A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 3
Capítulo 3 - Aquela Penseira




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Niara acordava todos os dias, tranquila. Pela primeira vez em sua vida, ela tinha algo pelo que se preocupar, tinha uma motivação. A nova corujinha Hula, havia a transformado, trouxe um tipo diferente de satisfação que a menina jamais pode imaginar, pois além de companhia, a coruja era sua confidente. A menina passou a falar, ao invés de ficar silenciosa. Ela podia confiar em seu animalzinho, e contava tudo à Hula, que guardava todos os seus segredos, é claro.

Mas, a menina não havia parado com seu estilo de vida. Nada podia fazer com o êxtase e o desejo de roubar e matar. Sua vida ainda era nas trevas, e ela apenas havia incluído Hula em seu mundo.

– Hula, olhe só aquele homem... – sussurrou Niara para a coruja empoleirada em seu ombro. – Parece que possui muitos galeões...





Hula piou em resposta. Niara sentou-se no chão empoeirado com tédio, olhando para o céu negro e estrelado da noite.





– Mas, nós já temos dinheiro para hoje. Porém, eu quero aquele relógio de bolso que ele está usando. Vamos lá...

Seguiram para a noite escura, e apenas pôde se ver uma luz verde brilhante e ouvir o grito abafado do bruxo, informando sua morte...


Passaram-se, então, dois anos. E a vida de Niara não havia mudado, não havia motivos para mudanças, ela gostava da vida que tinha. Aos quinze anos de idade, a garota já tinha uma lista considerável de mortes causadas por ela, e tinha orgulho disso. Sempre que o Ministério da Magia ficava desconfiado, ela dava um jeito de despistá-los durante um tempo, até que a poeira abaixasse. Mas eles tinham coisas piores para se preocupar do que com um ladrãozinho assassino, eles tinham o caso de Lord Voldemort. Hula também crescera, se tornara uma coruja adulta, esbelta e observadora. Sua forma apática, sonolenta e frágil já havia desaparecido, dando lugar à uma coruja, magnífica, e com personalidade forte, assim como a dona.




– Hula? – chamou Niara antes de um assobio cantado. – Aí está você. Venha cá!




A coruja empoleirada acima do telhado de uma construção, se moveu quando o assobio alcançou seus ouvidos sensíveis. E com um rápido movimento, ela se jogou lá de cima em um vôo fantástico e pousou graciosamente no ombro da garota, fincando suas garras em seu manto. Niara acariciou as penas macias do alto de sua cabeça enquanto observava um folheto ilustrado na parede de tijolos de uma das lojas do Beco Diagonal.


– Interessante... – disse ela com sarcasmo. – Parece que prenderam outro bruxo em Askaban. Desta vez, por uso inadequado das 3 Maldições Imperdoáveis: imperius, cruciatus, e a da morte. Nossa querida Avada Kedrava, Hula...

A coruja piava sombriamente.

– Que inútil. Deixar ser pego dessa forma por aquele bando de bruxinhos do Ministério... – refletiu ela, ao observar a imagem em movimento do bruxo algemado, rumo à prisão solitária que era Askaban.

Em um momento pensativo, Hula pulou do ombro de Niara, com as pernas musculosas flexionadas, e pousou no chão. Caminhou rapidamente para dentro de uma porta aberta espreitando um inseto. Niara observou a rua deserta, e depois entrou na escuridão da sala, seguindo Hula.

A sala na verdade era uma adega de bebidas, onde haviam muitas prateleiras vazias de madeira velha. O chão estava sujo, os tijolos da parede encardidos. Hula havia se enfiado atrás do balcão empoeirado em busca do inseto, e Niara preferiu ficar olhando o lugar. Não havia ninguém lá dentro além dela, e não havia luz, com excessão de um leve brilho azulado, atrás de uma cortina rasgada. Enquanto ela se aproximava da cortina, o chão rangia em protesto. Ela pôde ouvir o barulho que Hula fazia enquanto mastigava o inseto atrás do balcão. Ao abrir a cortina, um sopro gelado a atingiu fazendo-a estremecer, e a luz azul brilhou intensamente fazendo-a semicerrar os olhos. Niara colocou suas mãos enluvadas junto ao peito, com frio e soltou um suspiro. Enquanto ela se acostumava com a luminosidade ela pode definir que ela vinha de uma bacia de pedra rasa, com entalhes de runas e símbolos na borda, guardando uma substância azul-prateada que se movia sem cessar e sua superfície se encapelava como água sob a ação do vento. Ela chegou mais perto para ver do que se tratava, e tirando uma de suas luvas de couro, ela tocou a substância, parecida com vapor gelado. Era uma Penseira. Lugar onde era possível colocar qualquer um de seus pensamentos, para que nunca se esqueça. Ela já havia escutado sobre tal artefato mágico antes, e aquele estava vazio, sem nenhuma memória de alguém. Um barulho venceu o silêncio.

– Hula! – susurrou Niara. – Me assustou!

A coruja vôou até a borda da penseira, olhando curiosa para seu fundo. Niara olhou para as paredes, todas feitas de pedra, onde estava uma prateleira de madeira com vários frascos de vidro, vazios. Incerta sobre o que fazer, ela tirou uma varinha do bolso do manto e se decidiu. Apesar de não admitir, o que ela mais queria era saber sobre o seu passado... Por quê fora abandonada? O que houve na noite em que ela foi deixada na rua? E a pergunta que ela nunca ousava pensar: Quem eram seus pais?

Com a mão tremendo levemente, se concentrou em lembrar os acontecimentos do começo de sua vida. Pousou a varinha em sua têmpora e tirou um fio prateado, que se movimentava como um fio de cabelo, e colocou-o na penseira.

O fio girou levemente como em um redemoinho, e a luz da substância que antes era azul, se tingiu em prateada assim como o fio. Suspirou temerosa, e colocou o rosto na bacia, o sopro frio a envolveu e então ela caiu em escuridão.

Não sabia se estava morta, não conseguia se mover, ela apenas girava, e girava no nada, sem saber o que estava acontecendo, então ela se viu parada em um quarto fétido, e aos pedaços. Haviam escombros em um canto da parede, não haviam móveis, com excessão, de uma cesta grande de vime. Haviam lençóis e cobertores espalhados no chão do quarto. Estava frio, e ela não estava sozinha, havia um homem no quarto.

O homem parecia uma sombra, estava olhando para baixo, para dentro da cesta. Então Niara observou algo se movendo, e uma pequena mãozinha se esticou em direção ao teto. Não se podia ver o rosto da sombra, mas ele fez um gesto es direção à cesta.

Niara se aproximou, para examinar o que havia ali. A cesta, era um berço, e dentro dele, havia um bebê que mal acabara de nascer. O bebê ainda estava sujo de sangue, enrolado em cobertores negros. Seu cabelo preto e expesso estava colado na testa, seu corpinho rosado e diminuto se mexia. O homem encostou um dedo nas bochechas da criança, em uma tentativa de acariciá-la, mas não o soube. Niara se chocou ao ver as mãos pálidas do homem, quase sem vida e se esforçou para observar seu rosto, mas no mesmo instante ele se virou ao ouvir um barulho atrás da porta.

Outro homem entrou no quarto bruscamente, arrastando uma mulher pela gola do vestido branco, antes de jogá-la no chão. A mulher tremia e soluçava, aos pés do homem de pele pálida.

– Riddle! Por favor! Não faça isso... – gritou ela para o homem á sua frente. – Eu fiz tudo o que você pediu!

– Fez... Sim, você fez. – o homem respondeu com uma voz distante, morta. – Você destruiu tudo ao seu redor. Você se humilhou, para nada...

– Mas Tom, eu... – a mulher tentou dizer entre ao choro, mas foi atingida por um chute no rosto.

– Você não tem o direito de pronunciar meu nome! – urrou o homem pálido. – Isso aqui – ele apontou para o bebê. – Já assinou sua sentença de morte.

Niara se interessou pela cena à sua frente, e foi conferir o que havia acontecido ao rosto da mulher, pela pancada que levou. Ela se abaixou perto da moça que chorava, e tentou tirar seus longos cabelos negros da face, mas suas mãos atravessaram o corpo da mulher como se fosse um espectro. A moça ergueu a cabeça novamente, e Niara observou seu rosto fino, quase perfeito, seus olhos castanhos brilhantes inundados e seus lábios entreabertos. No lugar do chute, havia uma marca funda, que para a surpresa de Niara, se recompunha a cada instante, ficando intácta após alguns segundos. A moça voltou a suplicar:

– Por favor! Não! – gritou ela desesperada. – Não me mate! Tudo aquilo que passamos juntos...

– Cale a boca. Não se iluda, pensando que algum dia senti algo por você além de nojo... – disse o homem cortante.

A mulher observou-o chocada e surpresa, e mais lágrimas rolaram de seu rosto petrificado. Tom, começou a andar pelo quarto e parou de frente para a pequena janela antes de dizer:

– Serei piedoso desse vez. Mas apenas dessa vez... – ele fez uma pausa para olhar nos olhos da mulher. – Deixarei que a mate, e pouparei a sua vida.

A moça ficou enloquecida, tentando se libertar dos braços do outro homem qua agora a seguravam, ela gritava e chorava mais alto.

– Eu não posso! Voldemort! Por favor, deixe ela viver! Me mate! Nós fizemos uma aliança, você me protegeria! Proteja à ela! Me mate!

– Fizemos um acordo, claro. Mas antes de você surgir com isso!– o olhar dele ficou negro de raiva ao olhar para a criança. – Ou você mata o seu bebê... Ou mato as duas do jeito mais doloroso e atormentador que possa existir.

– Ela é sua filha também! Por favor... – a moça não conseguia mais dizer nada, estava desistindo.

– EU NÃO DOU O DIREITO DE EXISTÊNCIA PARA ESSA CRIANÇA! – berrou ele exalando poder e ódio. – Não quero nada, nada que venha de você, eu te enojo!

O outro homem a soltou, ela caiu no chão e ficou desamparada e sem reação. E então, olhando por entre o cabelo preto sussurrou:

– Tudo bem, eu vou matá-la...

– Sim, você vai. – disse ele chutando o berço para o chão, fazendo o bebê chorar. – E se você ousar ir contra minha vontade... Irei procurar você pela eternidade e te fazer implorar pela morte!

A mulher se apressou para segurar a filha nos braços, embalando-a carinhosamente, enquanto os dois homens saiam do quarto. Niara pôde ver pela última vez o rosto de Tom Riddle, o Lorde Voldemort, ao sair do quarto. Niara se aproximou da mulher, que acariciava o bebê cantarolando enquanto chorava, perdida em sua decisão.

A visão então começou a ficar enegrecida novamente, e quando Niara estava prestes a tirar o rosto da bacia, a visão continuou.

O bebê esteve dormindo e acordou na hora que a visão retornou. A mulher estava com um cabelo encaracolado marrom. Supostamente uma peruca. Ela vestia um manto negro que cobria o corpo inteiro, e ao adentrar no Beco Diagonal, ela colocou o capuz. Desviava das pessoas com facilidade, e ao observar a banca de poções do amor da senhora, se aproximou.

– Faça valer a pena o meu esforço. – sussurrou ela chorando. – Eu nunca quis morrer, mas acho que todos temos este destino...

Então ela abandonou Niara no chão, e foi embora.

As imagens se misturaram, e ficaram turvas. As cores foram se esvaindo, até cair na escuridão novamente. Niara abriu os olhos e estava na sala de pedra novamente, com Hula a observando com a cabeça virada para o lado.

– Lord Voldemort. O bruxo das Trevas, o que todos temem... – disse ela agarrando as bordas de pedra da penseira. – Meu pai.

Hula começou a piar, na sala escura.

– Você-sabe-quem... Me deixou para a morte. Nunca poderia ter dado orgulho pra ele. Assim como ele nunca vai me dar orgulho. – vociferou ela, apertando a pedra até surgir uma rachadura. – Desgraçado... Agora sou eu que o quero morto! – gritou ela.

Com a varinha, ela recolheu as memórias, e as colocou dentro de um vidrinho e o tampou com uma rolha. Tirou o medalhão de ouro do seu colar e o arremessou no chão com força, no lugar dele colocou o vidrinho com seus pensamentos. Furiosa, colocou Hula em seu ombro, rezando silenciosamente que Hula rasgasse sua carne, para que a dor física superasse a emocional. Em sua saída, pisou em um envelope macio. Ela parou para recolhê-lo e leu o remetente escrito à mão:

De: Alvo Dumbledore, diretor da escola de magia e bruxaria Hogwarts.

– Escola de magia e bruxaria... – sorriu ela. – Eu posso aprender mais feitiços... Eu posso destruir meu pai...

– Hula! Vamos para Hogwarts! – gritou ela extasiada, preparada e ambiciosa.


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