Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 4
Cap. 3 - "São só rumores"


Notas iniciais do capítulo

Ebaaa, capítulo novo *-*
Sem falar nada para não dar spoiler :X



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Alice abriu os olhos em imediato com o barulho do alarme.

O som irritante e o céu nublado visto através da janela não a ajudaram em acordar de bom humor para seu segundo dia de aula. Ela esfregou os olhos e apalpou o criado mudo até achar o despertador e desliga-lo. Levantou-se, e olhou o visor do celular jogado perto do travesseiro.

Nenhuma ligação, nenhuma mensagem desde que chegara... Onde estavam aqueles amigos que se diziam tão leais mesmo? Aqueles com que se divertiam nas noites ocupadas de sábado?

Ela abriu o armário, separou uma camiseta de gola alta e jeans. Tomou banho, se trocou, desceu para a cozinha e enfiou uma tigela de cereal com leite garganta abaixo. Procurou sua bolsa, passou alguma maquiagem, escovou bem os cabelos e pegou o papel que o irmão – o qual, se prestasse atenção, podia até ouvir os roncos no andar de cima – deixara no móvel perto da porta.

No dia anterior, ela o havia convencido de que poderia ir para a escola sozinha, e apesar das negações de Alice, Jonathan ainda desenhara um mapa indicando à garota como ir para a escola; e além dos contornos das ruas e flechas alertando aonde virar, havia dinossauros, carros de sorvete e coraçõezinhos desenhados no resto do espaço em branco. Alice sorriu. Quantos parafusos a menos seu irmão tinha?

Ela saiu de casa. Enfrentou o percurso de quinze minutos até chegar à escola – e se não fosse o mapa em mãos, teria se perdido; claro que ela nunca admitiria isso à Jonathan -, e subiu diretamente as escadas. O jardim estava mais cheio do que no dia anterior. Duas pessoas que ela mal tinha visto nas aulas a cumprimentaram, e ela – desconfortavelmente, mas ainda de forma elegante – os cumprimentou de volta.

Entrou pela porta e sentiu seu celular vibrando no bolso. Pegou o aparelho sem interromper o percurso até a sala e viu: Chamada Desconhecida.

Aleluia, lembraram-se dela! Mas quem teria sido?

Ao atender, sentiu seu ombro indo de encontro a outro. A batida fez Alice deixar o celular cair no chão, e por reflexo ela olhou para a pessoa com quem esbarrara.

Fora estranho, e quase inapropriado em uma cidade como Everett, ver uma figura digna de comerciais de perfume ali, entre os corredores de uma escola.

Desculpe–me... – Alice pediu, em educação.

– Ai, ai. Não venho pra escola um dia e já tem sempre uma estranha nova para atrapalhar minha manhã, não é mesmo? – a outra garota disse, alto demais. Encarou fixamente Alice, e continuou: - Eu conheço você?

– Oh... Não – respondeu. – Me chamo Alice. De fato, sou nova.

– Hum... Alice, Alice... Prazer. Me diga, esse cabelo falsificado tirou sua coordenação em andar sobre dois pés?

– Perdão? – a garota sentiu-se desnecessariamente ofendida, e se controlou para não perder a compostura.

A desconhecida, com a cabelereira loira e muito delineador nas pálpebras, revirou os olhos.

– Ouça, você não tem que ser muito esperta para me entender: quando eu ando, você me dá passagem - ela avisou, agora num volume abaixo o bastante para apenas Alice ouvir. – Que tal?

Hum... Okay, certo. Não se preocupe, - forçou-se a dizer - não acontecerá novamente.

A garota loira, dos olhos bem maquiados, pareceu mais radiante.

– Que obediente - comentou esta, num sorriso vitorioso.

– Ambre, ande logo... – uma outra garota disse, uma de piercings com o cabelo preso num rabo-de-cavalo alto.

Oh, sim, vamos – a tal Ambre confirmou, e voltou a olhar a garota nova: – Continue assim, e talvez até viremos colegas de armário. Quero dizer - seus olhos foram para o topo da cabeça de Alice - se você melhorar essa cor de cabelo, né. Credo – concluiu ao virar-se e continuar seu trajeto.

Alice olhou sua saída, perplexa e irritada, e percebeu que algumas pessoas não só olharam a outra loira indo embora como também estiveram observando a discussão.

Não era difícil deduzir que Ambre era a garota popular do colégio, a quem todas gostariam de trocar de vida e coisas assim, mas Alice também sabia lidar com esse tipo de pessoa; ou ao menos, afastar-se desse tipo de pessoa.

Mas ela logo se lembrou de algo. Olhou para o chão e encontrou lá seu celular. O visor estava escuro, indicando que não tocava mais, e provavelmente ela nunca soubesse quem havia ligado – quem havia sido a alma gentil que lembrara-se dela.

Droga.

Pegou o celular e guardou no bolso. Continuou seu percurso até a sala do primeiro horário pensando no quão belo seu dia começara.



[…]



– O professor Faraize? - perguntou, com uma sobrancelha erguida em dúvida.

– Sim, que ensina química – Kimantha confirmou, enquanto arrumava o shorts que cobria suas pernas cruzadas na cadeira.

– De onde surgiram esses rumores?





Kim suspirou, dando uma olhada superficial na sala. Seu olhar caiu sobre uma menina baixinha que passava blush compulsivamente nas bochechas, e a garota negra fez uma careta de repulsa. Depois voltou para Alice que estava sentada na carteira atrás de si, e continuou a conversa:









– De onde os rumores saem, minha flor? De coisas bobas, tipo, o Faraize e aquela garota, a Charlotte andando juntos até o estacionamento bastante íntimos.





– Isso não é razão para acharem que ele tem uma relação com as alunas – Alice questionou, com as sobrancelhas franzidas. - Ela provavelmente apenas se encontra em dificuldade com a matéria.

– Alice, acorda, quem tem dificuldade com química?



– Só porque você não tem problemas com separação de misturas, Kim, não significa que seja a única – além de ter as roupas decotadas o bastante para se oferecer em troca de um boletim mais bonito, acrescentou silenciosamente. - E ele não faria isso. O professor Faraize é tão na dele que não se arriscaria a ter nada com ninguém; muito menos com uma aluna.



Kim revirou os olhos.

– São só rumores, é verdade - disse ela. - Mas isso não quer dizer que todos os rumores são falsos, qual é? Ah, falou, tanto faz. Só não reclame depois que eu não te deixo atualizada sobre os assuntos que todo mundo comenta.

E por que eu iria querer saber sobre o que os outros alunos comentam?

Alice deixou a conversa de lado e olhou para frente; para a lousa ocupada de datas conhecidas e termos em latim. História era mais divertida em seu antigo colégio, quando o professor fazia sozinho diálogos de Júlio César com Cleópatra para ensinar o conteúdo da Roma Antiga. Aquela mulher de jaleco branco sabia apenas falar tudo que Alice poderia ler no livro.

A maioria dos alunos pareciam concordar com ela em silêncio, apenas por suas faltas de atenção na educadora e na ocupação em seus celulares ou desenhos aleatórios no caderno. Alice soltou o ar pesadamente, e voltou a conversa com a colega:

– Kim... - a chamou, e a garota logo virou a cabeça para ver o rosto para Alice. - Tem alguma garota na escola que é conhecida por todos? Quero dizer... Aquele tipo de garota com muita popularidade, ou algo do gênero?

– Você veio da capital tecnológica do mundo ocidental, Alice – Kim comentou, e deu de ombros. - Já devem ter falado bastante de você para ser conhecida por aqui.

– Não, não – Alice negou com a cabeça. - Quero dizer... Uma garota que todo mundo queira ser amiga ou todos os garotos querem namorar?

– Hum.. tipo a Ambre?

– Oh, sim! - Alice confirmou, lembrando-se do nome daquela garota antipática. - Ela se chama Ambre...

– Fez amizade com ela no corredor? - Kim perguntou, indiferente.

– Eu não diria amizade... Mas nos conhecemos.

Putz, nem me diga como. Você quer saber sobre ela?

– Não. Apenas... Bem, ela é... legal?

Ou dramática demais sem o menor senso de educação e elegância?

Kim segurou as próprias mãos, fechando e abrindo-as como se estivesse se aquecendo para uma aula de boxe.

– Ela é meio biscatezinha, pode-se dizer. – O tom de voz de Kim não se alternou, apesar dela parecer incômodada com o assunto. - Bom, eu nunca conversei, conversei mesmo, com ela. Dizem que ela é gente boa quando se vai com jeito, mas eu não tenho paciência pra gente fútil que nem ela.

Diz que ela é fútil, mas você não tem escrúpulos para falar sobre a vida dos outros, não é?, Alice contestou.

– Se você está em dúvida – Kim continuou -, é só ficar longe dela. Você só ganha com isso.

– Nossa... - murmurou Alice. - Ela causa tantos problemas assim?

– Alguns... - a outra fez uma breve careta, como se estivesse pensado em algo ruim, e prosseguiu: - Se não fosse pelo irmão dela que fica opinando a favor nos conselhos de classe, acho que ela já tinha sido expulsa.

– Irmão?

– Ela é irmã do representante de sala – Kim esclarecera. - Irmã gêmea. O loiro da gravata, Nathaniel.

A Ambre que é irmã do Nathaniel?, a garota se assustou..

– Puxa... - disse, com desdém. - Eles não tem tanto a ver.

Kim dera uma singela risada:

– Tem de aparência, mas personalidade nem chega perto. Teve essa vez em qu-

– Meninas, - a professora, que se encontrava tentando dar aula, exclamou de forma que a sala inteira pudesse ouvir – a conversa está interessante?

– Mais do que sua aula, professora – Kim respondera com o mesmo tom que estivera conversando com Alice durante os minutos anteriores, e isso, além da ousadia, causara uma expressão quase furiosa na mulher de jaleco, e um singelo tumulto entre os alunos.

– Calados! Todos calados! - a professora mandou aos adolescentes, e virou-se para Kim: - Kimantha Lonth e... qual o seu nome mesmo? - perguntou, erguendo a cabeça por um segundo à Alice como se estivesse apontando-a.

– É a garota Seattle – Alice ouvira alguém murmurar. Teve vontade de xingar a pessoa que falara isso, mas limitara-se a limpar a garganta e responder a professora:

– Sou Alice. Alice Rodríguez, senhora.

– Kimantha e Alice – continuou a mulher – dirijam-se à cordenação.

– O quê?! - Alice protestou. - Não. Perdoe-me, professora, mas-

– Coordenação, senhorita Rodríguez, agora!

A sala permaneceu em silêncio. Alice olhou de relance para Kim, que parecia distraída demais com as próprias luvas para tomar qualquer atitude – inclusive, de obedecer a professora; mas Alice apenas suspirou pesadamente. Covarde. Levantou-se, e saiu da sala sozinha, não se importando se seria ou não seguida pela outra garota.

[...]





Só o último ano escolar de Madeleine High School tinha mais de duzentos alunos. Era um número grande, impressionante à Alice, considerando a cidade pequena.





Está bem, talvez não tão pequena, ela pensou. Jonathan a havia dito na noite anterior que Everett já ultrapassara os cem mil habitantes; mas para uma garota que tinha saído de um município de mais de três milhões, continuava bastante singela. Ainda assim, ao tocar o último sinal de aula indicando aos alunos que já poderiam ir embora, a leva de adolescentes caminhando apressadamente à saída pulando e gritando de forma tão agitada dava-lhe a sensação de estar num lugar muito maior do que imaginou– e ela não tinha certeza se isso era uma coisa boa ou ruim.

Alice reuniu seus materiais na bolsa, ainda irritada pela punição que recebera ao conversar na aula: uma detenção que teria de cumprir no dia seguinte. Era seu segundo dia de aula, como isso acontecera?







Despediu-se de Violette - que estava ainda na sala em que as duas tiveram a última aula, concentrada em algum tipo de origami - e saiu para o corredor. Tinha esperanças de encontrar Nathaniel novamente, mas ele parecia já ter ido embora, ocupado demais com suas próprias responsabilidades.







Ela passou pela porta larga do colégio. Seguiria direto para o portão, senão fosse uma mancha vermelha que passara por sua visão periférica. Ela olhou para o lado e viu o garoto de cabelos de fogo do começo do dia anterior. Castiel.

Ele estava sentado em cima de uma das muretas que ficavam nas laterais da escada, olhando para o celular em sua mão como se o objeto estivesse prestes a ganhar vida.

Será que ele é tão antipático quanto foi ontem, ou tinha sido só coisa do momento?, Alice se questionou. Ponderou por alguns segundos e decidiu-se: Veremos, e caminhou na direção dele:


– Há algo errado com seu celular? - perguntou.


Castiel imediatamente levantou a cabeça surpreso, olhou fixamente os olhos de Alice por alguns segundos sem reação; depois, uma expressão de raiva tomou seu rosto.

– Que porra você quer?! – ele perguntou.

Alice tomou o impulso de recuar um passo, e se demorou a responder - ela odiava palavrões.

– Nada – disse. - S-Só queria saber se havia algo errado, caso...

– Por quê? - ele interrogou, irritado. - Tem uma placa na minha testa dizendo que preciso de ajuda?

– Não, apenas...

– Apenas o quê?

– Eu apenas acreditei qu você pod-

– Você é nova aqui, não é? – ele perguntou, numa calma recente demais para Alice se sentir um tanto perdida.

Ela ergueu as sobrancelhas, e respondeu:

– Sim... Sim, eu sou. Por quê?

– Porque senão fosse alguém já teria te contado que não é pra encher meu saco. Mas que seja, eu mesmo falo para você: não é para me perturbar caso tenha amor à sua vida, novata.

O celular dele emitiu um som agudo.

Castiel voltou seu olhar ao visor, e em seguida fechou os olhos por poucos segundos.

Merda – murmurou.

Ele pegou a mala que estava no chão, e foi embora sem dizer mais nada.

Alice ficou parada por alguns segundos, com a boca semiaberta. Ela mal conhecia àquele garoto e ele já se demonstrara tão... estúpido. Tão babaca, xingou-o mentalmente. Ele tem alguma deficiência emocional para agir assim?

Ela, então, sabendo que não haveria propósito, desistiu de pensar sobre a atitude do garoto e olhou a seu redor. A escola parecia vazia, sem nenhum atrativo que a fizesse ficar. Alice desceu o resto das escadas e atravessou o portão de metal. Tirou do bolso o mapa de Jonathan que a ajudaria a chegar em casa, torcendo para que tivesse a mesma do começo da manhã em não se perder.


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Notas finais do capítulo

Gente... há algo que eu posso dizer? O dia da Alice não foi o melhor até agora, mas isso é óbvio. Ah, não sei. Forças para a nossa loira *-*



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