– Verdade ou desafioooo! - anunciou Bia, com uma garrafa vazia de Coca-cola na mão.

– Ah, cacete! Verdade ou desafio? Você acha que nós temos o quê, Beatriz? Doze anos?

– Ain, nem vem, Rosa – Bia retrucou. - Você só tá com medo da gente descobrir algo supersecreto de você.

– Não – Rosalya a corrigiu. - Eu estou com medo de me desafiarem te dar um soco, porque não vai ter chance de eu recusar a isso.

– Rosalya, - Íris interferiu - para. Não vai dar em nada provocar alguém...

Rosalya encarou Íris, e então se acalmou um pouco, sentando-se no chão no quarto, aonde já estavam as demais, e passando a mão pelo rosto recém-limpado, verificando se a promessa do creme de abacate havia sido cumprida.

– Então, depois dessa falta de educação de algumas pessoas... – insinuou Bia, e colocou a garrafa no meio da roda, entre as garotas. - Vamos jogar?

– Isso é mesmo necessário? - Alice perguntou, tentando não piorar o clima das coisas.

– Qual é – respondeu Bia – vai ser super, hiper divertido!

– Vai mesmo – concordou Melody, e abriu um sorrisinho. - Tenho certeza de que vamos nos divertir. Tudo bem, que tal eu começar?

– Vá em frente – incentivou Íris.

Melody, então, avançou seu corpo para frente até alcançar a garrafa. Girou-se de forma lenta demais, e segundos depois ela já apontava para alguém: Rosalya.

– Desafio – pediu Rosa.

– Desafio você a não implicar mais com a Beatriz até a noite acabar.

– O quê? Mas...

– Aceita ou não? - interveio Íris.

Rosalya olhou para a anfitriã, depois para Íris, e só então para Bia – a qual fingia estar alheia a situação.

– Aceito, né - respondeu, de mau-grado.

– Ótimo – disse Íris – sua vez. Gira a garrafa.

Rosalya fez como pedido: levou sua mão até a garrafa de Coca-cola, e a impulsionou para dar três voltas até parar apontando para Íris.

– Verdade – disse Íris.

– Esplêndido! - comemorou Rosalya, repentinamente alegre, e analisou Íris buscando uma boa pergunta para ser feita.

Colocou a mão no queixo, fez um biquinho e falou:

– Você e o Dajan já transaram?

– Desafio – reconsiderou Íris, antes mesmo de Alice se chocar com a pergunta feita.

– Não pode – lembrou Melody. - Têm que responder.

Íris olhou para as diversas garotas.

Parou seu olhar em Alice que, ainda um pouco surpresa, deu de ombros, num sinal de “faça o que tem que fazer”.

Íris suspirou.

– Já – respondeu. As garotas sorriram ao ouvir o novo segredo, mas Íris não deixou tempo para comentários: - Beleza, minha vez – disse, e foi girar a garrafa.

Cinco voltas depois, o gargalo apontou para Violette.

– Violette! - ela exclamou. - Putz, você tava tão quietinha até agora que eu até esqueci que estava aí. Legal, o que vai querer: verdade ou desafio?

– Desafio – foi o sussurro vindo dos lábios de Violette.

As demais meninas se encontraram surpresas, acreditando que ela preferiria por “verdade”.

– Hum... legal... - Íris parou por alguns segundos, afim de pensar em algo para desafiá-la. - Beleza, uma fácil pra você, okay, anjinho? Você vai ter que desenhar... eu e o Dajan na cama.

– O quê?!

A pergunta, na realidade, veio de Alice.

Íris a encarou, sorrindo:

– O que foi?

– Ah, hum, nada – corrigiu-se. - Eu só não esperava...

– Pois é, saiu de repente. Mas é divertido, não é? E é só entre nós, as garotas. E aí, Violette? Sem volta agora...

Violette olhou para Íris, depois para Alice e para Melody.

Assentiu timidamente com a cabeça, e olhou seu caderno em mãos de forma um tanto desolada.

– Deixa a Violette fazendo o desenho, depois ela gira a garrafa – disse Bia. - Vamos já correndo com o jogo.

– Como quiser... - disse Rosalya.

– Então quem vai agora? - Melody perguntou.

– Eu! Eu vou! - ofereceu-se Bia. Antes que as outras pudessem questionar, ela lançou sua mão sobre a garrafa, e girou-a.

Quando parou, apontava para Alice.

– Eu escolho “verdade” - Alice pediu.

– Você quer ficar com o Nathaniel? - foi a pergunta.

O quarto pareceu ficar mais silencioso.

Pela visão periférica, Alice notou Violette parar de desenhar, sem deixar os olhos do caderno, e Melody arrumar a postura.

Quando voltou a olhar Bia, percebeu como ela a encarava de forma sínica.

– Vou saber se você mentir – avisou.

Garota estúpida.

Alice curvou-se na direção dela, e fez questão de abrir um sorriso educado antes de responder:

– Com toda a certeza de que não.

Beatriz fechou a cara.

– Hum, parece que é a minha vez – retomou Alice, sem qualquer remorseio ou peso na consciência por ter mentido. Desde a resposta que a Íris havia dado sobre Dajan, ela sabia que não era a única que não estava sendo totalmente honesta naquele jogo.

E era só um jogo de festa do pijama.

Levou sua mão até a garrafa, e girou o pulso, fazendo o objeto acompanhar.

Antes dela parar, Alice já sabia que apontaria para Beatriz.

– Me desafie – Bia logo respondeu, de forma audaciosa.

Alice abriu um sorriso vitorioso.

Levantou-se um pouco para conseguir alcançar a escrivaninha e, de lá, puxou um celular rosa enfeitado com brilhos violetas. Era o de Beatriz, e Alice logo o entregou para a dona.

– Eu quero que você ligue agora para o Lysandre, e confesse ser loucamente apaixonada por ele – ordenou.

Todas as garotas – inclusive a Violette – encararam chocadas Alice.

Bia tentou contornar a situação.

– E-Eu não sou a-apaixonada por ele.

– Porém irá convencê-lo de que é – retrucou. - Vamos, Bia. Temos que correr com o jogo, como você disse, certo?

Bia olhou para Íris, Melody, Violette e até Rosalya. Depois, engoliu em seco e olhou o celular.

– E-Eu não tenho o número dele, então não posso fazer isso.

– Me dá aqui – pediu Íris. Logo teve o celular entregue. Apertou uma dúzia de teclas, e depois o “viva-voz”. - Tá chamando – avisou, e devolveu para Beatriz.

Alice ainda sorria.

– Alô? - a voz do próprio Lysandre surgiu do outro lado.

Rosalya sorriu junto com Alice, e as outras garotas tamparam a boca para não rirem alto.

– Há alguém na linha? - a voz masculina insistiu.

– Alô? - respondeu Beatriz.

– Com quem falo?

Beatriz se manteve muda, e olhou pra Alice.

– Se você não cumprir com sua parte, farei você se confessar amanhã na escola – ameaçou Alice, num sussurro. Ela era mentira, mas estava tentada em saber o que aconteceria à seguir.

Bia olhou de novo para o celular.

– Desculpe-me, estou fazendo parte de alguma brincadeira? - Lysandre perguntou.

– Ly-Ly-Lysandre?

Silêncio por alguns segundos.

– Com quem falo, por favor?

– É a Beatriz. A B-Bia da escola.

– Oh... Hum, você se importaria de ser um pouco mais específica?

– É...Amiga... Amiga da... - ela se atropelou nas palavras – da Ambre, e da... da Charlotte.

– Oh... - Lysandre parecia ter se lembrado. - Sim, sim – e parecia não ter gostado muito de saber com quem falava. - Pois não, há algo errado?

– Ly-Lysandre, e-e-euu estou a-afim de você.

– Loucamente apaixonada – sussurrou Alice. - Palavra por palavra.

– Desculpa? - a voz de Lysandre pareceu confusa.

– Lysandre, eu estou loucamente apaixonada por você – disse Bia.

O silêncio permaneceu no telefone e em todo o quarto nos segundos seguintes.

E então, Bia se pronunciou:

– Tem alguma chance de...?

Alice se surpreendeu com a ousadia de Bia.

Mas a resposta também foi esquisita:

– Beatriz, meu anjo... Desculpe-me, contudo não há a possibilidade de eu retornar seus sentimentos. - Alice não sabia se Lysandre estava realmente chateado ou não, mas, como sempre, admirou a educação do rapaz. - Por mais nobres que eles sejam – continuou -, meu coração já fora roubado por outra dama, e a senhorita sabe bem quanto eu o quanto essa dama é de, como dizem, “tirar o fôlego”. Espero que compreenda, e saiba que minha intenção jamais seria te ferir.

– Eu... eu entendo, Lysandre – Bia respondeu, com a voz diminuindo gradativamente.

– E tenho certeza de que você encontrará um cavalheiro à sua altura, o qual saiba apreciar seus sentimentos da forma a qual eu não soube.

– Tudo bem, Lysandre, eu...

– Agora eu necessito desligar, sim? Desculpe-me, mas um compromisso me chama.

– Tudo bem... A gente se vê na escola, né?

– Tenha a certeza disso.

Quando a ligação se encerrou, Bia tinha os olhos meio perdidos ao encarar o celular.

Ela... ela realmente gosta do Lysandre?, Alice pensou, a encarando atentamente. E ainda teve outra surpresa:

– Charlotte idiota... - Beatriz murmurou. Antes de Alice conseguir dizer qualquer coisa, a atenção de todos fora roubada por uma delicada voz delicada:

– Acabei. - Era Violette, que olhava para as garotas com apreensão. Todos também se viraram para ela, e aproximaram-se para ver o desenho.

Os comentários se iniciaram. Um tanto mais... vulgares do que Alice gostaria de ouvir.

– Alice, vem cá! - disse Rosalya, e imediatamente puxou a garota para o seu lado. - Olha.

– Ficou ótimo – acrescentou Íris olhando para a folha. Depois, entregou para Alice.

Alice virou o rosto, olhando meio de lado para o desenho. Mas, depois, observou totalmente as formas e contornos.

As meninas estavam certas: o desenho havia ficado ótimo; mas não pelo fator sensualidade – mesmo que pudesse ser claramente visto Dajan e Íris se beijando com metade dos corpos cobertos por lençóis -, mas pelo detalhamento dos músculos, dos cabelos e até das dobras na roupa de cama e as sombras.

– Puxa, ficou... - melhor do que os do Jonathan.

– Muito bom, não é? - insistiu Rosalya.

– É - afirmou Alice. - Parabéns, Violette – congratulou, de forma sincera. - Você é bastante talentosa.

Violette sorriu:

– Obrigada.

Enquanto Íris e Melody perguntavam detalhes do desenho de Violette, Alice viu que Rosalya se aproximou dela:

– Foi divertido aquele negócio com o Lysandre – ela falou. - Não esperava por isso.

Alice a encarou:

– Bem, tenho que admitir, eu não sei da onde veio aquilo... Realmente estava irritada - principalmente por causa da pergunta em relação ao Nathaniel. Puxa, não tinha como ser ao menos mais discreta? – Porém, acho que é divertido ser um pouquinho malvada ás vezes, certo?

Rosalya abriu um sorriso de aprovação.

– Gostei de você – ela comentou. - Deveríamos sair qualquer dia, sabe? Fazer compras ou algo do tipo.

Alice sorriu.

– Seria ótimo – concordou, e as duas voltaram a conversar com o restante das meninas.