A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 6
Capítulo 6 - Bem-vindos à Hogwarts!




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Niara não tinha palavras, andava muda pelos enormes corredores do castelo, seguindo o enxame de alunos barulhentos. Se lembrando da viajem de barco que fez até chegar ali, e observando quieta todas aquelas velas que levitavam próximas ao teto. Hula mantinha apenas o olho bom para fora da bolsa, olhando tudo com cuidado. Chegaram em uma enorme sala de pedra, que não possuía nenhum móvel, os bruxos conversavam amigavelmente familiarizados uns com os outros. Esperaram durante algum tempo, quando um bruxo surgiu do nada à frente de todos. Ele tinha uma barba branca muito grande, era velho, tinha inúmeras marcas de idade em seu rosto, e vestia um manto roxo de um material bem interessante igual ao chapéu. Niara observava suas vestes com inveja, mal esperando a hora para rouba-las quando o velho ergue uma mão enrugada para o público de bruxos jovens.

- Sejam Bem-vindos à Hogwarts, caros alunos. – o velho disse sorrindo. – E para aqueles que são novos, eu sou Alvo Dumbledore. Diretor da escola.

Murmúrios surgiram entre os mais pequenos, provavelmente os alunos novos do primeiro ano. Os veteranos apenas sorriram e ficaram em seus lugares.

- Alunos novos, por favor acompanhem a professora Minerva pela direita...- disse ele apontando para uma mulher também velha, com ar de importante que esperava em uma porta de madeira. – E os outros... Bem acompanhem seus respectivos monitores para seus dormitórios, o banquete de boas-vindas começa em breve.

A sala foi se esvaziando, com alunos indo para a direita e para e esquerda. Hagrid cutucou Niara e sorriu. Ela ficou parada fitando-o com desdém. Alvo Dumbledore, se aproximou sorrindo também.

- Ora, mas que prazer recebê-la. – cumprimentou-a e olhou ao seu redor. – Mas onde está a adorável coruja?

No mesmo instante em que ele pronunciou seu nome, Hula levantou a cabeça pela abertura da bolsa, e pulou para o ombro da dona, piando para o bruxo. Hagrid deu um passo para trás com o susto e riu ao ver a coruja preta e diferente.

- Oh, ai está! – riu o diretor enquanto passava a coruja para seu braço. – Permita-me... Como vai garoto? – acariciou as penas de Hula.

Niara franziu o cenho. E observou Hula fechar os olhos com o carinho.

- Ela é uma fêmea. – resmungou ela. Dumbledore a encarou divertido.

- Não minha cara... Esse é um macho, e dos bons.- olhou para a coruja admirado. -Foi ele mesmo quem me contou. – respondeu o velho.

  Niara arregalou os olhos. Hula a observava com a cabeça virada, e os olhos semicerrados.

- Ela... é ele. – murmurou. – Strix Hula... Te contou que é macho? – ela encarou o diretor consternada.

- Sim, sim... Venha comigo até minha sala. Eu quero conversar com você. – disse Dumbledore antes de se dirigir ao grandão. – Hagrid, obrigada.

Hagrid assentiu e saiu da sala, enquanto Niara andava apressada tentando acompanhar os passos rápidos de Dumbledore. Ela encarava Hula no ombro do bruxo à sua frente com confusão enquanto caminhava. Passaram por corredores que serpenteavam o castelo todo, e não tinha ninguém por lá. Estavam todos se arrumando para o banquete de boas-vindas, e os alunos novos estavam sendo apresentados ao castelo. Chegaram a uma escada maluca com uma estátua de um pássaro diferente. A escada se enrolava para cima dando na porta da sala de Dumbledore. Na maioria das paredes haviam livros, diversos deles. Uma grande mesa estava cheia de papéis e podia-se ver a carta que Niara havia enviado ao diretor. Um tinteiro preto estava pousado por cima de livros, e uma pena branca descansava apoiada na madeira pintada. Uma cadeira grande e decorada estava atrás da mesa e foi ali que Dumbledore de sentou.

- Então minha cara. – ele ficou sério. – Niara é seu nome... Tem poderes, e uma coruja. É só isso que eu sei por hora.

- Não é o suficiente? – perguntou a menina levantando uma sobrancelha.

- Na verdade, não. De onde você veio, qual o seu sobrenome?

- Vivo no Beco Diagonal, sozinha. Não tenho família, sou apenas eu... É isso que queria saber? – disse ela cerrando os punhos.

- Você tem família... Apenas não estão com você. – respondeu ele enigmático. – O que grava na memória de tão precioso, para se usar em um colar? – perguntou ele apontando para o vidrinho com substância prateada no pescoço dela.

- Isso... – ela segurou o colar. – É meu objetivo de vida.

- É sua memória mais preciosa certo? Tudo o que você precisa saber está bem aí? – ele a observou crítico. Ela se irritou com o mistério.

- O que você sabe sobre mim? – ela perguntou com raiva.

- Sei de quem compartilha o sangue que está em suas veias. Está claro, toda a semelhança não só física como emocional, eu vejo... – ponderou ele. – Você é uma parte dele.

- Cale-se! – vociferou ela segurando sua varinha em direção à ele. – Eu não pertenço a nada nem a ninguém! Nunca fui e jamais serei parte de alguém, principalmente daquele... daquele... Argh! – ela gritou mais alto, o ódio quase palpável.

- Acalme-se... Seu pai estudou aqui nessa escola, eu mesmo o trouxe para cá, bem antes de saber o que ele estava tramando... Como eu não identificaria uma semelhança tão grande entre vocês? Não precisa se ofender... – ele fez uma pausa, calmo. – Sei que veio aqui para aprender, e admiro seu gesto. Mas não posso aceitá-la, entende?

Niara o fitava, o ódio se esvaindo e se transformando em dor. Ela via todo aquele futuro, aquela meta sendo despedaçada em poucas palavras. Sua esperança desmoronara. Ela suspirou, e virou o olhar para a Fênix dourada empoleirada em um suporte específico para ele do lado da escrivaninha. Dumbledore também tinha suas razões para negá-la como aluna, justamente a filha do maior bruxo das trevas que já ouvira falar. Ela poderia ser perigosa, muito perigosa, e ele não estaria disposto a colocar seus alunos e sua escola em perigo novamente. Não, não cometeria o mesmo erro duas vezes.

- Não acha que todos merecem uma segunda chance? – sussurrou ela, quase inaudível, o olhar melancólico pela primeira vez.

- Sim. Mas veja bem... Você poderá ter uma segunda chance, mas não aqui... Me entenda por favor. – suplicou o diretor.

- Errei uma vez em ter nascido em uma família corrompida. Não errarei de novo me corrompendo também. – disse ela duvidando de sua afirmação. Dumbledore a olhou triste, se aproximou e pegou-lhe a mão, consolando a menina.

- Oh, você não tem culpa de ter nascido de pais tão... maus. Não foi seu erro, não fique triste. Por favor... Não quero que acredite nessa besteira de que falou. – sua voz saiu com dificuldade, ele estava preocupado e comovido. Niara quase sorria por dentro, afinal ela havia despertado compaixão no diretor e resolveu se aproveitar disso.

- É sim minha culpa. Aposto que Harry Potter concorda comigo... Eu não mereço nada.

- Harry Potter? O Harry? – perguntou ele. – Não... Aposto que seriam grandes amigos. Ele poderia te ensinar muitas coisas... Vejo que você é apenas uma menina tentando fazer a vida valer a pena, assim como Harry. – ele fez uma pausa. – Falando em Harry... Vocês também tem tanto em comum! Oh...

- Tirando o fato de que Harry teve uma segunda chance. Ele estuda aqui ?! – ela declarou fingindo tristeza. Mas no fundo ela estava realmente triste.

Dumbledore acariciou a barba branca. Seus olhos perdidos em algum lugar ao longe, e sua mente vagando distante. Ele sussurrou o nome de Potter e sorriu. Encarou Niara novamente com um sorriso nos lábios.

- Sim Harry Potter teve outra chance, e estuda aqui. Ele está no quarto ano exatamente. Já fez muitas conquistas desde que entrou na escola, ah sim... Seu caso é tão parecido. Sozinha, perdida e tentando arranjar uma solução para sua vida. Você ainda foi mais forte que Potter... Sobreviveu sozinha durante todo esse tempo. – ele olhou Hula piar irritada e se corrigiu. – Me desculpe, sobreviveu com sua coruja. E merece outra chance, sim.

Niara deu um sorriso verdadeiro, pela primeira vez em sua vida. Estava feliz, alegre. Dumbledore, sabia que ela era nova demais e ingênua demais para saber todas as maldades que você-sabe-quem tinha feito, e ele deveria se dar essa outra chance. Uma nova chance de ensinar alguém com tendência para o mal, a escolher o lado bom. O Diretor não falharia novamente, agora ele sabia o que fazer. E Niara sabia que havia ido para uma próxima etapa da missão de aniquilar seu inimigo, e estava contente por isso.

- Mostre-me que sabe fazer magia. Mostre-me que aprendeu alguma coisa nesses anos... – pediu Dumbledore, com certa expectativa.

- Eu sei. – disse ela confiante.

Niara demonstrou todas as habilidades que ela aprendera na rua, e quase tudo o que ela sabia fazer de interessante. Ela não demonstrou nenhum tipo de magia negra, pois sabia que aquilo não era útil e nem permitido ali. Alvo Dumbledore sorriu aliviado.

- Sim! Você realmente sabe algumas coisas. Isso já exclui a possibilidade de você ficar no primeiro ano... – ele ajeitou o chapéu roxo. – Sei exatamente onde colocá-la, senhorita! Ficará no quarto ano, e aprenderá junto com Harry. Ambos merecem a segunda chance de que lhe falei, e ambos vão conquistá-la, juntos! Isso será muito interessante...

Niara sorriu vitoriosa. Não agradeceu à ele, por que não era seu hábito. O velho bruxo se dirigiu a mesa apressado e começou a escrever furiosamente em um papel com sua pena.

- Ninguém precisará saber de sua linhagem, além de mim. Deve usar outro sobrenome... Veremos... – ele pensou por um instante. – Horn! Seu nome será Niara Horn...

A menina torceu o nariz em desaprovação, mas acabou concordando com o sobrenome. Dumbledore continuou pensando.

- Será filha de um casal de bruxos. Vou conversar com Hagrid, e providenciar seus materiais escolares. Você já tem uma coruja e uma varinha, pelo visto. – ele apontou para a varinha que a menina ainda segurava. – Seu uniforme, eu mandarei... Espere. – ele olhou no relógio de pêndulo. – O Banquete de boas-vindas começará em breve. Compareceremos lá, e o Chapéu Seletor se encarregará de escolher uma casa para você. Me acompanhe, nova aluna. Bem- Vinda à Hogwarts!

Niara colocou Hula no ombro enquanto acompanhava o diretor rapidamente por entre os corredores, de novo. Ela observou Hula, com um leve sorriso.

- Acho que te chamarei só de Strix. Já que você é meu macho, agora. – sussurrou ela apenas para a coruja, que coçou o bico em sua nuca, provocando arrepios na menina.

Agora, sim a menina tinha encontrado um pouco de esperança. O vazio que ela sentira a vida toda, fora preenchido com esse novo objetivo de ficar cada vez mais poderosa. Por que qualquer coisa, é melhor que nada. E era isso que ainda a mantinha em pé.


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Notas finais do capítulo

Só como curiosidade...
Striz huhula é o nome genérico universal da Coruja-preta.
Essa aqui :
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