A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 4
Capítulo 4 - A Coruja que conversa.




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Niara estava encostada no balcão negro da Hospedaria Vai e não Volta, um lugar abandonado que, por questões de comodidade, virara seu lar. A mansão velha de dois únicos andares não era lá essas coisas mais era bem melhor que a rua, sem contar que proporcionava muito mais privacidade à ela. Com pilhas de papéis amassados espalhados pelo local, ela tentava escrever uma carta à Hogwarts desde que achou o envelope na antiga adega do Beco Diagonal. Ela lia e relia o conteúdo do envelope várias e várias vezes.

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS

Diretor: Alvo Dumbledore 

(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos).

Prezado Sr. Jackman,

Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários. O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente, Minerva McConagall.

Diretora Substituta.

Sr. Jackman era um dos alunos que foram convidados a se matricular em Hogwarts. Um bruxo qualquer do qual Niara não tinha interesse em conhecer. Ela passava horas a fio tentando escrever algo para que a aceitassem, aliás já era dia 30 de julho, um dia antes do prazo final.

- Hula, tenho que ser imparcial e objetiva... É isso! – disse extasiada ao começar a escrever furiosamente no papel antigo, com uma pena dourada.

Prezado Diretor Alvo Dumbledore,

Venho através desta, me candidatar como aluna da sua instituição. Tenho conhecimentos mágicos mais que suficientes, e adoraria demonstrá-los.

Niara,

do Beco Diagonal.

Após escrever a pequena carta com letras uniformes e colocá-la em um envelope branco, ela não pode evitar prender a respiração.

- Niara... Do Beco Diagonal. Eu não tenho um sobrenome não é? – sussurrou ela olhando para o monte aglomerado de bolinhas de papel amassado, a dor devorando-a silenciosamente por dentro.

A coruja negra saiu de baixo dos papéis. Hula se chacoalhou, eriçou as penas da cabeça e fitou a dona em silêncio. Niara pegou o pote de cera negra e aplicou uma pequena quantidade sobre a aba do envelope. Ela riscou a letra N na cera quase endurecida com a extremidade da pena, endereçou corretamente a carta e olhou para sua coruja.

- Hula... Entregue-a pra mim. – disse apontando para a carta.

A coruja caminhou desengonçada até Niara e pegou a carta no bico. Andou novamente até a porta do estabelecimento e parou.

- E depois volte... Por mim. – a menina continuou insegura.

O pequeno animal a olhou pelo canto do olho e depois voou, levando a carta consigo. Hogwarts não importou mais porquê, pensando com clareza, Niara entendeu que não tendo Hula, nada fazia muito sentido.Como a menina ficaria sem sua companheira?  Ela daria um jeito, mesmo sem saber se Hula voltaria. Naquele momento ela percebeu a importância que sua pequena amiga fazia em sua vida, a tirara da solidão completa.

Durante duas noites ela saiu para se distrair e esquecer o vazio que a acompanhava. Saiu para matar, que era a única ação que a tirava da vida monótona que tinha, mesmo que por pouco tempo. Pegando os adereços de suas vítimas, ela voltou silenciosamente para a Hospedaria e guardou-os em seu precioso baú. Nada parecia certo, sem Hula ali. A menina trancou a porta da hospedaria vazia, e subiu as escadas quebradas até o segundo andar. Abriu a grande janela o máximo que pôde, ouvindo o rangido típico de móveis antigos. A lua, coberta por algumas nuvens prateadas, se esforçava para dispersar seu brilho sobre a cidade. Um número incontável de estrelas, tingiam o tapete negro da noite com diversos pontinhos brilhantes. Tudo estava calmo, a maioria das lojas haviam fechado naquele horário, e a brisa que vinha de fora fez a pele da menina arrepiar. A única vela acesa no andar de baixo lançava um brilho fraco na hospedaria, o clima era sombrio. Niara se debruçou sobre a janela de madeira, apoiando o rosto em uma das mãos, e fitou o céu procurando por algo que não estava à vista. A cada segundo que passava, sua esperança desmoronava mais. Ela saiu da janela e andou até o corrimão que ligava as duas escadas laterais ao andar inferior. Sentiu o ar frio vindo da janela em suas costas, e segurou o corrimão observando a luz da vela logo abaixo, produzindo sombras nos móveis empoeirados. Seu coração jovem estava em cacos, sozinha novamente como sempre esteve. Observou as portas de entrada da mansão, por onde Hula havia partido: tudo vazio. Um barulho como um suspiro irrompeu o silêncio. As mãos de Niara se apertaram mais ao corrimão, e ela deixou escapar o ar da garganta, sentindo uma presença nova. Ela se virou lentamente, e lá estava ela. Sua Hula empoleirada no parapeito da janela velha observando-a com um leve tom de malícia, ao segurar um pergaminho enrolado com uma fita branca no bico.  “Como pode uma coruja expressar tais feições?” Ela pensou enquanto seu corpo se esquentava com o alívio.

- Hula... – disse ela com a voz falha – Você voltou.

Niara se aproximou e passou os dedos delicadamente por suas penas, que se eriçaram levemente com o contato fazendo a coruja fechar os olhos. A menina sorriu divertida e pegou o pergaminho, lendo a caligrafia perfeita em silêncio.

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS

Diretor: Alvo Dumbledore 

(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos).

Cara Srta. Niara do Beco Diagonal,

Confesso, que me surpreendi quando uma coruja negra de tamanha raridade e com o olhar astucioso pousou em minha janela. Li sua carta atenciosamente e conversei com sua coruja. Ela é muito agradável, obviamente, e me vi encantado com o seu comportamento cortês. Fiquei especialmente interessado em conhecer mais sobre a proprietária que educou tão bem esse animal, e peço que venha à Hogwarts para uma visita. Estarei pronto para recebê-la a qualquer momento.

 Atenciosamente, Alvo Dumbledore.

Niara olhou para a coruja, desconfiada, procurando algum sinal de que ela tenha mesmo conversado com o bruxo. Chegou a conclusão de que o velho era louco, pois onde já se viu falar com corujas? Ela acariciou Hula mais uma vez e respirou fundo.

- Longe de casa por alguns dias... Vamos pegar o trem amanhã de manhã. – afirmou Niara esperançosa. – Ficarei tão poderosa que verei o sofrimento nos olhos de Voldemort, quando ele implorar pela morte. Escreva minhas palavras.

Hula piou baixinho e, olhando diretamente nos olhos da dona, coçou seu bico no polegar dela. Os olhos de Niara ficaram enegrecidos, ela ainda se surpreendia com os carinhos repentinos da coruja.

- Não deixe-me esquecer que devo comprar uma varinha antes de partirmos. – avisou-a – Um bruxo que matei ontem, destruiu a antiga...

Niara entrou em um dos quartos da hospedaria, e deitou-se em uma das camas. Hula a seguiu e se empoleirou em um candelabro de ferro.

- Até amanhã... – disse a menina até adormecer sonhando com os olhos negros de sua amada coruja, observando-a com uma atenção excessiva.


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Notas finais do capítulo

Um enorme beijo, e meus sinceros agradecimentos a todos que favoritam, comentam e acompanham minhas invenções em forma de palavras. Vocês me inspiram.