A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 5
Capítulo 5 - Estação 9 3/4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/348651/chapter/5

Na manhã seguinte Niara trancou as portas da mansão, suspirando, ao sair para a rua movimentada do Beco Diagonal. Ela não levara muita coisa além da bolsa de couro marrom com alguns pertences e a coruja negra agarrada em seu ombro. Ela apenas refletia sobre o clima quando chegou à Olivaras, a loja de varinhas. Colou o rosto na vitrine e espiou o lado de dentro, tudo vazio. Não havia ninguém. Ela deu um comando para que Hula voasse, tirou a luva de camurça da mão direita forçando a maçaneta dourada, até abrir a porta com um rangido. Um sino típico anunciou sua chegada ao local. Ela observou as paredes completas por caixas das mais diversas formas e tamanhos: deveriam ser as varinhas. Alguém pigarreou atrás dela.

– Com licença? Posso ajudá-la? – uma voz desconhecida e suave perguntou.

Niara se virou para observar o velho. Enormes olhos claros como prata derretida se arregalaram quando viu seu rosto, suas mãos enrugadas tremiam levemente.

– Oh, céus... Você é muito parecida com Anabelle... E com... – disse ele surpreso e depois se censurou. – Me perdoe pelo atrevimento.

– Quem é Anabelle? – perguntou grossa.

– Ora, quem é Anabelle? Era uma das seguidoras Daquele-que-não-se-deve-nomear. Lembro-me claramente da varinha que comprou aqui... Bordo, 24 cm, pouco flexível... – ele fez uma pausa, pensativo – Faz muitos anos que não ouço falar dela. Deve estar de férias no mundo dos trouxas talvez? Talvez... Quem sabe.

Niara franziu o cenho e observou o homem como se fosse louco. Depois chacoalhou a cabeça, evitando contaminar-se com aquela loucura, e continuou.

– Uma varinha. – disse autoritária.

– Sim, claro... – ele sussurrou ao chegar em uma pilha de caixas e procurar por alguma. – Varinha, varinha... Onde está aquela? Aqui! Tenho certeza que é esta.

A menina pegou a caixa branca que o velho a estendia. Abriu passando os dedos pelo veludo macio, e fitou a varinha. Era uma de Mogno , 29 cm, dura, com uma pena esbranquiçada, e alguns detalhes entalhados lhe faziam o punho. Ela pegou a varinha temerosa e esperou. Os olhos enormes do velho se arregalaram, ao ver um brilho vermelho que ia do pulso da menina até a ponta da varinha, se expandindo em pequenas chamas alaranjadas como fogos de artifício. Um bela visão com certeza, mas muito exagerada.

– Exatamente! Eu quase nunca erro! – disse o vendedor batendo palmas extasiado. Ele procurou embrulhar novamente a varinha na embalagem mas a menina já o impediu, com pressa...

Niara pagou 7 galeões ao Sr. Olivaras e partiu ao guardar a varinha, sem agradecer o velho maluco (ela nunca agradecia a ninguém). Hula a acompanhava pelo céu, voando livremente logo acima da garota. Pararam para comer algo em um lugar bem sujo e lotado de gente quando Niara observa o relógio de pêndulo cor de cobre, ao lado de um estabelecimento não identificado. Ela se apressa.

– São 8h55! Hula, o Expresso de Hogwarts parte às nove em ponto! – disse Niara. – Temos que correr para a estação.

As duas corriam (e voavam) abrindo caminho por entre as pessoas que caminhavam por ali até chegarem à Estação 9 ¾ ofegantes. O cabelo comprido e negro de Niara se enroscava no cachecol marrom, deixando-a irritada. Ela avistou o enorme trem vermelho logo à frente, e abriu a bolsa quase vazia para que Hula entrasse nela. A coruja ainda se acomodava quando a menina pulou rapidamente para dentro do último vagão, caindo ao se desequilibrar com o movimento do trem que já partia.

– Ei? Qual o seu problema? – uma voz autoritária gritou. – Você está em cima de mim!

Niara se levantou habilidosamente tentando não machucar Hula na bolsa, e esperou o garoto se levantar sozinho. Ele tinha olhos cinzentos intensos, uma pele tão branca que chegava a ser quase transparente, e seus lábios formavam um biquinho birrento, ele estava irritado. Ela observou melhor seus cabelos louros quase prateados penteados formalmente, ela já o vira antes. Ele imitou sua expressão e depois olhou pra ela com um sorriso malicioso.

– Sou Draco Malfoy. – disse ele de repente estendendo uma mão branca para ela. – Nunca vi você por aqui antes... Deve ser novata.

Ela fitou sua mão com desdém, e depois voltou a encará-lo. Se lembrava perfeitamente dele, que era apenas um garotinho quando o vira no Beco Diagonal, saindo da loja de vassouras... Como não lembraria, ele quase havia sido uma de suas vítimas. Seria doce ter matado aquele garoto e seu pai, extremamente doce.

– Eu não perguntei quem você é. – ela respondeu afagando a bolsa, procurando por Hula.

O menino fez um som de desagrado inflando as narinas, e cutucou outros dois meninos gordos atrás dele, que até então ficavam com os braços cruzados atrás do louro.

– Ouviram essa Goyle? Crabbe? Essa aí acha que pode falar assim comigo... – disse ele rindo sarcástico.


Mas quando ele se virou para encarar a menina, ela não estava mais lá.


Niara havia entrado em uma cabine do meio se sentando na poltrona de veludo vermelho e ajeitando sua bolsa no colo rapidamente. Um cabeça pequena surgiu, e Hula a olhava com desagrado. A menina riu e afagou seu mascote. Tirou a coruja de dentro da bolsa e a pousou no estofado à seu lado, pegando a carta que Dumbledore havia lhe entregado, junto com o bilhete de passagem para Hogwarts. Releu a carta silenciosamente, rezando para que ninguém entrasse na cabine e ficasse lá, pelo bem da pessoa. Ela podia ouvir os pais do lado de fora do trem dando Adeus à seus filhos pelas janelas, e as vozes adolescentes no corredor do trem conversando. Fingiu não perceber os pais e prestou atenção na conversa dos alunos de dentro do trem, do outro lado da porta de sua cabine.

– Novo ano em Hogwarts! – uma voz dizia. – O que Harry vai aprontar?

– Harry Potter é realmente um cara de sorte, e tão lindo... – outra voz respondia.

– Sorte? Eu ainda não consigo encarar aquela cicatriz, me provoca arrepios... Você-sabe-quem é quem teve sorte de sair impune. O Ministério da Magia está em busca dele mais eficientemente do que nunca... Veja a reportagem!

Niara levantou a cabeça, seu olhar se fixando na poltrona a sua frente... “Harry Potter, hum...” pensou ela sorrindo maléfica. “Quer dizer que alguém sobreviveu à ele afinal... Isso me interessa.”

Passou bastante tempo acariciando a cabeça de Hula, enquanto ela dormia tranquilamente. O Expresso de Hogwarts já havia deixado a estação há uma hora. O sol brilhava forte pela janela. Então ela se lembrou de um pequeno detalhe: precisaria demonstrar sua magia para que Alvo a aceitasse nessa escola... E ela só podia demonstrar magia branca, então 70% das suas magias estavam proibidas. Ela precisaria treinar. Pegou a varinha nova a fitando, depois começou a praticar leves feitiços, transformando uma pena em rato. Durante o tédio ela até acabou se distraindo depois de mais algumas horas, e riu quando viu que Hula havia comido sua pena achando que era um rato. Já era meio dia, e ela passara a transformar seu cachecol em geleia de framboesa quando a porta de sua cabine se abriu.

– Oh, olá! Quer alguma coisa do carrinho querida? – perguntou uma mulher gorda com covinhas.

Ela segurava um carrinho que tinha feijõezinhos de todos os sabores, balas de goma, chicletes de bola, sapos de chocolate, tortinhas de abóbora, bolos de caldeirão, varinhas de alcaçuz e várias outras coisas gostosas.

– Tem sangue de lagarto? – a menina zombou.

– Não, mas eu tenho Lagartixas de puxa-puxa, isso basta? – a mulher deu um enorme sorriso sincero.

Niara ficou um pouco desconfortável com a bondade da mulher e de mau-grado acabou por comprar o doce e voltou a transformar a geleia de framboesa em cachecol quando outra voz se altera.

– Ei, pode fazer isso de novo? – A garota a qual pertence a voz irritante se esgueirou por entre a moça dos doces e seu carrinho e parou na porta da cabine. Ela era intimidante, mas não era pra tanto.

– Sinto muito, mas não. – resmungou Niara.

– Ah, sim. Você deve ser nova... Sou Hermione Granger, prazer. – ela estendeu a mão quando parou olhando para Hula.

– Oh, Meu Deus! Você tem uma coruja linda! - entrou e se sentou para fazer carinho nas penas de Hula. A coruja arrepiou as penas e deu uma bicada no ar.

– Minha nossa, ela é brava. – sussurrou Hermione recolhendo a mão. Niara sorriu.

– É para imitar a dona.

Hermione sorriu amigavelmente e se despediu dizendo que em breve chegariam, e que era melhor colocar o uniforme. “Que uniforme?” pensou rindo. Niara observava a paisagem das montanhas maravilhosas enquanto acalmava sua coruja em seu colo. Colocou seu cachecol e suas luvas novamente, ajeitou o manto preto, e recolocou seus sapatos que havia tirado assim que entrara na cabine. Fitou as nuvens fazerem formas variadas e viu o sol se por até que adormeceu sentada e com a cabeça levemente inclinada dobre o vidro da janela.

– Vamos alunos! – uma voz alterada e grossa gritava desta vez, acordando Niara em um pulo. – Chegamos em Hogwarts!

A menina pegou suas coisas e colocou a coruja novamente na bolsa. Ao sair da cabine se deparou com um homem enorme, barbudo que parecia um ogro misturado com homem das cavernas no meio do corredor. Ele estava esvaziando o trem e a encarou sorrindo calorosamente.

– O Sr. Dumbledore me contou sobre você... Permita-me acompanhá-la até o castelo. Aliás me chamo Rúbeo Hagrid. Deixe-me levar sua bagagem... – ele a conduziu até a saída do trem e Niara recusou-se a entregar sua bolsa a ele. Depois, o cara estranho levou toda a turma por entre um caminho com algumas pedras e vegetação. O céu estava escuro, e a única luz que se via era a da lanterna de Hagrid, todos os pontinhos brilhantes das estrelas que pintavam o céu e a lua cheia, é claro. Niara não fazia a mínima ideia de onde estava se metendo, apenas satisfeita por estar acostumada à escuridão, até que viu... O enorme castelo que se erguia de uma ilha rochosa depois de um lago com uma extensão enorme. Um número extremamente assustador de torres, faziam parte daquela imensidão de pedra. De onde estavam, podiam ver várias janelinhas iluminadas no castelo. Niara fincou os pés no chão, um pouco assustada, um pouco admirada pela grandeza do lugar. Para quem nunca tinha saído do Beco Diagonal, aquilo era um grande avanço...

Aquilo era a escola, e aquilo era Hogwarts, seu futuro lar se tivesse sorte. Ao pensar nisso ela não pode evitar sorrir para si mesma. O lugar parecia tão digno, tão diferente da imundice em que estava acostumada. Ali ela ficaria poderosa o suficiente, para completar o seu objetivo. E quem sabe, talvez, bem talvez, ela faça uma história tão importante, que todos se lembrariam dela no futuro...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!