A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 2
Capítulo 2 - Hula




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Após a descoberta de Lord Voldemort, a vida de Niara voltou a ficar monótona e parada. Fazia os mesmo roubos, e matava quem reagisse à eles. Tudo de volta ao normal. Ignorava a existência dele como ignorava a de qualquer outro bruxo.

Em um dia comum, Niara caminhava por entre o enorme corredor do Beco Diagonal em busca de uma nova vítima de seus roubos, se espreitava pelas pessoas e procurava alguém que aparentasse ter dinheiro. Tentava se manter distande do Banco Gringotes, após ser pega espionando por um dos duendes, alguns anos antes. Caminhou descontraidamente atenta a qualquer barulho de galeões tilintando. Encostou-se na vitrine da Vassourax, a loja de vassouras, e ficou a espreita, observando atentamente cada bruxo que saia e entrava na loja. Um bruxinho esguio, de pele pálida, rosto fino e cabelos louros (quase brancos), que sai da loja chamou a atenção dela. Ele devia ter quase a mesma idade que ela, e estava acompanhado de um adulto igualmente semelhante, que ela logo definiu como o pai do menino.

O garoto levava nas mãos uma vassoura Bluebottle novinha, e um sorriso maligno brincava em seus lábios infantis. Niara olhou para a vassoura desinteressada, e então apreciou as caras vestes que ambos, pai e filho, vestiam. “Ricos...” pensou ela. No exato instante o pai do garoto, parou de andar subitamente e a encarou desconfiado. Ela o fitou com os olhos inexpressivos e sorriu levemente. O pai, cauteloso, colocou os braços ao redor do filho e juntos se misturaram na multidão. Niara havia se desencostado da vitrine empoeirada e se preparava para segui-los, forjando um novo assalto, mas foi surpreendida por um estardalhaço que acontecia do outro lado da rua.

A Empório de Corujas, a loja de animais, estava em completa desordem. Várias gaiolas caídas no chão, rações espalhadas por toda parte, e um homem aflito debruçado no chão procurando por algo importante. A menina se aproximou, curiosa com o ocorrido inusitado. Ao chegar mais perto examinou toda a bagunça do lugar, que de certa forma, combinava com o cheiro horroroso que emanava dos animais barulhentos. Ela desviou de uma pilha de gaiolas mal arrumadas, antes que caissem em cima dela com um barulho ensurdecedor. O homem, provavelmente o vendedor, já estava todo atrapalhado e nervoso tentando, falhamente, arrumar o lugar. Niara encarou o homem parada no lugar, recusando-se a ajudá-lo, quando algo macio se arrasta em suas botas. Ela reprime o impulso de chutar o objeto e olha para baixo.

Uma bolinha de plumas negras de listras claras e patas e bico amarelos como gema de ovo, a observava do chão. A coruja, ainda filhote, parecia estressada e sonolenta. Niara abaixou-se para pegar o animal e o observou detalhadamente. Uma das minúsculas perninhas estava torta de um jeito estranho, quebrada, e seu olho direito estava esbraquiçado e sem foco. O vendedor se levantou rapidamente e estendeu as mãos para pegar a coruja.

- Oh, você a encontrou! As gaiolas se desequilibraram, e tudo veio ao chão. Espero que ela esteja bem...

Niara o fitou como um aviso, para que se mantesse afastado. E o homem congelou no lugar.

- Me parece que, com a queda, ela quebrou a perna e ficou cega de um olho. – disse a menina com a voz séria, raramente usada.           O homem demorou alguns instantes para processar a informação.

- Não pode ser... Este era meu único exemplar da América Latina... Muito raro, difícil de encontrar... Oh, não... – lamentou ele.                    Após o vendedor se castigar pela tragédia com a coruja, ele se calou, triste. E ficou assim por uns minutos, até Niara interromper o silêncio, fria.

- Quero comprá-la. Qual é o seu preço?

- Senhorita, nessas condições ela não viverá por... – começou o vendedor até ser interrompido.

- Qual é seu preço? – perguntou ela mais severa.

- Bem, por ser uma Coruja-preta, ela custa... 50 Galeões. – disse ele tímido. – Mas devido ao estado dela... eu faço pela metade do preço.

Niara foi até o balcão sujo, adentrando na loja, onde ficava o caixa e começou a tirar diversos objetos dos bolsos do manto: 2 sacos de galeões, anéis com diamantes, um broche feito de ouro... Todos objetos rubados.O homem se apressou a ficar do outro lado.

-  Quero o valor inicial dela. E um saco de ração. – disse ela impaciente.

O homem se calou, pegou os objetos e o dinheiro e os guardou dentro de uma gaveta de madeira avermelhada. Entregou a ela um saco de ração para corujas e a observou animado.

- A senhorita gostaria de levar uma gaiola? Temos diversos...

- Não. – interrompeu ela.

- Mas você não pode...

- Não. – vociferou a menina.

Ela pegou a coruja em uma mão, e a ração em outra, e se misturou na multidão se esquecendo completamente das vítimas de seu roubo que deixara escapar mais cedo.

Ao chegar na rua sem saída em que morava, observou por um momento o lugar onde costumava ficar a banca de poções do amor da senhora que havia cuidado dela. Depois saiu do transe das lembranças e sentou-se em cima do baú que roubara quando tinha apenas 8 anos. Aquele baú era tudo o que ela possuia de verdade, todos os objetos mais diversificados e mais valiosos para ela se encontravam dentro daquele baú velho. Apoiou o saco de ração na calçada cinzenta, e ficou olhando o olho cego da coruja durante muito tempo quando finalmente disse:

- Também acham que você não pode sobreviver?  As pessoas nos subestimam, e esse é o maior erro delas...  – fez uma pausa. – As pessoas que me subestimam, morrem.

Niara abriu seu baú e tirou uma tira de tecido púrpura. Com a tira improvisou uma tala na perninha do filhote. A corujinha tinha o olhar longe, estava meio lenta, devia ser por causa da queda. Sonolenta, ela coçou o pequeno bico no polegar da mão que a segurava. Niara mal pode se mover, ficou em choque.

Naquele instante a vida de Niara mudou. Sentiu pela primeira vez, aos 13 anos, algo que nunca havia presenciado na vida: Compaixão.

- Seu nome será Hula, Strix Hula.- disse Niara, antes de colocar o filhote no baú e dormir deitada sobre ele, como todos os outros dias.


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