquanto a garota ao lado continuava a falar algo desinteressante.

Aquele lugar, pensara ela, devia ser adequado para um garoto como Castiel desperdiçar os períodos de aula. Se ele não tivesse faltado àquela quinta-feira – porque o desaparecimento total daquela mancha vermelha nos corredores só podia significar que ele tinha faltado -, provavelmente estaria ali.

Com esse pensamento, enquanto caminhava pelos armários, a mão de Alice foi até o bolso da saia jeans para segurar a palheta que estava lá, da mesma forma que ela havia segurado no dia anterior, repetindo para si mesma que apenas devolveria o objeto e iria embora. Apenas isso.

Ela chegou naquele corredor. Abriu a porta de vidro e passou por ela, permitindo que seus olhos percorressem todo o pátio.

A mancha vermelha estava ali, encostada numa árvore com os braços cruzados, os olhos encarando o nada e fones tampando seu ouvido.

Alice caminhou com rapidez ao local. Agachou-se, colocou a palheta onde ele pudesse ver. Em seguida já virou as costas, sem nem mesmo ter olhado o rosto dele.

Mas ainda assim, a voz do rapaz a chamou:

– Ei!

Ele não poderia ter me ignorado? Requereria um esforço tão absurdo?, lamentou-se.

Alice virou seu corpo alguns graus para poder ver o garoto. Ele segurava a palheta na mão, e o fone de sua orelha direita estava caído sobre o ombro.

– Onde achou isso? - perguntou ele.

Ela olhou para os lados por alguns instantes, ponderando sem motivo, e respondeu:

– Na sala da detenção – disse. - Sua retirada tão brusca deve ter feito-a cair de seu bolso, acredito.

– Ah... - ele murmurou, voltando seus olhos para o pequeno triângulo, virando uma vez, e depois outra. Depois, ergueu sua cabeça novamente para a garota: - Valeu.

Alice, involuntariamente, sorriu.

– Por nada – respondeu ela que, por um momento, permaneceu encarando-o de forma surpresa.

E ele percebeu:

– Que foi? Perdeu alguma coisa na minha cara? - Castiel.

O sorriso de Alice logo se desfez. Ela suspirou, e seus ombros se curvaram em decepção.

Eu não tenho uma folga.

– Hein? - ele retomou.

– Não... - Alice respondeu. - Nada. Eu só... eu não esperava palavras de agradecimento.

Castiel tirou o fone do outro ouvido e, ainda sentado, virou mais seu corpo para ela.

– Por quê? - ele perguntou.

– “Por quê”? Porque... Puxa, você nunca se mostrou a pessoa mais cativante ou aberta desse colégio, ou dessa cidade. Não desde que cheguei aqui. Como eu poderia esperar que você fosse educado?

– “Educado”... Cara, você adora essa coisa de educação, não é?

– Isso é errado? - ela questionou. - Por acaso eu estou cometendo algum crime ao esperar que as pessoas sejam educadas?

O rapaz deixou escapar um sorriso.

– Não quis dizer que você é contra lei, garota - explicou. - Mas isso é ser muito ingênua. Esperar que todo mundo seja gentil é a mesma coisa que esperar que o Black Sabbath volte. Você pode viver na base da esperança, mas nunca vai rolar.

Alice cruzou os braços, e passou o peso do corpo para a perna direita. As palavras dele acabaram ecoando em sua cabeça – as palavras indisciplinares de alguém que não sabe o que está falando, ela forçou-se a lembrar. Contudo, as palavras mais que mais se destacaram foram “muito ingênua”; essas duas se encaixaram bem para ela. Bem demais, ela pensou.

– Curtindo uma epifania?

Alice, logo que ouviu novamente a voz de Castiel, o encarou, e deu um sorriso que tinha certeza de que parecia bem forçado.

– O quê? Não. Eu apenas me perguntando o que é Black Sabbath – respondeu.

E a expressão do Castiel fechou; mais uma vez.

– Uma banda – ele respondeu. - Uma muito boa, por sinal.

– Tão boa quanto a Winged Skull?

Surpreendentemente rápido, a expressão divertida voltou ao rosto de Castiel.

– Então Winged Skull você sabe que é uma banda, né? Procurou no Google ontem à noite para ter assunto comigo quando devolvesse a palheta?

Idiota convencido, Alice o xingou. É tão difícil ser um indivíduo suportável?

– Eu já conhecia a banda – respondeu.

Você? - ele ergueu as sobrancelhas em surpresa. - Eles tocam grunge dos anos noventa. Você, com esse jeitinho de garota bem-criada, ouve grunge?

– Não! Digo... Bem, em fato... - Alice demorou um pouco para continuar, tentando ser o forte o suficiente para ignorar qualquer imagem ruim que acompanharia sua fala, mas prosseguiu: - Um amigo meu gostava. Gostava, não, adorava. Ele me fez ouvir um CD com os maiores sucessos, e daí eu conheci.

– Hum... Que história emocionante.

Alice soltou o ar, indicando uma breve irritação, e decidiu terminar o diálogo:

– Certo. A conversa foi... interessante – e eu provavelmente não vou querer repeti-la. - Porém, eu vou indo. Divirta-se com sua palheta – ela virou o corpo para ir embora. - Até mais.

– Até, Alice.

Alice não chegou a dar um passo. Ao invés disso, ela olhou para trás, surpresa; mas ele já havia recolocado os fones de ouvido e estava de olhos fechados, balançando levemente a cabeça num ritmo coordenado.

Ele sabia meu nome?, ela se perguntou. Podia parecer até exagero, mas Castiel sempre fizera questão de exibir seu desinteresse em saber quem de fato era ela, e aquilo tinha sido imprevisível.

Como se ele fosse alguém com atitudes fáceis de serem previstas, Alice concluiu. Deu meia-volta e, agora definitivamente, seguiu para dentro do colégio, indo embora do pátio.


[…]



– Hum... Sobre o Castiel? O ruivo que vive de jaqueta? Tá, então, o que posso dizer sobre ele... - Íris divagou enquanto ela e Alice desciam as escadarias do colégio para chegar ao portão de entrada. - Castiel é um pouco... despreocupado. Um pouco não, – corrigiu-se – bastante. Ele não liga muito pra opinião dos outros e faz o que quer e quando quer. É que ele pode levar as coisas meio a sério demais ás vezes.

– Como assim? - Alice perguntou, quando elas já haviam atravessado o portão e encostaram nos muros da escola. A maioria dos outros alunos, apressados pela liberdade de sexta-feira, já tinham ido embora logo que as aulas acabaram.


Íris olhou para os livros em sua mão por alguns instantes. Depois estralou a língua e olhou para Alice.

– Eu não gosto muito de falar disso. Não acho legal – ela se explicou. - Mas eu sei que você é alguém confiável, Alice, e eu não quero te deixar curiosa... então acho que tudo bem. É que, o problema... - ela se interrompeu, e soltou o ar pesadamente. - Tá, não é bem um problema, mas ele acaba se dando mal por conta disso, é que ele confia nas pessoas mais chegadas; mas, tipo, confia muito. É complicado entrar por aquela armadura que ele criou em volta dele mesmo, mas quando você entra, é ainda mais difícil sair, porque ele te considera logo de cara. Daí qualquer coisa que você fizer pode machucar ele. Se você disser que prefere conversar sobre algum assunto com outra pessoa que não seja ele, o Castiel fica todo bravo e te xinga. E se você se afastar dele sem um motivo real, então ele se magoa.

Íris olhou para rua, e deu de ombros.

– Mas é quem ele é – continuou. - E ele é um cara legal, sem brincadeira. É só ter um pouquinho de paciência pra aguentar as piadinhas dele.

Alice concordou com a cabeça, e seus olhos miraram o chão. Isso não explica todo o comportamento dele, pensou.

– Ele não era sempre assim, era? - ela quis saber.

– Assim como?

– Bem... - Alice, cautelosa, respondeu: - Impaciente, ríspido... Convencido.

A garota de cabelo ruivo meneou com a cabeça.

– Mais ou menos – ela respondeu. - Ser impaciente ele é desde que eu o conheci. E meio convencido também – sorriu. - Deve estar no sangue dele, sério. Mas ele era mesmo mais... aberto às pessoas novas. É que aconteceu algo que... Ah, não – Íris negou com a cabeça. - Não seria legal falar isso...

Alice franziu o cenho.

– O que houve? O Castiel fugiu da cadeia, por acaso? - ela perguntou.

– Anh? - Íris estranhou, e riu. - Não, não. Por quê?

– Se ele não é aberto a pessoas novas, talvez seja por medo de se deparar policiais disfarçados.

A risada de Íris foi mais alta dessa vez.

– Ah, Alice, você viaja muito ás vezes. Mas não, não é por causa disso. Foi por quê... Ah, não, eu não posso...

– Íris – Alice a consolou, colocando sua mão sobre o ombro da outra -, não se preocupe, você pode dizer. Entenda, sei que nos conhecemos há um tempo bem restrito, mas você pode me contar qualquer coisa. Sabe disso. Eu não ousaria trair sua confiança.

Íris permaneceu silenciosa por alguns segundos. Em seguida, um sorriso honesto abriu em seu rosto, e ela concordou com a cabeça.

– É, eu sei mesmo – ela confirmou. - E não estamos falando de um plano supersecreto que ia dar numa terceira guerra mundial, nem nada que, tipo, a escola toda já saiba. Sério, foi assunto de fofoca por um mês. É, tudo bem, eu conto. Mas nunca fale sobre isso com ele, tá bom?

– É claro – confirmou a garota. - Nenhuma palavra sairá de minha boca.

– Tudo bem... - Relutante, e desviando o olhar entre a amiga e a pequena circulação de carros na rua, Íris explicou: - Ele tinha uma namorada, sabe? Acho que foi a única namorada dele que durou, durou mesmo. Ela estudava aqui. Todo mundo conhece ela. Na verdade, a gente meio que adora ela – Íris sorriu por um momento. - Ela é linda, inteligente e super atenciosa. Mas há mais ou menos dois meses ela foi embora. Pra Nova York, eu acho. A grande cidade. Ela queria ser cantora. Aqui na escola, ela cantava e o Castiel tocava guitarra. Ele toca, sabia? É. Então eles dois eram uma banda. Mas parece que só ela conseguiu despertar o interesse de alguns empresários e produtores importantes, e acabou recebendo alguns convites para trabalhar com eles. E então foi pra lá, seguir o sonho. Isso foi legal, sabe? Ter a coragem de ir pra uma cidade totalmente diferente, atrás de um objetivo. Mas ela e o Castiel estavam namorando, e ela indo sem ele criou todo um clima estranho. E como foi tudo super rápido, acho que nem deu pra eles se entenderem. O Castiel ficou meio bravo com tudo isso, e eles nem se falaram antes de ela ir embora. Não, mentira. Eles se falaram uma vez, que foi quando eles terminaram...

Íris soltou o ar de forma tristonha.

– Foi um choque esse término – continuou. - Tipo, eles eram um casal quase perfeito. Praticamente todo mundo da escola dizia isso. Sem brincadeira, eles combinavam demais. E desde então, que ela foi embora, ele tem estado assim... Querendo ficar sozinho sempre e sendo chato com tudo. Estou meio preocupada...

Alice ouviu tudo atentamente, tirando suas próprias conclusões em cada frase. Se magoar só por isso? Ele não sabe que as pessoas tem que partir?

– Mas ele vai melhorar, não vai? - Íris retomou, numa voz indecisa. - Isso é coisa de momento, não é?

Alice afirmou com a cabeça.

– Com certeza – a consolou, apesar de um tanto incerta: Eu nem conheço essa garota. Em fato, nem Castiel eu conheço tão bem.

– E eu até tentei melhorar as coisas... - Íris continuou. - Tá bom, talvez a ideia de ter ido atrás da Deb tenha sido meio idiota; mas ainda assim, eu tentei.

– Deb...?

– Ah, eu acabei falando o nome dela... – Íris percebeu o erro. - Bom, nome não, apelido, né? Tanto faz. Eu só queria que o Castiel e ela se reencontrassem pra acertar as contas.

– Um minuto... - Alice pediu, franzindo o cenho. - Vocês estavam planejando... segui-la?

– Mais ou menos... - Íris respondeu, tirando a mochila do ombro e a colocando no chão. - Tipo, eu tentava falar com o Castiel sobre isso, mas ele ficava querendo acabar com o assunto. Ah, como na segunda, que a gente apareceu quando você estava lá perdida no corredor, lembra? Eu tava falando com ele sobre isso naquela hora.

Alice ergueu as sobrancelhas, em surpresa.

– Estavam? - perguntou.

– Aham – confirmou Íris. - Eu estava tentando convencer ele a pegar um ônibus comigo pra Nova York e ir falar com ela. Eu até tinha um mapa e tudo mais, mas ele nem pensou na ideia.

– Hum... - Alice murmurou. Realmente, que ideia esquisita.

Íris suspirou, e deixou seus ombros caírem.

– Eu não sei o que vai acontecer – ela disse. - Mas espero mesmo que ele se recupere. Castiel não deveria levar essa mudança desse jeito.

Alice concordou:

– Sim, ele não deveria. Mas deixe-o. A vida é boa em obrigar as pessoas a aprender.

Um sorriso, que Alice percebera que o estava aguardando, veio nos lábios de Íris.

– Tem razão – Íris concordou. - A vida vai dar conta disso. Ah, calma... - disse, enquanto via um carro preto encostando na calçada. - Amém, que demora, meu irmão chegou!

– Irmão...? Você estava esperando seu irmão? - Alice questionou.

– Acho o quê? Que você era a única caçula sofredora aqui? - Íris brincou, mais animada. - É, ele me dá carona nas sextas já qu-

Um som agudo vindo do automóvel interrompeu a jovem, e ela e Alice colocaram a mão no ouvido por reflexo.

– Meu Deus, para de buzinar, seu estressado! - reclamou Íris, sem ser ouvida pelo motorista dentro do carro com janelas fechadas, depois voltou a encarar os olhos azuis da amiga. - Tá bom, Alice, minha hora de ir. Bom fim de semana, falou? Ah, e o assunto não sai daqui, tudo bem?

Alice passou o indicador e o polegar grudados em frente aos lábios, como se estivesse fechando a boca com um zíper.

– Ninguém me ouvirá falando sobre isso – Alice avisou. - E bom fim de semana, Íris. Segunda nos falamos.

– Segunda nos falamos – a outra concordou, acenando positivamente com a cabeça. Depois pegou sua mochila no chão e caminhou apressadamente em direção ao banco de carona do carro. Abriu a porta e entrou.

Alice ainda pôde ouvir a voz da garota dizendo “Dava pra esperar ou ia perder a mão?” antes deles partirem, e deixou-lhe escapar um riso.

Irmãos eram sempre irmãos.

Ela prendeu mais os livros junto ao tronco. O corpo deu meia-volta e ela seguiu na direção oposta, caminhando para seu – esperado, mas não tão esperado porque estamos falando de uma cidade como Everett – fim de semana recheado de televisão e de esquisitisses de Jonathan.


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Notas finais do capítulo

E então?
Ok, gente, eu realmente preciso saber uma coisa: a história tá muito corrida?? o.o



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