Deuses e Diamantes escrita por André Tornado


Capítulo 18
Início.


Notas iniciais do capítulo

"Olá escuridão, minha velha amiga.
Venho falar novamente contigo,
Pois uma visão rastejando brandamente
Deixou as suas sementes enquanto eu dormia.
E a visão que foi plantada no meu cérebro
Ainda continua."
Simon & Garfunkel, The Sound Of Silence



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Definiram-se dois campos. O grupo dos lutadores da galáxia do Norte ocupou o lado do tatami que ficava à esquerda da bancada, enquanto os seres estranhos, escravos de Valo, ficavam do lado oposto.

O processo era simples. Respeitando o sorteio, o lutador da galáxia do Norte entrava no tatami e escolhia a dedo com quem desejava lutar, de entre os escravos. À exceção do segundo combate, em que Goku e Vegeta iriam aparecer pelo mesmo lado, a entrada dos lutadores seria bastante dramática para agradar à assistência.

A bancada rugia impaciente, aclamando o espetáculo. Incrivelmente, não se conseguiam distinguir rostos ou formas e não se saberia precisar quem estaria ali a assistir ao torneio, pois a multidão era uma massa indefinida de cores, como borrões de aguarela, que se portavam como pessoas ávidas por emoções fortes de uma grande competição de artes marciais. Talvez mais uma tentativa de Lux para agradá-los e fazê-los sentir em casa, o que roçava o paradoxo. Se os pretendia eliminar, por que razão se dava a tanto trabalho para os agradar?

Mas as novidades ainda não tinham terminado. Diante da bancada, no fosso existente entre esta e o tatami, exatamente a meio, apareceu um púlpito transparente. Uma criatura humanoide, anafada, envergando uma túnica larga drapeada de cores berrantes, vermelhos, amarelos e azuis em excesso, ocupou o púlpito. A cabeça era redonda como um balão, sem cabelo, nem orelhas, com pregas de gordura no pescoço. Tinha dois furos a fazer as vezes de olhos e uma linha rasgada abaixo do sítio onde não estava nenhum nariz. Na mão esquerda segurava uma prancheta com um molho de folhas carcomidas nas pontas e na direita um cetro curto, com uma reprodução, numa escala mais pequena, da estrela negra de dez pontas que ornava os pilares dos quatro cantos do tatami. Tudo na criatura era gordo, grande e deselegante. Estava ali para dar início aos combates e voltou os olhitos para os lutadores da galáxia do Norte.

O balcão continuava ostensivamente desocupado.

Piccolo tirou o turbante e descartou-se da capa branca. As duas peças de roupa, adereços que o caracterizavam, caíram com um baque oco atrás dele.

- O namekusei-jin vai lutar a sério desde o início? – Observou Vegeta mordaz, com o sorriso que o caracterizava. – Estás com medo de não estares à altura daqueles infelizes que são escravos de Valo?

- Não sei o que vamos encontrar, daqui para a frente – explicou, fazendo estalar os ossos dos dedos. – Não devemos subestimar nenhum adversário.

- Piccolo-san tem razão – concordou Gohan. – Não os devemos subestimar.

- Isto vai acabar em breve – disse Vegeta no mesmo tom, acentuando o sorriso. – Eu e Kakaroto lutamos a seguir e vamos decidir este torneio antes mesmo desse Lux se aperceber do que lhe está a cair em cima. Nem sequer vais entrar no tatami, miúdo.

Ozilia olhou o príncipe de soslaio.

- Não achas que tenho razão, deusa?

Ela não lhe respondeu. Os olhos de número 17 viajaram dela para o príncipe, parando na irmã, que lhe fez um sinal com a cabeça. Ele devolveu-lhe o sinal. Concordavam com o namekusei-jin, não deviam subestimar ninguém e muito menos o misterioso Lux que era como uma sombra a pairar sobre eles, sobre o torneio, sobre aquele mundo – ténue, discreta, mas demasiado presente para que fosse ignorada.

- É estranho… – disse Goku.

- O quê, ‘tousan? – Perguntou Gohan.

- Valo e Argia. Não os vejo em lado nenhum. Se Valo vai arbitrar todos os combates e se Argia está pronto para intervir para que as regras do torneio sejam cumpridas, não deveriam estar aqui?

- Pois deviam, ‘tousan. – E Gohan também começou a procurar por eles, com os olhos e a destilar a energia daquilo que os rodeava, em busca dos respetivos ki. Mas também não encontrou nada.

- Eles irão aparecer, quando for necessário – disse Ozilia.

- Ah… está bem – disse Goku baralhado. – Mas eles não deviam assistir aos combates?

- Estão pouco interessados, porque estão demasiado confiantes na sua vitória – disse Vegeta áspero. – Julgam que seremos fáceis de derrotar. Malditos deuses! Querem humilhar-nos com o seu desprezo. Nem mesmo esse Lux, que organiza este estúpido torneio, se dignou a aparecer aqui. A bancada está ainda desocupada.

- Eles irão aparecer – repetiu Ozilia num tom que ordenava que se fechasse o assunto.

E Goku percebeu que ela incluiu naquela frase todos os deuses, não apenas Valo, Argia e talvez Lux. Aquele mundo era deveras complicado de se entender. Apesar de o seu diamante ter começado a palpitar devagar, ao ritmo do seu coração e de se querer fundir com ele próprio, a partir daquele momento, transmitindo-lhe para a corrente sanguínea o que precisava entranhar, ele continuava arreigado às suas raízes terrestres e iria lutar pelo seu mundo e pelos seus companheiros. Goku respirou fundo.

***

O mestre-de-cerimónias gordo não desfitava Piccolo.

- Bem, vamos lá dar início a este torneio.

- Boa sorte, Piccolo-san – desejou Gohan.

- Vai correr tudo bem, miúdo.

O namekusei-jin subiu decidido para o tatami avançando alguns passos. O ruído da assistência foi ainda mais ensurdecedor. Parou, afastou as pernas, perscrutando com os olhos o magote de escravos que se juntavam todos num grupo compacto, apoiando-se uns nos outros, ou simplesmente aglomerados porque lhes tinham dito para assim ficarem e esperarem a sua sorte. Não lhes conseguia ler as auras, pelo que se decidiria pelo aspeto, o que não seria um critério muito curial, mas teria de servir naquelas circunstâncias.

Elevou um braço e apontou um dedo.

- Aquele!

O mestre-de-cerimónias gordo voltou a cabeça para o lado contrário e ficou a fitar o escravo escolhido com a mesma insistência que havia dispensado a Piccolo. Um ciclope descomunal, um monstro de apenas um olho, munido de uma maça, envergando uma tanga primitiva curtida no escalpe de algum animal peludo de grande porte, subiu para o tatami. Grunhiu qualquer coisa ao parar defronte de Piccolo.

- Hum… O namekusei-jin está a jogar pelo seguro – observou Vegeta.

- Fez uma boa escolha – defendeu Goku sério, de braços cruzados como o príncipe. – Não vai precisar de utilizar demasiada energia e não revela todo o seu potencial no arranque do torneio.

- Hum… Talvez.

- Devemos manter-nos discretos, o maior tempo possível.

- Vai ser difícil, Kakaroto. Tu e eu entraremos a seguir.

- Hai, eu sei.

Piccolo colocou-se em posição de combate, alçando o braço esquerdo por cima da cabeça, retorcendo as mãos e exibindo as unhas compridas como garras. O ciclope sopesou a maça na manápula direita, arreganhando os dentes como uma besta irracional. Talvez o fosse…

Analisou-o cuidadosamente. Se não tivesse truques escondidos, o ciclope seria fácil de abater. Aquela arma, apesar de tão grande quanto o seu dono, não lhe traria complicações. Também arreganhou os dentes mas num sorriso demoníaco e sentiu a adrenalina inundar-lhe o corpo.

O mestre-de-cerimónias gordo olhou em frente. Brandiu o cetro, dando início ao combate.

Piccolo atacou. Um pontapé bem colocado nos queixos do ciclope, que caiu de costas no tatami, sem tempo sequer de alçar a maça. Recuperou a posição de combate. Mesmo que o adversário fosse fraco, não lhe haveria de conceder uma nesga de oportunidade.

O ciclope levantou-se a grunhir. Bateu com a maça nos ladrilhos e o som metálico indicou que seria feita de algo parecido a ferro. Nada que impressionou Piccolo. Antes de o ciclope recuperar o seu posicionamento no tatami, foi derrubado por um segundo pontapé. Novamente, de costas no chão.

As palmas da assistência soaram esquisitas.

Piccolo retornou à posição de combate. O oponente era fraco, escolhera-o porque assim lhe parecera, mas nunca julgara que fosse assim tão fraco. Não pretendia entreter a assistência, não estava com disposição para exibições para uma multidão de fantasmas coloridos, não desejava alongar aquela luta que não tinha nenhum mistério. Estendeu um braço, abriu os dedos da mão e começou a acumular energia. Quando o ciclope se tentou levantar pela terceira vez, abriu desmesuradamente o único olho que existia no centro daquela carantonha horrorosa. Seria uma besta irracional, mas tinha intacto o seu instinto de sobrevivência. Piccolo enviou o disparo de ki.

A explosão abanou o tatami, lançando bolas de fogo e rolos de fumo.

Mais palmas.

O mestre-de-cerimónias limitava-se a olhar em frente.

Quando o fumo se dissipou havia uma mancha escura nos ladrilhos brancos e um odor a queimado. A maça de ferro caiu sobre a mancha, retinindo pesadamente. O ciclope tinha sido pulverizado.

Piccolo desceu do tatami com a sensação de dever cumprido.

- Fácil – revelou indiferente, mas estava notoriamente aliviado.

Gohan sorria-lhe, Goten e Trunks felicitaram-no com uma alegria saudável.

O mestre-de-cerimónias gordo olhou para os lutadores da galáxia do Norte.

Vegeta descruzou os braços e Goku fez o mesmo, simultaneamente.

- Bem, Kakaroto. Chegou a nossa vez.

- Hai.

- Aquele namekusei-jin não devia ter eliminado o seu adversário.

- Porquê, Vegeta-san? – Perguntou Gohan.

- Porque se me recusasse a fazê-lo, Argia apareceria para o rematar – explicou Piccolo. – E assim saberíamos se Argia realmente o faria. Mas sabes, tão bem quanto eu, que nunca iria poupar o ciclope. Tenho o meu orgulho, Vegeta.

- Ah, sim… – suspirou o príncipe enfastiado. – Pois, claro…

- Vegeta?

- Nan dá, Kakaroto?

- Devemos continuar a ser discretos.

- Não posso garantir nada.

- O tatami não é muito grande. Vai limitar o nosso combate. Não mostres tudo o que sabes fazer, onegai shimass. Para o nosso bem.

Vegeta sorriu.

- Vou pensar no teu pedido.

Os dois saiya-jin subiram para o tatami e posicionaram-se cada um no seu extremo, ficando Goku no lado junto aos companheiros, Vegeta indo para o lado onde se juntavam os escravos. Espreitou por cima do ombro, com um esgar de asco. Fediam horrivelmente!

O mestre-de-cerimónias gordo olhou em frente, agitando o cetro.

Número 17 olhou para o balcão. Vazio.

Nisto, Gohan perguntou:

- Ei… Onde é que a Ozilia se meteu?

Número 17 sentiu um arrepio. A criatura já não estava ali e ele também não se tinha apercebido que ela se tinha ido embora. Essa ausência não adivinhava nada de bom e colocou-se em alerta. Fez novo sinal à irmã.

No tatami, Goku e Vegeta começaram a reunir energia, gritando ao mesmo tempo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Luz.



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