Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 21
Cap. 20 - "Os Incompreendidos"


Notas iniciais do capítulo

(Hola = Oi/Olá)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/349814/chapter/21

– Jonathan Cunha Miller Rodríguez, tú no vás abandonar a faculdade!

– Você não tem mais a autoridade de controlar a vida do seu filho de vinte e um anos! – Jonathan retrucara de forma aflita, com a testa suada e os ombros tensos.

– O filho que yo criei! Diego, seu pai, fazia questão de enfatizar.– Que yo sustento e que vive debaixo do meu teto!

– Eu odeio aquele lugar, pai! Os professores são arrogantes, as aulas inúteis e os garotos são uns riquinhos que acham que são alguém quando na verdade não são bosta nenhuma. E eu odeio viver em Seattle, com essa montanha de gente! Eu não preciso disso. E estou ganhando uma boa grana no ateliê, o suficiente para eu ir embora.

– Jonathan, meu anjo, você tem apenas vinte e um anos! - a mãe, Katherine, exclamara em sua voz trêmula.– O que está dizendo? Você tem uma vida toda pela frente!

– Exatamente, mãe, e eu preciso viver essa vida.

– Mas, filho...

– Deixe-o, Katty – interrompera Diego, sem deixar de encarar o filho. - Se Jonathan quer fazer besteira, deixe-o. Já está na hora dele aprender o que é a vida real.

– Diego, meu amor, você não pode estar falando sério...

– Não, mãe – falara Jonathan, enquanto sustentava o olhar do pai. - Ele está certo. E deixe-me mostrar a ele o quanto eu já conheço da vida real, e o quanto ele erra sobre mim, mesmo que nunca admita isso.

– Ingrato! o pai gritara. - Pensas que soy estúpido?

– Penso! E vou provar.

– Então vá! Vá! E trate de não voltar!

E não havia voltado.

Jonathan abriu os olhos ao acordar, com o ar faltando-lhe nos pulmões, e as imagens de anos atrás ainda correndo pela sua mente:

Algo à direita chamara sua atenção antes de caminhar porta à fora de sua (agora) antiga casa. Ele virou sua cabeça para o corredor.

Pela frestinha da porta semiaberta, os olhos espiões da irmã de treze anos brilhavam num azul destacado pelas lágrimas.

Alice...

Ela deveria estar na cama. O quando de toda aquela discussão ela havia assistido?

– O que está esperando?– ouvira a voz do pai. - Já mandei ir!

Jonathan engoliu em seco, e por um instante quis desobedecer as ordens de Diego, e ignorar seu próprio orgulho. Quis ficar, pela irmã.

Mas ele tinha algo a provar, coisas para se arriscar. Ele devia fazer isso.

Me desculpe, coelho...

Eu volto. Prometo que volto.

 

Seus pés continuaram o caminho para a porta de saída, onde pegou a última mala apoiada no chão, e saiu do apartamento, com passos largos para descer as escadas do prédio.

Puxou o ar pela boca, recuperando o fôlego.

Sua cabeça doía como se tivesse pregado um parafuso em cada têmpora.

Lentamente, Jonathan se sentou na cama, e passou a ponta dos dedos na testa numa inútil massagem para que a dor diminuísse. Sem resultado, mexeu a cabeça alguns centímetros para olhar o criado-mudo ao lado da cama: uma da manhã.

Ele estava tonto e cansado. Tudo por causa de um pesadelo que o trazia lembranças de anos atrás. Tanto lembranças boas quanto ruins.

Boas, ele pensou, pelo fato de ter conquistado sua independência naquela noite – ou quase isso, já que ele havia passado da casa dos pais para a casa de um amigo, onde morara de favor por oito meses, para só então juntar dinheiro o suficiente e comprar a casa em Everett, a cidade próxima tão mais tranquila que ele sempre quisera morar.

E também por ter provado sua coragem. Para todos e, mais importante, para si mesmo.

E ruins porquê...

Jonathan respirou pesadamente, sentindo seu peito subir e descer.

Lembrou-se de que ele e Diego nunca mais tiveram uma relação totalmente pacífica desde aquela briga, e isso era uma pena.

Jonathan ainda se lembrava do quão próximo do pai ele era na infância, e quanto o nascimento da irmã junto com as viagens que a mãe passou a fazer complicara tudo, estressando Diego e afetando sua relação. E, na adolescência, Diego o acusara – injustamente, eu seu ponto de vista - de “rebelde sem causa”, apenas porque Jonathan estava tentando se virar um pouco sozinho, indo atrás das próprias metas e objetivos. Se ele tinha jeitos malucos de alcançar o que queria, tudo bem, pelo menos ele estava se esforçando; não era o que importa?

Mas o grande estopim com certeza fora Jonathan ter abandonado a faculdade; uma decisão que mudara para sempre a vida daquela família.

E o outro motivo de ser uma lembrança ruim, era por conta de Alice.

Por que estou pensando em tudo isso agora?, ele se perguntou, mas a sequência dos acontecimentos não desgrudavam de sua mente:

Durante os meses que ele havia morado na casa do amigo ele ficou sem ver a irmã mais nova. Até perdeu o aniversário dela.

Jonathan sabia que Alice fora obrigada a amadurecer bastante desde que se mudara, e sentia uma grande culpa por nisso. Ele sempre achara que a irmã fora muito protegida pelos pais, principalmente por ser menina como também por ser a filha caçula. Mas então entendeu que, ás vezes, era realmente melhor esconder certas coisas de certas pessoas para não entristecê-las. Ou para evitar que elas se afastem de você.

Logo depois, ele também aprendeu que isso valia para todas as idades, sexos e relacionamentos. Mas se isso era certo ou errado, não cabia a ele decidir.

Jonathan levantou-se da cama.

Decidiu ir beber um copo de leite, ou qualquer coisa que ajudasse a ficar com sono. Sem se preocupar em pegar os óculos, andou até atravessar a porta do quarto e foi em direção às escadas.

Um chiado de palavras desconhecidas tomou seus ouvidos, aumentando gradativamente à medida que ele descia os degraus.

Ao chegar na sala escura, presenciou a irmã, enrolada em um cobertor com os fortes olhos azuis iluminados pela televisão ligada.

Ela ainda é uma criança, ele pensou. Ainda tem os mesmos olhos.

Alice, talvez por ter ouvido seus passos pesados, demorou alguns segundos, mas virou o rosto para fitá-lo.

Um segundo de hesitação percorreu entre eles. Foi a irmã que deu a iniciativa:

Hola...– ela o cumprimentou, baixinho, naquele idioma que eles só falavam entre a família.

Jonathan ainda se perguntou o quanto ela estava o evitando, antes de responder:

Hola...

Alice o observou brevemente, e depois, apreensiva, perguntou:

– Você também perdeu o sono?

Ele afirmou com a cabeça:

– Tem... - Deu de ombros. - Tem um pouco de cobertor pra mim? - perguntou.

Alice se desenrolou um pouco, deixando uma grande sobra do cobertor violeta ao seu lado. O irmão se aproximou, também cobrindo-se, e encarou a televisão, onde um cenário preto e branco contornava um alegre jovem discutindo com outro, em discursos ininteligíveis.

– O que é isso?

– Parece que esse canal está com uma maratona de filmes franceses nas noites dessa semana – respondeu a irmã. - Esse se chama “Os Incompreendidos”¹. É um clássico.

– Você já viu?

– Sim. Uma vez. - Alice suspirou.

Então, a irmã se remexeu um pouco no sofá, e no instante seguinte ela cuidadosamente aconchegou mais perto do irmão.

Jonathan percebeu que Alice estava relutante em se aproximar dele, então apenas deixou seus ombros relaxarem, como se quisesse mostrar que ele também não estava ansioso por outra briga.

Os minutos que seguiram se passaram em silêncio. Até os personagens do filme se mantiveram calados em alguma cena muda.

Um tick-tack de relógio e a respiração dos jovens preenchiam o lugar. Mas o clima não se tornara tenso, como fora nos últimos dias; o clima era sereno e, talvez, com um aspecto de conciliação.

Os atores na televisão voltaram a falar, num francês tradicional acompanhado de uma trilha sonora mais agitada.

– Nunca gostei muito de filmes franceses – Jonathan declarou.

– Você já viu algum filme francês? – Alice perguntou, curiosa.

O rapaz emitiu um som semelhante a um riso:

– Eles são pra outros tipos de pessoas – afirmou. - Para gente de mais idade. Não sei como você, com dezessete anos, gosta disso.

– Eu tenho quase dezoito.

– Mas ainda tem dezessete.

Alice virou seu rosto para Jonathan, e o fitou, para depois virar-se para as imagens do filme.

– Você consegue enxergar a legenda sem os óculos? - ela perguntou.

– É claro que sim – Jonathan respondeu, numa voz de falsa ofensa. - Eu não sou tão cego, Alice. Não tenho nem três graus de astigmatismo.

– Sim, certo. Só confirmando...

Depois, mais algumas falas em francês. O grito de uma mulher e um rude xingamento de um homem.

– Beleza, era mentira. Eu não consigo ler nada – disse Jonathan. - Leia as legendas em voz alta.

– O quê? Você quer que eu leia tudo?

– Só o mais importante.

Alice respirou fundo. Levou alguns segundos para se decidir, e quando o fez, suas palavras continham a resposta:

– “O que estudou hoje?”, foi o que esse homem amarrando o avental perguntou. Está vendo? É o pai do menino.“'A Lebre'”, o menino respondeu. Agora... isso é irrelevante. Ah,“você foi bem?”. “Não me perguntaram nada...”. “Hum, mas é preciso ser agressivo para vencer na vida, senão, nunca será nada! É preciso ter iniciativa.”. - A frase fez Jonathan ficar com os ombros tensos, e teve certeza de que a irmã percebeu, apesar de continuar como se não o tivesse: - “Já pensou no aniversário da sua mãe? É no dia dezessete, e espero que compre algo para ela. Ei... está ouvindo? Sei o que está pensando. Ela tem sido dura com você. Está nervosa, você precisa entender. Ela...” - a voz se tornou mais lenta. - “Ela ainda muito ocupada, com a casa e o emprego. Mas... Mas ela ama você.” - E, dessa vez, Jonathan percebeu as palavras reagindo em Alice, acreditando que ela estava pensando no pai deles, e no quanto as falas do filme se encaixavam com a realidade de ambos. - E, oh, agora ele falou um palavrão. Eu não vou reproduzir isso.

E Jonathan não segurou a risada

– “Merde” - ele quem reproduziu. - Não é difícil deduzir, coelho.

Ela mostrou a língua para o irmão.

Sem querer, Jonathan acabou tendo o pensamento: Foi uma pena que eu e Diego tenhamos acabado como acabamos, concluiu. Mas seria uma pena ainda maior se o mesmo acontecesse com Alice.

E ela só tem dezessete anos.

Achou que ouviria a voz da própria irmã o corrigindo: quase dezoito.

O tempo prosseguiu com cenas do filme em preto-e-branco, um som de violino ao fundo e a voz sonolenta de Alice ao seu lado. Um jantar, o menino dormindo, o menino indo à escola, e o menino pulando uma escada, minutos em que nenhuma fala foi dita e a irmã ganhou um descanso.

Mas, o invés de se calar, ela proferiu as próprias palavras:

– Jhonny?

– Sim?

Alice se remexeu mais um pouco debaixo da coberta, e encostou-se nele como uma gata sonolenta.

– Eu... - Ela respirou fundo. Estava com uma clara dificuldade de continuar, mas, ainda assim, o fez: - Eu... Eu amo você, tá? – ela disse. - Por favor, não... não deixe que nada o faça duvidar disso. Nem mesmo uma caneca...

E aquelas palavras, Jonathan soube, não era somente uma das coisas mais bonitas que já ouvira, como também eram um inesperado e distorcido pedido de desculpas.

Desculpas orgulhosas e relutantes, que só uma irmã caçula daria ao seu irmão mais velho.

Com o ambiente decorado pela mesma trilha sonora em francês, ela continuou:

– Não precisa dizer nada, tudo bem? Eu só queria deixar isso claro, Jhonny, mas eu sei que você não se sente confortável com esse tipo de cois-

– Eu também amo você, Áli – ele disse, e beijou-a no topo da cabeça.

Com uma falsa ingenuidade, ele continuou a assistir ao filme, como se estivesse alheio a reação que Alice tivera com suas palavras: um sorriso.

Quando os personagens do filme retomaram a discussão, a irmã continuou a reproduzir as falas:

– Agora... olhe, eles estão treinando em inglês. Suponho que eu... Pelos deuses, eles são péssimos em inglês. Certo, “a garota está na prata”. “Praia”, o professor está corrigindo., está vendo? “Prata?”. “Praia!”. “Prata...?”. Puxa, isso vai demorar...

Na realidade, não demorou. A aula fora interrompida, e o protagonista fora chamado para fora da sala de aula, aonde apareceu sua mãe para dar-lhe uma bronca por ter mentido sobre o motivo de ter se atrasado à escola.

Jonathan não se lembrou do resto. Ele dormiu logo em seguida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹"Os Incompreendidos" = Filme francês de 1959
(http://www.adorocinema.com/filmes/filme-62178/)
(As falas no capí­tulo são do filme mesmo, mas como eu não sei nada de francês, eu literalmente copiei a legenda. Eu peguei o filme no site "Laranja Psicodélica", então acredito que legenda foi feita pela equipe ou algo do gênero.
Por favor, alguém me avise se eu estou fazendo besteira aqui.)

Então, gostaram da abordagem diferente no capí­tulo?
Vocês gostaram do John, não é? hahaha. E eu iria me corroer a vida inteira se não mostrasse um pouco da história dele, que é bem interessante. Mesmo que tenha sido de um jeito bem básico como eu fiz aqui. E a coisa toda com a Alice deu uma boa oportunidade.
Mas curtiram? :3 Digam-me nos comentários ♥

Curiosidade sobre Jonathan: Entre os 16 e 17 anos, ele ficou pedindo para o pai dinheiro para comprar um carro, mas o pai nunca deu. Então, durante dois meses e meio, ele foi todas as tardes (incluindo fim de semana) para uma praça da cidade, e fez caricatura das pessoas por um preço de 5 a 7 dólares.
Ele conseguiu comprar um carro usado, e o manteve até os 22 anos, quando finalmente teve dinheiro para comprar um novinho 0 km.
:D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quédate con el Cambio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.