Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 5
Cap. 4 - "Silêncio na detenção"




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A escola parecia quase tão vazia como em seu primeiro dia, mas, como o portão já se encontrava aberto, Alice pôde passar por ele sem ter que esperar o auxílio de alguém que o abrisse.

A garota subiu as escadas, puxando sua saia jeans para baixo na intenção de aumentar o comprimento. Está na altura do joelho, Alice, ela consolou-se, não está curta. Não está.

Não havia ninguém também nos corredores, nem nenhum barulho vindo das salas. Talvez ela não precisasse ter chegado tão cedo, mas a impossibilidade de falar com Nathaniel antes a fez levantar alguns minutos antes do horário para poder encontrá-lo. Não que ela estivesse interessada nele no sentido amoroso ou coisa assim – realmente não era isso -, apenas queria conversar com ele sobre a irmã, sobre a escola, e se sentia confortável ao lado de alguém tão responsável como ele. Alice gostava disso.

Passou a porta de vidro e andou pelo corredor, procurando a Sala dos Representantes – o único lugar que ela pensara encontrá-lo -, e, ao chegar, bateu na porta duas vezes.

Segundos levaram e ninguém respondeu. Ela tentou virar a maçaneta para poder entrar, mas estava trancada.

Droga...

Ela virou o corpo para apoiar suas costas na porta, e suspirou. Teria sido seus minutos acordados mais cedo em vão? E os minutos de sono que perdera? Talvez pudesse recuperá-los à tarde, na detenção.

Argh. A detenção...

Se havia algo que Alice aprendera com toda aquela história fora que Kimantha não era a pessoa mais disciplinada, ou... educada, que ela conhecera. E não era nem necessário comentar as roupas ou o tom alto de falar. Ainda assim, garota parecia ser popular entre os outros alunos, e isso era legal, quem não teria consciência desse benefício? Mas talvez não valesse tanto a pena sair com alguém assim por conta disso. Alice não era esse tipo de pessoa... era?

– Com licença – a jovem ouvira alguém dizer. Ergueu a cabeça, que antes se encontrava direcionada ao chão lustroso, e encontrou uma garota com presilhas no cabelo escuro e um sorriso prestativo. - Você está precisando de alguma ajuda?

Alice devolveu o sorriso, e também arrumou sua postura, desencostando da porta e erguendo singelamente o queixo.

– Em fato... - começou ela – eu apenas estava procurando Nathaniel. Queria conversar com ele sobre um assunto. Nada alarmante. Porém, vejo que ele não chegou ainda...

– Na verdade, ele já chegou – a outra esclareceu. - Estávamos na biblioteca estudando. Ele vai para lá ás vezes para revisar conteúdo antes da aula começar.

– Hum... - Alice murmurou. - Entendo...

– Eu sou Melody, aliás – apresentou-se. - Se quiser, acho que a gente pode ir indo para a biblioteca e lá encontramos o Nathaniel. Você é Alice, não é?

Alice se surpreendeu por um momento. Passou a copiar os passos de Melody, indo até o lugar desconhecido, e respondeu:

– Sim, sou eu. As fofocas sobre mim correm com tanta velocidade?

– É.... Na verdade, Íris comentou sobre uma nova aluna de Seattle, loira de olhos azuis. Depois disso, não foi difícil saber – explicou. - E também, estava na ficha das pessoas que iriam entrar esse mês.

– Ficha...? Os alunos tem acesso às fichas?

– Oh, não! - ela exclamou. - Só os que ajudam na coordenação, como eu e o Nathaniel. Eu sou representante de sala também.

– Hum... Entendo.

– Aqui, chegamos – avisou Melody ao entrarem no lugar decorado por estantes de madeiras com mesas posicionadas em fileiras ordenadas. Em frente a uma delas, a alguns metros de distância, Nathaniel estava sentado, concentrado em alguns livros e cadernos. - Então... - continuou a garota, de forma apreensiva intercalando de forma discreta o olhar entre Alice e o rapaz loiro. - Eu precisava falar com a diretora, e acabei te encontrando...

– Pode ir – Alice disse.

Melody demorou mais alguns segundos, depois assentiu, e despediu-se:

– A gente se vê durante as aulas – e caminhou para fora da biblioteca.

Alice voltou a olhar Nathaniel. Aproximou-se com passos silenciosos para perto da mesa e apoiou a mão numa das cadeiras à frente dele.

– Bom dia – cumprimentou. Ele logo ergueu a cabeça ao ouvir sua voz. - Importa-se de eu me sentar? - perguntou.

– Oi, Alice. Claro que não, à vontade – respondeu ele.

Alice colocou sua bolsa com os materiais no chão, puxou a cadeira e fez como pedido. Olhou por um instante as matérias que ele estudava: relevos, climas e topografias. Geografia, sem dúvidas.

– O que faz aqui tão cedo? - Nathaniel perguntou.

Ela olhou para um lado e para o outro, sem ter uma resposta nítida em mente. Respirou uma vez, e deu de ombros:

– Nada demais mesmo. Eu só não te vi ontem direito, e queria conversar uma coisa ou outra com você; se não for um incômodo, principalmente agora que você está estudando...

– Não se preocupe, eu já terminei por hora – ele respondeu, fechando os livros. Em seguida, apoiou os cotovelos na mesa, e a encarou. - Algo de errado aconteceu? Soube que você pegou uma detenção ontem...

– Hum, sobre isso... Eu estava conversando durante a aula. Creio que foi justo. - Mentira, eu não mereci. - Você acha que isso vai afetar meu currículo ou algo do gênero?

– Bem... Uma detenção é uma detenção. Estará marcada em sua ficha. De qualquer maneira, se sua preocupação é em questão de faculdade, as instituições mais prestigiadas não darão tanto valor a uma detenção se suas notas foram boas, compreende?

– Ahn... Sim – ela respondeu. - Eu nem estava pensando muito no quesito faculdade, mas sim, entendo.

– Não pensa sobre faculdade, Alice? No último ano?

– Não, não é isso – respondeu ela, levemente desconcertada. - Só... não veio pela minha cabeça ainda, entende? Bom, sim, eu já deveria saber qual universidade quero entrar, mas estamos em agosto. Eu tenho tempo, não tenho?

Nathaniel demorou alguns segundos para reagir, mas logo assentiu com a cabeça sem olhá-la, e continuou:

– Sim. Sim, você tem razão. Estamos em agosto ainda...

Alice sorriu.

– Mas, em fato, Nathaniel, - ela disse - tem uma outra coisa que eu queria comentar contigo.

Ele voltou a encará-la:

– Sim?

– Por acaso sua irmã se chama Ambre? - ela perguntou.

Nathaniel deixou um riso descontraído escapar pelos lábios:

– Então você a conheceu.

– Sim, eu a conheci... Simpática.

– Jura? - ele ergueu uma sobrancelha. - Outros alunos não costumam ter a mesma opinião.

E eu também faço parte desses alunos., ela pensou. Mas você não precisa saber disso.

– Bem... Nós duas mal nos falamos, mas pude ter essa ideia. Vocês devem se dar bem juntos... - ou não.

Nathaniel suspirou.

– Sim... Somos irmãos, não é? - ele disse. - De uma forma ou de outra, temos que nos dar bem. Você deve entender isso, também tem um irmão...

Alice afirmou com a cabeça.

– E aproveitando tal tema, agora que você descobriu o nome da minha irmã, posso saber o nome do seu? - ele perguntou, num sorriso diferente do que Alice já vira em seu rosto; e ela gostou.

– Jonathan – respondeu ela. - Mas ele está habituado a ser chamado de John...

– Hum... Jonathan. Como o autor, Jonathan Franzen?

Quem?, interrogou ela em sua cabeça.

– Sim, sim... - Alice concordou. Como preferir...

Nathaniel sorriu, em sequência, arregaçou a manga do braço esquerdo e olhou o relógio de pulso que estava ali.

– Hum. Parece que o primeiro sinal vai tocar em vinte minutos – comentou ele, e depois olhou para Alice. - Eu preciso resolver alguns assuntos antes da aula começar. Você se importa se eu...?

– Oh, não, não! - ela respondeu. - Você tem obrigações, certo? Vá, cumpre-as!

– Tudo bem então. - Nathaniel levantou-se, pegou seu material e sorriu mais uma vez: - Depois nos encontramos, Alice – e caminhou até a saída da biblioteca, para depois se retirar.

Nos minutos restantes Alice permanecera ainda sentada, alternando sua atenção do vazio e para o nada, aproveitando o silêncio. O silêncio que, depois daquela conversa, não parecera mais tão incômodo; e ela riu; delicadamente da forma mais discreta que pôde, Alice riu. Pegou seu material no chão, se levantou da cadeira e caminhou também para fora da biblioteca de encontro à sua próxima aula.


[…]





– Então, suas pragas viciadas em computador – o professor Alan, que ensinava geometria, disse depois de terminar de passar o conteúdo da aula -, eu pensei em algo legal para vocês!







– Ponto extra na prova? - um dos alunos perguntaram.





– Não, cria de morcego, claro que não. Um trabalho escolar!


– De dupla? - outro quis saber.

– Não.

– Aaaaaaiim... - fora o som do preguiçoso protesto dos alunos.

– Parem de reclamar – continuou o homem. - Vai ser no computador. Vocês só terão que copiar e colar uns triângulos. Folgados.

– Esse professor é divertido... - Alice comentou com Íris, que se encontrava sentada ao seu lado.

– É, eu adoro ele – Íris respondeu, brincando com um lápis. - Uma vez eu encontrei ele no shopping. Ele estava comprando um jogo do Mario Kart. Foi legal.

Alice riu.

Mario Kart? - perguntou.

Íris parou de brincar com o lápis e olhou para a garota:

– Não me diga que você não conhece Mario Kart, Alice.

– Eu conheço sim – respondeu. - Só achei inusitado o fato de ser o objeto de consumo do professor.

– Ah... é. Mas é bom. Quer dizer que ele ainda tem um pouco de infância dentre dele, ou sei lá.

Alice voltou seu olhar para frente, onde o professor Alan discutia alegremente com um dos alunos da primeira carteira.

– Vocês tem shopping por aqui? - ela se pronunciou logo que a pergunta veio em sua cabeça.

– Ei! - Íris protestou, com um meio sorriso nos lábios. - Só porque a cidade é pequena não quer dizer que somos deficientes de um shopping, garota Seattle. - Alice revirou os olhos de forma dramática, juntando-se a brincadeira. - Mas tem sim – continuou a outra. - Tem cinema, umas lojas bacanas de roupas e de videogames. Qualquer dia a gente passa por lá e eu te mostro o que é Mario Kart.

– Eu sei o que é Mario Kart! - retrucou Alice.

Íris riu.

– Eu sei que você sabe. To brincando, Alice, não esquenta.

Alice, então, também riu. Bobona, chamou-a de uma forma carinhosa para si, e voltou a prestar atenção quando ele retomara o monólogo com a classe:

– Certo alunos, eu conversei com o senhor almofadinha aqui na frente.

– Almofadinha? - o garoto na primeira carteira protestou.

– Para de reclamar, senhor Reverton – retrucou o professor Alan. - E o trabalho de vocês será substituído por uma prova. Comemorem!

– Porra, Reverton! - um outro garoto, alto de cabelo cheio de gel, reclamou.

– Sem palavrões na minha aula, topetudo! - retomou Alan. - De qualquer forma, vai ser prova em dupla. Calma, sem gritos, as outras salas ainda estão em aula.

Mas mesmo assim, os alunos exclamaram não tão sincronizados “Urru's” e “Eba's”.

– Ótimo. Quase silenciosos. Agora saiam daqui, classe dispensada – concluiu o professor, sentando-se na cadeira atrás da espaçosa mesa no canto da sala e abrindo um livro.

Os adolescentes passaram a organizar suas coisas, conversando com os colegas ao lado e mexendo em seus celulares. Alice e Íris se levantaram, caminhando juntas em direção à porta.

– Então, vai quer almoçar com a gente? - Íris perguntou.

– Claro – respondeu Alice. - Por que eu não almoçaria?

– Ah, não sei não. Ouvi dizer que tem uns garotos do clube de teatro que estão comentando de você.

Alice riu.

– Caso os encontre, diga por mim “não, obrigada” – respondeu.

– Nossa... direta. Vou comentar para a Melody, caso ela os encontre de novo.

– Melody...?

– Ah, é, você não conheceu ela, não é? - Íris questionou. Parou em frente ao seu armário e intercalou seu olhar do cadeado sendo aberto à Alice, esperando a resposta.

– Ela é representante de sala, certo? Cabelos escuros, bochechas rosadas...?

– Então você já a conheceu?

– Essa manhã – respondeu Alice, quando Íris abrira o armário e colocara um livro dentro. - Acabamos nos esbarrando – ou quase...

– Achei que você tivesse se perdido de novo e ela havia te achado – Íris brincou, sorrindo.

– Dessa vez acabou por ser de uma forma mais casual – Alice dissera, no mesmo tom divertido. - Ela é uma graça...

– Ela é mesmo, não é? Ah, ninguém ganha da Violette, mas a Melody ali atrás. E ela é muito boa nas matérias. Se você precisar de ajuda com matemática, porque, modéstia parte, eu sou horrível, fala com ela que ela ajuda.

Alice sorriu, e apontou para a própria cabeça:

– Anotado – disse.

Íris fechou o armário e as duas continuaram a caminhar pelo corredor.

– Ah, vai ter jogo do time de basquete hoje, depois da aula – Íris comentou. - Quer ficar pra assistir?

Um suspiro cansado saiu da boca de Alice:

– Eu gostaria, e iria, se não fosse pela detenção.

– Ah é, a detenção. Recebida no segundo dia – Íris comentou, no mesmo tom descontraído que sempre usava. - Boa sorte.

– Obrigada – Alice agradeceu consequentemente desanimada, e as duas continuaram o caminho até o refeitório.


[...]






Depois do último sinal, e de boa parte dos alunos saírem da sala, Alice se levantou, juntou seus materiais, e foi para o corredor principal.









De repente, sentira algo vibrando dentro da bolsa. Ela parou, encostou-se em um dos armários e abriu o zíper para tentar procurar o celular – o que era meio complicado, considerando a lotação de canetas, lápis e cadernos ali de dentro; e quando conseguiu pegar o objeto, ele, como se estivesse gozando de seu esforço, parou de tocar, com as letras bem aparentes no visor: Chamada Desconhecida.






Droga!


– Licença – ela ouviu uma voz, melódica e atrevida, vindo de perto. Ergueu o rosto e lá estava, a garota de cachos loiros com os olhos bem marcados. Ambre. - Meu armário, querida, importa-se em me dar o espaço que não deveria nem ter ocupado?

Alice suspirou.

– Mas é claro – respondeu, afastando-se alguns centímetros para o lado.

– Obediente. Que graça – a outra completou, abrindo seu cadeado, sem voltar a olhar para ela. - Era assim com seus amigos de Seattle também?

– Como sabe que eu sou de Seattle?

– Essa tinta de quinta realmente alterou seus neurônios, não é? Todo mundo sabe. É o tipo de acontecimento que chama atenção de todos os idiotas que quiserem ver, ou ouvir. Ridículos.

Eles... ridículos? Eles?

– Mas talvez você tenha algum potencial para não ser assim também – Ambre continuou. - Quer dar uma volta pela Avenida Principal na sexta?

E foi aí que Alice estacou.

Ambre... A loira mal-educada e petulante, que agira estupidamente horas atrás, querendo ser amiga dela?

Permaneceu calada por alguns segundos, ainda estranhando a situação em que entrara. Mas, certo, ela ainda sabia como agir num momento como aquele:

– Não, obrigada – recusou o pedido. - Não tenho interesse em sair com você.

Alice pode notar os ombros de Ambre ficarem tensos, mas sua voz não se alterou:

– Ótimo. Pelo menos poupa meu tempo. - Ela fechou a porta do armário com uma força excessiva. - Até, eu espero, nunca mais, menina estúpida – concluiu antes de sair a passos largos pelo corredor.

E aí está. Educação... Alice pensara irônica.

Ela olhou seu celular silencioso e debochado mais uma vez, e o guardou. Ergueu o rosto e encontrou Melody, a alguns metros de distância. Teve de ir falar com ela:

– Melody, com licença... - aproximou-se, enquanto ela conversava com um desconhecido. - Você pode me dizer onde é a detenção?

– É claro – afirmou ela, se desvinculando da outra conversa por alguns segundos. - Segue no corredor e vira ali à direita. Primeira porta. Tem uma placa.

– Obrigada – Alice agradeceu antes de caminhar na direção indicada.

Ela virou o corredor e encontrou a sala com as palavras DETENÇÃO grandes e imponentes na porta. Girou a maçaneta e entrou, encontrando uma sala de aula que pareceria outra qualquer senão fosse pela pequena quantidade de alunos com roupas de delinquentes, e um homem de óculos pesadas sentado atrás de uma grande mesa.

– Nome – o homem pediu.

– Alice Rodríguez.

– Assine aqui – ele apontou para um papel em cima da mesa, decorado de assinaturas garrafadas e impacientes.

Alice se aproximou, pegando uma caneta parada ali e escreveu sua assinatura ao lado das letras de computação: “Alice Miller” - as quais ela não gostou -, depois escolheu uma cadeira vazia na lateral da sala, e sentou-se.

– Vocês já conhecem as regras – o homem disse numa voz para todos os poucos jovens ouvirem, apesar de nenhum aparentar interessado em suas palavras, e apontou para um relógio na parede acima de sua cabeça. - Duas horas serão sem nenhum piu saindo de vocês, escutaram? Nenhum piu, senão... Oh, veja quem veio se juntar a festa hoje. Bem-vindo, Castiel.

– E aí, Ronald? - o garoto de camiseta estampada entrou segurando uma mochila pela mão direita.

Mas é claro..., Alice pensou.

Castiel andou até a mesa. Pegou a caneta que continuava ali e assinou seu nome no papel.

– Deu uma de direita hoje? - Ronald perguntou à ele.

Levei uma de direita – o mais novo respondeu num meio sorriso travesso. - Mas acertei duas no estômago. Moleque arrogante... achava que tinha moral pra falar do meu cabelo. Você tinha que ver o topete dele, Ron. Viadinho.

O homem mais velho riu:

– Você é dos meus, Castiel.

– É. Que seja... - ele respondeu. Virou-lhe as costas e, então, Alice pode ver a bochecha direita do rapaz inchada, e o branco do olho adquirira uma coloração vermelha. A camiseta dele também parecia estar amassada, mas ele quase sempre usava as roupas desse jeito.

Quando Castiel percorreu o lugar rapidamente com os olhos acabou a encontrando ali, inofensiva e paciente, o encarando de volta. Ele logo desviou o olhar e sentou-se numa carteira do outro lado da sala.

Simpático, ela ironizou em sua cabeça.

Mais minutos se seguiram - quase silenciosos, senão fosse por um chiado de música que algum dos alunos deveria estar escutando pelos fones de ouvido.

Alice apoiou o cotovelo na mesa, e sua cabeça em sua mão. Com o tédio, veio a lembrança de quando ela contara, ao seu adorável e compreensivo irmão, o que a acontecera:

– Quer dizer que você também puxou o lado ruim da família, mana?

Ela bufou, irritada.

– Você não tem de ser tão esnobe – respondera, do outro lado da mesa da cozinha.

– Ah, não, Alice, nem vem. Você pegou detenção na primeira semana de aula. Primeira semana! Eu preciso ter minha dose de diversão.

– Eu odeio você.

– Você não pode me odiar. Eu te dou abrigo e amor fraterno – ele continuara, com a metade de um nuggets nos dedos e a outra metade já descendo pela garganta. - Você é minha parceira, minha colega nesses novos tempos conturbados. É isso aí, coelho branco, você finalmente se inspirou em mim e deixou esse seu lado rebelde tomar conta de você! Toca aqui, Àli – ele ergueu sua mão direita no ar em expectativa de ser acompanhado.

Alice olhara para a mão e depois voltara a olhar para ele, seus braços cruzados indicando que não responderia ao gesto.

– Sem-graça – Jonathan a insultou, abaixando a mão. Ela revirou os olhos, e continuou:

– E a garota que me colocou nessa enrascada nem levou detenção; apenas porque ela não apareceu. Eu fui à coordenação, e ela não, e ela ficou livre!

– Viu o que dá ser responsável? Não diga que eu nunca avisei.

– Johnny, você não vai me convencer a ser igual à você.

– Junte-se ao lado negro, Áli – Jonathan dissera, erguendo a metade de seu aperitivo para cima. - Nós temos nuggets!

Alice não pôde impedir uma risada discreta escapar de seus lábios com a recente lembrança. Jonathan realmente continuava igual de alguns anos atrás. Certo, talvez com os cabelos mais controlados e um óculos descente no rosto, mas o senso de humor juvenil não mudara.

– Dá pra calar a boca? - uma voz veio, há algumas carteiras de distância.

Alice olhou para o lado e encontrou Castiel a observando, com o cenho franzido e a aparência irritada.

– Perdão? - Alice se pronunciara.

– Faz silêncio. Eu não tenho que ficar escutando essa sua risada de criança retardada.

A garota erguera as sobrancelhas, surpresa.

– Você está incomodado... com o meu riso?

Ele soltou o ar de forma pesada, olhou para a própria mão fechada em punho e respondeu:

– Só fica quieta, falou?

– Não! - ela exclamara em resposta, ignorando o homem atrás da mesa larga dormindo com um livro no rosto, ou os outros adolescentes com as mentes também sonolentas.

Castiel olhou para ela:

– O que você falou?

– Não, eu não vou ficar quieta! - repetiu.

– Não foi uma per-

– O que há de errado contigo? - interrompeu. - O que diabos eu fiz para você ser tão estúpido ao trocarmos qualquer palavra?

Ele soltou um murmúrio impaciente.

– Eu só pedi pra você calar a boca – ele repsondeu.

– E você acredita que isso seja algo normal? Simples, educado?

– Vá a merda com a sua educação! - Castiel exasperou-se, levantando da carteira num impulso e pegando a mochila com uma força excessiva. - Eu falo do jeito que eu quiser. Você não manda em mim, intrometida do inferno!

– Castiel? - Ronald o chamou, com a voz rouca e arrastada, quando tirara o livro da face. - Castiel, o que está fazendo? Senta aí.

– Eu estou vazando, Ron. Não to com paciência para ficar no mesmo ambiente que essa coisa aí – Castiel avisou apontando com a cabeça para Alice, depois, sem esperar resposta, ou dar tempo para alguém responder algo, caminho apressadamente até a porta, saindo da sala numa rapidez escandalosa.

Ronald olhou para Alice, esta que tinha um semblante confuso no rosto.

– Silêncio na detenção – Ronald dissera, antes de colocar o livro novamente sobre o rosto e voltar a mudez de anteriormente.

Alice ainda olhou para os lados um pouco atônita sobre o que tinha acabado de acontecer, e como ninguém parecia se importar com isso. E então, olhou para a carteira aonde Castiel havia sentado. Tinha um objeto ali no chão, preto, contrastando com o piso claro. Aquilo não estava ali antes dele chegar, ela tinha certeza.

Ela olhou para Ronald – inconsciente -, depois pegou sua bolsa, levantou-se da cadeira para atravessar a sala e se sentou onde estava antes o garoto irritado. O objeto, até então abandonado no chão, era triangular e coube perfeitamente no centro da palma da mão de Alice. Uma palheta. Gravada com um desenho de uma caveira cortada por lâminas e as palavras “Winged Skull”.

Esse nome, dentro de um passado sorridente e encenado por notas de bateria na mente de Alice, era um nome conhecido. Winged Skull...

Ela tinha um amigo que adorava essa banda. Lembrava-se de quando o grupo fora se apresentar em Seattle, e o rapaz a convencera de ir junto com alguns de seus amigos. Com certeza, tinha sido uma das noites mais divertidas de sua vida.

O que ela não daria para repetir tudo aquilo com Jackson?


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Notas finais do capítulo

=)



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