Quédate con el Cambio escrita por ReBeec


Capítulo 14
Cap. 13 - "Não corta minha vibe"


Notas iniciais do capítulo

Calma, deixa eu explicar.
Sabem como eu geralmente eu posto no domingo de noite? Então, dessa vez eu to postando na madrugada de domingo, o que parece sábado para mim, mas pra vocês não devem fazer tanta diferença. É. Mas é o único capítulo da semana! *chora*
Tá, desculpa a viajada aqui.



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Era, finalmente, sábado.

Jonathan havia acordado cedo – mais do que o costume num fim de semana-, deu um beijo na testa da irmã antes de roubar a maçã que ela comia e sair porta à fora com as chaves do carro na mão. Havia mencionado na noite anterior que passaria o dia em Seattle, e logo ao acordar desceu as escadas dizendo que estava atrasado para o compromisso que fosse.

E Alice passou a manhã tediosamente sozinha, analisando através dum espelho a raiz da cor natural do cabelo que já se mostrava aparente e fazendo planos para cuidar do problema.

Interrompeu sua avaliação capilar quando o celular tocou:

– Bom dia, Ken.

– Oi, Alice.

– Está ligando para confirmar sua vinda amanhã? - perguntou.

– É... Desculpa, Alice, não posso aparecer aí amanhã.

O quê? - se indignou, já imaginando o estado depressivo que passaria na semana seguinte sem ter sequer visto os óculos redondos do amigo ou o sorriso brilhante que estava sempre grudado no rosto dele. - Como... Por quê?

– É... Minha mãe quer me levar num desses eventos de caridade. E como ela ainda sentindo falta do meu pai, que ainda está no Afeganistão, meio que está me obrigando a acompanhar ela.

– E você vai não virá então?

– Amanhã não, mas eu estou indo hoje! Agora!

Um som estridente passou de um lado da linha para a outra.

– Você acabou de dar um grito? - Ken estranhou.

– De alegria... Perdoe-me, não pude me conter. Que horas você chega?

– Estou saindo agora. Devo estar aí daqui a uma hora e pouquinho.

– Ah, meu Deus, que ótimo! Estou te aguardando, Ken!

– Beleza! - ele contribuiu a animação. - E por favor, faça planos para a nossa tarde enquanto me espera.

Alice voltou a olhar mais uma vez para seu cabelo no espelho; especificamente a raiz castanha se confundindo com o resto loiro.

– Ah, não se preocupe – ela afirmou. - Já tenho planos feitos para nós dois.


[…]




– Não!



– Não o quê...?

– Não!

O quê?



– Não a isso! Era esse o seu plano? - Ken perguntou enquanto apontava para o estabelecimento de três andares, envidraçado e decorado com árvores na frente..

– Sim – Alice respondeu. - E fico feliz que você tenha acabado por vir hoje e não amanhã. São poucos os cabeleireiros que abrem aos domingos.

– O que você espera fazer comigo num cabeleireiro?!

– Bem, não pretendo começar uma dupla de malabaristas...

Enquanto Ken a olhava de forma quase desesperada, Alice perguntou-se da onde viera seu sarcasmo.

Depois, observou com atenção o amigo.

– Por que você só vem de óculos para Everett? - perguntou. - Você quase nunca usou óculos em público depois de começar a usar suas as lentes de contato...

– É... Acabou meus pares e eu tenho que encomendar mais.

Mentiroso, ela o acusou silenciosamente.

– E seu cabelo... Está com formato de tigela novamente.

– É assim que ele cresce!

– E sua única tarefa é cortá-lo num bom penteado. - Alice passou seus dedos pelas madeixas lisas do amigo, depois, desceu os ombros para os ombros dele, cobertos pela camisa polo. - Ao menos você não voltou a usar aquele suéter listrado – acrescentou. - Ele não combinava com você. Sua personalidade é bem mais viva do que roupas como aquela. Assim como aquele violoncelo. Ah, meu Deus, lembra quando você tocava o violoncelo do seu primo? Fiquei feliz quando você finalmente o vendeu para comprar a flauta.

Ken não respondeu de imediato, depois, olhou para Alice – que também o encarava - ponderou:

– Ah, eu não sei. Alice, não é o tipo de coisa que eu-

– Você só pode estar brincando – uma outra voz apareceu.

Tanto Alice quanto Kentin olharam para frente, e, saindo do estabelecimento, o rosto conhecido de Ambre se apresentou. Estava acompanhada de uma garota oriental que Alice já havia visto antes andando pelos corredores da escola.

– Olá, Alice. Bom te ver - Ambre cumprimentou de forma sarcástica, e Alice conteve o impulso de insultá-la mentalmente. - E quem é esse pirralho excêntrico do seu lado? - olhou para Ken com a boca contorcida. - Meu Deus, menino, você não tem espelho em casa para olhar o estado do seu cabelo?

– Ambre... - Alice tentou evitar que uma conversa efetivamente começasse. - É muito bom vê-la, porém eu acredito que tenha algum compromisso mais interessante do que conversar comigo.

– Obviamente – a intrusa respondeu. - Ainda assim, aproveite para entrar aí – apontou para o cabeleireiro – e trata de colocar um loiro no seu cabelo que não pareça suco de maracujá, o que acha? Se vai tingir o cabelo, tinja-o direito. Devia ter te dado esse conselho quando a vi pela primeira vez. - E deu um sorriso. - Au revoir!

Quando Ambre e a outra foram embora, Alice soltou o ar de forma impaciente e olhou para Ken.

Ele pareceu meio bobo, espiando – não muito discretamente – as duas outras se afastarem; mas espiando do jeito que fazia quando eles eram mais jovens, na época “estou louco por você, Alice, deixe-me te encarar de forma apaixonada”.

Ela evitou prolongar suas conclusões, sabendo que qualquer uma em que chegasse seria, ao menos, desconfortável demais para ser considerada verdadeira.

Mas em seguida, Ken passou a mão pelo próprio cabelo e encarou-a:

– Vai doer? - perguntou.

– Doer o quê, Ken?

– Cortar o cabelo...

Ela pôde, então, sorrir vitoriosa:

– E desde quando cortar o cabelo dói?

– Não doer fisicamente. Doer aqui – abaixou a mão para o próprio peito - na minha moral. Doer moralmente.

A amiga soltou uma gargalhada, e depois passou o próprio braço pelo braço de Ken, conduzindo-o ao lugar.

– Sim – ela brincou, enquanto caminhavam. - Diminuirá de forma trágica cerca de vinte por cento da sua moral, meu amor.


[…]





Alice ainda tinha papel-alumínio manchado de tinta grudado aos cabelos.




Ela esteve um pouco receosa em ir pela primeira vez num lugar desconhecido para retocar o loiro, mas já havia passado na frente daquele lugar simpático antes e, como não havia encontrado outro cabeleireiro até então, decidiu arriscar.

E não estava arrependida. Os funcionários simpáticos, o chão de azulejos pretos e brancos, as paredes decoradas com quadros de modelos de cabelo posando no segundo andar, além de uma pequena fonte d'água no canto emitindo um som tranquilizador, já a convenceram de que ela passaria a frequentar aquele lugar mais vezes.


Mas Alice não estava se divertindo tanto quanto, surpreendentemente, Ken.


– Seu rosto é oval, gracinha, combina com qualquer corte – o profissional de cinto cor-de-rosa e tesoura na mão afirmara à Kentin ao encontrar o casal de amigos. E então, o garoto teve os cabelos lavados, penteados, cortados e, num momento realmente questionador, tivera as sobrancelhas feitas.

Sobrancelhas feitas.

Certo, ele estava precisando.

E Alice teve o cabelo pintando e risadas nos lábios enquanto observava as caretas que Ken fazia, quando fios eram arrancados sem dó de seu rosto pela pinça que ele mesmo tanto xingava.

– Parece ter gostado do tratamento – ela opinou de forma irônica quando ele se aproximou dela, com os serviços no cabelo e rosto feitos e pagos, e puxou um banquinho para se sentar ao lado da amiga.

– É. Foi legal.

– Legal? - ela ironizou. - No inicio você estava semelhante a uma miss Universo recebendo seus devidos cuidados naquela cadeira, porém logo agiu como se estivesse tento seu braço arrancado, em vez de apenas um tantinho de pelo. Ou foi incrível, ou péssimo; um meio-termo como “legal” não existiu.

– Alice, gata da cabeça metálica, – disse Ken, referindo-se ao papel-alumínio na cabeça dela - não corta minha vibe – e arrumou de forma cômica a gola de sua camisa.

Ela sorriu. Depois, passou a mão pelo novo penteado do garoto, passando pela pequena franja triangular na frente, pelas sobras no canto e dando a volta até a nuca, onde parecia estar mais ralo.

– Bem melhor – observou.

– Eu sei – disse Ken, antes de ajustar a armação do óculos. - Agora não tem mais como alguém me zoar. Quero dizer, não pelo meu cabelo.

Novamente, a amiga sorriu.

Novo penteado – e quase novas sobrancelhas -, mas ainda o velho Kentin.

De qualquer maneira, ele realmente estava mais bonito. Mas ele era muito mais do que beleza, Alice bem sabia; era engraçado, gentil e bastante compreensível quando queria, e esperava que ele tivesse consciência das próprias qualidades.

– Sinto sua falta.... - ela admitiu.

– Oh... - a boca de Ken se abriu numa forma redonda, deixando bem claro que ele não esperava por aquilo. Mas se recompôs o quanto antes, limpou a garganta e respondeu: - Também sinto a sua, Alice.

Ela assentiu.

Ken batucou nos próprios dedos e olhou em volta.

– Ei – ele continuou. - Tem alguma chance de... de você voltar para Seattle? Tipo, voltar a morar lá...?

Alice suspirou e olhou para o espelho na sua frente, encarando-se na aparência quase bizarra que tinha no momento. Desde quando ela tinha conversas com alguém numa situação daqueles?

Voltou a olhar Ken quando respondeu:

– Não agora – e percebeu que sua voz carregava um tom de tristeza.

– Ah...

– Morar com a minha tia, Emily, ou sozinha é fora de cogitação. E, se meu pai resolveu voltar á Espanha, quem sou eu para discordar dele?

– Ele foi mesmo, né? Achei que não iria...

– É. Eu também achei.

Um silêncio se fez momentaneamente, com uma melodia de secadores bem ao fundo.

– Você tá brava com ele? - Ken retomou a conversa.

– Estou. E eu nem pretendo negar.

– Percebi.

– Eu não acho que ele tivesse o direito... - Alice diminuiu o tom de voz, afim de manter a conversa só entre eles – de simplesmente ir... Ele teve seus motivos. Ainda assim, eu também tive os meus, e nem por isso me amedrontei. Como se o estado da minha mãe só afetasse ele...

– Alice...

Ela balançou em negativa a cabeça, mas logo parou, lembrando-se do quão delicada se encontrava a situação do seu cabelo; e da própria conversa.

– E sua mãe? - Alice perguntou. - Como está?

– Ah, o de sempre... - Kentin respondeu. - Esperando meu pai chegar enquanto faz tortas e diz como o exército norte-americano ganha de lavada do francês e do inglês. Esse tipo de coisa...

Alice sorriu; tanto pelo tom do amigo, como pela lembrança da mãe dele; aquela mulher alta e bem magra com as maçãs do rosto saltadas, tão apaixonada pelo marido e a profissão do homem, acreditando que o filho seguiria o mesmo caminho e passaria seus anos de auge com uma farda militar, que nem se importava em ficar na sombra de alguém. Nem se importava de ficar fazendo serviços comunitários em seu tempo livre como dona de casa.

– Hum... Essa viagem do seu pai está sendo bem longa, não? - comentou Alice. - Quantos meses já foram?

– Ele está fora há cinco meses já. Volta semana que vem, foi que disse na carta que recebemos.

– E você está nervoso pelo retorno?

Ken levou alguns segundos antes de responder:

– Como não estar...? No momento que ele pisar em casa ele vai xingar meu rosto muito magro, meu braço que não levanta nem vinte quilos e minha falta de condicionam ente físico. É no que ele sempre repara. E depois ele vai sentar na mesa da cozinha, falar que a torta que minha mãe fez pra ele poderia ter um pouco menos fermento, e vai ficar contando as mesmas histórias que eu ouço desde que aprendi a andar.

– Não é tão ruim assim... - Alice opinou, voltando a olhar no espelho e arrumando as pontas de suas madeixas loiras.

– Ah, não. Essa parte não. A parte ruim vai ser quando a minha mãe contar o que eu fiz enquanto meu pai viajava.

Alice paralisou.

Seu olhos voltaram lentamente para o amigo:

– O que... O que ela vai contar que você fez? - perguntou.

– O que nós fizemos, Alice. Não, mentira. É o que nós não fizemos que ela vai contar. Naquela noite depois do concurso musical, lembra?

Ela largou a mão do cabelo, olhou para os lados no salão, confirmando que outros clientes e os funcionários estavam muito ocupados com suas próprias tarefas, e virou-se mais na cadeira para o amigo:

– Você está se referindo á que parte exatamente? - perguntou quase que num tom de partilhamento de segredos. - Nós deixamos de fazer duas coisas naquela noite...

– Alice, nós não poderíamos fazer nada em relação ao Jack!

– Claro que poderíamos – ela retrucou, ainda baixo. - Poderíamos tê-lo impedido de enfiar cinco seringas de heroína no próprio braço, droga!

– A gente não estava lá na hora. E a gente tinha tentado ajudar ele antes! O que aconteceu não foi culpa nossa!

– Eu sei! Eu sei! Mas...

Logo sentiu seus olhos se umedecendo.

Eu me recuso a chorar em público!

Ela pegou o braço de Ken – que não teve tempo de questionar o ato - e passou pelo próprio rosto, não podendo usar as próprias mãos sujas de tinta. Depois, devolveu o braço para ele e se recompôs.

– Minha mãe... Ela nem sabe muito da parte do Jack – Kentin prosseguiu, tentando preencher o silêncio. - É, ela só sabe que a gente era amigo. E que ele morreu.

E as lágrimas num instante voltaram aos olhos de Alice. Ela rapidamente retomou o braço do amigo no processo de limpá-las, e depois o devolveu.

– Tenta não usar a palavra “morrer” - ela pediu. - É... Ah...

– Desculpa, Lice.

– Tudo bem. Só... Continua....

– Tá. - Kentin deu uma respirada antes de fazê-lo: - Você lembra que depois de toda aquela confusão da festa a gente foi parar na delegacia? Por que o idiota do policial viu uns restos de cocaína, tipo, cocaína, nas nossas mãos e achou melhor nos deter?

– Claro que me lembro – ela afirmou. - Meu pai ficou furioso, puxa. Ainda penso que, no fundo, ele acredita que nós cheiramos qualquer besteira naquela noite, mesmo depois de terem tirado a queixa. Como se nós fossemos capazes de tal coisa; como se nós não tivéssemos consciência de nada, fingindo ser delinquentes ou algo do gênero. Digo, ele já olhou para nós?

– Então... Eu acho que minha mãe pensa exatamente assim.

– Pensa? - ela estranhou.

– Aham. E... quando meu pai voltar, é muito provável que ela diga pra ele que eu fui acusado de carregar cocaína por aí e tudo mais. E meu pai...

O som da última palavra pareceu se perder no ar, depois de Ken se interromper.

Ela tinha quase certeza de que Ken também estava segurando algumas lágrimas.

Alice acreditava que, nas últimas semanas, nenhum dos dois haviam sido particularmente sortudos; mas pelo menos ela não era agredida por um pai com duas estrelas no peito, premiando algum ato de honra no campo de batalha – uma bela de uma ironia.

– Converse com sua mãe antes – ela aconselhou. - Esclareça a ela o que houve. Ou, se precisar, convença-a de qualquer mentira. Só não deixe ela dizer ao seu pai que fomos pegos com restos de cocaína nas mãos. Até eu sei no que isso daria.

– Sim... É. É, eu vou tentar – Ken disse. - Eu vou sim.

– Promete?

– Prometo.

– E então, – uma funcionária educada de cabelos pretos com uma mecha azul se aproximou, a que estava recebendo Alice, encerrando totalmente a conversa entre os dois – vamos tirar esses papéis da sua cabeça, mocinha?

– Ah, sim, sim – Alice afirmou repentinamente mais alegre, e bateu palminhas em empolgação.

Kentin afastou um pouco seu banquinho para dar mais espaço para a funcionária. Em seguida, olhou para um dos quadros na parede de uma das modelos posando para foto. Percebeu que o penteado da mulher era, estranhamente, muito parecido com que ele próprio acabara de cortar.


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Notas finais do capítulo

Digam-me suas opiniões sobre o tratamento de beleza forçado do Kentin.
Ah, e as "revelações": tentei fazer a coisa mais verdadeira possível, porque todos sabemos que Alice/Kentin + substâncias ilícitas = Error 404. Nenhum dos dois usariam. E não usaram mesmo, foi uma confusão. Tá, deixe-me ficar quieta no meu cantinho.

Também: eu vou viajar nessa semana, então internet é algo que vai ficar em segundo/terceiro/décimo plano. Comentários e tudo mais, respondo na quarta. E sabe por que não antes? Ah, porque na outra terça, dia 30 é meu aniversário *-* Divido meu bolo com quem me mandar um parabéns via telepatia.
Ah, tá bom *entrega um bolo de casamento para todos os leitores* UM FELIZ DIA PARA NÓS!!

Mas só deixa eu falar sério por um segundinho: sabe, vocês lendo, comentando, favoritando ou só clicando nesse botão aqui embaixo de acompanhar os capítulos já é um belo de um presente. Essa história... Puxa, 'Quédate Con El Cambio' significa muito pra mim, a Alice e o Jonathan são meus amores que adoram me ensinar coisas, e saber que vocês dedicam parte do seu tempo lendo essa doidera toda tirada dessa minha imaginação maluca é incrível. Obrigada por isso. Obrigada do coração ♥

Um beijo enorme e um bom começo de aula para quem terá as férias chegando ao fim, que nem eu! Força galera, a gente consegue o/



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