Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 2
Cap. 1 - "Piripitacus de Mulher"


Notas iniciais do capítulo

Tá, eu menti na nota do outro capítulo. Aqui que realmente começa a história.



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O novo cenário que surgia em seus olhos não correspondia de forma alguma às expectativas.

O que Alice imaginara numa cidade tão pequena fora algo composto por barracos ou moradias com uma aparência fantasmagórica; mas pelo contrário, a ruas eram arborizada, a zona residencial constituía numa fileira desordenada de casas e havia crianças brincando nos jardins. Os estabelecimentos eram menores e tinha mesas e cadeira no exterior dos restaurantes.

– Quer parar para comer alguma coisa? – seu irmão perguntou, enquanto dirigia. – Eu lembro o quanto você curte uma pizza de calabresa, tem um lugar maroto por aqui.

– Jonathan, eu acabei de falar que parei de comer pizza de calabresa há uns quatro anos! - ela esclareceu, ainda olhando para a janela.

Ele franziu as sobrancelhas:

– Falou?

– Sim, eu falei – respondeu ela. - E que eu tinha ficado acima do peso por conta disso. Culpa sua.

– É o quê? Por que seria minha a culpa?

– Porquê você não impediu o papai de me deixar comer tudo o que eu queria – virou-se para ele. - E o que aconteceu? Eu fiquei gorda. Deveria se envergonhar

O garoto riu.

– Você era gordinha? - perguntou ele. - Eu nem lembro.

– Claro que não lembra, foi antes de você começar a usar óculos. Você era ceguinho na época, não enxergava um palmo à sua frente. Até corria de um jeito engraçado.

– Ei! Eu nunca cheguei a esse ponto! Eu nem sei o que é essa coisa aí de correr que você disse, pode parar, Áli. - Jonathan ligou a seta e virou à direita. - E ninguém dá mais importância pra como você era. Agora você está bonitinha, sabe, ajeitada, então chega de reclamar. Eu só preferia você morena mas...

– Uau, você notou! – exclamou ela. – Nossa... Poxa, Johnny, é de conhecimento de todos que você é meio lerdo, mas ainda assim...

– Shiu, Alice. Eu percebi na hora que te busquei em Seattle. Como eu não ia notar essa recente amostra de água oxigenada na sua cabeça?

– Diga mais uma coisa assim sobre meu cabelo e eu queimo seus desenhos – ela avisou.

– Você nem viu a nossa casa! E nem sabe onde eu guardo meus desenhos!

– Com seu cérebro grande que nem uma formiga não vai ser difícil de descobrir. Quer apostar?

– Ei, ei, okay, calma. Já saquei – ele soltou um sorriso divertido. – Desculpa estressadinha.

Alice bufou.

– Apesar de terem sido rude - ela respondeu -, desculpas aceitas. Já estamos chegando?

Ele revirou os olhos.

Áli, você acabou de ameaçar minha arte e ainda quer apressar minha direção? Fica calada que o carro é meu, desgraça, e aproveita a vista.

Ela bufou.

– Está bem. Esperarei até quando minha paciência permitir – respondeu no tom de ironia.

Jonathan deu uma risada e seguiu com a direção.

A menina, que permanecera com os olhos da janela todo o tempo, começou a fazer inevitáveis comparações com aquele município e o seu antigo, Seattle.

Ah, Seattle... Sua cidade natal, sua cidade dos sonhos. Sabe quando as menininhas de cinco ou seis anos, ao ouvirem histórias infantis, querem se mudar para castelos encantados no meio de uma floresta mágica? Bom, Alice queria que seu castelo ficasse em cima de bóias de borracha para permanecer no Lago Union, um dos pontos turísticos da cidade, e que tivesse golfinhos nadando próximo dos barcos que passassem por ali. E lhe era divertido lembrar-se desses desejos sempre que passava perto do lugar, o que, infelizmente, seria mais uma coisa a ser deixada de lado.

O que sua vida se resumiria agora, em Everett, uma cidade tão pacata? Assistir pela quarta vez cada filme da década de setenta que tinha gravado em seu notebook; aprender a cozinhar o bastante para garantir sua sobrevivência – porque não fazia idéia de como seria sua nova dieta morando sozinha com um homem-; tentar imitar os desenhos invejáveis que seu irmão produzia e coisas desse tipo...

É, bem, ao menos, tinha o irmão consigo. O irmão que saíra de casa quando ela tinha doze anos e ele vinte, quando o rapaz decidira que a confusão de Seattle não era para ele e se mudara para um município pequeno; mas não tão afastado. Ele não podia simpatizar tanto com a antiga cidade, mas ainda dependia dela.

E fora por pouco que Alice não passara a se sentir como filha única. Se Jonathan não tivesse o ateliê de esculturas com mais dois amigos na cidade grande, e não tivesse que visitar seus negócios pelo menos a quinzena, provavelmente também nunca a buscaria depois da aula para irem almoçar, ou não sairíam vez ou outra para verem um filme no domingo.

E cinco anos depois, lá estavam eles, agora indo morar juntos; e a garota imaginara quanta besteira resultaria dessa mudança.

Depois de seu pequeno devaneio, Alice percebeu o carro dando uma curva fechada e entrando em uma garagem. Eles haviam chegado.

Os dois saíram do automóvel juntos e foram até o porta-malas para pegar a bagagem: quilos e mais quilos de roupas, livros e memórias que ela guardava desde a infância – e que as levaria para todo o canto.

O rapaz franziu o cenho ao olhar tudo.

– Você não trouxe...?

– Não – ela respondeu rispidamente pegando uma bolsa e já caminhando para fora da garagem.

Jonathan pode perceber um olhar de desdém vindo da garota para com suas próprias coisas, mas não questionou; ele entendia - ou pelo menos tentava entender - o que ela estava passando. Mudança. Pegou algumas malas, e seguiu o caminho até a porta de entrada.

A residência era típica de um homem solteiro: poucos móveis e uma decoração simples e homogênea de branco com tons verdes. Por cortesia, ele limpara bem a casa antes de buscar a irmã, a qual, ao perceber isso logo na entrada, virou-se para ele num olhar em agradecimento.

Subiu as escadas e foi em direção ao seu novo quarto.

– Olha Àli, eu não tenho a habilidade divina de decoração pra arrumar quarto de garota – ele avisou, seguindo-a – Mas eu me virei e fiz o possível. Por favor, adore-o.

A adolescente empurrou a primeira porta semiaberta do corredor e se chocou com sua visão. A cama com uma colcha violeta e a escrivaninha com um vaso de flor lembrava a decoração do antigo quarto dela; a decoração de quando ela e Jonathan ainda moravam sob o mesmo teto quando menores.

Ela olhou para ele.

– Não se preocupe, você fez um bom trabalho – o tranqüilizou - Não haverá reclamações, - sorriu – por enquanto.

Jonathan assentiu em reposta enquanto colocavam as malas no chão.

– Seu quarto é tão bem decorado quanto o meu? - Alice perguntou.

– É claro, teve as mesmas mãos trabalhando nele - afirmou o rapaz. - E não, você não vai entrar nele agora pra conferir!

– Eu não disse-

– E não vai dizer, vai trabalhar! - ele a corrigiu enquanto já saia do quarto para descer as escadas, sua voz ainda ecoando pelas paredes: - Você trouxe um monte de tralha, sabia? E eu não quero passar o resto do dia inteiro arrumando esses pirapitacus de mulher.

– "Piripitacus"? - ela questionou, enquanto o seguia nos degraus. - Isso é linguajar de artista, por acaso?

– Falar menos, carregar mais! - exclamou Jonathan quando acelerou o passo e saiu de casa na frente dela. E Alice o seguiu, com um sorriso de infância no rosto enquanto saltitava para alcançá-lo.

Mais malas e caixas foram carregadas; mas brincadeiras e provocações antigas trocadas. E quando acabaram, a garota pediu um momento para descansar depois do esforço. Jonathan concordou, alegando que iria comprar algo para jantar. Pegou as chaves, vestiu um casaco e saiu.

Então, Alice sentou-se no sofá verde-musgo da sala, e olhou à sua volta.

O silêncio passou a dominar seus ouvidos; e isso não lhe era mais agradável. A ausência da voz da pessoa com quem compartilhou a infância a provocou o sentimento de casa nova, de vida nova, e o peito apertou quando todas as memórias voltaram à sua mente, passando em sequência como se fosse um filme real demais para ser ignorado.

De repente, ela sentiu falta dos antigos sorrisos e dos abraços calorosos. Sentiu falta do apartamento no 23º andar e da sensação de estar perto do céu, o que, pelo visto, seria algo a mais a ser deixado de lado. Até desejou que o irmão voltasse logo, mesmo que fosse para passar o resto do dia a provocando sobre seu cabelo e seus novos hábitos alimentares; Jonathan era a melhor companhia que ela poderia ter naquele instante.

Mas por enquanto só queria tentar esquecer tudo, nem que fosse por alguns minutos. Tampou com as mãos o seu próprio rosto esperando que, quando as tirasse de lá, visse que fora tudo um sonho de mau gosto.


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Notas finais do capítulo

Eu adoraria saber suas opiniões (:



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